Observatório do Clima, 18 de setembro de 2017
Nota do Observatório do Clima sobre os dados de desmatamento de 2017, divulgados pelo governo federal nesta terça-feira
Às vésperas da votação de mais uma denúncia de corrupção contra o presidente Michel Temer no Congresso, o governo anunciou nesta terça-feira que a taxa de desmatamento na Amazônia caiu 16% em 2017, ficando em 6.624 quilômetros quadrados. A estimativa oficial do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) foi anunciada no Palácio do Planalto pelos ministros Sarney Filho (Meio Ambiente) e Gilberto Kassab (Ciência e Comunicações). O número é 70% maior do que determina a lei brasileira de clima, segundo a qual a devastação precisa cair a 3.900 quilômetros quadrados até 2020.
A desaceleração no desmatamento pode ser explicada em parte pela recomposição do orçamento do Ibama com recursos do Fundo Amazônia, o que permitiu a retomada da fiscalização em 2017, e em parte por fatores econômicos, como a queda do preço do boi.
Temer, porém, segue patrocinando o maior conjunto de retrocessos socioambientais da história recente do País, que incluem reduzir unidades de conservação para atender a grileiros, anistiar a grilagem, tentar legalizar invasões de terras indígenas e, nesta semana, dificultar a fiscalização do trabalho escravo – na Amazônia, intimamente relacionado ao desmatamento.
“A queda de 16% em 2017 não compensa a subida de mais de 50% nos dois últimos anos. Além disso, o governo Temer segue vendendo a Amazônia, o meio ambiente e os direitos dos povos tradicionais à bancada ruralista em troca de votos no Congresso para se safar de denúncias de corrupção. Enquanto isso permanecer, nenhuma queda na taxa de desmatamento é sustentável, e o Brasil seguirá botando em risco seus compromissos internacionais e o clima do planeta”, disse Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima. Ele lembra, ainda, que os meses de agosto e setembro foram de intenso desmatamento na Amazônia, que se refletirá na taxa de 2018. O mês de setembro bateu o recorde absoluto mensal de queimadas no Brasil.
“A febre baixou, mas o paciente continua doente. A queda foi em parte devida à recessão. Houve queda de preço do gado. A pecuária é a principal causa do desmatamento”, disse Paulo Barreto, pesquisador do Imazon. “A taxa de 2017 foi 49% maior do que a de 2012, a mais baixa depois que outras medidas de controle foram tomadas. Precisamos acabar a febre – ou seja, zerar o desmatamento.
“Adicionamos 6.624 quilômetros quadrados desmatados na Amazônia – somando tudo desde o início da série histórica, é uma Alemanha e um Portugal destruídos”, afirmou Paulo Moutinho, pesquisador sênior do IPAM. “Enquanto ficarmos comemorando as quedas das taxas, vamos fechar os olhos para o fato que estamos apenas destruindo florestas em um ritmo mais lento, mas a destruição continua.”
“Os números ainda são altos e mostram que precisamos caminhar muito ainda para atingir o compromisso assumido pelo Brasil, no âmbito do Acordo de Paris, de zerar o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030. É assustador esperar mais 14 anos para zerar o desmatamento ilegal na Amazônia. Como nação, temos uma obrigação moral e estratégica acabar com essa degradação o quanto antes, e não somente na floreta amazônica, mas também nos demais biomas brasileiros, como o Cerrado”, afirmou André Ferretti, gerente na Fundação Grupo Boticário, coordenador geral no OC e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza.
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