sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Carta dos servidores do Ex-CPTEC/INPE

Brasil Com Ciência
Shirley Marciano
19 de novembro de 2021

Imagem: Google/divulgação

Um grupo de servidores do ex-CPTEC/INPE procurou o SindCT para divulgar a carta abaixo.  São graves denúncias que colocam em risco serviços importantes do país, além de prejudicar servidores de carreira, com alto nível de capacitação. Vamos tratar deste assunto, mais detalhadamente, no nosso programa de TV, o Brasil Com Ciência, parceria do SindCT com a TVT (canal aberto na grade SP). 

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Conforme publicado em abril, por meio desse blog, sobre o Sistema Nacional de Meteorologia (SNM), apresentamos uma notícia nada agradável para o INPE e para os servidores da área de Meteorologia e Climatologia. O INMET passará a realizar a previsão climática para 6 meses, deixando para trás a parceria entre o INPE e CENSIPAM, que nunca se concretizada de fato, mas que foi amplamente anunciada nas redes sociais e nos jornais.

Com isso, o INMET não deixará de fazer a previsão numérica de tempo e clima, como referenciado anteriormente no contato que fizemos com o blog SindCT Espacial e informado por vários servidores e por diversas vezes à direção e Coordenação Geral de Ciências da Terra (CGCT). 

Lembro que o INPE realiza a previsão climática para 3 meses, ficando prejudicado com essa nova previsão climática para 6 meses do INMET. É um duro golpe para os servidores que tiveram seus cargos extintos internamente, e que executaram por anos as suas funções e pesquisas na área de clima e tempo. Além disso, esses servidores prejudicados estão abandonados à própria sorte e sem rumo, diante da falta de gestão da direção do INPE e da CGCT. Dezenas de servidores não estão executando suas tarefas de origem, pelas quais foram contratados via concurso público. Isto poderá futuramente trazer complicações administrativas e psicológicas a essas pessoas.

O tão famigerado Sistema Nacional de Meteorologia (SNM), que nunca existiu na realidade e devido a não ter nenhuma portaria de criação e/ou regulamentação, serviu apenas de pano de fundo da Direção do INPE e do Coordenado Geral de Ciências da Terra (CGCT) para extinguir algumas funções dos servidores do INPE. Isto só veio favorecer a um pequeno grupo que está atualmente controlando a CGCT. 

Um sistema que tinha o objetivo de eliminar as sobreposições de atividades, gerando assim uma cadeia de processos, produtos e dados interligados e complementares, indica que suas maiores realizações são em criar sobreposições. 

Quem agiu inadequadamente neste caso? O INMET, por fazer parte de uma ideia que era o SNM, e continuou seu planejamento para a previsão numérica de tempo e clima? Ou o INPE em aceitar embarcar nessa aventura de desmonte e sem garantia, levando a perda de visibilidade, projetos, investimento, entre outros, na área de previsão de tempo e clima?

Como o INPE pôde se desfazer de várias tarefas e projetos, sem garantias legais, prejudicando o atendimento à sociedade, meio acadêmico, órgãos públicos, dentre tantos outros? Vários servidores do ex-CPTEC já se transferiram para São José dos Campos ou outras Instituições, acelerando o abandono e ratificando o planejamento de acabar com as pesquisa e projetos, deixando apenas o grupo que detém a CGCT ser favorecido.
Aqui o link da apresentação do modelo de clima, onde é possível notar o investimento em novo supercomputador e pesquisa em modelagem numérica. O INPE, que tinha um CPTEC, agora vai virar usuário de modelos do INMET, perdendo com essa mudança sua autonomia. 

Que triste fim! Agora o SNM vem com uma nova roupagem. Será a rede nacional de meteorologia. Observe também a retórica do diretor do INMET sobre esta questão. Uma grande balela, para ganhar tempo e tirar a atenção do que vem ocorrendo, em prol de interesses particulares que se sobrepõem ao público dentro do INPE.

Servidores do ex-CPTEC

quarta-feira, 28 de abril de 2021

Supercomputador do CPTEC será desligado

Brasil com Ciência
28 de abril de 2021

EBC/Divulgação


O Tupã, supercomputador do CPTEC, será desligado no final de 2021.

Confira a reportagem do Brasil com Ciência nessa compilação do programa Brasil Com Ciência.

O Brasil com Ciência é uma realização do SindCT, em parceria com a TVT e com a Plural (canal 3 da NET, de São José dos Campos).






segunda-feira, 26 de abril de 2021

Exclusivo: Carta dos servidores do CPTEC ao Diretor do INPE

Brasil Com Ciência
Shirley Marciano e Edmon Garcia
26 de abril de 2020

CPTEC/INPE/Divulgação


A redação do programa Brasil Com Ciência recebeu, com exclusividade, de um grupo de servidores do CPTEC, uma carta ao Diretor do INPE. Aqui, logo abaixo, antes da carta, eles refutam ponto a ponto o que o diretor disse durante a entrevista concedida ao programa Brasil com Ciência, exibido no dia 19/04, com relação a sua afirmação e justificativa de que a previsão do tempo sairá do CPTEC e ficará com o INMET (Instituto Nacional de Meteorologia).  Se preferir, o resumo textual desta entrevista pode ser conferido aqui
Estamos produzindo um programa Brasil com Ciência, que vai ao ar hoje, 26/04, 22h, no nosso canal. Neste programa, constarão as diversas visões acerca dessa polêmica mudança no INPE.

Nossa redação fica a disposição para receber informações e publicá-las.

Abaixo, as considerações dos servidores e, na sequência, a carta ao Diretor do INPE

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Encaminho, no fim das observações que estão abaixo, uma carta aberta dos servidores do extinto CPTEC, que será entregue ao Diretor do INPE [Clézio de Nardin). Informo "extinto", pois o mesmo não existe mais na atual estrutura do INPE. O CPTEC foi extinto com a restruturação realizada no ano passado.
Neste link poderá confirmar essa informação:

A denúncia que trago surge porque as discussões internas não têm contemplado uma ampla e aberta discussão a respeito das atribuições das Divisões e da participação de seus colaboradores nas diferentes atividades do CPTEC, inclusive no que tange a criação de novas atividades que não necessariamente estarão em consonância com a Missão do CPTEC.

Com a finalização das atividades de previsão do tempo, os servidores diretamente envolvidos estão sendo privados de discutir os rumos de suas atividades. Inclusive, é sabido por uma maioria de servidores que a chefia da Divisão desses servidores, que realizam as atividades de previsão de tempo, omite informações acerca dessas mudanças, utilizando-se do processo de Planejamento Estratégico para impor interesses pessoais de suas linhas de atuação

Há de se informar também, o grande dispêndio de recursos financeiros. Recentemente, foi comprado um telão de alta resolução para os servidores da previsão do tempo realizarem o monitoramento das condições do tempo, para emissão dos avisos e atualização da previsão. Servidores esses, que terão suas atividades interrompidas sem planejamento futuro. Foram gastos centenas de milhares de reais em um equipamento de alto custo de manutenção e de energia, que não irá ser usado por esses servidores. Quem arcará com mais esse prejuízo? Além da perda de know how e visibilidade no extinto CPTEC.

1 - Na entrevista (https://www.youtube.com/watch?v=qjNKpH8F21c) com o Diretor do INPE, foi comentado que há um decreto impedindo o INPE de realizar a previsão do tempo. Qual o Decreto que impede o INPE de realizar a previsão do tempo? Qual número e página do DOU? No Regimento do INMET, não há afirmação nenhuma de que ele é o órgão oficial e o único responsável no Brasil para realizar a previsão do tempo. Não existe nenhum decreto afirmando que a meteorologia nacional é somente de responsabilidade do INMET. Se fosse assim, órgãos estaduais e municipais não poderiam realizar a previsão do tempo. Todos estariam trabalhando de forma ilegal. Se por "lei", como diz o Diretor, o INPE é responsável pela previsão numérica no Brasil, por que a Marinha do Brasil e outros órgão não vão deixar de fazê-la?  Essas palavras na entrevista não tem fundamento legal em nenhuma lei.

2 - O Diretor afirma "servidores que quiserem continuar fazendo a previsão do tempo, farão sob a coordenação do INMET". Entretanto, internamente, tem se negado a transferência/movimentação de servidores, que elaboram a previsão de tempo, para o INMET ou outro órgão (como o DCTA recentemente). Estão usando o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) (http://www.inpe.br/noticias/noticia.php?Cod_Noticia=4132) como base para essas negativas. O TAC foi elaborado para regularizar os contratos temporários, antes do concurso de 2014. O diretor, mal assessorado, e seus coordenadores/chefias vem proibindo a transferência de servidores com esse argumento de forma errada, pois o TAC não proíbe a movimentação ou transferência de servidores. Inclusive, negou a ida de um servidor para o DCTA, com base neste TAC.

3 - Anunciou que o INMET teria emitido nota à imprensa, informando da interrupção da previsão numérica de tempo. Vejam em https://portal.inmet.gov.br/noticias que não há nenhum comunicado sobre isso. O que está acontecendo é que o INMET vem fechando vários acordos para desenvolver vários produtos agrícolas e em desastres naturais com o CEMADEN. Em nenhum local há menção de parar de fazer a previsão numérica no INMET. Inclusive, no acordo entre as Instituição não existe nenhum item fazendo referência a essa informação. Onde está essa nota à imprensa?

4 - Afirma que o INPE está construindo o modelo comunitário unificado. O Diretor está equivocado e mal assessorado, mais uma vez, visto que o extinto CPTEC não está construindo nada. O projeto será adquirir uma solução pronta, americana ou europeia, instalar no INPE e gerar produtos. O INPE perdeu a capacidade técnica de desenvolver um modelo numérico nacional. Quase todos os modelos, atualmente instalados no extinto CPTEC, são soluções estrangeiras e descontinuadas faz décadas, como o modelo ETA, BAM e BRAMS. O modelo mais atual é o WRF, uma solução americana com suporte provido pelo NCAR (National Center for Atmospheric Research). Alguns servidores realizaram viagem aos Estados Unidos para verificar qual a melhor solução a ser implementada no INPE Foram a dois Institutos de pesquisa que produzem esses modelos e ficaram de escolher o que melhor se adapta ao parque computacional do extinto CPTEC e suas futuras atualizações.

5 - O Diretor se diz aberto a discutir, entretanto, não realizou nenhuma reunião com quem está perdendo suas funções de origem na previsão do tempo, para o qual foram aprovados em concurso público. Nem a direção, coordenação e chefia estão abertos à discussão, por isso a carta aberta dos servidores a eles.

6 - O diretor fala também que há um acordo sendo assinado, por parte dos servidores que trabalham com a previsão do tempo. Mas, não há este tipo de informação e nem acesso ao acordo informado. Por isso, a carta aberta, para saber quem está realizando essas tratativas e quais são. As mesmas estão sendo feitas sem a participação desses servidores que vão perder suas tarefas, e, sim, vão ficar no limbo da instituição, pois esse "acordo" impactará na vida desses servidores por muitos anos, pois muitos servidores poderão executar tarefas para uma função que não foram contratados e capacitados. Alguns servidores estão sendo excluídos de algumas tarefas futuras e vão ficar no ostracismo do extinto CPTEC. Os meteorologistas não estão sendo capacitados para exercer nenhuma atividade futura. Simplesmente, querem parar de realizar uma tarefa e executar outra de interesse da coordenação desses servidores, sem compactuação entre as parte. Ou seja, por imposição. Ato antidemocrático no ambiente interno do INPE.

7 - Vejam como há uma contradição nas informações: "não podemos fazer a previsão do tempo, mas podemos fazer e enviar para o INMET, pois há um mandato que diz que é deles a divulgação". Internamente, essa possibilidade não existe para nenhum servidor, bem como não existe lei que obrigue apenas o INMET a divulgar uma previsão. O que existe são tarefas que beneficiam a coordenação e chefia desses servidores. Essa informação está abaixo, na carta aberta à direção. Não existe nem possibilidade de discussão de futuras tarefas, entre os servidores que estão perdendo sua atual função de origem e o INMET, pois os mesmos estão sendo privados das discussões com o INMET. Estão sendo cerceados de opinar em suas futuras tarefas.

Abaixo, na íntegra, a carta dos servidores do CPTEC ao Diretor do INPE

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Aos Dirigentes do INPE e aos servidores do CPTEC

CPTEC: Planejamento Estratégico e Plano Diretor

Há mais de meio século o INPE realiza atividades em Meteorologia e Oceanografia. Começou com pesquisas e desenvolvimentos em Meteorologia por Satélites, avançou abrangendo as outras áreas científicas da Meteorologia e da Oceanografia Física, formou mestres e doutores para os seus quadros e para as universidades brasileiras e, há um quarto de século, com a criação do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos - CPTEC, revolucionou a Meteorologia brasileira com a previsão numérica de tempo e clima operacional e, depois, como o primeiro centro no mundo a produzir operacionalmente previsão numérica de qualidade do ar para a América do Sul.

Ao longo de seus vinte e cinco anos de história, o CPTEC tem estado a serviço do país por meio da produção e divulgação das previsões de tempo e clima nos diferentes meios de comunicação brasileiros, tornando-se uma das vitrines do INPE frente à sociedade brasileira. O CPTEC tornou-se a instituição de maior liderança em meteorologia operacional no cenário nacional e na América do Sul, além de exercer um papel de referência na Meteorologia por Satélite e uso de sensores remotos com o desenvolvimento de produtos inovadores que são amplamente utilizados pela comunidade.

Um grande patrimônio foi construído, em particular na consolidação do conhecimento técnico-científico em modelagem numérica da atmosfera e de outras componentes do Sistema Terrestre, em sensoriamento remoto da atmosfera e oceanos, meteorologia e oceanografia operacional, incluindo observações in situ desde a Antártica até o Atlântico Equatorial. Além disso, o CPTEC vem desenvolvendo, testando e adaptando novos instrumentos e criou o primeiro laboratório de instrumentação meteorológica do país, o LIM. O Centro foi pioneiro na coordenação do Programa Nacional de Monitoramento de Tempo, Clima e Recursos Hídricos do MCTI, dotando os Núcleos Estaduais de Meteorologia com produtos de modelagem numérica e a expertise na área de meteorologia operacional, resultando em impactos positivos para a sociedade e melhorando o tempo de resposta na tomada de decisão em relação aos eventos meteorológicos e climáticos extremos. Muitos destes produtos e serviços dão suporte às ações da Defesa Civil Nacional na Prevenção de Desastres Naturais; Controle e Segurança do Tráfego Aéreo; Planejamento Energético Nacional; Monitoramento de Queimadas; Decisões estratégicas no planejamento e tomada de ações imediatas para o controle da demanda diária do sistema de abastecimento de energia elétrica e água à população, dentre outros.

Na última década, o CPTEC perdeu muito do seu prestígio e tem, inclusive, seu futuro ameaçado. Entretanto, a decisão da atual Direção do INPE de possibilitar uma refundação do CPTEC ao mesmo tempo em que discute seu Planejamento Estratégico para as próximas décadas é vista como uma grande oportunidade de firmar sua relevância a nível nacional e demonstrar para a comunidade internacional o amadurecimento científico, voltado para responder às demandas da sociedade sul-americana. Entende-se que o direcionamento da Direção do Instituto para a adoção de um sistema unificado e comunitário de modelagem é adequado para buscar unificar os escassos recursos humanos e fazer bom uso da infraestrutura computacional disponível no INPE. A iniciativa, que pretende envolver a participação de universidades, institutos de pesquisa, centros estaduais de meteorologia e outros parceiros, é vista como uma grande oportunidade, em parte para se manter no estado-da-arte e em parte para congregar os recursos humanos e unir esforços junto às instituições parceiras em um projeto de Estado para o Brasil, de importância vital para sua economia, segurança e conforto da sua população.

É importante ressaltar que a recente reestruturação do INPE, que reuniu na Coordenação-Geral de Ciências da Terra, o antigo CCST e a maior parte da ex-OBT e do ex-CPTEC, apesar de ter aumentado o potencial de sinergia entre essas áreas, abalou não somente a identidade do CPTEC, mas trouxe dificuldade à sua gestão como um Centro avançado de previsão de tempo, e clima e qualidade do ar. Um Centro consolidado como o CPTEC, com história de 25 anos, construída com a aplicação de volumosos recursos públicos e esforços de diversos atores da ciência brasileira, e tendo alcançado um distinto patamar de reconhecimento nacional e internacional, não pode, na visão não só de seus servidores, mas também da sociedade como um todo, deixar de existir na estrutura do INPE. De fundamental importância é retomar, na refundação do CPTEC, a sua antiga estrutura como um Centro dotado de suas capacidades técnicas e científicas distribuídas em suas engrenagens fundamentais que são as três ex-Divisões.

Como essa necessidade de gestão conjunta não deixou de existir, quase duas dezenas de servidores das três ex-divisões do CPTEC se reuniram para discutir sua participação na construção do Planejamento Estratégico das suas áreas de competência. Levando em consideração a reestruturação de serviços até então exercidos pelo CPTEC e entendidos como essenciais para a garantia da sua visibilidade nacional e internacional, como a transferência da elaboração e divulgação operacional da previsão de tempo e clima para o INMET, abriu-se uma oportunidade para rediscutir a atuação de diversos colaboradores que vinham realizando atividades dedicadas a este serviço. Entretanto, novas atribuições demandam planejamento criterioso e avaliação das reais necessidades na nova estrutura das novas Divisões da CGCT, e principalmente na estrutura de um CPTEC refundado. Entretanto, uma considerável parcela de seus servidores avalia que o planejamento em curso não tem contemplado uma ampla e aberta discussão a respeito das atribuições das Divisões e da participação de seus colaboradores nas diferentes atividades do Centro, inclusive no que tange à criação de novas atividades que não necessariamente estarão em consonância com a Missão do CPTEC.

Há um consenso sobre a necessidade de que o Planejamento Estratégico seja elaborado conjuntamente entre as Divisões e seus colaboradores, de forma a restabelecer a identidade do centro e definir o papel de cada área de atuação dentro da refundação do CPTEC, antes mesmo de qualquer mudança nas atividades desempenhadas por estas. Entende-se a necessidade de não se perder, na refundação do CPTEC, os conhecimentos e capacitações conquistadas, além do reconhecimento nacional e internacional construído ao longo de seus 25 anos de existência. Somente uma instituição fortalecida e que agrega valor às suas necessárias componentes e suas parcerias, é capaz de enfrentar os desafios científicos e tecnológicos impostos nos dias atuais e aqueles que estão por vir e que não podem ser resolvidos sozinhos. Cada servidor tem um papel fundamental neste cenário e tem muito a contribuir, inclusive em face às novas linhas de ação no estado da arte das ciências atmosféricas e oceanográficas que precisam ser fomentadas e crescer no novo CPTEC.

Há de se trazer à luz desta Direção a problemática de ocorrência frequente de situações constrangedoras, com o intuito de inibir manifestações de descontentamento, por parte de seus colaboradores, com as ações de gestão do Centro, e que podem vir a ser caracterizadas como assédio moral. Os servidores precisam estar assegurados de sua livre manifestação de opinião para se aperfeiçoar e se sentir parte dos processos de decisão referentes ao seu local de trabalho. Ações realizadas por dirigentes que possam utilizar-se do processo de Planejamento Estratégico para impor interesses operacionais de suas linhas de atuação, ao invés de concentrar esforços na ampliação e trabalho produtivo em torno dos pontos-chave levantados pela Direção do Instituto, são nocivas e desestimulam o bom convívio, além de irem de encontro à necessidade de união entre os colaboradores para mudar os rumos da história do CPTEC e garantir seu crescimento.

Em vista do exposto, traz-se à luz do conhecimento dos Gestores e Dirigentes do INPE a solicitação de anuência para que a proposta de Planejamento Estratégico do CPTEC seja elaborada conjuntamente pelas três ex-divisões do Centro e também com a participação de outros grupos de pesquisa do INPE de reconhecida importância para as atividades do CPTEC, com corpo técnico representativo, tomando-se o cuidado de se planejar detalhadamente não apenas a Missão e atividades de longo prazo, mas também, no presente, de planejar uma transição equilibrada do atual para o futuro (refundado) CPTEC.

Atenciosamente,

Servidores do CPTEC

quarta-feira, 21 de abril de 2021

INPE explica corte de bolsa PCI e fim da previsão do tempo pelo CPTEC

Brasil Com Ciência
Shirley Marciano e Edmon Garcia
21 de abril de 2021 (programa 19/04)

Clézio de Nardin, diretor do INPE/BCC

O programa Brasil com Ciência entrevistou o diretor do INPE, Clézio Marcos de Nardin, que abordou diversos assuntos de interesse da comunidade e do grande público, dos quais destacamos o importante lançamento do satélite Amazonia-1; a descontinuidade de parte dos bolsistas PCI, que afetou o INPE e outros institutos de tecnologia; e o mais controverso de todos o temas, a mudança da previsão do tempo do CPTEC para o INMET. Vale conferir o resumo da entrevista.

Divulgação/Lançamento Amazonia-1


Brasil com Ciência (BCC):
Como foi o lançamento do Amazonia-1? Qual a experiência de estar num lançamento de satélite sob a perspectiva do diretor do INPE?
Clézio de Nardin: Quando a responsabilidade recai sobre si, a sensação é de alívio, quando tudo dá certo. 

BCC: O senhor chegou a ensaiar um discurso, caso não desse certo?
Clézio: É claro que eu estava mentalmente preparado para alguma falha, mas psicologicamente muito forte por causa [competência] da equipe. 

BCC: É possível mensurar o ganho tecnológico com a exitosa campanha do Amazônia-1?
Clézio: O INPE tem o know how [experiência], que poderá ser usado pela indústria brasileira, por exemplo, enviando os seus funcionários para fazer mestrado ou doutorado no INPE. E estamos trabalhando numa novidade, que se chama "Residência Tecnológica", no qual profissionais da indústria poderão fazer residência no INPE, e assim aprender todo o processo. É uma forma de levar o aprendizado para a indústria espacial. No pós lançamento você tem o satélite, que faz o monitoramento para diversas áreas. 

"O que houve foi algumas descontinuidades 
por questão de fluxo orçamentário, 
e isso causou problema no programa."

BCC: Por que os bolsistas PCI [Programa de Capacitação Institucional], que estavam atuando no Amazonia-1 e em outros projetos, foram dispensados?
Clézio:  O ministro Marcos Pontes deu conta do problema com as bolsas este ano. Ele procurou o CNPq e outros órgãos para resolver essa questão orçamentária do PCI. Nenhum dos bolsistas foi demitido e/ou teve a bolsa cancelada. O que houve foi algumas descontinuidades por questão de fluxo orçamentário, e isso causou problema no programa. 
Cada instituição tem seu foco. Cada cidadão tem o seu livre pensar, mas, dentro da instituição, como funcionário do INPE, o livre pensar está restrito à área Espacial e ao ambiente Espacial. Então, se a pessoa quer fazer pesquisa em outra área, ela é livre, mas não no INPE. O INPE é uma ICT [Instituto de Ciência e Tecnologia]. Esse problema de fluxo orçamentário foi sanado, e ele aconteceu porque o Congresso ainda não aprovou a LOA [Lei Orçamentária Anual]. Nós já estamos em abril. Então, o INPE está sofrendo, junto a outros órgãos. Mas, peço desculpas aos bolsistas pelo atraso no pagamento das bolsas. 

BCC: Daqueles 70 bolsistas, que estão dentro desse problema, quantos foram descontinuados por não estarem enquadrados nesse programa de capacitação? Estes que o senhor descreveu como detentores do direito de "livre pensar", mas que não estavam pesquisando assuntos de interesse do INPE.
Clézio: Quem define o projeto é o INPE, com a presença de um supervisor. Mas, alguns bolsistas, por decisão própria, não querem continuar nisso, e ninguém ficará preso àquilo que não gosta de fazer. Outros bolsistas atingiram o limite de tempo previsto na legislação. Hoje, um bolsista pode ficar até três anos. Em um caso mais raro, o bolsista pode ter sido desligado por questão de desempenho, avaliado pelo seu supervisor. 

BCC: Como servidor, o que o senhor acha dessa dúvida que o recém formado terá de onde irá trabalhar depois que passar o período das bolsas? 
Clézio: Me comove muito quando eu perco um servidor -- seja pela idade ou por algum programa de doutorado -- que quer continuar trabalhando e não consegue uma bolsa. Corta o coração principalmente quando vejo um jovem brilhante, que poderia estar sendo aproveitado. Por isso, estamos trabalhando para aumentar as possibilidades pela iniciativa privada, em projetos na área Espacial, que promovem parcerias com a indústria, inclusive incentivando a criação de startups. A outra possibilidade é criar uma OS [Organização Social] e contratar esse jovem, que eu sei que é especialista, que tenho o currículo dele aqui. 

Sobre os quadros do INPE, Clézio comentou espontaneamente.
Clézio: O quadro reduzido de servidores do INPE me preocupa muito, principalmente do pessoal da área Administrativa. Tem pessoas que defendem a criação de uma OS. Eu não vejo nenhum problema com isso, mas não acho que tenha que ser para o INPE todo. Por que o INPE não poderia ter uma OS, que prestasse serviço? Por ela também poderíamos, inclusive, contratar pessoas com maior facilidade, na medida que tivéssemos uma maior demanda de serviço. A cada pessoa do administrativo que eu perco, mais trabalho burocrático vai para o pesquisador, que poderia estar avançando na Ciência.  

"Não transformaremos o LIT em OS. 
Não é essa a minha proposta. 
O LIT é do INPE e ponto. "

BCC: Muito já se falou de transformar o LIT (Laboratório de Integração e Testes/INPE) em OS. Qual a sua opinião?
Clézio: Não transformaremos o LIT em OS. Não é essa a minha proposta. O LIT é do INPE e ponto. 

Reforma Administrativa:
"Não tenho experiência. 
Não posso dizer se sou a favor 
ou contra. Não tenho opinião formada."

BCC: Sobre a Reforma Administrativa, qual a visão do senhor sobre o estágio probatório e a avaliação que será feita pelo supervisor? 
Clézio: É uma prerrogativa de qualquer governo. Seja ele de direita ou de esquerda, tem direito de colocar suas opiniões no Congresso, o qual tem o dever de debater. A minha opinião pessoal é: eu gosto muito do modelo que a Unicamp usa. Ela tem uma avaliação continuada por nove anos. É muito semelhante e parece boa. Eu não tenho experiência. Não posso dizer se sou a favor ou contra [a Reforma Administrativa]. Não tenho opinião formada. Se a reforma é boa, ou não, não compete a mim dizer isso. 

"Prejudica ainda mais o INPE 
o fato do nosso orçamento ser 
disponibilizado através da 
AEB. Isso prejudica também o fluxo. 
Prejudica pelo duplo controle. 
Não vejo porque tenha 
que continuar desse jeito. 
É uma aberração do sistema"


"A primeira coisa é preservar os empregos. 
Na sequência, sim, teremos de reduzir 
contratos de limpeza, de segurança, 
contratos de terceirizados, porque não há recursos."

BCC: Como está a LOA para o INPE, caso seja aprovada sem alterações?
Clézio: Sobre o orçamento, vou ser sincero. É muito ruim. Não é bom. Todos os ministérios estão sofrendo [com os cortes]. Dentro do MCTI, o INPE está sofrendo um pouco diferente porque é uma das unidades maiores. Quando você trabalha com números absolutos, os associados ao INPE são muito maiores e, portanto, o sofrimento é maior. O número de pessoas e de atividades que estamos comprometendo é maior. 
Prejudica ainda mais o INPE o fato do nosso orçamento ser disponibilizado através da Agência Espacial Brasileira [AEB]. Isso prejudica o fluxo. Prejudica pelo duplo controle.  Não vejo porque tenha que continuar desse jeito. Não precisa, em hipótese alguma, ter que passar pela Agência, sendo que temos que prestar conta para o Ministério e somos subordinados ao MCTI. Isso, com todo respeito que tenho pela Agência, na minha opinião, é uma aberração do sistema. 
E a situação do INPE é muito grave. Já estamos conversando com o Ministério, solicitando recurso suplementar para agora, pelo risco de não conseguirmos atingir os pagamentos necessários até o final do ano. Temos avisado as autoridades e, hoje mesmo, recebi um e-mail que concede neste mês 1 milhão a mais para saldar contas que estamos deficitários. 
A primeira coisa é preservar os empregos. Na sequência, sim, teremos de reduzir contratos de limpeza, de segurança, contratos de terceirizados, porque não há recursos. Seria uma irresponsabilidade, se eu não fizesse isso. Então, esse ano vai ser um ano difícil. 


"
Alguns funcionários querem trabalhar 
na previsão do tempo. Tudo bem, 
sob a coordenação do INMET. 
O INMET vai fazer a previsão do tempo."

BCC: É verdade que a previsão do tempo sai do CPTEC e vai para o INMET?
Clézio: Nós vamos criar foco. O INPE fará modelagem [matemática meteorológica] e pesquisa. É nisto que o INPE é muito bom e indispensável. E, legalmente, o INPE não pode fazer a previsão do tempo. Não está no escopo dele. Existem decretos ministeriais regulamentando isso. Estamos fazendo um grande acordo para criar o sistema nacional meteorológico, onde cada um terá o seu papel. O INPE é o grande provedor de modelos. Alguns funcionários querem trabalhar na previsão do tempo. Tudo bem, sob a coordenação do INMET, pois é este órgão que fará a previsão do tempo. 

" A divulgação da previsão do tempo 
será feita pelo INMET, 
porque o mandato será dele."

BCC: Não seria um desperdício de know how passar a previsão para o INMET? E os funcionários do CPTEC vão ficar num limbo administrativo? Como vai funcionar isso? 
Clézio: Não ficarão num limbo, em hipótese nenhuma. Tem um acordo sendo assinado. Ninguém vai perder nada. Essas pessoas não serão colocadas na rua e nem de lado. Estamos criando um sistema inclusivo, e as experiências que eles têm serão absolutamente úteis para analisar, por exemplo, a saída do modelo. Mas a previsão oficial meteorológica é do INMET. A divulgação da previsão do tempo será feita pelo INMET, porque o mandato será dele. 

Veja a entrevista completa, no canal do programa de TV, Brasil Com Ciência. 





terça-feira, 20 de abril de 2021

Inpe cria plataforma gratuita de dados do solo brasileiro

Agência EBC
Mariana Tokarnia
14 de abril de 2021


Divulgação TV Brasil



O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) prepara-se para disponibilizar ao público uma plataforma com um grande volume de dados de imagens de sensoriamento remoto, organizadas como cubo de dados que podem ser usados para extrair informações de uso e cobertura do solo brasileiro. 

O chamado Brazil Data Cube - Cubo de Dados Brasil, em tradução livre - reúne imagens de diversos satélites e é capaz de mostrar, ao longo do tempo, como o solo brasileiro é utilizado. O projeto, iniciado em 2019, deverá ser concluído em 2022, mas já é possível acessar e processar algumas dessas informações.

Cubos de dados são uma série de imagens de satélites organizadas no tempo de determinadas regiões brasileiras. O projeto cria esses cubos para todo o Brasil. Assim, com o sistema desenvolvido pelo Inpe é possível selecionar uma parte do território e usar métodos de inteligência artificial para extrair informações de como o espaço é ocupado, por exemplo, por florestas ou agricultura e como foi essa ocupação ao longo do tempo.

"Dado de uso e de cobertura do solo é muito importante para definir políticas públicas e a preservação do meio ambiente", disse a pesquisadora do Inpe, Karine Ferreira. "É importante para a sociedade e para o país conseguir processar esse grande volume de dados de imagens de satélites hoje disponíveis e extrair informações desses dados de maneira integrada", acrescentou.
Parcerias

Os dados começaram a ser disponibilizados e o Inpe está firmando parcerias para o uso deles com entidades como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Segundo pesquisadores, o Brasil também deverá ampliar a utilização da tecnologia e gerar cubos de dados semelhantes para o Uruguai.

"Como tudo é público, a gente vai ter que seguir as regras de como oferecer isso para as pessoas usarem e, obviamente, será livre de custo", disse o também pesquisador do Inpe, Gilberto Queiroz. A plataforma desenvolvida para processar esses dados é composta por software livre. Softwares livres são aqueles que permitem que usuários acessem, executem, distribuam e façam modificações na estrutura do programa.

Os pesquisadores participaram esta semana do evento AWS Public Sector Summit Online. A AWS é uma plataforma de serviços de computação em nuvem oferecida pela empresa multinacional Amazon. Desde meados de 2019, o Inpe utiliza os serviços da AWS para processar grandes volumes de dados.

"O nosso desafio é o grande acervo de imagens de observação da Terra que a gente tem atualmente. Esse é o maior desafio, por isso a gente está produzindo cubos de dados e evoluindo em técnicas de machine learning [aprendizagem de máquina] para classificação automática ou semiautomática desses cubos", afirmou Karine Ferreira.

De acordo com Queiroz, a intenção é que o Inpe disponibilize, até 2022, um grande volume de dados que podem ser processados na própria plataforma do instituto, sem a necessidade que os pesquisadores baixem os dados para os próprios computadores, uma vez que são grandes volumes de dados que exigem muito espaço de armazenamento.

"[Queremos] oferecer principalmente para as instituições públicas e para a sociedade uma forma de utilizar esses dados sem a necessidade de fazer download, porque estamos falando de big data [grandes volumes de dados]. Uma forma de fazer isso será na estrutura do Inpe. Desenvolvemos também ferramentas para as pessoas fazerem isso nas próprias estruturas. Parte também foi montada para funcionar na AWS. Se a empresa baixar o software, consegue fazer o processamento por lá também", disse o pesquisador.

O Brazil Data Cube é um subprojeto do programa Monitoramento Ambiental dos Biomas Brasileiros, financiado com recursos do Fundo Amazônia, por meio da colaboração financeira do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Fundação de Ciência, Aplicações e Tecnologia Espaciais (Funcate).

Edição: Kleber Sampaio



quinta-feira, 15 de abril de 2021

INPE perde a previsão do tempo, sua marca mais popular

Brasil Com Ciência
Shirley Marciano e Edmon Garcia
15 de abril de 2021

Segue um trecho do programa Brasil Com Ciência, com o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Clézio de Nardin. Ele confirma que o Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), órgão vinculado ao INPE, não fará mais as previsões do tempo, passando a atividade para o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). Esta decisão, que foi tomada no âmbito do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), define que o INPE ficará somente com a parte de modelagem matemática das previsões e estudos climáticos.

Apesar de o INPE ter uma infinidade de atividades de pesquisa, a maioria é pouco conhecida pela  população, exceto o serviço de previsão do tempo, que sai nos noticiários diariamente. 

Portanto, fica a pergunta: o INPE perde em parte sua identidade ao deixar de fazer a previsão do tempo?

Confira o trecho da entrevista no vídeo abaixo. O programa completo, com os diversos assuntos tratados com o diretor, estará disponível na próxima sexta-feira pela TVT (São Paulo) e pelo canal 3 da Net (São José dos Campos), às 12h e 22h, respectivamente. Na segunda-feira, 19/04, às 22h, será possível assistir em nossa plataforma digital (youtube.com/c/brasilcomciencia). 



quarta-feira, 14 de abril de 2021

Demissão de presidente da Capes preocupa gestores da pós-graduação

Jornal da USP
Por Herton Escobar
13 de abril de 2021

Benedito Guimarães Aguiar Neto, ex-presidente da Capes – Foto: Reprodução/ Mackenzie


Mudanças inesperadas no comando da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) do Ministério da Educação (MEC) deixaram lideranças acadêmicas e científicas apreensivas sobre o futuro da agência e do processo quadrienal de avaliação dos programas de pós-graduação (PPGs) das universidades, previsto para ser concluído neste ano, mas cujo calendário já está atrasado em função da pandemia.

O presidente da Capes, Benedito Guimarães Aguiar Neto, foi exonerado sem aviso prévio (e sem justificativa oficial) na segunda-feira, 12 de abril, pelo ministro Milton Ribeiro. A demissão surpreendeu a comunidade acadêmica. Ex-reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, ele estava no cargo há 14 meses.

Carlos Gilberto Carlotti Junior – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Independentemente de quem vier a substituí-lo, uma troca do comando nesse contexto é preocupante, em função da falta de justificativa, dos cortes orçamentários e das dificuldades já impostas pela pandemia ao processo de avaliação dos PPGs, que é fundamental para a formação de recursos humanos e para a produção de ciência e tecnologia no País. “Já tínhamos problemas suficientes para trabalhar; e essa mudança, agora, pode atrapalhar ainda mais a avaliação”, diz o pró-reitor de Pós-Graduação da USP, Carlos Gilberto Carlotti Júnior. “Fico imaginando o que motivou o MEC a fazer uma mudança dessas num momento tão inoportuno.”

O prazo para que os PPGs enviem suas informações à Capes termina em 23 de abril. “Se houver uma modificação brusca nessa etapa do processo pode ser muito ruim; talvez até inviabilizar a avaliação”, afirma Carlotti. Ele torce para que pelo menos o chefe da Diretoria de Avaliação, o agrônomo Flávio Camargo, seja mantido no cargo, para evitar uma ruptura ainda maior. Camargo tomou posse há apenas seis meses e, antes dele, o cargo chegou a ficar vago por cinco meses, após o pedido de demissão da ex-diretora Sônia Báo, em abril de 2020.

Nessa avaliação, feita de quatro em quatro anos, todos os programas de pós-graduação do País (tanto de universidades públicas quanto privadas) recebem uma nota de 3 a 7, que representa o nível de excelência do programa. A análise é baseada numa série de critérios, como número de alunos formados e de trabalhos científicos publicados em revistas especializadas. O processo permite aferir e monitorar periodicamente a qualidade da pós-graduação brasileira como um todo, enquanto que as notas influenciam de forma decisiva a capacidade dos programas de atrair alunos, bolsas, parcerias e recursos financeiros para seus projetos.

O prazo inicial para submissão das informações era 31 de março, mas foi estendido em função da pandemia. Ainda assim, muitos programas estão tendo dificuldades para enviar as informações a tempo. Uma carta aberta enviada à Capes nesta semana, assinada por mais de 2,2 mil pesquisadores, pede novo adiamento.

“A pandemia também impôs grandes dificuldades ao fazer acadêmico, tornando as atividades de ensino, pesquisa e extensão mais complexas do que o que estávamos acostumados”, diz a carta. “O atendimento das demandas burocráticas com vistas à avaliação da pós- graduação passou a impor um desafio praticamente intransponível para muitos Programas e Instituições, no momento em que a defesa da vida passa a ser tarefa prioritária dos acadêmicos e pesquisadores brasileiros.”

Sem plano e sem conselho

Outra preocupação da comunidade científica diz respeito ao Conselho Superior da Capes, que fez sua última reunião em 28 de novembro e até agora não retomou suas atividades nem nomeou novos membros para substituir aqueles cujos mandatos venceram em 2020.

A Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) enviaram uma carta conjunta ao presidente da Capes no dia 9 de abril, expressando sua preocupação sobre o assunto.

“Diante da discussão orçamentária atual, onde há restrição de recursos, e da grave crise sanitária e econômica que assola o país com sérios impactos para a pós-graduação e, além disso, considerando as competências do Conselho Superior da Capes (…), torna-se imperiosa a recomposição e a nomeação do novo Conselho Superior, para o exercício pleno de suas estratégicas e importantes obrigações”, diz o documento.


Aguiar Neto redigiu uma resposta no mesmo dia, com uma justificativa que surpreendeu as entidades. Segundo ele, a recomposição do Conselho Superior estaria condicionada a uma “atualização” no estatuto da Capes, “que tramita nas esferas governamentais, a mais ou menos dois anos (sic)”. “Esse documento está sob análise do Ministério da Educação, desde janeiro deste ano e, após sua aprovação, por aquele ministério, será enviado ao Ministério da Economia, para análise de adequação estrutural e orçamentária e, somente após, encaminhado à Casa Civil da Presidência da República, para submissão à aprovação da máxima autoridade administrativa do país”, diz a carta.

O fato do novo estatuto ter que ser aprovado pelo Ministério da Economia sugere que ele implicará mudanças significativas na estrutura administrativa da Capes.

Luiz Davidovich – Foto: IF-UFRJ

“A justificativa gerou ainda mais preocupação”, disse ao Jornal da USP o físico Luiz Davidovich, presidente da ABC e ex-conselheiro da Capes (um dos membros cujo mandato expirou no ano passado). Segundo ele, essa revisão do estatuto — que, segundo Aguiar Neto, já estaria sendo planejada há dois anos — não foi debatida nem com o conselho nem com a comunidade acadêmica em geral.

Davidovich espera que o novo presidente da Capes seja alguém com bom conhecimento da pós-graduação brasileira, que privilegie o mérito, defenda a independência institucional da Capes e “não misture ideologia com ciência”.

“Só vejo problemas nessas mudanças”, diz o pró-reitor Carlotti. Outra preocupação, segundo ele, diz respeito ao Plano Nacional de Pós-Graduação (PNPG), que venceu em 2020 e até agora não foi iniciada a elaboração de um novo plano para substituí-lo. “Já estamos sem plano nacional; se, além disso, perdermos o processo de avaliação, vamos ficar sem diretriz nenhuma para a pós-graduação nacional, e isso é muito ruim para o sistema”, diz.

Foto: Reprodução/ ICTP.br/ https://bit.ly/3a6x44e

Colapso orçamentário

A situação financeira da Capes também é crítica. O orçamento da agência encolheu mais de 60% desde 2015 (sem contar folha de pagamento), e os recursos previstos no orçamento deste ano (um terço menores que os de 2020) são insuficientes para a manutenção integral das bolsas, tanto de pós-graduação quanto da educação básica. Situação semelhante à do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), agência de fomento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, que também sofreu cortes orçamentários profundos e não tem recursos minimamente suficientes para este ano, nem para bolsas nem para projetos de pesquisa.

Levando tudo isso em consideração, o “fantasma” de uma possível fusão Capes-CNPq começa a assombrar novamente a comunidade científica. A proposta ganhou força no início da gestão do presidente Jair Bolsonaro, em 2019, mas foi rechaçada pela comunidade científica e acadêmica, já que as duas agências, apesar de terem algumas semelhanças, exercem funções bastante distintas — com o CNPq focado em pesquisa científica e a Capes, em formação de recursos humanos.

O ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, levantou espontaneamente a questão durante uma audiência pública na Câmara dos Deputados, no início deste mês. Ele se colocou contra a fusão, mas pediu ajuda dos parlamentares para “proteger o CNPq” contra essa e outras “ideias malucas” que “volta e meia aparecem”. 

Engenharia de Materiais: Sob medida

Revista Fapesp
Abril de 2021

Vidro obtido a partir de receita indicada por programa de inteligência artificial
                                                    Gisele Guimarães dos Santos / LaMaV


Pesquisadores da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) mostraram que é possível trilhar um caminho menos trabalhoso e mais rápido para criar um vidro com propriedades específicas. Usando técnicas de inteligência artificial, o grupo partiu das características que desejava encontrar em um material útil para fabricação de lentes para câmeras de computadores e celulares e, em poucos dias, identificou formulações que poderiam originar o tal vidro. É o percurso inverso ao seguido pelos especialistas nos últimos 400 anos. No método tradicional, mestres vidreiros, químicos e pesquisadores da área de ciências de materiais, com base em tentativa e erro e em experiência acumulada, misturam compostos em proporções variadas, que depois são fundidos e resfriados. Só então é possível saber se a combinação resulta em um vidro e conhecer suas propriedades.

“Usando a nova estratégia, conseguimos produzir em laboratório dois vidros com as características que queríamos já na primeira rodada de experimentos”, conta o engenheiro de materiais Edgar Dutra Zanotto, coordenador do Laboratório de Materiais Vítreos (LaMaV) da UFSCar e do Centro de Pesquisa, Educação e Inovação em Vidros (CeRTEV), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) financiados pela FAPESP. A estratégia adotada e os resultados obtidos estão descritos em um artigo publicado em dezembro na revista Ceramics International.

A equipe de Zanotto foi uma das pioneiras no mundo a usar inteligência artificial para auxiliar a criação vidros. Anos atrás, o engenheiro de materiais Daniel Cassar desenvolveu um programa de computador que se baseava no funcionamento das redes neurais para tentar descobrir, a partir de uma composição química teórica de um vidro, quais seriam algumas de suas características. Apresentado em 2018 na revista Acta Materialia, o modelo matemático predizia com boa confiabilidade uma propriedade física (temperatura de transição vítrea) de qualquer vidro óxido produzido a partir de uma mistura de três a 45 elementos químicos. O programa, no entanto, não permitia fazer o inverso: definida uma característica específica, dizer quais componentes deveriam ser combinados e quais as proporções para alcançá-la. “Tivemos de aprimorar o software usando algoritmos genéticos”, lembra Cassar, que realiza estágio de pós-doutorado no LaMaV. Algoritmo genético é uma técnica de computação capaz de resolver problemas de otimização inspirada por mecanismos da biologia, como hereditariedade, mutação e seleção natural.

Os pesquisadores testaram o novo programa definindo de saída duas propriedades que o novo vidro deveria apresentar: baixa temperatura de transição vítrea, inferior a 500 graus Celsius, e alto índice de refração, superior a 1,7. Essas características são necessárias para produzir lentes pequenas e finas em grandes quantidades, obtidas por prensagem em moldes metálicos. Cassar alimentou o programa com dados de temperatura de transição vítrea de 45.302 combinações produzidas com até 39 elementos químicos e do índice de refração de 41.225 formulações de até 38 elementos. Depois, usou um algoritmo genético para identificar as composições mais relevantes. A estratégia indicou 15 formulações, entre as quais Zanotto selecionou as duas com maior probabilidade de funcionar.

No LaMaV, a química Gisele Guimarães dos Santos, também bolsista de pós-doutorado, transformou as formulações teóricas em objetos concretos. O vidro feito com seis compostos tem cor amarelo-palha, tornou-se rígido a 450 graus e apresentou índice de refração igual a 1,7. Já a mistura de 11 compostos vitrificou a 400 graus e com índice de refração mais alto (1,75), com coloração caramelo. “Está aberto um caminho mais eficiente para obter materiais vítreos que atendam às exigências da indústria”, conclui Zanotto.

Projeto
CeRTEV – Centro de Pesquisa, Educação e Inovação em Vidros (nº 13/07793-6); Modalidade Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid); Pesquisador responsável Edgar Dutra Zanotto (UFSCar); Investimento R$ 37.769.093,39.

Artigos científicos
CASSAR, D. R. et al. Designing optical glasses by machine learning coupled with a genetic algorithm. Ceramics International. 25 dez. 2020.
CASSAR, D. R. et al. Predicting glass transition temperatures using neural networks. Acta Materialia. v. 159, p. 249-56. 2018.