sexta-feira, 29 de junho de 2018

'Cérebro voador' é enviado à Estação Espacial Internacional

Folha de S Paulo
29 de junho de 2018

Em formato de bola, robô com inteligência artificia criado para interagir com astronautas

Um robô com inteligência artificial e em forma de bola, apelidado "cérebro voador" e treinado para interagir com um astronauta alemão, foi lançado nesta sexta-feira (29) para a Estação Espacial Internacional (ISS) a bordo da nave Dragon, da companhia SpaceX.

Às 5h42 hora local da Flórida (6h42 de Brasília), o foguete Falcon 9 decolou de Cabo Canaveral na 15ª missão de abastecimento da SpaceX.

Integrada ao foguete Falcon 9, a cápsula Dragon leva 2.700 quilos de material e é parte do contrato que a SpaceX assinou com a Nasa no valor de 1,6 bilhão de dólares.

A primeira fase do lançamento transcorreu sem inconvenientes até que a Dragon se separou do foguete, depois de dez minutos, e abriu seus painéis solares.

No próximo dia 2, deve alcançar a ISS, a 400 quilômetros de altitude.

Não é a primeira viagem desse foguete, nem desta nave de carga. Em 2016, a Dragon foi lançada ao espaço e, há dois meses, esse mesmo foguete foi usado para colocar um satélite da Nasa em órbita.

Experimento histórico para a IA

Uma peça-chave do material transportado pela Dragon é um aparelho do tamanho de uma bola de basquete chamado CIMON, a sigla em inglês para Companheiro Móvel Interativo da Tripulação.Manfred Jaumann, diretor da Airbus, batizou o aparelho de "cérebro voador".

A ativação do CIMON representará um momento histórico, pois será o primeiro robô de seu tipo a interagir com pessoas no espaço, informou o diretor de projetos no Centro Aeroespacial Alemão (DLR), Christian Karrasch.

O CIMON foi treinado para reconhecer a voz e o rosto de Alexander Gerst, um geofísico da Agência Europeia Espacial de 42 anos.

Flutuando à altura dos olhos dos astronautas, o CIMON pode detectar com sua câmera frontal se a pessoa na sua frente é Gerst, ou outro astronauta.

Também foi instruído para interpretar o estado emocional do astronauta Gerst.

O "cérebro voador" conta com mais de dez propulsores que o ajudam a evitar tropeçar, enquanto estiver flutuando no módulo Columbus do laboratório espacial.

Apesar de os seis membros da tripulação poderem falar com CIMON (que também pode se comunicar em inglês), ele foi treinado para trabalhar melhor com Gerst.

O principal objetivo deste voo será demonstrar se esta tecnologia funciona, pois o robô deve ser capaz de guiar Gerst em vários procedimentos, inclusive mostrando fotos e vídeos necessários.

O astronauta Gerst também poderá questionar sua IA pessoal sobre outros temas, além do simples procedimento de que estejam tratando no momento.

Embrapa e Forças Armadas tratam de parceria para construção de satélite

Ministério da Agricultura
28 de junho de 2018

Foto: http://blog.perfarm.com/agricultura-no-brasil/

Novacki tratou com representantes da Embrapa
e das Forças Armadas sobre o satélite ótico
O secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Eumar Novacki, recebeu nesta quinta-feira (28), na sede do ministério, o chefe geral da Embrapa Territorial, Evaristo de Miranda e o major-brigadeiro, Jefson Borges, Chefe da Área de Planejamentos Operacionais do Estado-Maior da Aeronáutica, que representou a Comissão de Coordenação e Implantação de Sistemas Espaciais da Força Aérea, acompanhado do tenente coronel Alessandro D’ Amato e o capitão-de-Fragata, Marcio Costa, quando trataram de possível parceria na construção de satélite ótico para atender necessidades militares e civis do país. O satélite deve servir para a Embrapa ampliar o monitoramento das áreas utilizadas pela agropecuária no país.

O projeto do chamado satélite Carponis-1 dará ao país o primeiro satélite de sensoriamento remoto de alta resolução espacial brasileiro. A expectativa é de que seja colocado em órbita em 2021. O satélite faz parte de uma das constelações do Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (PESE) que integra o Programa Espacial Brasileiro e deve integrar as metas estratégicas para a inovação da Embrapa, segundo seu diretor científico Celso Moretti.

Novacki, que preside o Conselho de Administração da Embrapa, disse que o ministério tem interesse em projetos de inteligência territorial fundamentais para o desenvolvimento tecnológico e de monitoramento do setor agropecuário nacional. Miranda enfatizou que a Embrapa já desenvolve trabalhos conjuntos com as Forças Armadas e que a formalização de um acordo ou convênio de cooperação deixará um legado ao país. Ele destacou que a Embrapa Territorial tem a expertise para receber, tratar e usar essas imagens orbitais.

Segundo Borges, o interesse das Forças Armadas na parceria deve-se ao avançado estágio que a Embrapa se encontra na área de monitoramento por satélite. Ele destacou, também, que as Forças Armadas pretendem formar um banco de imagens orbitais de alta resolução para compartilhamento com todo o governo federal e têm interesse em tecnologias de catálogo e tratamento de dados desenvolvidas pela Embrapa Territorial.

quinta-feira, 28 de junho de 2018

Pence discute com Temer uso do CLA pelos Estados Unidos

O Estado do Maranhão
26 de junho de 2018

Foto: Estado do Maranhã

BRASÍLIA - O Centro de Lançamento de Alcântara ( CLA), no Maranhão, está na pauta dos assuntos estratégicos que serão discutidos hoje, 26, pelo vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, com o presidente Michel Temer. O encontro está marcado para meio-dia no Palácio do Planalto. Pence viaja amanhã, 27, para Manaus e vai visitar um dos abrigos construídos para receber venezuelanos. A visita à Casa de Acolhimento Santa Catarina está marcada para 11h.

As tratativas sobre salvaguardas tecnológicas envolvendo o CLA e Nasa - agência espacial norte-americana - voltou à mesa de negociações dos dois países recentemente.

“Se pretendemos fazer no futuro essa utilização comercial da base de lançamento de satélites é claro que as condições em que o material ingressa em território brasileiro tem que estar coberto por salvaguardas legais”, explicou o subsecretário-geral do Itamaraty, Fernando Simas Magalhães.

O interesse pela utilização da base para lançamento de satélites está na economia que o espaço permite em função das sua localização geográfica, próxima a linha do Equador. “Isso permite que um satélite possa ser lançado com 30% a mais de carga ou com economia de 30% de combustível. Alcântara oferece uma enorme atratividade para essa atividade que movimenta centenas de bilhões de dólares em todo o mundo. Se pudermos criar as condições para utilização comercial efetiva vamos entrar em um filão de mercado extraordinário”, avaliou Fernando Simas.

No início deste mês, os Estados Unidos deram o sinal verde para renegociar com o Brasil os termos de um acordo tecnológico que pode finalmente viabilizar o uso do Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão.

É a primeira vez que os americanos aceitam retomar o assunto, depois que o Congresso Nacional rejeitou, há 16 anos, uma polêmica proposta que "blindava" a tecnologia estrangeira para lançar foguetes. Mas, em tese, também abria uma brecha para tirar do Brasil a soberania sobre áreas inteiras dentro da base de lançamento.

A retomada das negociações é um passo importante: significa que diversos organismos americanos aceitaram negociar. Como nos EUA este tipo de acordo não precisa passar pelo Congresso, é uma carta-branca para que o Departamento de Estado negocie.

Esta etapa inicial é a mais difícil de ser obtida e, nos últimos 16 anos, os EUA se recusaram duas vezes a chegar a este passo. Os EUA são os maiores produtores de componentes espaciais, cujo conteúdo é protegido por razões comerciais e de estratégia militar - lançadores e satélites têm tecnologia de uso bélico. Por isso, o acordo com os americanos é condição para qualquer parceria no setor espacial que tenha chances de prosperar.

Negociações

O ministro de Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, confirmou a nova etapa das negociações e reconheceu que, sem um entendimento com os americanos, o centro de Alcântara não é viável.

"Acordamos de retomar as negociações para acorde de salvaguardas tecnológica com vistas à utilização da base de Alcântara. Se você não tiver um acordo que garanta a propriedade intelectual dos foguetes e dos satélites que serão lançados, nenhum satélite e nenhum foguete poderá ser lançado, pois a grande maioria dos lançamentos carregam tecnologia americana. O que eles querem é a defesa de seus segredos comerciais, o que é legítimo. E nós estamos discutindo sobre como exercer esta defesa sem que haja nenhuma violação à nossa soberania", afirmou o chanceler brasileiro.

De acordo com o chanceler, a decisão é dar velocidade para as negociações. "Nós estamos começando a discussão para ver quais pontos podem ser mantidos e onde é possível mudar, vendo as convergências e eventuais dificuldades. Mas o fato é que isso ficou parado por muitos anos e estamos retomando agora. Não tem prazo (para concluir a negociação). Tem prazo para começar rapidamente".

A nova minuta de acordo levada pelo Brasil a Washington traz duas mudanças essenciais ao modelo que fracassou em 2002: altera a forma como a tecnologia americana ficaria protegida em solo brasileiro e o conceito sobre como deve ser usado o dinheiro resultante dos serviços de lançamento de satélites.

Área física

A primeira novidade acaba com a limitação de uma área física, dentro do centro de Alcântara, onde apenas funcionários contratados pelos americanos poderiam circular, cláusula que gerou enorme polêmica no passado. A proposta, agora, prevê a livre circulação de brasileiros, porém com restrições rígidas ao manuseio de contêineres com equipamentos de tecnologia sensível.

O outro ponto diz respeito à aplicação de recursos oriundos da atividade espacial. Na versão inicial, o Brasil não poderia reverter em investimentos para o setor uma eventual receita produzida com o serviço de lançamento de satélites. No novo rascunho, esta vedação foi suprimida.

Os EUA já encaminharam suas avaliações para análise brasileira. "Temos boas expectativas do ponto de vista técnico. Estamos em condições de ainda fazer pequenos ajustes na questão territorial para entrar em entendimento. Essas mudanças resguardam a tecnologia estrangeira sem afetar a nossa soberania. Estamos seguros quanto a isso", afirmou uma fonte brasileira, sob a condição do anonimato.

Os americanos têm acordos desta natureza com vários países, como parte do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP). No caso brasileiro, interessa aos Estados Unidos uma redação semelhantes à adotada para cooperar no setor espacial com a Índia e a Nova Zelândia. Um outro negociador brasileiro afirma que a minuta em debate hoje é "muito parecida com o acordo com a Nova Zelândia".

Mercado

Este acordo interessa muito mais ao Brasil do que aos EUA, que já têm o mais relevante programa espacial do planeta e hoje prioriza missões de alcança interplanetário, como a Orion, que pretende fazer o homem retornar à Lua ou chegar a Marte. Para o governo brasileiro, o acordo com os EUA é a chance de tirar do ostracismo uma base de lançamento que tem como trunfo a localização privilegiada no globo, capaz de alcançar o espaço percorrendo menor distância e, portanto, com economia de propelente.

Aqui, um detalhe: o tempo corre contra o Brasil. Se demorar muito para explorar Alcântara, novas tecnologias, como a lançamento de foguetes a partir de aviões, devem se consolidar, reduzindo a vantagem competitiva da base brasileira.

Questão política

O problema é que, para viabilizar o acordo, além do aval da Secretaria de Estado dos EUA, é preciso da aprovação do texto pelo Congresso Nacional, envolto no debate eleitoral e acuado pela Lava-Jato. Diplomatas brasileiros reconhecem que o assunto "soberania" sempre vem a reboque dos debates sobre o uso de Alcântara.

Autoridades envolvidas nas negociações afirmam que o tema foi muito ideologizado e que há uma visão errônea de que o acordo poderia ferir a soberania nacional. Além do argumento de que este tipo de acordo existe com todos os países que esta capacidade de lançamento - inclusive a Rússia -, os defensores do tratado com os americanos afirmam que isso colocaria o Brasil no rol dos 10 países que poderiam deter toda a cadeia do programa espacial. Além disso, o acordo tende a atrair para o Brasil uma cadeia de empresas americanas no setor aeroespacial. Hoje, há muito mais europeus que americanos no polo tecnológico de São José dos Campos (SP).

Sobre uma possível dificuldade para aprovar o acordo no Congresso Nacional, o ministro se mostrou otimista. "Essa questão sobre se retomar este acordo é hoje em dia bastante pacificado no Brasil, dois ministros da Defesa, e um ministro das Relações Exteriores dos governos Lula e Dilma disseram na Comissão de Relações Exteriores (do Senado) que é positivo para o Brasil retomar este tema".

MOMENTO É CONSIDERADO FAVORÁVEL POR NEGOCIADORES

Negociadores afirmam que o atual momento favorece o acordo. Se no início dos anos 2000 tratava-se apenas de uma iniciativa governamental, agora há interesse de empresas privadas dos dois países. E isso ocorre porque, com a tecnologia, os satélites estão ficando menores e podem ser lançados de veículos lançadores médios. Assim, além do uso comercial de Alcântara, o acordo pode impulsionar o projeto de um veículo de lançamentos brasileiro, desenvolvido em parceria com a Alemanha.

Se o acordo com os EUA prosperar e for aprovado pelo Congresso Nacional, existem ao menos duas empresas americanas - e uma brasileira - interessadas em explorar o centro. Nos EUA, a Vector e a Rocket Lab. atuam no mercado de nanossatélites e já demonstraram disposição de investir para fazer lançamentos a partir de Alcântara. Já no Brasil, a Avibrás, que desenvolve o motor para ser usado pelo programa espacial brasileiro, tem interesse em explorar o mesmo nicho.

A última tentativa para o uso de Alcântara para o lançamento de satélites ocorreu no projeto Cyclone 4, quando o Tesouro investiu quase R$ 500 milhões para lançar da base no Maranhão um foguete europeu. Como o projeto não se mostrou viável comercialmente e tecnicamente, todo o dinheiro foi para o ralo e o programa foi cancelado em 2015. O Brasil, agora, tenta negociar com os ucranianos uma equação para liquidar a empresa criada para administrar a empreitada fracassada.

Sonda da NASA registra imagens raras de dunas azuis em Marte

Oficina da Net
22 de junho de 2018



A NASA, em seu site oficial, publicou uma foto de dunas azuis que foram descobertas em Marte. Conforme a agência, a foto foi feita através do satélite de reconhecimento de Marte MRO.

O satélite conseguiu captar uma parte da superfície azul do planeta na área da cratera Liot. Conforme a NASA, o fenômeno em questão acontece frequentemente na superfície de crateras, porém, geralmente elas são de cor cinzenta.

De acordo com os investigadores, a cor das dunas descobertas é tão brilhante em razão de uma estrutura mais complexa e também a sua composição química especial.

Tempestade de areia



A sonda espacial Curiosity, da NASA, vem acompanhando os diversos acontecimentos em Marte. A novidade da vez é que o planeta está vivenciando uma forte tempestade de areia que está espalhando poeira por todo o local.

A sonda Curiosity é um veículo elaborado pela agência espacial norte-americana equipado com câmeras e ainda outras ferramentas capazes de estudar a superfície de Marte. O equipamento, que faz parte da missão Mars Science Laboratory, foi lançado ao espaço em 2011 e está desde 2012 no Planeta Vermelho.

A superfície marciana, além da sonda Curiosity, também está ocupada por outras sondas, como a Opportunity, que chegou ao planeta ainda 2004. As duas sondas estão dispostas em locais diferentes de Marte.

Mesmo assim, em virtude da enorme tempestade de areia, ambas as sondas estão vivenciando o episódio, que está se alastrando por todo o planeta;

A Opportunity, inclusive, precisou suspender as suas atividades de pesquisa. A Curiosity, a menos atingida pelo fenômeno, conseguiu registrar imagens do momento atual de Marte.

De qualquer forma, as tempestades são eventos rotineiros em Marte, especialmente quando é verão e primavera no hemisfério sul, ou seja, quando Marte está mais próximo ao Sol.

Com isso, a medida em que a atmosfera de Marte aquece, a diferença de temperatura na superfície gera a produção de ventos que mobilizam partículas de grãos do solo. Com isso ainda, o dióxido de carbono congelado nas calotas polares durante o inverno evapora, espessando a atmosfera e aumentando a pressão da superfície, Isso faz com que a aumente ainda mais a suspensão de partículas de areia no ar.

Mesmo que comuns, as tempestades de areia ocorrem geralmente em locais contidos. A tempestade atual não está seguindo o padrão, o que a tornou diferente das demais.

Os cientistas sabem que as tempestades no planeta são recorrentes, porém, eles ainda não conseguiram compreender porque algumas duram meses e aumentam de tamanho, e outras permanecem pequenas e duram apenas uma semana.

“Nós não temos nenhuma boa resposta [para isso]”, afirmou o cientista atmosférico Scott D. Guzewich do laboratório Goddard Space Flight Center, da NASA.

Energia Nuclear: uma história de soberania e tecnologia nacional

GGN (Nassif)
27 de junho de 2018

Personagem central na história da energia nuclear brasileira, Rex Nazaré falou sobre os principais fatos e desafios do setor hoje.  (Foto: Fernando Alvim)

"Um dos nomes essenciais da nossa capacitação em energia nuclear". Foi com essas palavras que Pedro Celestino, presidente do Clube de Engenharia, apresentou o professor Rex Nazaré, cientista com mais de 50 anos de experiência na área, que fez na segunda-feira, 25 de junho, a brilhante e emocionante palestra "Uma história da energia nuclear no Brasil". 

Além de narrar os principais fatos no desenvolvimento do setor, Nazaré reforçou o papel da tecnologia nuclear na soberania nacional e registrou os desafios centrais que o Brasil enfrenta, citando o acidente nuclear em Fukushima, no Japão, em 2011, que impôs aos países uma preocupação constante com a segurança das usinas nucleares: é preciso que o Brasil pense em soluções para estocagem definitiva dos rejeitos produzidos pelas usinas, enquanto mantém a operação de Angra 1 e 2 de forma segura; as obras de Angra 3, que se arrastam desde os anos 1980 e estão paralisadas desde 2015, representam importante obstáculo para a sobrevivência do setor nuclear no Brasil, assim como o equacionamento das dívidas da Eletronuclear, cenários que dependem de apoio político do governo federal, afirmou. No concorrido plenário, um seleto público com convidados e representantes de diferentes gerações de profissionais da área reafirmou a força histórica do depoimento do físico formado pela então Universidade do Estado da Guanabara (hoje UERJ).

Rex Nazaré é especialista em engenharia nuclear pelo Instituto Militar de Engenharia (IME) e doutor em física pela Universidade de Paris. Professor em cursos de pós-graduação e conferencista emérito da Escola Superior de Guerra (ESG), integrou diferentes organismos estatais ligados ao desenvolvimento científico e tecnológico nacional. Na área nuclear, foi presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), membro do Conselho de Administração da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) e, nas décadas de 1970 e 1980, coordenou o Programa Nuclear Paralelo. Atualmente, é colaborador da presidência da Eletronuclear. 

Para Rex Nazaré, a história do desenvolvimento de tecnologia nuclear no Brasil está ligada diretamente à busca por independência. "Soberania a gente não planta. A gente conquista, vai aos pouquinhos...", afirmou. "Se pensarem que destruíram o sistema fazendo o que fizeram com a Eletronuclear, eu diria: eles [Eletronuclear] têm um time de rapazes jovens e mais maduros com capacidade, experiência e condições para fazer. E eu sei porque estou lá. Nós temos uma performance maravilhosa de eficiência em Angra 1 e 2. Isso não se consegue simplesmente jogando flores e beijinhos ao léu. Isso se consegue lutando", disse. Para ele, a imprensa deveria ser uma aliada na recuperação da soberania nacional em um momento de graves ataques, como os atuais planos do governo federal de privatizar o grupo Eletrobras, do qual a Eletronuclear faz parte. 

"Há um interesse muito grande para que a reserva brasileira de urânio não seja expandida. E eu diria que talvez seja até vantajoso, no momento em que temos um governo que vende as coisas por preços muito mais baratos, que não saibam demais sobre as nossas reservas", criticou o cientista.

No resgate histórico, a criação no final da década, em 1978, do Programa Nuclear Autônomo, também conhecido como Programa Nuclear Paralelo, cujos objetivos eram o enriquecimento e reprocessamento do combustível nuclear e que envolveu as principais instituições de desenvolvimento de ciência e tecnologia, civis e militares, no Brasil, buscando a total autonomia no ciclo do combustível nuclear. 

Rex Nazaré considera também que a tragédia de Alcântara, no Maranhão, que matou 21 técnicos altamente qualificados e paralisou o programa espacial brasileiro, é um exemplo a ser lembrado em todos os momentos em que uma massa crítica de pesquisadores brasileiros se reunirem em torno de um projeto tecnológico nacional, autônomo, na fronteira do conhecimento.

Reiterando seu compromisso com o Brasil, afirmou: "Hoje eu diria que me orgulho muito de ver aqui alguns colegas, e filhos de colegas, e ver que realmente estamos juntos, que a qualquer momento uma porta se abre. Vale a pena continuar lutando! Eu entro às 8 da manhã na Eletronuclear e saio às 17h. Exceto nas terças-feiras, quando dou aula de graça no IME. Por uma razão muito simples: eu acho que é obrigação minha".

Para Pedro Celestino, a palestra foi uma "aula de brasilidade". "Uma aula do que deve ser o nosso comportamento em qualquer regime, em qualquer governo: defender o que é nosso, defender as nossas conquistas, defender o nosso patrimônio. Rex Nazaré é um exemplo disso. Atravessou diferentes regimes e governos, passou por vários presidentes da República e nunca perdeu a coerência, nunca perdeu a fé neste país que é um dos maiores países do mundo, que tem uma das maiores populações do mundo e uma das maiores reservas e recursos naturais do planeta e que, por tudo isso, tem que ter uma proposta nacional, uma proposta soberana, que atenda aos interesses do seu povo", finalizou o presidente do Clube de Engenharia. 

Para assistir à palestra na íntegra, acesse o canal do Clube de Engenharia no Youtube: 

Comunicado Conjunto sobre Cooperação Espacial Brasil-EUA

Ministério das Relações Exteriores
27 de junho de 2018



Por ocasião da visita a Brasília, no dia 26 de junho de 2018, do Vice-Presidente dos Estados Unidos da América, Mike Pence, foram discutidas oportunidades para expandir a cooperação bilateral em áreas estratégicas, entre elas o espaço exterior. Em audiência do Presidente Michel Temer ao Vice-Presidente Pence, que preside o Conselho Nacional do Espaço dos Estados Unidos, tratou-se especificamente de tópicos pertinentes à cooperação Brasil-EUA para os usos pacíficos do espaço exterior.

Nessa perspectiva, o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo dos Estados Unidos da América:

- reafirmam seus respectivos apoios a atividades que elevam o grau de conhecimento sobre o espaço exterior e melhoram seu desenvolvimento pacífico, o que é de seu interesse mútuo e contribui para a prosperidade de ambos os países e do mundo;

- consideram que benefícios serão obtidos por ambos os lados a partir do avanço nas atividades da cooperação nos usos pacíficos do espaço exterior, tais como missões espaciais tripuladas, ciências espaciais e iniciativas comerciais e civis na área espacial;

- reconhecem a crescente importância das atividades espaciais e saúdam os recentes esforços com vistas a robustecer esse setor em seus respectivos países, tais como o estabelecimento do Comitê de Desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro e o restabelecimento do Conselho Nacional do Espaço dos Estados Unidos;

- recordam a entrada em vigor, no dia 3 de abril de 2018, do novo Acordo-Quadro entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo dos Estados Unidos da América sobre a Cooperação dos Usos Pacíficos do Espaço Exterior;

-comprometem-se a promover a continuidade do relacionamento mutuamente benéfico nesse campo no futuro, através de instrumentos que favorecem iniciativas conjuntas de cooperação no espaço exterior;

- saúdam, também, os entendimentos entre a Agência Espacial Brasileira e a Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço dos Estados Unidos na cooperação no projeto relativo à Observação Preventiva da Cintilação (SPORT), que tem por fim estudar fenômenos ionosféricos que causam transtornos à rede do Sistema de Posicionamento Global (GPS) e aos sistemas espaciais de comunicação.

Brasília, 26 de junho de 2018.

quinta-feira, 7 de junho de 2018

Programa espacial brasileiro tem falhas na divisão civil-militar

Jornal da USP
7 de junho de 2018

Marco Corrêa/Agência Brasil

No final da década de 80 e começo da de 90, o Brasil construiu seus dois primeiros satélites inteiramente nacionais. Eles eram simples: colhiam e transmitiam informações, mas eram os primeiros passos do país, e com eles vieram conhecimentos sobre a produção da tecnologia, como no tratado CBERS, assinado junto à China (Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres, em português). Para o Professor Ricardo Magnus Osório Galvão, do Instituto de Física (IF) da USP, e diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o que dificultou o desenvolvimento espacial no Brasil foram as deficiências na estruturação do próprio programa: a divisão entre a parte de lançamentos ficou a encargo militar, enquanto  a civil ficou a encargo do INPE. Segundo Galvão, nunca ficou claro como o programa seria comandado, caso contrário, hoje, o país teria uma situação melhor na área.

Galvão conta que o país, apesar de ter posicionamento geográfico favorável ー como o Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, que permite lançamentos com custos mais baixos, devido à proximidade com o Equador ー ficou para trás no desenvolvimento de tecnologias espaciais, e dá o exemplo da Argentina, que começou as atividades espaciais depois do Brasil, mas já se encontra num estado de produção mais avançado ー são capazes de produzir satélites geoestacionários, muito importantes na área de telecomunicação, por exemplo, enquanto o Brasil ainda os importa de empresas francesas.

Sobre essa colaboração estrangeira, como na compra de satélites geoestacionários franceses, Galvão explica que a situação de sigilo das informações é delicada, pois, ao mesmo tempo em que não é fácil que o Brasil tenha acesso às tecnologias de outros países, é complicado que acessem informações sobre comunicações brasileiras. Um exemplo da delicadeza dessa questão é o caso de empresas brasileiras que entraram, pelo sigilo de informações, com ações contra o satélite geoestacionário brasileiro, lançado pela empresa Telebras em convênio com o Ministério da Defesa do Brasil e a empresa estadunidense ViaSat, em que se divide o satélite entre o uso militar e de telecomunicações. Galvão conta que, apesar dos problemas já existentes, envolvendo o primeiro satélite, o Brasil já faz planos para o segundo.

Jornal da USP no Ar, uma parceria do Instituto de Estudos Avançados, Faculdade de Medicina e Rádio USP, busca aprofundar temas nacionais e internacionais de maior repercussão e é veiculado de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 9h30, com apresentação de Roxane Ré.

Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo no celular. Você pode ouvir a entrevista completa no player acima.

segunda-feira, 4 de junho de 2018

EUA dão aval para negociar acordo espacial com o Brasil

O Globo
4 de junho de 2018

Foto: IAE

RIO E WASHINGTON - Os Estados Unidos deram o sinal verde para renegociar com o Brasil os termos de um acordo tecnológico que pode finalmente viabilizar o uso do Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão. O aval do Departamento de Estado foi dado há duas semanas. Ao GLOBO, o governo americano confirmou, por meio de nota, que abriu as negociações formais com o Brasil sobre o acordo de salvaguardas tecnológicas.

Esta é a primeira vez que os americanos aceitam retomar o assunto, depois que o Congresso Nacional rejeitou, há 16 anos, uma polêmica proposta que "blindava" a tecnologia estrangeira para lançar foguetes. Mas, em tese, também abria uma brecha para tirar do Brasil a soberania sobre áreas inteiras dentro da base de lançamento.

A retomada das negociações é um passo importante: significa que diversos organismos americanos aceitaram negociar. Como nos EUA este tipo de acordo não precisa passar pelo Congresso, é uma carta-branca para que o Departamento de Estado negocie.

Esta etapa inicial é a mais difícil de ser obtida e, nos últimos 16 anos, os EUA se recusaram duas vezes a chegar a este passo. Os EUA são os maiores produtores de componentes espaciais, cujo conteúdo é protegido por razões comerciais e de estratégia militar - lançadores e satélites têm tecnologia de uso bélico. Por isso, o acordo com os americanos é condição para qualquer parceria no setor espacial que tenha chances de prosperar.

Após encontro com o secretário de Estado, Mike Pompeo, o ministro de Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, confirmou a nova etapa das negociações e reconheceu que, sem um entendimento com os americanos, o centro de Alcântara não é viável.

— Acordamos de retomar as negociações para acorde de salvaguardas tecnológica com vistas à utilização da base de Alcântara. Se voce nao tiver um acordo que garanta a propriedade intelectual dos foguetes e dos satélites que serão lançados, nenhum satélite e nenhum foguete poderá ser lançado, pois a grande maioria dos lançamentos carregam tecnologia americana. O que eles querem é a defesa de seus segredos comerciais, o que é legítimo. E nós estamos discutindo sobre como exercer esta defesa sem que haja nenhuma violação à nossa soberania — afirmou o chanceler brasileiro.

O ministro brasileiro ainda informou que o tema será tratado durante a visita ao Brasil do vice-presidente do EUA, Mike Pence, prevista para os dias 26 e 27 de junho. Na ocasião, o vice-presidente americano ainda vai a Manaus, acompanhar a crise humanitária com os venezuelanos. E deve conhecer um dos campos montados para abrigar os refugiados. De acordo com o chanceler, a decisão é dar velocidade para as negociações.

— Nós estamos começando agora a discussao para ver quais pontos podem ser mantidos e onde é possível mudar, vendo as convergências e eventuais dificuldades. Mas o fato é que isso ficou parado por muitos anos e estamos retomando agora. Não tem prazo (para concluir a negociação). Tem prazo para começar rapidamente. O embaixador Sergio Amaral já, nesta semana, vai se encontrar com interlocutor designado pelo governo americano para iniciar efetivamente as negociações. Há uma disposição política (americana) para se chegar a um acordo.

A nova minuta de acordo levada pelo Brasil a Washington traz duas mudanças essenciais ao modelo que fracassou em 2002: altera a forma como a tecnologia americana ficaria protegida em solo brasileiro e o conceito sobre como deve ser usado o dinheiro resultante dos serviços de lançamento de satélites.

A primeira novidade acaba com a limitação de uma área física, dentro do centro de Alcântara, onde apenas funcionários contratados pelos americanos poderiam circular, cláusula que gerou enorme polêmica no passado. A proposta, agora, prevê a livre circulação de brasileiros, porém com restrições rígidas ao manuseio de contêineres com equipamentos de tecnologia sensível.

O outro ponto diz respeito à aplicação de recursos oriundos da atividade espacial. Na versão inicial, o Brasil não poderia reverter em investimentos para o setor uma eventual receita produzida com o serviço de lançamento de satélites. No novo rascunho, esta vedação foi suprimida.

Os EUA já encaminharam suas avaliações para análise brasileira. Nos próximos dias, o Itamaraty deve se reunir com os técnicos do setor para discutir detalhes da proposta que deve ser remetida ao Congresso. Não há previsão de data para que isso ocorra.

- Temos boas expectativas do ponto de vista técnico. Estamos em condições de ainda fazer pequenos ajustes na questão territorial para entrar em entendimento. Essas mudanças resguardam a tecnologia estrangeira sem afetar a nossa soberania. Estamos seguros quanto a isso - afirmou uma fonte brasileira, sob a condição do anonimato.

Os americanos têm acordos desta natureza com vários países, como parte do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP). No caso brasileiro, interessa aos Estados Unidos uma redação semelhantes à adotada para cooperar no setor espacial com a Índia e a Nova Zelândia. Um outro negociador brasileiro afirma que a minuta em debate hoje é "muito parecida com o acordo com a Nova Zelândia".

MERCADO PARA LANÇAMENTOS

Este acordo interessa muito mais ao Brasil do que aos EUA, que já têm o mais relevante programa espacial do planeta e hoje prioriza missões de alcança interplanetário, como a Orion, que pretende fazer o homem retornar à Lua ou chegar a Marte. Para o governo brasileiro, o acordo com os EUA é a chance de tirar do ostracismo uma base de lançamento que tem como trunfo a localização privilegiada no globo, capaz de alcançar o espaço percorrendo menor distância e, portanto, com economia de propelente.

Aqui, um detalhe: o tempo corre contra o Brasil. Se demorar muito para explorar Alcântara, novas tecnologias, como a lançamento de foguetes a partir de aviões, devem se consolidar, reduzindo a vantagem competitiva da base brasileira.

QUESTÃO POLÍTICA

O problema é que, para viabilizar o acordo, além do aval da Secretaria de Estado dos EUA, é preciso da aprovação do texto pelo Congresso Nacional, envolto no debate eleitoral e acuado pela Lava-Jato. Diplomatas brasileiros reconhecem que o assunto "soberania" sempre vem a reboque dos debates sobre o uso de Alcântara.

Autoridades envolvidas nas negociações afirmam que o tema foi muito ideologizado e que há uma visão errônea de que o acordo poderia ferir a soberania nacional. Além do argumento de que este tipo de acordo existe com todos os países que esta capacidade de lançamento - inclusive a Rússia -, os defensores do tratado com os americanos afirmam que isso colocaria o Brasil no rol dos 10 países que poderiam deter toda a cadeia do programa espacial. Além disso, o acordo tende a atrair para o Brasil uma cadeia de empresas americanas no setor aeroespacial. Hoje, há muito mais europeus que americanos no polo tecnológico de São José dos Campos (SP).

Sobre uma possível dificuldade para aprovar o acordo no Congresso Nacional, o ministro se mostrou otimista.

— Essa questão sobre se retomar este acordo é hoje em dia bastante pacificado no Brasil, dois ministros da Defesa, e um ministro das Relações Exteriores dos governos Lula e Dilma disseram na Comissão de Relações Exteriores (do Senado) que é positivo para o Brasil retomar este tema.

Negociadores afirmam que o atual momento favorece o acordo. Se no início dos anos 2000 tratava-se apenas de uma iniciativa governamental, agora há interesse de empresas privadas dos dois países. E isso ocorre porque, com a tecnologia, os satélites estão ficando menores e podem ser lançados de veículos lançadores médios. Assim, além do uso comercial de Alcântara, o acordo pode impulsionar o projeto de um veículo de lançamentos brasileiro, desenvolvido em parceria com a Alemanha.

Se o acordo com os EUA prosperar e for aprovado pelo Congresso Nacional, existem ao menos duas empresas americanas - e uma brasileira - interessadas em explorar o centro. Nos EUA, a SpaceVector e a Electron atuam no mercado de nanossatélites e já demonstraram disposição de investir para fazer lançamentos a partir de Alcântara. Já no Brasil, a Avibrás, que desenvolve o motor para ser usado pelo programa espacial brasileiro, tem interesse em explorar o mesmo nicho.

A última tentativa para o uso de Alcântara para o lançamento de satélites ocorreu no projeto Cyclone 4, quando o Tesouro investiu quase R$ 500 milhões para lançar da base no Maranhão um foguete europeu. Como o projeto não se mostrou viável comercialmente e tecnicamente, todo o dinheiro foi para o ralo e o programa foi cancelado em 2015. O Brasil, agora, tenta negociar com os ucranianos uma equação para liquidar a empresa criada para administrar a empreitada fracassada.