Bruno Vaiano
10 de outubro de 2016
Se você leu nossa matéria sobre o cristal de quatro dimensões e entendeu tudo, nós temos um novo desafio científico para o seu cérebro, mas desta vez em escala astronômica. Você deve se lembrar do que é um disco proplanetário: uma nuvem de poeira e gás que circunda uma estrela jovem e fornece matéria prima para a formação de planetas. Você também deve se lembrar do conceito de sistema binário, em que duas estrelas ficam em órbita uma em torno da outra— e os planetas, por sua vez, giram em torno da dupla.
Agora imagine um sistema binário em que cada estrela possui seu próprio acúmulo depoeira e gás, mas que também possui um disco proplanetário maior em órbita em torno das duas. Não é ficção: é o IRS 43, localizado a 400 anos-luz da Terra. A pesquisa foi liderada por Christian Brinch, da Universidade de Copenhaguen, na Dinamarca, e publicada no periódico Astrophysical Journal Letters.
A equipe de Brinch observou o sistema, que era conhecido há mais de 25 anos, em agosto de 2015 usando o conjunto de telescópios ALMA (Atacama Large Millimeter/submillimeter Array), no Chile. O sistema é imenso: cada disco "particular" tem 50 unidades astronômicas (UA) de diâmetro, ou seja, 50 vezes a distância entre aTerra e o Sol. Já o disco maior, compartilhado pelas duas estrelas, bate 500 UA. Imenso é pouco. Ainda não se sabe se qualquer um dos três discos tem potencial pra formar planetas, já que a quantidade de material e os processos envolvidos na formação ainda não são claros para a astronomia.
O mais estranho, porém, é que a nuvem maior não está alinhada com a órbita de suas duas estrelas anfitriãs, como ocorre na maior parte dos casos: há uma inexplicável discrepância de 60º entre elas, conforme indica a ilustração que abriu a matéria. Isso põe o sistema IRS 43 em uma corrida contra o tempo: se ele formar planetas antes de se alinhar, ficará torto para sempre. Se os planetas esperarem um pouco para surgir, ele terá tempo de entrar nos eixos. Exemplos de planetas inclinados além do normal não são raros — o pequeno Plutão, inclusive, é um deles.
Talvez a nuvem torta e mais dispersa seja só uma anomalia resultante da formação recente e conturbada de IRS 43. Por outro lado, ela também pode ter sido herdada de uma terceira estrela que não está mais com suas irmãs. Ela teria sido expulsa do sistema, e, nesse caso, ainda seria localizável na vizinhança. Será que ela tem planos de retomar seu disco protoplanetário? Game of Thrones, edição cósmica.
*Com supervisão de Isabela Moreira
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