6 de abril de 2016
Como bom mineiro, adepto de queijos e causos, fico impressionado com a falta de bom senso de muita gente boa -- muitos deles, meus amigos.
Mesmo sem um cigarrinho de palha, fico pensando na minha área profissional. Fico imaginando ser um empresário, recebendo financiamento de recursos públicos de agências de fomento como FINEP, BNDES ou similares. Depois dos recursos recebidos, o trabalho encomendado não foi realizado ou o quase nada que eu fiz foi importar coisas e ideias prontas. Eu seria um Pedro Álvares Cabral ao contrário. Levei dinheiro e trouxe bugigangas tendendo à obsolescência.
Em outra situação, como bolsista do CNPq, CAPES, FAPESP ou outra agência, não tenho a competência, criatividade ou simplesmente a produtividade exigida para justificar o recebimento de recursos. Mas, como alguém viu méritos em mim e os recursos estavam disponíveis, utilizo as bolsas para "turistear" pelo mundo afora.
Minha cabeça dura caipira não me permite nada disso. Minha autocrítica conhece meus limites. Se eu me permitisse vender meus bagres como salmões, eu ficaria quietinho na moita.
Na cidade grande a coisa não é assim. Nas conversas do dia a dia ou nas tais de redes sociais, as pessoas fazem discursos ensandecidos contra a corrupção, clamam por 'justiceiros' como o juizinho Moro. Querem acabar com os petralhas. Colocam suas bandeiras nas fachadas de seus lares ou empresas. Invocam o espírito de porco da Janaína, pois só ela poderá nos salvar desta república de cobras. Vendem autoritarismo e farsas judiciais como democracia.
Imagino tais pessoas vivendo na Alemanha nazista. Por certo elas estariam nas famosas manifestações do 1 milhão, na BerlinAlexanderPlatz, empunhando suas bandeiras e vociferando para que Hitler acabasse com os comunistas e limpasse a nação de negros, pobres e nordestinos (modernizariam o discurso), e salvasse o país da corrupção.
Olha , o que eu quero dizer é o seguinte: Olhe para o seu próprio umbigo, ele não é a beleza que você acha que é.
* Solon Carvalho é pesquisador do INPE
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