MCTIC
25 de outubro de 2016
Foto: divulgação |
Artigo publicado na Nature atesta que gases necessários para a condensação do vapor de água são fornecidos em camadas elevadas da atmosfera. Paulo Artaxo, do LBA, e Luiz Augusto Machado, do Inpe, participaram da pesquisa.
A formação das nuvens de chuva na Amazônia era um mistério que os cientistas buscavam desvendar há 15 anos. Só agora um grupo de pesquisadores conseguiu descobrir a origem dos aerossóis que alimentam as nuvens da região e decifrar o mecanismo que repõe as partículas retiradas do ar pelas precipitações.
Essa interação acontece em camadas mais elevadas da atmosfera terrestre, entre 6 mil e 15 mil metros de altitude, de acordo com dados coletados por dois aviões cedidos por institutos de pesquisa estrangeiros, um americano e outro alemão. Os resultados do estudo "Green Ocean Amazon Experiment (GoAmazon)", que tem a participação do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpe), foram publicados na revista científica Nature nesta segunda-feira (24).
Os pesquisadores já sabiam que uma parcela das partículas nanométricas responsáveis pela condensação de nuvens na Amazônia era fornecida pelas próprias árvores, por meio de emissões biogênicas. As medições anteriores apontavam a presença de partículas condensadoras no ar, mas em quantidade muito maior do que a floresta poderia fornecer para recuperar a concentração de aerossóis na atmosfera. O estudo mostra que esses gases se concentram nas camadas mais elevadas da atmosfera e são levados para altitudes mais baixas por correntes de ar. Ao chegar mais perto da crosta terrestre, se transformam em nuvens e chuvas.
Funciona assim: a floresta emite naturalmente gases conhecidos como compostos orgânicos voláteis (VOCs, na sigla em inglês), que são transportados pelas nuvens para altitudes elevadas. As temperaturas baixas, por volta de 70ºC negativos, fazem com que os gases semivoláteis se condensem e formem novas partículas nanométricas.
"As novas partículas nanométricas simplesmente não apareciam. As medições eram sempre feitas em solo ou com aviões voando até, no máximo, 3 mil metros de altura. Mas a resposta, na verdade, estava ainda muito mais no alto da atmosfera amazônica", afirmou o físico Paulo Artaxo, presidente do Programa de Grande Escala Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA) – gerenciado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).
Medidas em solo feitas no laboratório da Torre Alta de Observação da Amazônia (ATTO, na sigla em inglês), que é operada pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), confirmaram os resultados do estudo. Os dados coletados a 320 metros de altura mostram que as nanopartículas são transportadas para as superfícies depois de se juntarem nas camadas superiores da atmosfera e formarem nuvens.
Segundo o pesquisador Luiz Augusto Machado, do Inpe, acima de 2.500 metros de altitude, geralmente, ocorre uma inibição do transporte vertical de partículas, por conta de uma inversão de temperatura. Por isso, "essas observações são surpreendentes". "O transporte através das nuvens convectivas quebra essa barreira e permite o mecanismo funcionar em regiões tropicais", explicou.
Nova frente
A descoberta do novo mecanismo de dispersão de VOCs se transforma agora em desafio para a criação de modelos climáticos que levem em conta esta nova variável. "É um conhecimento que terá de ser incluído, pois ajudará a tornar as simulações de chuva na Amazônia mais precisas", reforçou Luiz Augusto Machado.
O GoAmazon foi liderado pelo cientista Jian Wang, do Brookhaven National Observatory (EUA), e também contou com a participação de pesquisadores da Universidade Harvard (EUA) e do Instituto Max Planck (Alemanha), além dos brasileiros Rodrigo Souza, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), e Henrique Barbosa, Joel Brito e Samara Carbone, da USP.
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