Estadão
Fábio Castro
21 de setembro de 2016
Modelo com base em evidências fósseis e genéticas mostra que Homo sapiens deixou continente de origem rumo à Europa e Ásia, em 4 ondas migratórias.
Depois de sua origem no leste da África há cerca de 200 mil anos, o Homo sapiens saiu do continente e se espalhou pela Europa e pela Ásia em quatro grandes ondas migratórias distintas, pelo Oriente Médio, de acordo com um novo estudo publicado nesta quarta-feira, na revista Nature. Os autores também concluíram que os movimentos migratórios coincidem com períodos de mudanças climáticas causadas por variações na órbita da Terra.
A pesquisa, liderada por Axel Timmermann e Tobias Friedrich, da Universidade do Havaí (Estados Unidos), foi realizada com base no estudo de evidências fósseis e genéticas. O estudo também concluiu que os humanos chegaram simultaneamente ao sul da Europa e ao sul da China, há cerca de 85 mil anos.
Segundo os cientistas, as migrações ocorreram pela Península Arábica e pela região do Levante (Síria, Jordânia, Palestina e Sinai) em quatro ondas, nos intervalos de 106 mil a 94 mil anos, de 89 mil a 73 mil anos, de 59 mil a 47 mil anos e de 45 mil a 29 mil anos atrás.
Estudos anteriores já previam que mudanças climáticas causadas por variações da órbita da Terra, durante o Pleistoceno Superior (de 26 mil a 11,5 mil anos atrás), teriam influenciado o momento de dispersão do Homo sapiens fora da África.
No entanto, segundo os autores do novo estudo, a hipótese não havia sido confirmada porque os dados paleoambientais disponíveis em regiões chave eram esparsos demais e porque havia incertezas nas simulações climáticas e na datação de fósseis e registros arqueológicos.
Timmermann e Friedrich construíram então um modelo matemático que quantifica os efeitos de antigas mudanças no clima, das alterações no nível dos oceanos e dos padrões globais de migração humana nos últimos 125 mil anos.
O modelo conseguiu identificar as quatro consideráveis ondas de migração ligadas às glaciações, passando pela Península Arábica e pela região do Levante. Os resultados, segundo os autores, é coerente com os dados arqueológicos e de registros fósseis.
Neanderthal. Peter Demenocal, da Universidade Columbia (Estados Unidos) e Chris Stringer, do Museu de História Natural de Londres (Reino Unido) publicaram, também na edição desta quarta da Nature, um artigo que comenta o novo estudo.
Segundo eles, a conclusão de que o sul da Europa teve uma onda de ocupação humana de baixa densidade há mais de 80 mil anos é a mais evidente discrepância entre os resultados de Timmermann e Friedrich e as evidências fósseis e arqueológicas mais aceitas, que apontam para a chegada do homem moderno à região há apenas 45 mil anos.
"Os autores sugerem, porém, que esses pioneiros da Europa teriam sido assimilados pelas populações do homem de Neanderthal, bem mais numerosas", escreveram Stringer e Demenocal.
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