Folha de SP
14 de janeiro de 2017
Veículo militar com torre de armamentos, fabricada em parceria com subsidiária da israelense Elbit |
O Exército pretende gastar nos próximos anos R$ 6,3 bilhões para atualizar e equipar sua frota de veículos blindados. O governo de Michel Temer fechou em 2016 dois contratos envolvendo os blindados Guarani: um deles com a montadora Iveco e outro com a subsidiária brasileira da fabricante israelense de armamentos Elbit.
O contrato com a Iveco, de R$ 6 bi, prevê a entrega de 1.580 veículos blindados até 2035. Com a empresa Ares, ligada à israelense Elbit, o prazo é mais curto. Serão 215 torres de armamentos para equipar esses veículos, ao custo de R$ 328 milhões, entregues ao longo dos próximos quatro anos.
O Exército informou que os pagamentos dependerão da disponibilidade de recursos do governo federal para esses projetos e que, no caso das torres, o cronograma ainda não foi definido e será montado "conforme a descentralização de recursos" do governo.
Disse ainda que os compromissos com as contratadas podem ser ajustados ao longo da vigência do acordo.
As duas empresas foram contratadas sem licitação.
Questionado sobre a contratação de despesas dessa magnitude em um período de acentuada dificuldade financeira do governo federal e de ajuste fiscal, o Ministério da Defesa orientou a reportagem da Folha a procurar o próprio Exército.
Os valores que serão gastos com os blindados correspondem a mais do que um ano de despesas da Câmara dos Deputados, por exemplo.
O Orçamento do Exército para 2017 foi estimado em R$ 40,8 bilhões –a maior parte para o pagamento de pessoal. Os investimentos para este ano (despesas com aquisição de equipamentos, obras ou instalações), segundo o projeto de lei orçamentária, seriam de R$ 1,8 bi.
Reclamações de militares sobre a escassez de recursos se tornaram frequentes nos últimos anos. O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, disse no ano passado que os cortes do governo federal poderiam provocar "perda de tecnologia" e problemas materiais.
Em mensagem em dezembro, o comandante disse prever para 2017 "o agravamento das dificuldades que assolam o país, com reflexo negativo no nosso orçamento e nos nossos salários".
Os militares, porém, ficaram de fora da proposta de Temer para a reforma da Previdência, uma das principais bandeiras do governo para este ano.
METRALHADORAS
As torres que serão compradas para equipar os blindados são compostas por metralhadoras automatizadas.
A Ares informa em seu site que a torre funciona como uma "estação de armas" que pode ter operação remota, de dentro do veículo, ou manual. Os tiros são intermitentes ou em rajada.
Procurada, a Ares não respondeu perguntas encaminhadas pela reportagem.
O Exército mantém uma parceria com a empresa desde 2006 para desenvolvimento do projeto por meio de seu centro tecnológico.
A corporação informou que o pacote contratado inclui não são só os equipamentos, mas também a manutenção dos conjuntos, ferramentas e treinamento.
Também afirmou, em nota, que a Ares é uma empresa com sede no Brasil e com capital humano nacional.
Os blindados Guarani começaram a ser usados pelo Exército há três anos, em substituição aos modelos Urutu e Cascavel, adotados pelos militares brasileiros desde os anos 1970.
O principal modelo do Guarani tem tração em seis rodas, sete metros de comprimento e capacidade para transportar até 11 pessoas.
Foi desenvolvido com a Iveco em uma unidade em Minas. A empresa integra o grupo Fiat.
Nesta década, o principal investimento envolvendo a Defesa foi a compra de 36 caças Gripen da empresa sueca Saab para a FAB (Força Aérea Brasileira), formalizada entre 2013 e 2014. O valor anunciado à época era de US$ 5,4 bilhões (R$ 17,4 bi em valores atuais).
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