Exame
Mariana Fonseca
13 de setembro de 2016
Reinaldo Cardoso, da Renova Green: ele trabalha na indústria petrolífera e criou seu negócio após pesquisar sobre energia solar |
São Paulo – Economizar para evitar surpresas na conta de luz já se tornou um hábito dos brasileiros. Porém, mesmo com as tarifas de consumo de energiapesando no bolso, nem tudo está perdido: isso porque surgem startups que trazem soluções melhores (e mais baratas) para a geração de eletricidade.
A curitibana Renova Green é uma delas. Aproveitando a tendência da energia solar no mundo todo – basta olhar o sucesso da startup americana Solar City,recentemente comprada pela Tesla –, o negócio quer que você produza sua própria energia, por meio da instalação de painéis solares alugados.
“De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), até o ano 2024 teremos mais 1,2 milhão de sistemas fotovoltaicos instalados em telhados por todo o país. Temos certeza que os brasileiros irão abraçar essa causa assim que conhecerem o nosso sistema. Além de disponibilizarmos uma fonte de energia com menor impacto ambiental, oferecemos o melhor custo-benefício para o consumidor”, afirma o co-fundador Reinaldo Cardoso.
Cardoso trabalhou como engenheiro de projetos na área de petróleo, passando anos embarcado em uma plataforma petrolífera. Um MBA que combinava gerenciamento de projetos e sustentabilidade, porém, acendeu seu interesse para fontes de energia renováveis.
O resultado de sua pesquisa de negócio chamou a atenção da aceleradora ISAE Business, do Instituto Superior de Administração e Economia (ISAE). Depois de três meses de aceleração e de testes com os primeiros consumidores, a Renova Green já procura investimento e vê um grande potencial de expansão pelo Brasil.
Idas e vindas
Painel solar da Renova Green |
No entanto, não foi fácil chegar ao modelo de aluguel de painéis: como todo negócio que envolve inovação, foi preciso que a Renova Green fizesse ajustes ao longo do tempo.
O negócio começou no ano passado, trabalhando com diversas soluções de eficiência energética, como reaproveitamento de água. “Nascemos com a proposta de popularizar novas tecnologias e oferecer projetos de sustentabilidade mais acessíveis aos nossos clientes. Queríamos trazer a eles o que antes só havia para indústrias e para clientes de alto poder aquisitivo”, explica Cardoso.
A Renova Green começou atuando em pequenos comércios e condomínios. “Porém, vimos que nosso alcance era limitado. Tínhamos dificuldade em fechar projetos, justamente porque fazíamos de tudo sem ser especialista em nada.”
A partir dessa dificuldade, o empreendedor começou a pesquisar mais sobre energia solar: viu o tamanho do mercado e quais eram as formas de desenvolver projetos de baixo custo na área. Com isso, a Renova Green desenvolveu um mini-kit de energia solar, para ser vendido em redes varejistas – o negócio lucraria tanto com a revenda quanto com a instalação do equipamento.
Porém, essa proposta também não era a ideal. “Entramos em contato com lojas físicas e online, mas a energia solar ainda está distante da realidade dos varejistas. As pessoas viam ainda como um investimento de longo prazo – o equipamento custa 2,990 reais e o retorno esperado varia entre oito e dez anos”, explica Cardoso.
A startup então buscou soluções similares em outros mercados para se inspirar. No mercado europoeu, a venda do sistema era o modelo mais usado: lá, a mentalidade de consumo a longo prazo é mais comum do que no Brasil, afirma o empreendedor.
Já no mercado americano, a Renova Green encontrou um modelo diferente, que acabou usando como inspiração: a startup SolarCity, que recentemente comprada pela Tesla. Nesse modelo, o negócio oferece o equipamento e o usuário paga de acordo com a energia gerada no sistema.
Foi aí que a empresa de Cardoso começou a ganhar musculatura. Com a nova proposta, a startup passou pela aceleração da ISAE. “Esse programa de três meses nos ajudou muito a fazer o lançamento do modelo, em agosto. Já tínhamos a ideia e o produto desenvolvidos, mas faltava modelar o plano de negócios no sentido de colocar a startup no mercado de uma forma mais concreta”, afirma.
Como funciona?
Desde 2012, a ANEEL já garante a possibilidade de minigeração doméstica de energia - ou seja, o consumidor pode instalar pequenos geradores, tais como painéis solares ou microturbinas eólicas, em casa ou em seu negócio.
Porém, como já vimos, isso não é tão simples assim: comprar e instalar painéis solares não sai barato, ainda que gere um alívio nas contas de consumo de energia.
Para resolver esse problema, a Renova Green resolveu alugar os painéis por meio de uma assinatura mensal, e não simplesmente vendê-los.
O cliente da Renova Green se cadastra por meio do site da startup e pode tirar dúvidas antes de fechar o contrato. Depois, faz o agendamento da instalação de painéis solares, pagando uma taxa de 199 reais. A manutenção do equipamento está garantida no contrato. Segundo Cardoso, em um ano de uso o cliente já recebe o retorno por essa taxa.
A partir daí, o usuário paga uma mensalidade de 19,90 por mês, tendo como base uma geração de 60kWh/mês. Segundo a Renova Green, sua solução gera uma redução média de 40 reais por mês na conta de luz em Curitiba, tendo como base esse consumo. Ou seja: com a mensalidade de 19,90, a economia é de cerca de 20 reais.
A startup está desenhando valores de mensalidade mais altos por uma geração de energia maior – quanto maior o consumo, maior a porcentagem de economia sobre a conta tradicional de luz.
Para um plano de 500kWh/mês, por exemplo, a economia varia de 8% (contratação de um painel, por 19,90, e pagamento do restante de forma tradicional) a 25% (suprimento total por meio de painéis solares). Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o consumo média residencial por mês foi de 160kWh.
Para a Renova Green conseguir retornar o valor investido no equipamento, foi preciso desenhar um contrato de fidelidade de 240 meses (20 anos). Se o assinante quiser cancelar antes do prazo, será cobrada uma taxa de desinstalação do sistema. É possível transferir a titularidade do contrato ou realizar uma mudança de endereço.
“Como começamos agora, estamos vendo a reação do mercado e adaptaremos se necessário. Tivemos feedback de gente que aceitou esses termos e de gente que desistiu justamente pelo contrato de longo prazo”, explica Cardoso.
“Mesmo assim, nossa previsão de taxa de desistência é baixa, já que temos uma economia garantida na conta de luz. A mensalidade só aumenta se o consumo energético aumentar e, nesse caso, a taxa de redução de custo também aumenta em relação à conta tradicional.”
Veja o vídeo:
Planos
Hoje, o negócio conta com dez clientes cadastrados, todos em Curitiba. Porém, já possui 250 solicitações de assinatura só na cidade – mais ainda levando em consideração o país inteiro.
“Estamos em uma fase de estruturação para atender à demanda que geramos. Não temos recursos, inclusive financeiros, para atender a essa procura. Analisamos atender outros dez consumidores e colher mais feedback. A partir disso, podemos discutir investimentos”, explica Cardoso.
A Renova Green pretende se firmar no mercado de Curitiba antes de começar sua expansão pelo Brasil. Para essa ampliação, pretende captar recursos.
A meta para 2016 é conseguir um investimento para chegar a cem assinantes atendidos.
No próximo ano, a meta é ter outro investimento, mais robusto, para fazer a expansão para outras cidades. “Já temos investidores interessados e procuramos novos parceiros do setor de energia solar para levar esse modelo de negócio à região deles, atendendo nossa demanda reprimida.”
Com isso, o negócio chegará ao seu ponto de equilíbrio entre receitas e despesas. Para que isso aconteça, será preciso obter entre 1.250 e 5.000 usuários – a depender de quantos painéis cada cliente necessitará.
“Já temos demanda, e sabemos que ela aumentará ainda mais quando os clientes começarem a perceber o retorno na conta de luz, indicando o negócio para amigos”, conclui Cardoso.
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