MCTIC
13 de junho de 2017
Foto: O nível médio dos mares subiu, em média, 19 centímetros entre os anos de 1901 e 2010. Crédito: Agência Brasil |
Estudo produzido por especialistas brasileiros indica a formação de tempestades e ressacas em decorrência das mudanças climáticas. Segundo José Marengo, do Cemaden, país precisa avançar no conhecimento sobre o tema.
O nível do mar no litoral do Brasil deve aumentar nas próximas décadas. Em consequência disso, o risco de ocorrência de ressacas, enchentes, enxurradas e deslizamentos de terra nas cidades costeiras aumenta consideravelmente.
As conclusões estão em relatório produzido por cientistas de todo o país a pedido do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PMBC), que reúne representantes dos ministérios da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e do Meio Ambiente (MMA), universidades e centros de pesquisa.
Segundo o documento, o aumento da temperatura média do planeta influencia diretamente a elevação do nível dos mares, decorrente da aceleração do derretimento da camada de gelo nos polos. Com mais calor e maior volume de água, aumenta-se o potencial de formação de tempestades ao longo da costa.
"O aumento do nível do mar, aliado ao aumento das tempestades, traz uma série de riscos para a ocorrência de eventos extremos na linha costeira. As chuvas ficam muito concentradas em regiões próximas à costa e, sendo de maior intensidade, podem causar impactos econômicos, sociais e ambientais em escala maior.
O que buscamos com esse estudo foi mapear as vulnerabilidades das cidades brasileiras situadas próximas ao mar, avaliar o potencial de impactos e propor meios para termos ações preventivas ao invés de reagir aos episódios extremos depois que eles acontecem", explica o climatologista José Marengo, coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) – entidade vinculada ao MCTIC – e colaborador do PBMC.
Ele alerta que uma das consequências da elevação do nível dos oceanos é a redução da faixa de areia. Em alguns casos, como em Recife (PE), o mar avançou 20 metros na Praia de Boa Viagem, um dos cartões postais do município e uma das áreas residenciais mais valorizadas da capital pernambucana. O mesmo acontece em Santos (SP), que abriga o maior porto da América Latina.
Marengo afirma que esse fenômeno eleva o potencial de ocorrências de ressacas. As ondas do mar chegam à costa com muito mais intensidade e avançam sobre as cidades. "Não é como nos filmes, em que uma onda gigantesca ‘afoga' a cidade. Mas já há casos em que o mar invade a cidade e entra em garagens, afetando carros e estações de energia. Isso é muito perigoso e traz muitos prejuízos.
No futuro, isso pode ser mais frequente. Santos, por exemplo, já sofre com isso, porque a linha do mar é muito próxima das construções. Os estudos mostram que, com elevação de 50 centímetros do nível do mar, o centro histórico do Recife pode sofrer com as ressacas, podendo até perder parte do seu acervo histórico."
Mais informação
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 60% da população do país vive em cidades à beira-mar. Entretanto, não há estudos sobre a vulnerabilidade dos municípios litorâneos à elevação do nível do mar ou outros impactos decorrentes das mudanças climáticas.
"O Brasil ainda está engatinhando na produção de conhecimento sobre esse tema. Temos conhecimento, mas bastante reduzido. Poucas cidades têm. Em muitas vezes, os dados são inexistentes ou não estão disponíveis para o público. Os cientistas precisam deles para entender esses fenômenos climáticos e ajudar na prevenção", diz Marengo.
Diante deste cenário, o Cemaden busca ampliar sua área atuação para abarcar os desastres naturais ocorridos por conta da influência marítima, trabalho que não é feito atualmente. Para o pesquisador, este tipo de monitoramento vai ajudar na prevenção e enfrentamento de eventos extremos no país.
"O Cemaden trabalha com desastres naturais decorrentes de questões meteorológicas, como enchentes, enxurradas e deslizamentos de terra. Queremos colocar também inundações costeiras. Porque também é um tipo de desastre natural. Não está no nosso foco de estudo, mas queremos trabalhar com isso, para melhorar o sistema de vigilância e mitigar os impactos nas cidades em que já fazemos o monitoramento e estão na linha costeira."
Cenário
Segundo o relatório "Impacto, Vulnerabilidade e Adaptação das Cidades Costeiras Brasileiras às Mudanças Climáticas", o nível médio dos mares ao redor do planeta subiu, em média, 19 centímetros entre os anos de 1901 e 2010. O período de maior elevação é recente, de 1993 a 2010, quando a taxa de elevação correspondeu a mais de 3,2 milímetros por ano. As projeções do quinto relatório (AR5) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), indicam que o nível do mar vai subir, globalmente, entre 26 centímetros e 98 centímetros até 2100.
Em Santos (SP), o nível do mar tem aumentado 1,2 milímetro por ano, em média, desde a década de 1940. Além disso, aumentaram o tamanho das ondas – que passou de 1 metro em 1957 para 1,3 metro em 2002 – e a quantidade de ressacas.
No Rio de Janeiro (RJ), a estação maregráfica da Ilha Fiscal, localizada na Baía de Guanabara, detém a mais longa série histórica desse tipo de dados do Brasil, indicando uma tendência de aumento do nível do mar de 1,3 milímetro por ano, com base nos dados mensais do nível do mar do período de 1963 a 2011. O índice de confiança é de 95%.
Já em Recife (PE), o nível do mar subiu 5,6 milímetros entre 1946 e 1988, o que significa uma elevação de 24 centímetros em 42 anos. A erosão costeira e a ocupação do pós-praia provocaram uma redução da linha de praia em mais de 20 metros em Boa Viagem, segundo os autores do estudo.
O relatório "Impacto, Vulnerabilidade e Adaptação das Cidades Costeiras Brasileiras às Mudanças Climáticas" tem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), por meio do Projeto Metrópole, do Programa Fapesp de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais (PFPMCG) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) para Mudanças Climáticas, financiado pela fundação paulista e pelo CNPq.
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