Ansa/Folha de SP
Salvador Nogueira
10 de maio de 2016
Em anúncio realizado no Quartel-General da Nasa, em Washington, a equipe responsável pelo satélite Kepler comunicou a descoberta de mais 1.284 planetas fora do Sistema Solar — nove deles potencialmente rochosos e na zona habitável de suas estrelas.
É, de longe, o maior anúncio já feito no campo. Sozinho, ele mais que dobra o catálogo de exoplanetas identificados pelo Kepler, que até então tinha 1.041 mundos e agora passa a cerca de 2.325. (No total, agora, são cerca de 3.300 exoplanetas conhecidos.)
Os achados se baseiam nos dados colhidos pelo telescópio espacial entre 2009 e 2013, enquanto ele monitorava cerca de 150 mil estrelas num pequeno pedaço de céu entre as constelações Cisne e Lira.
O grande sucesso foi possível graças a uma nova técnica estatística usada para analisar os cerca de 5.000 potenciais sinais candidatos a planeta identificados pelo satélite.
O Kepler mede as pequenas reduções no brilho de estrelas causadas por planetas conforme eles transitam à frente delas (como Mercúrio fez com o Sol ontem). Mas há vários fenômenos que podem “imitar” um planeta, como variação natural da estrela e a presença de uma estrela companheira próxima. Daí a necessidade de analisar individualmente cada “candidato” para ver se ele não é de fato um falso positivo.
A nova técnica combina a análise da curva de luz da estrela observada — para ver se ela segue com precisão o que se esperaria de um planeta — com a probabilidade de ser um falso positivo e considera confirmados aqueles cuja chance de ser de fato planeta for maior que 99%. “Criamos um placar de confiabilidade para cada um: quando ele dá mais de 99%, nós os consideramos validados”, explicou Tim Morton, pesquisador da Universidade Princeton que trabalhou na análise dos dados e desenvolveu o método automatizado.
O hall da fama do Kepler
O principal objetivo da missão sempre foi determinar a frequência de planetas potencialmente rochosos — como a Terra — a uma distância de sua estrela que seja compatível com a presença de água em estado líquido, principal fator para a existência de vida como a conhecemos.
Até o anúncio de hoje, o Kepler já havia encontrado 12 mundos nessa categoria — com diâmetro entre 1 e 2 vezes o terrestre — em torno de estrelas tão brilhantes quanto o Sol (tipo G, anãs amarelas) ou menores e menos brilhantes (tipos K e M, as anãs laranjas e vermelhas). As novas descobertas adicionam mais 9 membros a esse grupo.
Um aspecto importante, contudo, é o fato de que o satélite só pode detectar sistemas planetários que estão alinhados de forma favorável, de modo que os planetas transitem à frente da estrela do ponto de vista do Kepler. Isso significa que apenas uma pequena fração (menos de 5%) de todos os sistemas são observáveis. Ainda assim, são uma amostra representativa que pode ser extrapolada para toda a galáxia. E esse é o número que o satélite tinha a ambição de descobrir. Qual é a frequência de mundos de porte similar ao da Terra na zona habitável de suas estrelas?
Por uma questão de viés de observação, as estrelas que mais facilmente entregam essa resposta são as anãs vermelhas. Por serem menores, seus planetas produzem uma redução proporcionalmente maior de brilho (o que facilita a detecção), e além disso a zona habitável fica mais perto da estrela, o que permitiu observar mais trânsitos desses mundos durante os quatro anos da missão primária do Kepler.
De acordo com Natalie Batalha, cientista da missão do Kepler, as estatísticas nesse momento se mostram muito favoráveis à busca por mundos habitáveis. “Com todos os números, estimamos que cerca de 24% das estrelas [anãs vermelhas] têm um planeta com até 1,6 diâmetro terrestre na zona habitável”, disse. “Se você extrapola isso para toda a galáxia, são mais de 10 bilhões de planetas potencialmente habitáveis, e o mais perto daqui deve estar a 11 anos-luz. Esse é um vizinho muito próximo.”
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