Agência CT&I
Leandro Duarte
5 de julho de 2016
Júlio C. Felix fala sobre desafios de gestão e qual deverá ser a postura das ICT´s frente ao cenário econômico atual - Foto: Assembleia Legislativa do PR |
Compartilhar, transparência e muito suor são as palavras chave da gestão do novo presidente da Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica e Inovação, Júlio Cesar Felix. O dirigente, que já comandou a entidade entre 1995 e 1999, coloca como prioridade a aproximação com o setor empresarial.
Em entrevista à Agência Gestão CT&I, Felix faz um contexto histórico do momento vivido pela ciência, tecnologia e inovação (CT&I) no Brasil no fim dos anos 1990 e compara aos tempos atuais para apontar os desafios que terá nos próximos dois anos à frente da instituição. O novo presidente também explica como deverá ser o comportamento das instituições de ciência e tecnologia (ICTs) frente a este novo cenário econômico do País.
Presidente esta é a sua segunda gestão à frente da ABIPTI. Qual o cenário da CT&I naquele momento e o que mudou de lá para cá?
Era um momento muito profícuo da ciência e tecnologia no Brasil. Tínhamos recursos não abundantes, mas constantes. Os desembolsos saíam dentro dos prazos. Tínhamos uma equipe extremamente competente que soube fazer muitos projetos. A ABIPTI cresceu muito naquele período.
Os pontos que eu lembro que foram relevantes naquela gestão, primeiro é a aliança entre as três maiores entidades do setor que é a Anprotec [ Associação Nacional das Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores], Anpei [Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras] e ABIPTI. Fazíamos diversas atividades em conjunto tanto em mobilização, eventos como também de posicionamento junto aos órgãos competentes.
O cenário mudou completamente. Os fundos de fomento praticamente inexistem. Existem recursos para financiamento, ou seja, com retorno. Há tempos atrás, trabalhávamos por ofertas. O governo estabelecia onde ele queria colocar recursos. O momento agora não é de oferta e sim de demanda. Nós é que temos que apresentar projetos que sejam viáveis para essas fontes.
Quais os impactos desse novo cenário econômico para as ICTs?
As instituições têm que olhar para as empresas privadas e as estatais como um cliente e parceiro para substituir uma coisa que não vai retornar por um longo tempo: o fomento abundante. Temos que mudar o modelo de negócios das organizações de forma que a sua sobrevivência não dependa da Finep [Financiadora de Estudos e Projetos], do CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico] e das FAPs [fundações estaduais de amparo à pesquisa] como era no passado.
E como se daria essa reformulação dos modelos de negócios?
Essa é a parte mais complexa. Nossas organizações não estão acostumadas a vender. Nós estamos acostumados a ser comprados. O desafio é capacitar nossos associados, se assim eles desejarem, nesse novo ambiente.
Que pontos eram importantes na sua primeira gestão que deverá seguir para esta atual?
Continua no plano voltar as ações da ABIPTI para os associados. Eu sei que em algum momento é preciso ter alguns projetos para sobrevivência, mas a sobrevivência maior é ter associados participantes do movimento. Este é um ponto desta gestão anterior que ainda é bastante válido.
O outro, que é mais recente, foi a elaboração de algumas normas no setor, feitas pela ABNT e submetidas à ISO [Organização Internacional para Padronização] para criação de um comitê técnico para estabelecer normas internacionais. Queremos utilizar essa ferramenta de gestão com os nossos associados.
Na primeira passagem pela presidência da ABIPTI eu me identifiquei com o Programa Excelência na Gestão (PEG), criado para solucionar problemas que, até hoje, persistem nas instituições ligadas às CT&I. O fortalecimento desta iniciativa também está no meu plano de trabalho.
O que o senhor vislumbra no curto/médio prazo para ABIPTI?
Uma organização para ser forte precisa ser reconhecida como tal. Um dos trabalho que a equipe da ABIPTI deva se esforçar é fazer com que essa marca seja forte. Ela já foi muito forte, há um tempo teve problemas, foi recuperado bastante terreno nos últimos tempos, mas ainda perdemos para outras entidades que disputam os mesmos espaços e os mesmos recursos. O fortalecimento da imagem da empresa é um grande desafio dessa gestão.
Mensagem aos associados sobre a nova gestão?
Minha proposta é fazer um trabalho voltado para os associados. É necessário um trabalho de mobilização com as entidades que nos relacionamos e também com as novas, que ainda não temos um relacionamento estabelecido. É preciso nos aproximar melhor dos ministros e dos ministérios que têm vinculação conosco. É preciso criar um sistema sinérgico para usar as competências das instituições associadas para somar competências e, com isso, atender a demanda de mercado.
As instituições quando são convocadas a criar soluções para as empresas, muitas vezes, não têm todas as competências internas e compram fora. Nós não temos um trabalho sistêmico que isso se dê dentro dos associados da ABIPTI.
Então o esforço também é de, não exatamente criar uma rede, mas de compartilharmos informações para que possamos atender melhor o mercado. Às vezes compramos serviços de terceiros e não compramos dentro da lista dos membros da própria ABIPTI.
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