Jornal da Ciência, 17 de outubro de 2017
A divulgação dos resultados de CT&I deixou de ser apenas uma obrigação”, afirma Vanderlan da Silva Bolzani, professora titular IQAr-Unesp e vice-presidente Fundunesp e da SBPC, em artigo para o Jornal da Ciência
Pesquisadores e professores da universidade brasileira sempre tiveram, de forma institucional, o compromisso de explicar à sociedade os resultados do trabalho que fazem e sua relevância. Hoje, entretanto, essa tarefa ganhou importância muito maior diante da necessidade de mostrar para a opinião pública os prejuízos do avassalador retrocesso que está em curso com os cortes do orçamento na área de CT&I.
Não se trata de um debate sobre a melhor forma de alocar recursos para ciência e tecnologia. O que está acontecendo é uma quebra unilateral de “contrato”, pois políticas estabelecidas e programadas, que envolveram muitos investimentos, estão sendo interrompidas sem diálogo e sem qualquer sensibilidade por parte do governo para as perdas que o País terá no futuro. O que está em jogo é um modelo que vem sendo gestado há décadas e chegou ao formato atual como o mais adequado para atender as necessidades do País
Registra-se hoje aqui e em outros países uma tendência de cobrança de resultados rápidos da atividade científica frente aos gastos públicos, assim como dos ganhos concretos que ela traz para a sociedade. No entanto, quando se analisa o cenário atual, algumas perguntas são inevitáveis e podem nos ajudar a enfrentar o desafio da comunicação e da divulgação científica.
Quais são as opções para um país, com um corpo qualificado de cientistas, que apresenta enormes demandas na área de saúde e gastos crescentes com a importação de medicamentos? Que tem atuado com sucesso na substituição de combustíveis fósseis por fontes renováveis de energia, com a perspectiva de novos sucessos? Que precisa de conhecimento para explorar o vasto potencial de sua biodiversidade em várias áreas, inclusive na de alimentos? Parece haver somente uma resposta que é investir em ciência e tecnologia. A tarefa, na qual temos pouca experiência, é fazer com que essa resposta chegue à população.
A maior parte da comunidade científica foi pega de surpresa com os cortes no orçamento do MCTIC. Entretanto, aos poucos começaram a surgir análises e manifestações de entidades representantes de docentes e pesquisadores, de sociedades científicas, grandes canais de TV e da imprensa de grande circulação. Multiplicam-se nas redes sociais os espaços de apoio às reivindicações. Três “Marchas pela Ciência” deram impulso à mobilização, a última com mil pessoas na avenida Paulista. No último dia 10, representantes de 70 entidades científicas e acadêmicas lotaram um dos auditórios no Congresso Nacional para pressionar o governo a rever tais cortes. A manifestação dos cientistas na Câmara dos Deputados encontrou receptividade em um número expressivo de parlamentares que se mostraram sensibilizados com as preocupações e reivindicações.
Esse esforço vem crescendo e tem um potencial importante que é a congregação de integrantes de várias partes do Brasil rumo a um movimento que extrapole o ambiente acadêmico na defesa de uma política de Estado para ciência e tecnologia. Mas ele precisa ser acompanhado de ações constantes, e partindo da comunidade acadêmica, de mais criatividade, para que a mensagem chegue aos principais interessados, isto é, a toda a sociedade brasileira.
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