28 de outubro de 2016
Pesquisador Carlos Nobre vai receber o Volvo Environment Prize em cerimônia em Estocolmo, na Suécia, em novembro. Crédito: Volvo Environment Prize |
Vencedor do Volvo Environment Prize, ele alerta para os riscos do aumento da temperatura e do desmatamento. "A floresta, como a conhecemos hoje, só sobreviveria no oeste do Amazonas, na Colômbia e no Peru."
O Brasil está na vanguarda das pesquisas sobre a interação entre a floresta amazônica e o clima. A afirmação é do climatologista Carlos Nobre, referência mundial nos estudos sobre mudanças climáticas. Recentemente, foi anunciado vencedor do Volvo Environment Prize, um dos principais prêmios internacionais sobre o tema. A cerimônia de entrega está marcada para 30 de novembro, em Estocolmo, na Suécia.
"Mais até que o reconhecimento pessoal, é o reconhecimento da excelência da pesquisa que se faz no Brasil voltada para os estudos climáticos e ambientais, especificamente na Amazônia. Elas estão relacionadas ao entendimento das mudanças climáticas e a influência delas no mundo todo", disse.
Seu currículo é extenso. Só na Amazônia, atua desde 1975.
É pesquisador do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e coordena o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas. Foi secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, diretor do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Em entrevista ao Portal do MCTIC, Carlos Nobre alertou para os riscos do aumento da temperatura e do desmatamento na Amazônia. Segundo ele, caso a temperatura na região cresça mais que 4ºC e o desmatamento atinja 40% da cobertura vegetal, grandes extensões da floresta amazônica se transformarão em savana.
"Esses limiares são resultado de estudos de campo e de modelagem climática, das interações entre a floresta e a atmosfera, do ciclo de carbono da Amazônia, entre outras iniciativas. As porções leste e sul da floresta amazônica podem ser substituídas por um tipo de savana muito empobrecida, bastante diferente do cerrado do Brasil Central. A floresta, como a conhecemos hoje, só sobreviveria no oeste do Amazonas, na Colômbia e no Peru", explicou.
MCTIC: Como o senhor recebeu a nomeação para o Volvo Environment Prize?
Carlos Nobre: Julgo que, mais até que o reconhecimento pessoal, é o reconhecimento da excelência da pesquisa que se faz no Brasil voltada para os estudos climáticos e ambientais, especificamente na Amazônia. Elas estão relacionadas ao entendimento das mudanças climáticas e a influência delas no mundo todo.
MCTIC: Que conclusões já foram alcançadas pelas pesquisas sobre clima?
Carlos Nobre: Em nossos estudos, vimos que há dois pontos de ruptura do equilíbrio floresta-clima, que, se acontecerem, terão consequências drásticas para a floresta e, consequentemente, para o planeta: a temperatura na região amazônica aumentar acima de 4ºC e o desmatamento da cobertura vegetal não pode chegar a 40% da mata virgem. Desde o início dos nossos estudos, há 25 anos, a temperatura subiu 1,2ºC, e o desmatamento está na faixa de 20%. Esses limiares são resultado de estudos de campo e de modelagem climática, das interações entre a floresta e a atmosfera, do ciclo de carbono da Amazônia, entre outras iniciativas. E é uma pesquisa liderada pelo Brasil, com muita contribuição de pesquisadores estrangeiros e aceita mundo afora.
MCTIC: Qual seria o impacto direto dessas alterações climáticas sobre a floresta?
Carlos Nobre: As porções leste e sul da floresta Amazônia podem ser substituídas por um tipo de savana muito empobrecida, bastante diferente do cerrado do Brasil central. A floresta, como a conhecemos hoje, só sobreviveria no oeste do Amazonas, na Colômbia e no Peru. Essas regiões concentram características climáticas e de regimes de chuvas que possibilitam que a vegetação da floresta possa perpetuar.
MCTIC: Há possibilidade de redução da capacidade de absorção de carbono da floresta em um futuro próximo? Que impactos traria para o planeta?
Carlos Nobre: Temos estimativas hoje para projetar cenários futuros. Se passarmos dos limiares de aumento de temperatura e do desmatamento da floresta, a Amazônia pode não conseguir absorver a quantidade de carbono disponível. As simulações matemáticas e de modelos climáticos indicam isso. Esse é um elemento importante a ser considerado e que traria impactos imensos sobre o clima do planeta, especialmente com aumento da temperatura em âmbito global.
MCTIC: Como a Torre Atto vai contribuir para as pesquisas sobre o clima?
Carlos Nobre: A Torre Atto é importante porque monitora o ar que passa por ela a uma altura bastante elevada. É um ar que interagiu com a biosfera ao longo de mais de mil quilômetros de floresta tropical. As medições um pouco acima das copas das árvores dão resultados diferentes, porque o ar que passa pelos sensores interage com uma área muito menor da floresta. Ela é um grande medidor do balanço de carbono da floresta. Se há maior quantidade de carbono, então haverá aumento da biomassa, porque as árvores vão ter condições para crescer e aumentar a cobertura vegetal. Por outro lado, uma menor quantidade de carbono indica que a floresta vem perdendo cobertura. A Torre Atto nos dá o estado atual da floresta para avaliarmos o ciclo de carbono do planeta.
MCTIC: O senhor considera que os pesquisadores brasileiros estão na vanguarda dos estudos sobre o clima?
Carlos Nobre: O Brasil está na vanguarda das pesquisas sobre a interação entre a floresta amazônica e o clima. Os limites do sistema climático global sempre têm a Amazônia como uma referência e como peça fundamental da regulação do clima no planeta. Os trabalhos desenvolvidos pelos pesquisadores brasileiros neste campo são referência em todo o mundo.
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