Estadão
Herton Escobar
2 de setembro de 2017
Cerca de 200 cientistas protestaram na Avenida Paulista contra os cortes que ameaçam parar a pesquisa científica no País. Foto: Felipe Rau |
Cerca de 200 cientistas protestaram hoje na Avenida Paulista, na segunda Marcha pela Ciência, contra os cortes orçamentários que ameaçam parar a pesquisa científica no Brasil. O grupo caminhou meio quilômetro, desde o vão do MASP até o prédio onde fica o escritório da Presidência da República em São Paulo, na esquina com a rua Augusta.
A caminhada ocorreu sobre a faixa de ônibus no sentido Consolação, escoltada pela Polícia Militar, sem incidentes. Os cientistas levavam cartazes e entoavam frases de protesto, convocando as pessoas para virem à rua “pela ciência” e “contra o desmonte”.
“A gente precisa da sociedade do nosso lado”, disse o estudante Vinícius Soares, da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG). “O corte não vai sacrificar só o presente, nem só este mandato; são as futuras gerações que vão sofrer as piores consequências”, disse a estudante Fabiane Nakagawa, de 23 anos, que levava um cartaz com a frase “Sem ciência não há futuro”.
O orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) vem encolhendo desde 2013, e neste ano foi cortado em 44%, com um limite de empenho de aproximadamente R$ 3,3 bilhões — metade do valor de dez anos atrás. Vários laboratórios e centros de pesquisa inteiros correm risco de fechar as portas até o fim do ano por falta de dinheiro, além do risco de atraso no pagamento de bolsas. E a previsão para 2018 é de um novo corte.
“Está na hora de sairmos do laboratório”, disse a pesquisadora Nathalie Cella, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo, que ajudou a organizar esta e a primeira Marcha pela Ciência, realizada em abril. “Não podemos mais nos dar ao luxo de fazer só ciência, porque daqui a pouco não vai ter mais ciência. Precisamos nos mexer.”
Apesar do número de pessoas ter sido pequeno, ela disse ter ficado satisfeita com o resultado. “Acho que conseguimos fazer algum barulho. Se não temos 500 pessoas aqui, que pelos menos 500 pessoas nos ouçam.”
O protesto foi organizado às pressas, com menos de uma semana de antecedência. A data foi escolhida por conta da votação do projeto de lei orçamentária para 2018 no Congresso, que deve ocorrer na semana que vem.
Protestos também ocorreram no Rio de Janeiro, em Brasília e Porto Alegre, organizados pelo movimento Conhecimento sem Cortes, em parceria com a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a ANPG e outros grupos ligados às áreas científica e acadêmica.
No Rio, o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) presidente da SBPC, Ildeu Moreira de Castro, estima que cerca de mil pessoas tenham passado pela manifestação, realizada na frente do Museu do Amanhã.
“Neste momento em que o orçamento prevê um corte ainda maior para 2018, precisamos ficar em vigília permanente. Se neste ano há risco de não fecharmos setembro, a situação que se anuncia para o ano que vem é assustadora”, diz a presidente da Associação dos Docente da UFRJ e coordenadora da campanha Conhecimento sem Cortes, Tatiana Roque, que ajudou a organizar a marcha do Rio.
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