Folha de SP
Fernanda Perrin
24 de novembro de 2016
Foto: Parque Tecnológico |
O Brasil ainda busca recuperar terreno em uma das grandes apostas para o desenvolvimento de inovações: os parques tecnológicos, que integram universidade, setor privado e empreendedorismo.
Enquanto os EUA já tinham iniciativas do gênero desde a década de 1950, os principais parques brasileiros datam do início dos anos 2000, de acordo com Jorge Audy, presidente da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores.
O país conta hoje com 31 parques em operação, 28 em fase de implantação e 49 ainda sendo projetados, segundo dados do governo federal.
Um dos exemplos de sucesso é o Porto Digital, no Recife. Fundado em 2000, ele já recebeu R$ 200 milhões em investimentos, segundo Guilherme Calheiros, um dos diretores do empreendimento.
Instalado na região central da cidade, numa área antes degradada, o local conseguiu atrair grandes empresas, como a Accenture e a Serttel, que convivem com três incubadoras, uma aceleradora e espaços de coworking.
Ao todo, são 270 empresas no parque, que, em conjunto, faturam R$ 1,4 bilhão ao ano.
Frequentemente esses negócios se associam em consórcios para a formulação e a execução de projetos.
Um exemplo é um sistema de reconhecimento de som desenvolvido para a cidade. O programa é capaz de identificar barulhos como um tiro ou um tumulto e alertar as autoridades competentes para o problema.
Diversificação
O segmento de tecnologia da informação foi a aposta inicial do parque até por volta de 2010. Desde então, ele buscou diversificar-se por meio de incentivo a projetos na área de economia criativa –games, animação, design, fotografia e música.
"A economia criativa surgiu com destaque muito forte porque temos uma produção muito intensa em Pernambuco na área de cultura, e o que ela precisava era de uma cadeia de negócio", afirma Calheiros.
Assim, se antes os filmes do Estado precisavam ser finalizados no Rio ou em São Paulo, porque Recife não contava com estúdios de edição, agora o trabalho é feito por empresas baseadas no parque. Os longas "Aquarius" e "Boi Neon" foram finalizados lá.
Outro parque que tem buscado diversificar-se é o da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Com a forte proximidade entre a área de pesquisas da Petrobras e a faculdade, o parque atraiu muitas iniciativas na área de óleo e gás.
Mas, com a entrada de novas parcerias com a Ambev, a L'Oréal e a Fiocruz, por exemplo, a ideia é ampliar esse leque, diz José Carlos Pinto, diretor do parque.
Em contrapartida para o espaço no parque, as empresas residentes devem investir R$ 1,5 milhão ao ano, por dez anos, em projetos de P&D (pesquisa e desenvolvimento) em parceria com os centros de pesquisa da universidade.
Cidades Inteligentes
Um dos frutos dessa interação é o uso da tecnologia "big data" para monitoramento da cidade.
Esse vínculo com o entorno urbano é um traço comum dos parques tecnológicos. Em São José dos Campos (SP), um dos principais projetos do parque local, conhecido como PqTec, é o de Cidades Inteligentes, fruto de uma parceria entre o empreendimento, a prefeitura e a Ericsson.
Em uma primeira etapa, a ideia é usar um sistema inteligente de monitoramento para agilizar o atendimento a ocorrências e seu encaminhamento. No futuro, a tecnologia deve ser expandida para as áreas de saúde e educação públicas, diz Marcelo Safadi, diretor de do PqTec.
Diferentemente de outros parques, que costumam surgir da universidade, o projeto em São José, com recursos investidos que somam quase R$ 2 bilhões, surgiu de uma articulação entre a prefeitura, o Estado e as empresas do segmento aeroespacial, com destaque para a Embraer.
"Nascemos ao contrário. Aqui, estamos trazendo as universidades. Nossa governança tem um caráter privado muito forte", diz Safadi.
Agora, o objetivo é atrair universidades para o local. Além do ITA e da faculdade de odontologia da Unesp, que já tinham unidades no local, a entidade atraiu a Fatec, a Unifesp e a Anhembi Morumbi.
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