INPE
21 de fevereiro de 2017
Um modelo espacial para mapear causas ambientais e sociais da malária pode auxiliar a definir as áreas de potencial risco da doença. O sistema foi desenvolvido no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) como parte da tese de doutorado de Jussara Rafael Angelo em Ciência do Sistema Terrestre.
No INPE, em parceria com a Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz) e Fiocruz-RO, a pesquisadora combinou dados de uso e cobertura da terra com informações demográficas e de saúde e, assim, conseguiu identificar e explicar o novo padrão de transmissão de malária que se estabeleceu em Porto Velho, capital de Rondônia.
Em artigo publicado nesta terça-feira (21/2), Jussara Angelo mostra que Porto Velho apresenta alto risco para a malária e desempenha papel importante na disseminação do parasita para outros municípios da Amazônia e até para áreas não endêmicas do país.
Segundo o estudo, a migração continua a ser fator importante para a ocorrência da malária. No entanto, devido às recentes mudanças na ocupação humana da Amazônia brasileira, caracterizada pela intensa expansão das redes de transporte, a mobilidade pendular também se tornou decisiva para a transmissão da doença.
“A grande contribuição do trabalho está em mostrar que este novo padrão de transmissão é explicado pela vulnerabilidade resultante de novos processos de produção centrados nas relações de trabalho precário, mobilizando trabalhadores suscetíveis residentes nas periferias das cidades e os expondo a condições ambientais favoráveis à produção da doença, levando ainda à reintrodução da malária nas cidades. Esse padrão é bastante distante dos tradicionais modelos explicativos da transmissão da malária, atribuídos ao desmatamento, à migração interna encabeçada por fronteiras de expansão agrícola e grandes projetos de infraestrutura, como a construção de estradas e hidrelétricas na Amazônia”, explica a pesquisadora, atualmente na ENSP/Fiocruz, no Rio de Janeiro.
Ela alerta que, nesse novo contexto de uma Amazônia muito mais integrada entre si e com o restante do Brasil, surge um novo padrão de transmissão da malária. “Os resultados do estudo são relevantes para redirecionar as ações de vigilância e controle da malária na Amazônia que estão diante de um verdadeiro desafio: possibilitar um diagnóstico e tratamento mais rápido do que a população consegue se movimentar pelo território", diz Jussara Angelo.
O professor da Pós-graduação em Ciência do Sistema Terrestre do INPE, Carlos Nobre, diz que o estudo mostra o poder de uma abordagem interdisciplinar para dar luz a um complexo problema de saúde. “Combinando dados epidemiológicos, socioeconômicos, de mobilidade e de malária para Porto Velho, permitiu-se a identificação de um novo modelo de transmissão da malária ligado à mobilidade dos trabalhadores no município", conclui Carlos Nobre, que orientou o trabalho.
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