Jornal do Brasil
17 de julho de 2017
Matéria publicada nesta segunda-feira (17) pelo britânico The Guardian conta que de acordo com um relatório publicado dois meses depois que o governo declarou que o vírus zika não era mais uma emergência, as fraquezas no sistema de saúde pública colocam o país com o risco de enfrentar uma outra epidemia no Brasil.
"As condições subjacentes que permitiram que o surto fosse tão prejudicial não foram abordadas e existe uma vulnerabilidade para futuros surtos", disse Amanda Klasing, um dos autores do relatório.
segundo a reportagem ela acrescentou que milhões de pessoas não possuem saneamento adequado ou água potável, e as mulheres também precisam de melhores informações e acesso à contracepção e aborto seguro.
Guardian informa que o Zika foi identificado pela primeira vez no Brasil em 2014 e se espalhou rapidamente pelo país. Houve 191.992 casos em 2016 e em maio, 9.351 novos casos este ano. O ministério da saúde disse que o Zika foi responsável pela maioria dos 2.753 casos da devastadora microcefalia.
Muitas mulheres entrevistadas para o relatório disseram que faltam informações sobre contracepção e desconheciam que Zika poderia ser transmitida sexualmente. Quase metade daqueles com bebês microcefálicos eram mães solteiras, aponta o diário britânico.
Os abortos ilegais aumentaram no Brasil em face do surto de Zika, de acordo com um estudo de 2016 do New England Journal of Medicine. O relatório da HRW recomendou que a Suprema Corte do Brasil faça do aborto neste caso um ato legal.
"Politicamente, é muito difícil, mas de uma perspectiva de saúde pública, criminalizar o aborto é uma política terrível", disse Klasing.
O surto de microcefalia foi concentrado no ano passado no nordeste do Brasil - uma das regiões mais pobres e áridas - por razões que cientistas e pesquisadores ainda estão tentando entender. O relatório argumenta que a falta de saneamento adequado e abastecimento de água contribuiu - uma opinião que muitos especialistas compartilham, destaca o noticiário.
O mosquito Aedes aegypti, que transmite Zika e outros arbovírus como Dengue e Chikungunya, coloca ovos em superfícies úmidas perto da água. Saneamento deficiente e falta de abastecimento de água, o que significa que as pessoas armazenam água em baldes ou recipientes, proporcionam condições ideais para que se espalhe, complementa.
"Quando você tem mais condições para que o mosquito Aedes aegypti se espalhe, você tem mais possibilidades de transmissão", disse Jessé Alves, especialista em doenças infecciosas do hospital estatal Emilio Ribas, em São Paulo.
De acordo com as estatísticas da Organização Mundial de Saúde, 35 milhões de pessoas no Brasil não possuem saneamento adequado e 3,8 milhões não têm acesso a água potável. No nordeste, apenas 25% estão conectados a um sistema de águas residuais, alerta.
"Há um grande déficit no país", disse Alceu Galvão, um consultor de saneamento no nordeste do estado do Ceará, após décadas de baixo investimento.
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