quarta-feira, 30 de maio de 2018

Qual é o propósito da Ciência?

Academia Brasileira de Ciências, via Jornal O Globo
Luiz Davidovich
29 de maio de 2018



Uma teoria com beleza matemática é mais provável de ser correta do que uma teoria feia que concorde com alguns dados experimentais. (Paul Dirac, 1902-1984)

No início do século 20, um grupo de jovens provoca uma revolução na ciência, ao formular uma teoria que se afasta radicalmente dos conceitos clássicos: a física quântica. Surge então uma nova visão da natureza: a luz comporta-se ora como ondas, ora como se fosse constituída de corpúsculos; átomos e elétrons poderiam também ter comportamento típico de ondas. O primeiro vislumbre aparece com os trabalhos de Max Planck, em 1900 e de Albert Einstein , em 1905. Os jovens responsáveis por essa reviravolta conceitual não tinham nenhuma ideia sobre possíveis aplicações dessa nova física: movia-os a curiosidade e a paixão pelo conhecimento.

Cem anos depois dos trabalhos de Planck, um artigo publicado na revista "Scientific American" pelos físicos norte-americanos Max Tegmark e John Archibald Wheeler mostrava que, no ano 2000, cerca de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano eram baseados em invenções tornadas possíveis pela física quântica, de semicondutores em chips de computadores a lasers em reprodutores de CDs e DVDs, aparelhos de ressonância magnética em hospitais, e muito mais.

A história é rica em exemplos de descobertas em ciência básica, movidas pela curiosidade, que acabaram provocando grandes transformações no quotidiano da humanidade. Assim foi com a eletricidade, explorada em experimentos pelo grande físico britânico Michael Faraday. Foi ele quem descobriu, em 1831, que uma corrente elétrica era produzida em um fio de cobre, ao movê-lo em um campo magnético — descoberta que deu origem aos geradores de energia elétrica. Questionado pelo então Ministro das Finanças britânico, Sir William Gladstone, sobre a utilidade do efeito que acabara de descobrir, Faraday responde: "Há uma alta probabilidade, Sir, que em breve o senhor poderá taxá-la”.

Também no Brasil, a ciência teve um retorno fantástico: aumentou enormemente a eficiência da agricultura, tornou possível a extração de petróleo do pré-sal — hoje mais que 50% da produção brasileira —, permitiu o enfrentamento de epidemias emergentes, o enriquecimento de urânio para centrais nucleares e o aparecimento de diversas empresas de alta tecnologia com protagonismo internacional.

Hoje em dia, a velocidade crescente do avanço científico e tecnológico diminui a distância entre descobertas de ciência básica e suas aplicações. Por isso mesmo, em 2012, em meio à crise global que afeta a taxa de crescimento de sua economia, a China aumenta em 26% os recursos para pesquisa básica. A União Europeia planeja alcançar, no ano 2020, 3% do PIB em pesquisa e desenvolvimento. Coréia do Sul e Israel já ultrapassam os 4% do PIB. Enquanto isso, o financiamento à pesquisa no Brasil está estagnado, em torno de 1% do PIB, o que ameaça as conquistas já alcançadas e mina o desenvolvimento econômico e social do país.

Mas a ciência não deve ser justificada apenas em função de suas possíveis aplicações. Se assim fosse, como entender o entusiasmo em torno do anúncio, em 2016, da detecção de ondas gravitacionais produzidas por uma colisão de buracos negros, ocorrida há mais de um bilhão de anos atrás, motivo de manchetes de jornais em todo o mundo e do Prêmio Nobel de Física em 2017? Como entender a fascinação provocada pela descoberta de um novo elo na evolução da espécie humana?

A curiosidade está inscrita no DNA humano. Trata-se de buscar respostas para questões fundamentais: quem somos, de onde viemos, qual o nosso lugar no Universo. A busca pelo desvelamento dos enigmas da natureza está intimamente ligada ao senso de beleza, que justifica a frase do grande físico Paul Dirac e é fundamental para o propósito humano. Einstein dizia que “A coisa mais bela que podemos experimentar é o misterioso. Essa é a fonte de toda verdadeira arte e toda a ciência. Aquele para quem essa emoção é estranha, aquele que não pode mais fazer uma pausa para refletir e ficar absorto em admiração, está praticamente morto: seus olhos estão fechados”.

Einstein dizia também que “o eterno mistério do mundo é sua compreensibilidade”. Está aí talvez o grande enigma da ciência, aquele que une de forma indissolúvel o Universo com aqueles que o observam: através da ciência, o Universo é descrito por uma parte sua, a chamada “vida inteligente”, que obsessivamente procura entender os mistérios do mundo em que vive e as respostas para sua própria existência.

Luiz Davidovich  é Professor Titular do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Presidente da Academia Brasileira de Ciências

terça-feira, 29 de maio de 2018

Telebras e VIASAT terão que pagar multa de R$ 5,1 milhões à Via Direta

Poder 360
Marlla Sabino
28 de maio de 2018, atualizado em 29 de maio, 7h29

Foto: Visiona

A Justiça Federal do Amazonas determinou que a Telebras e a VIASAT paguem multa de R$ 5,1 milhões à Via Direta em até 10 dias (íntegra).

A juíza Jaiza Maria Fraxe, da 1ª Vara Cível da Justiça Federal no Amazonas, alega que as empresas descumpriram a ordem de apresentar a íntegra, sem tarjas, do contrato que envolve a exploração comercial do satélite SGDC.

A estatal brasileira chegou a enviar uma cópia do documento para a Justiça, no entanto, tarjou todas as informações sobre o plano de negócio das empresas, modelo da venda e valores. O documento foi recusado pela Justiça do Amazonas.

A juíza estipulou prazo de 48 horas para a empresa apresentar uma cópia do contrato à Justiça. Na decisão, a magistrada afirmou que, caso o prazo não seja cumprido, será feita busca e apreensão do documento pela PF (Polícia Federal).

A diretora jurídica da Telebras, Isabel Santos, afirmou que a empresa ainda não foi notificada sobre as determinações. Ela disse ao Poder360 que, em nenhum momento, a estatal de telecomunicações se recusou a cumprir os prazos e determinações da Justiça.

“A Telebras não se opõe de forma nenhum a ordem judicial. Solicitamos que fosse adotado 1 procedimento para resguardar o sigilo do documento. Vários documentos vazaram”, disse.

Isabel afirmou que a estatal solicitou a entrega física do documento, em pasta reservada, à Justiça. Segundo ela, a empresa está aberta à inspeção judicial do Poder Judiciário e do Ministério Público.

Segundo a diretora jurídica, não há intenção de esconder o contrato. Ela explicou que, em fevereiro, quando as empresa fecharam a negociação, foi enviada uma cópia do contrato ao TCU (Tribunal de Contas da União).

“A Telebras é uma empresa estatal que atua em pé de igualdade à iniciativa privada nesse setor. Não queremos que nossos concorrentes possam ter acesso às cláusulas com informações comerciais. Uma vez que o contrato for aberto, não tem reversão”, afirmou.

Para a juíza, no entanto, não basta o contrato ter passado pelo crivo do TCU. “O fato não retira das requeridas o dever de cumprir as determinações da Justiça Federal de apresentar o documento sem tarjas ou qualquer artifício que possa dificultar (pelas partes, MPF e Juízo) a compreensão do seu teor”.

A ação foi movida pela empresa amazonense Via Direta, que alega que estava negociando com a empresa para usar 15% da capacidade do satélite.

Ao Poder360, o presidente da Telebras, Jarbas Valente, afirmou que a empresa chegou a demonstrar interesse, mas não houve negociações.

CONTRATO SUSPENSO

A juíza questionou a Telebras por manter o satélite em funcionamento, gerando internet na fronteira do estado de Roraima, mesmo após a suspensão do contrato, em março.

“A própria Telebras informa em sua contestação que as operações foram iniciadas na Escola Municipal Casimiro de Abreu e na Escola Indígena Tuxaua Silvestre Messias, na data de 30.03.18, e não foram interrompidas, confirmando sua indiferença em face das determinações judiciais”, escreveu.

A diretora jurídica explicou que as instalações foram feitas antes da Telebras ser notificada da decisão de suspensão do contrato. Segundo ela, desde que a empresa teve ciência, nenhuma instalação ou manutenção no sistema foram feitas.

NASA e Alemanha lançam nesta terça (22) satélite climático junto com a SpaceX

Nasa, via CanalTech
Wagner Alves
22 de maio de 2018

Like GRACE, the twin GRACE-FO satellites will follow each other in orbit around the Earth, separated by about 137 miles (220 km). Seen in an artist's rendering. Credit: NASA

A NASA, em parceria com a SpaceX e o governo alemão, enviam na tarde desta terça-feira (22) um novo satélite para monitoramento climático. Chamado de GRACE-FO, da sigla em inglês German Gravity Recovery and Climate Experiment Follow-on, o aparelho será lançado com um foguete Falcon 9 a partir das 16h45, no horário de Brasília, direto da Vandenberg Air Force Base, localizado na Califórnia. A SpaceX vai transmitir o lançamento.

O conjunto vai levar cinco Iridium NEXT, satélites de comunicação, e os dois GRACE-FO. A produção foi feita em conjunto da NASA com o German Research Centre for Geosciences, centro de pesquisas alemão. Esta missão tem o objetivo de substituir os satélites GRACE, lançados em 2002 e que encerraram suas operações no ano passado. Por isso, a adição de “Follow-on” ao nome, que pode ser entendido como acompanhamento ou sequência. 

Os dois aparelhos trabalham em conjunto usando sinais de microondas para analisar e enviar dados relacionados a condições climáticas, ciclo da água, níveis de degelo e outros dados que podem colaborar para com o entendimento das mudanças climáticas e participação humana no processo.

"Durante os 15 anos de operação da missão, o conjunto de satélites mediu o campo gravitacional da Terra e suas variações de uma maneira altamente precisa, o que nos ajuda, por exemplo, a documentar com precisão as mudanças no armazenamento de água subterrânea ou no recuo glacial. Também a influência resultante na elevação do nível do mar pode ser detectada graças às medidas do GRACE. A missão, assim, contribuiu substancialmente para uma melhor compreensão do sistema Terra”, informa a Agência em nota.

De acordo com o site da NASA, o foguete e o conjunto já estão em posição de lançamento desde a noite de segunda-feira. A proposta é que esta nova missão dure por cinco anos.

Brasil terá satélite totalmente desenvolvido pela indústria brasileira

Defesa e Segurança
28 de maio de 2018



Os resultados das discussões com as instituições de fomento do País, no 1º Fórum da Indústria Espacial Brasileira, promovido pela Agência Espacial Brasileira (AEB), em novembro de 2017, em São José dos Campos (SP), contribuíram muito para um acordo que culminou no projeto-piloto de um satélite a ser desenvolvido totalmente pela indústria brasileira.

O contrato foi assinado pela Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação (Embrapii), o Instituto Senai de Inovação de Florianópolis (SC) e a empresa Visiona Tecnologia Espacial, joint venture da Telebrás. O programa está orçado em R$ 7,8 milhões, dos quais R$ 2,6 milhões serão financiados sem reembolso pela Embrapii.

Com 11 quilos, o microssatélite contará com um subsistema ainda não totalmente desenvolvido pelo Brasil, denominado Sistema de Controle de Atitude e Órbita (AOCS), um rádio reconfigurável e uma pequena câmera de observação da Terra. As três tecnologias serão validadas em órbita com o lançamento do microssatélite, previsto para acontecer daqui a 18 meses.

Tecnologia Espacial
Segundo o presidente da AEB, José Raimundo Braga Coelho, foi feito um grande investimento para que o software fosse desenvolvido aqui no País, testado em voo e qualificado para ser utilizado em outros satélites. “Todo esse processo representa iniciativa de uma empresa brasileira que atua na área espacial, e demonstra uma atitude empresarial ousada que vai ajudá-la a se qualificar e se destacar no setor espacial”.

Para o diretor de Satélites, Aplicações de Desenvolvimento da AEB, Carlos Gurgel, “o desenvolvimento desse satélite contribuirá para a consolidação de uma empresa integradora de satélites no Brasil”. Já o diretor de Tecnologia Espacial da Visiona, Himilcon Carvalho, ressaltou que esse satélite promoverá uma grande evolução na autonomia tecnológica do País.

Segunda Edição do Fórum da Indústria Espacial
As oportunidades identificadas no Fórum da Indústria Espacial, de acordo com o presidente da AEB, estão surtindo efeito, e, com certeza, irão impulsionar ainda mais o setor em agosto deste ano, quando acontecerá a 2ª edição do Fórum da Indústria Espacial, organizado pela AEB, em parceria com a Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e o Parque Tecnológico São José dos Campos (SP).

Tudo isso reforça a importância da aproximação do governo com as indústrias e o setor acadêmico. “São em momentos como esses que as relações se estreitam e surgem grandes projetos, como esse firmado com a Embrapii/Senai”, concluiu José Raimundo.

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Dois Foguetes para o Programa Espacial Brasileiro: VS-43 e VS-50

Tecnologia e Defesa
Roberto Caiafa
22 de maio de 2018



Após o anuncio do fim do Projeto VLS-1, o Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) divulgou o interesse em aumentar a família se foguetes de sondagens a disposição do Programa Espacial Brasileiro,  desenvolvendo dois novos e poderosos foguetes, o VS-43 e o VS-50.

O VS-50 (foguete baseado no motor S50 do desejado VLM-1) foi definido durante as negociações entre o IAE e o Centro Espacial Alemão (DLR) visando um novo foguete europeu de sondagem para substituir o modelo norte-americano Castor-4B que atende o Programa MAXUS  de microgravidade.

O Interesse do IAE no desenvolvimento do VS-43 (foguete baseado no motor S43 do VLS-1) não é exatamente novo, pois este projeto já existia quando foi divulgada a segunda versão do Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE 1998-2007), da Agência Espacial Brasileira (AEB).


Foguete VS-43


O Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) vislumbrou a possibilidade de desenvolver um veículo suborbital controlado baseado nos estágios superiores do VLS-1 (3º e 4º estágios), mas com a utilização do propulsor S43 no lugar do S40, levando-se em consideração a estratégia de desenvolvimento dos veículos de sondagem.

Esse veículo, denominado VS-43, seria o meio para desenvolver diversos subsistemas necessários para uma missão de satelitização. O VS-43 foi identificado como uma plataforma de testes ideal para o desenvolvimento de soluções para as seguintes áreas:

a)teste do SISNAV;
b)rede de controle, guiamento e navegação; rede de telemetria; rede de destruição e rede de serviço; e
c)eventos necessários para a satelitização: separação de coifa, basculamento, rotação e separação.
Além disso, o VS-43 também terá potencial para ser utilizado no cumprimento das seguintes missões:

a)teste de experimentos tecnológicos e em ambiente de microgravidade;
b)teste de Scramjets em camadas superiores da atmosfera;
c)teste de experimentos de reentrada atmosférica (SARA).
Adicionalmente, o IAE possui especial interesse no VS-43 pois:

a)sendo um veículo muito mais simples que o VLS-1 e bem mais complexo que um VS-40 ou Sonda IV, o desenvolvimento do VS-43 será uma excelente oportunidade para o IAE revisar, implementar e consolidar metodologias para o gerenciamento e desenvolvimento de projetos complexos;
b)possibilita a utilização do estoque adquirido pelo projeto do veículo VLS-1;
c)possibilita a utilização de toda a infraestrutura criada para o VLS-1 no IAE e no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA)
O sistema sera composto (preliminarmente), por:

a)veículo: saia traseira com empenas, um motor S43 como primeiro estágio, baia de controle de rolamento, baia de equipamentos, um motor S44 como segundo estágio, cone de acoplamento e coifa;
b)banco de controle e linha de fogo;
c)sistema de aquisição e processamento de dados de telemetria;
d)sistema de carregamento de nitrogênio;
e)equipamentos de apoio ao solo e dispositivos para testes;
f)embalagens, manuais e procedimentos de integração;
g)estrutura de lançamento e rastreio já existente no CLA composta por: SISPLAT, casamata, PPP, PPCU, terminação de voo, radares e outros.
O IAE finaliza dizendo que espera que o VS-43 seja o veículo ideal para auxiliar o preenchimento da lacuna existente entre os veículos Sonda IV, VS-40 e VLS-1, a fim de assim dar continuidade na lógica de desenvolvimento iniciada com a família de veículos de sondagem.

Foguete VS-50

A configuração básica do foguete VS-50 será composta por um propulsor sólido S50 no seu primeiro estágio e um propulsor S44 no segundo estágio.

O veículo será concebido em conjunto com a base móvel de foguetes (MORABA) do Centro Espacial Alemão (DLR) visando ensaiar:

a)experimentos do projeto SHEFEX;
b)componentes que poderão ser utilizados no projeto VLM
c)principalmente para desenvolver, fabricar e qualificar em voo o motor S50.
Seu comprimento será de 12 m, seu diâmetro de 1,46 m e massa estimada de 15 toneladas e o seu desenvolvimento foi iniciado em 2014 em parceria com o DLR alemão.

Entretanto vale dizer que, apesar de ser um importante meio para desenvolver tecnologias necessárias para o VLM-1 e para as futuras gerações de veículos lançadores, não faz parte do escopo do projeto a redução dos riscos associados aos eventos necessários para a satelitização.

Fato que reforça a necessidade do desenvolvimento do veículo VS-43.

AVIBRAS vai abrir nova unidade em Lorena (SP) para atender ao Programa Espacial Brasileiro

Defesa e Segurança
23 de maio de 2018



A Avibras conseguiu aporte do BNDES para construção de uma nova fábrica em Lorena (SP). Segundo a empresa, a unidade será especializada na fabricação de polímero PBHT (Polibutadieno Hidroxilado), um dos insumos utilizados na fabricação de combustível sólido (propelente) para foguetes e mísseis, com vistas a atender o Programa Espacial Brasileiro e seus contratos para fornecimento de Produtos de Defesa. Ainda de acordo com a Avibras, o investimento da nova fábrica é de mais de R$ 72 milhões para a construção, sendo a maior parte proveniente de recursos próprios da empresa e apenas uma parte desse montante decorrente de financiamento 100% reembolsável do BNDES.

” Essa é uma decisão de investimento da empresa, estratégica para o Brasil e para a Avibras, pois é fundamental para o resgate da soberania nacional na produção de combustível sólido, essencial para as atividades aeroespaciais. O domínio do processo de produção, materializado pela construção da fábrica de PBHT, vai restabelecer a auto-suficiência em sua produção e resguardar o interesse nacional de embargos, uma vez que tal insumo é produzido por poucos países no mundo e nenhum destes no hemisfério sul”, disse a empresa em nota ao site Indústria de Defesa & Segurança.

De acordo com a Avibras, o início das operações da unidade está previsto para o final de 2019. A fábrica estará capacitada para produzir até 2000 toneladas de PBHT/ano. Além das aplicações no mercado de Defesa e Aeroespacial, o PBHT possui várias aplicações como insumo no mercado civil, tais como isolantes, selantes adesivos, impermeabilizantes, encapsulamento, revestimentos, películas, etc. “A produção de PBHT reforça a vocação industrial química dessa planta, que já produz PCA (Perclorato de Amônia), um outro elemento essencial para a fabricação de combustível sólido”, disse em nota. Ainda segundo a empresa, a nova fábrica representará um aumento expressivo de empregos diretos e indiretos na região.

Avibras e o Programa Espacial Brasileiro

A Avibras participa do Programa Espacial Brasileiro desde a década de 1960, quando fabricou os primeiros foguetes Sonda I e Sonda II. Nos últimos anos, a AVIBRAS fabricou mais de 500 foguetes de treinamento para serem lançados do Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão. Atualmente participa do desenvolvimento e da fabricação dos motores foguetes S50 do Veículo Lançador de Microssatélites (VLM-1), contratada pela Fundação de Ciência, Aplicações e Tecnologia Espaciais (Funcate) e Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) no âmbito do Programa Nacional de Atividades Espaciais da Agência Espacial Brasileira.

Com sua expertise no setor aeroespacial no desenvolvimento de soluções tecnológicas nacionais, que remontam desde a pioneira participação no início do Programa Espacial Brasileiro, a Avibras é a única empresa 100% brasileira de capital privado, com competências próprias para integrar veículos lançadores para o Programa Espacial Brasileiro em elaboração pelo governo através do Comitê do Programa Espacial Brasileiro coordenado pelo Ministro Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, General de Exército Sergio Westphalen Etchegoyen.

Segundo a empresa, é perceptível uma dinamização no mercado de pequenos satélites com aumento de demanda internacional por mais centros de lançamento. “A Avibras acredita que o Brasil pode desempenhar papel relevante no mercado Espacial pois adquiriu diversas competências básicas através de Pesquisa e Inovação no setor Espaço ao longo de quase seis décadas, desenvolveu uma base industrial competente e possui uma base de Lançamento em Alcântara (CLA), com posição geográfica privilegiada, fatores poucas vezes reunidos num único país. Reconhecida mundialmente pela excelência e pela qualidade de seus produtos e sistemas, a Avibras está entre as 100 maiores empresas exportadoras do Brasil e tem orgulho de integrar a Indústria Estratégica de Defesa Brasileira“, finalizou.

quarta-feira, 16 de maio de 2018

Briga por satélite dá prejuízo de R$ 800 mil por dia, diz presidente da Telebras

Folha de S Paulo
Natalia Portinari
14 de maio de 2018

O presidente da Telebras Jarbas Valente, em seu gabinete em Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress

SÃO PAULO - Lançado em maio de 2017, o satélite de telecomunicações estatal SGDC é alvo de uma disputa que paralisa o programa Internet para Todos, do governo federal, e põe em risco um investimento público de R$ 2,8 bilhões.

O problema começou com um edital, em outubro do ano passado, para eleger a empresa que se associaria à estatal para distribuir a banda larga do satélite. Nenhuma empresa privada compareceu.

Quando, em fevereiro, o grupo americano Viasat fechou um contrato diretamente com a Telebras, a concorrente Via Direta, também interessada no SGDC, questionou se a parceria estaria de acordo com a Lei das Estatais. O caso está em análise no STF(Supremo Tribunal Federal).

Para o presidente da Telebras, Jarbas Valente, a Justiça tem dificuldades de entender o assunto, que é muito técnico, e as empresas que questionam a parceria são movidas por interesse comercial.

Como se explica a oposição ao contrato com a Viasat?

Entendemos como uma questão comercial. A Telebras não pode atuar diretamente no mercado de banda larga, estamos proibidos pelo decreto que recriou a empresa. Com essa parceria, trouxemos um novo parceiro ao mercado. As concorrentes que não participaram do chamamento [do leilão] no ano passado e depois participaram da discussão privada com a Telebras [neste ano] talvez não esperassem esse desfecho.

Qual é a resposta ao argumento de que o contrato desrespeita a Lei das Estatais por não oferecer à Viasat as mesmas condições que estavam no chamamento público?

Na realidade, é o contrário. [A lei permite o afastamento de licitação caso ninguém acuda ao chamamento, desde que mantidas as condições do edital, e quando a empresa está comercializando produtos, serviços ou obras relacionados a seus objetos sociais, como telecomunicações, no caso].

Um argumento é que deveríamos contratar três empresas, mas no chamamento já estava previsto que quem ganhasse o primeiro lote poderia levar também o segundo. Ou seja, estamos respeitando exatamente a Lei das Estatais.

Não há sentido em dizer que só a Viasat teve a oportunidade de ficar com os dois lotes. As outras também tiveram e não levaram porque não fizeram as melhores propostas.

Outro ponto apontado pelos concorrentes é que, por se tratar de uma empresa estrangeira, o acordo fere a soberania nacional.

O edital [de 2017] também especificava que a empresa poderia ser estrangeira desde que abrisse firma no Brasil, o que foi feito pela Viasat. Diga-se de passagem, não há quase nenhuma empresa nesse setor com capital exclusivamente brasileiro exceto a própria Telebras.

Foi dito também que haveria risco de a empresa ter acesso à banda X [de uso militar], mas não tem nada disso. O Ministério da Defesa deu um parecer aprovando o negócio. A banda Ka [de uso civil] também será controlada exclusivamente pelo governo.

Por que a Telebras não divulga o conteúdo do contrato com a Viasat, como pediu a Justiça?

Como a Viasat é uma empresa aberta na Bolsa nos Estados Unidos, tem condições de confidencialidade que somos obrigados a cumprir. Mas nunca escondemos o contrato de nenhum órgão e jamais esconderíamos da Justiça. Antes de assinar a parceria, encaminhamos para o TCU a minuta do contrato e a documentação que comprovava por que a empresa foi escolhida ante as outras propostas. O processo está em análise.


O SGDC tem uma vida útil de 18 anos. Qual o prejuízo de ele estar em órbita sem uso?

O prejuízo diário de não uso do satélite é de R$ 800 mil por dia. Acumulado, está em torno de R$ 25 milhões. Se não conseguirmos viabilizar a operação nos próximos cinco anos, chega a R$ 2,4 bilhões, que é praticamente o valor investido no satélite. Se o contrato vier a ser interrompido, será um prejuízo de R$ 100 milhões, teremos de devolver dinheiro do contrato que o ministério assinou com a Telebras, além das multas previstas.

Além disso, a sociedade deixará de ser atendida naquilo que ela precisa, já que o satélite foi projetado para levar a banda larga para o país no interior da Amazonas, do Pará, do Roraima, àqueles que hoje estão excluídos digitalmente.

Por que há resistência da Justiça em dar continuidade ao negócio? A parceria está suspensa desde março.

É porque envolve uma questão técnica. Já na primeira instância foi deliberado de uma forma que não era a prevista pela Telebras [suspendendo o acordo].

A cada decisão inovam. Antes tinha o problema da soberania nacional, depois dizem que a Telebras entregou toda a banda Ka, daqui a pouco vem outra questão. As empresas têm um suporte forte junto à Justiça vendendo sua visão, mas nós confiamos absolutamente na Justiça.

As restrições orçamentárias do MCTIC [pasta das telecomunicações] impactam a operação da Telebras? É algo de que o ministro [Gilberto] Kassab vem se queixando bastante.

Sim, tanto que o investimento de instalação e manutenção de equipamentos no chamamento público era da ordem de R$ 900 milhões. Na situação que o país vive, não vamos disponibilizar esse dinheiro. A Viasat é que deve entrar com esse investimento inicial.

A Telebras não começou com uma restrição injusta, de não poder entregar diretamente a banda larga?

É interessante essa pergunta. A Telebras foi desestatizada em 1998, e o governo saiu integralmente do mercado de telecomunicações. Ao longo do tempo, porém, houve lacunas de atendimento às necessidades básicas da população, especialmente na banda larga, então a Telebras foi recriada para atender o mercado de governo [hospitais, escolas].

Por que o governo não simplesmente contratou a banda larga de satélites privados de outras empresas?

Os satélites privados que atendem o Brasil só cobrem áreas que dão retorno financeiro. A decisão estratégica foi a de lançar satélites que cobrissem essas lacunas no território.

Jarbas Valente
Cargo: Presidente da Telebras
Formação: Engenheiro eletrônico pela Universidade de Brasília (UnB)
Idade: 62 anos

SGDC (Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas)
Custo: R$ 2,8 bilhões
Operação: Telebras e Ministério da Defesa
Fabricante: Thales (França)
Integradora: Visiona Tecnologia Espacial
Lançamento: mai.2017
Conexão: Ka (banda larga), X (uso militar)
Vida útil: 18 anos


sexta-feira, 11 de maio de 2018

SpaceX adia lançamento de seu novo foguete Falcon 9 Block 5

Jornal do Brasil
10 de maio de 2018

Foto: www.noticiasaominuto.com.br/divulgação

A empresa SpaceX adiou o lançamento de seu novo foguete Falcon 9 Block 5 nesta quinta-feira (10), menos de um minuto antes da hora marcada para a decolagem.O lançamento será realizado na sexta-feira entre 16H14 e 18H21 locais (17H14 e 19H21 em Brasília), em Cabo Canaveral, Flórida.

"O lançador e seu carregamento estão em boas condições", comentou um porta-voz da SpaceX, sem explicar o motivo pelo qual o lançamento foi interrompido 58 segundos antes da decolagem. Estava previsto que o foguete, que promete ser mais potente e fácil de reciclar que os outros modelos, realizasse seu voo inaugural nesta quinta-feira.

Em sua primeira missão, o objetivo principal do foguete é colocar em uma órbita alta um satélite de comunicação de Bangladesh chamado Bangabandhu Satellite-1. Eventualmente, o foguete poderá trasladar astronautas à Estação Espacial Internacional (ISS), a bordo da cápsula tripulada Dragon, ainda em desenvolvimento.

O primeiro lançamento tripulado está previsto para dezembro deste ano, com o qual também seria a primeira vez que um foguete envia astronautas ao Espaço a partir dos Estados Unidos após o país fechar seu programa espacial, em 2011. O foguete foi construído para voar 10 vezes com um mínimo de reposição de peças, disse a repórteres o CEO da SpaceX, Elon Musk.

"Esperamos que não haja literalmente nenhuma ação (reconstrução) entre os voos, como acontece com os aviões", afirmou. "Desde 2002, foram 16 anos de esforço extremo e muitas interações, e milhares de mudanças pequenas, mas importantes, para chegar até onde acreditamos que fosse possível", acrescentou Musk.

O foguete Block 5 é a mais recente atualização do modelo Falcon 9. A companhia planeja se concentrar em uma nova geração de foguetes de carga pesada, chamados BFR. Depois do lançamento previsto para sexta-feira, o foguete tentará voltar e pousar verticalmente na plataforma "Of Course I Still Love You" situada no oceano Atlântico.

A SpaceX pousou 11 de seus foguetes em terra e 13 em plataformas flutuantes no oceano, em seu esforço para baixar os custos dos voos espaciais e aumentar a reciclagem das partes de foguetes.

quinta-feira, 10 de maio de 2018

Telebras diz que defenderá na Justiça lisura de parceria com Viasat

Valor
9 de maio de 2018
Ivan Ryngelblum e Ivone Santana

Teste de vibração. Foto: Thales Alenia

São Paulo  - A Telebras afirmou que entrará em contato com o Judiciário para esclarecer "a lisura do processo de parceria com a Viasat", em resposta a parecer pelo indeferimento, por parte da Procuradoria-Geral da República, do pedido da União para suspender a liminar que impede a execução do contrato firmado entre a estatal e a empresa americana de equipamentos de telecomunicações.

O acordo entre a Telebras e a Viasat, firmado em fevereiro, é para compartilhar a banda Ka do Satélite Geoestacionário Brasileiro de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC-1), lançado pela estatal há um ano. Segundo a União, a suspensão do contrato provoca "risco de grave lesão à ordem e à economia públicas".

A empresa argumenta a possibilidade de impactos negativos sobre uma série de políticas públicas do governo federal, entre elas os programas Governo Eletrônico, Educação Conectada, Internet para todos e Programa Nacional de Banda Larga.

Em seu parecer, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afirma que "óbices ou atrasos nas ações referentes aos programas de acesso à internet desenvolvidos pela União não constituem fundamento suficiente para o acolhimento da suspensão". Para ela, a contratação da Viasat, logo após o edital de chamamento que não atraiu interessados, não observou as regras de licitação.

Pesquisadores do Cemaden coletam dados para monitorar a safra do semiárido

MCTIC
8 de maio de 2018

Pesquisadores do Cemaden coletam dados para monitorar a safra do semiárido. Foto: Reprodução da internet

Pesquisadores do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) estão coletando informações sobre os plantios de feijão e milho no semiárido para monitorar a safra e o impacto da seca na região. Entre novembro de 2017 e abril de 2018, foram visitadas 114 propriedades rurais distribuídas em 36 municípios do norte de Minas Gerais, sul da Bahia e do Rio Grande do Norte e oeste da Paraíba. Agora, os pesquisadores analisam os dados para avaliar se a agricultura de sequeiro vai resistir à oferta de água durante a estação chuvosa, que vai de maio a julho.

De acordo com a previsão climática do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), o volume de chuvas entre Sergipe e Rio Grande do Norte deve ficar abaixo da média histórica em 2018. Isso por causa do enfraquecimento do fenômeno La Niña, caracterizado pelo resfriamento da superfície das águas do Oceano Pacífico. Quando esse episódio é de alta intensidade, chove mais na região Nordeste.

O monitoramento faz parte do projeto Seca-Wiki, coordenado pela pesquisadora Ana Paula Cunha. Segundo ela, dados agrícolas, como data e local do plantio, são coletados por um aplicativo de celular. Depois, os pesquisadores monitoram o ciclo das plantações por sensoriamento remoto.

“Quando o cultivo atinge certo limiar, podemos dizer se haverá quebra de safra ou não. Isso depende da quantidade de chuva durante o período crítico da plantação. Se não receber oferta de água suficiente, a safra pode sofrer colapso”, explica Ana Paula.

A diretora de Relações Institucionais do Cemaden, Regina Alvalá, alerta que chuva em excesso também prejudica as plantações. “Estamos trabalhando numa linha do tempo de cada município para avaliar o ciclo pós-plantio. Assim, conseguiremos analisar se há água suficiente para sustentar a plantação. Também não pode chover muito. Tem que ser a quantidade certa.”

O resultado da análise dos dados coletados pelo Cemaden no semiárido deve sair nas próximas semanas com a previsão da safra para 2018.

Novo edital para pesquisas na Antártica será lançado este ano

MCTIC
9 de maio de 2018

O edital vai custear o pagamento de bolsas para alunos de graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado. Foto: Reprodução da Internet

Os recursos para pesquisas do Programa Antártico Brasileiro (Proantar) vão somar R$ 18,1 milhões entre 2019 e 2022, e o edital para os projetos e bolsas será lançado ainda neste ano. É o maior volume de recursos já destinados a pesquisas na Antártica. Em audiência pública na Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (9), o diretor de Políticas e Programas de Ciências do MCTIC, Sávio Raeder, afirmou que o edital vai permitir a continuidade das pesquisas na nova Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF), que deve ser inaugurada no verão de 2019. A base brasileira está sendo reconstruída após o incêndio que destruiu sua infraestrutura, em fevereiro de 2012.

“No campo da pesquisa antártica, temos a grande expectativa da inauguração da EACF no verão do ano que vem e faremos o lançamento de um grande edital com valores nunca antes alocados para promover a pesquisa nessa estação. Ele vai apoiar toda a pesquisa que é fundamental para a nossa base antártica”, afirmou Sávio Raeder.

O edital vai custear o pagamento de bolsas para alunos de graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado. Do total, R$ 7,1 milhões são do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) e R$ 2,9 milhões do orçamento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Já o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) vai destinar R$ 1,5 milhão para o edital, enquanto a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) vai aportar R$ 5,7 milhões. A chamada pública também receberá R$ 900 mil em emendas parlamentares.

O Proantar foi criado em 1982 e colocou o Brasil entre o grupo de 29 países que definem o futuro do continente (13,6 milhões km²) e do Oceano Austral (36 milhões km²). O requisito mais importante para esta posição é a realização de pesquisa científica de qualidade. O propósito do programa é realizar investigações científicas na região antártica, com a finalidade de compreender os fenômenos que ali ocorrem e a influência deles sobre o território brasileiro.

Pesquisa de qualidade

Na audiência pública da Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática (CCT) da Câmara, o presidente do CNPq, Mario Neto Borges, ressaltou a qualidade da ciência feita no Brasil. Como exemplo, lembrou aos deputados federais o esforço do país para reagir à epidemia do vírus zika. Por meio de chamada pública lançada em 2016, foram disponibilizados R$ 65 milhões para o financiamento de estudos relacionados ao tema. Desde então, o número de casos envolvendo a doença reduziu 90%.

“A ciência brasileira é capaz de resolver os problemas nacionais, como mostramos no caso do zika. Foi um problema que afetou o Brasil e, em apenas um ano, os cientistas brasileiros conseguiram equacionar o problema. Inclusive, uma das nossas cientistas, a Celina Turchi, foi eleita uma das personalidades mais influentes do mundo em 2016 por conta da pesquisa sobre esse tema”, observou Neto Borges.

Acordo de Salvaguardas de Alcântara

AEB
9 de maio de 2018

AEB

Nos últimos meses, um tema voltou a atrair a atenção da mídia brasileira: a negociação da proposta de Acordo de Salvaguardas com os Estados Unidos que permita o lançamento, a partir do Centro Espacial de Alcântara (MA), de objetos espaciais que contenham componentes norte-americanos.

Uma rápida leitura dos artigos publicados em jornais e revistas revela que o interesse despertado pelo tema vem acompanhado de certo grau de desconhecimento. Há inúmeras opiniões e versões conflitantes sobre o que seria esse Acordo de Salvaguardas. Alguns falam em “entrega de Alcântara para os EUA”. Outros dizem que estão em curso “negociações secretas”. Há aqueles que dizem existir um “projeto de lei sobre o tema a ser apresentado ao Congresso Nacional já em maio de 2017”. E alguns, até mesmo, falam em “ameaça à soberania nacional”.

O chamado “Acordo de Salvaguardas Tecnológicas”, ou AST, é uma iniciativa que atende aos interesses do Programa Espacial Brasileiro e que poderá dar ensejo à geração de recursos, capacitação, progresso e aprofundamento das atividades espaciais.

A Agência Espacial Brasileira, responsável pela Política Espacial Brasileira, apresenta aqui informações e fatos que podem contribuir para um debate construtivo e fundamentado sobre o papel do AST no desenvolvimento do Centro Espacial de Alcântara e no fortalecimento do programa espacial brasileiro.

As perguntas e respostas a seguir foram elaboradas com o intuito de esclarecer as principais dúvidas sobre o Acordo de Salvaguardas.  

O que é o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas, ou AST?

O AST a ser negociado com os Estados Unidos é um acordo recíproco de proteção de tecnologias. Com a assinatura do AST, os dois países estabelecem compromisso mútuo de proteger as tecnologias e patentes da outra parte contra uso ou cópia não autorizados. Ou seja, o AST protege tecnologias norte-americanas e brasileiras.

Acordos de Salvaguardas Tecnológicas são praxe no setor espacial. Basta lembrar que o Brasil já tem acordos semelhantes celebrados com Rússia e Ucrânia. Já os EUA têm Acordos de Salvaguardas com Rússia, Índia e Nova Zelândia. Obviamente, em nenhum desses casos se pode falar de “ameaça à soberania”. Os AST são sempre celebrados por acordos de interesse mútuo entre as partes.

Por que o Brasil precisa assinar um AST com os EUA? Qual a importância desse Acordo para o país?

Precisamos, antes de tudo, entender a relação entre o AST e o Centro Espacial de Alcântara, ou CEA.

O programa espacial brasileiro prevê que Alcântara venha a se tornar um centro de lançamento competitivo que ofereça soluções de lançamento para a comunidade mundial. No futuro, além de utilizar foguetes nacionais para lançar satélites brasileiros, Alcântara poderá atender ao mercado internacional de lançamentos privados, gerando recursos para nosso programa espacial.

No entanto, para que um equipamento possa ser lançado de Alcântara, os proprietários de tecnologias presentes no objeto espacial necessitam de garantias para que sua tecnologia esteja  protegida. Esse é o papel do AST.

Como praticamente todo equipamento espacial – de qualquer país –  possui algum componente norte-americano, o AST a ser assinado com os EUA permitirá que esses equipamentos sejam lançados a partir do Centro Espacial de Alcântara.

Por outro lado, sem o AST, Alcântara jamais poderá lançar qualquer objeto que tenha conteúdo norte-americano e o Brasil ficará de fora do mercado de lançamentos espaciais.

Resumindo: o AST é necessário para transformar Alcântara em um centro comercial de lançamentos que possa gerar recursos para o Brasil.

E nossa soberania?

O AST não trata de questões de soberania. Ele não prevê cessão de território, restrições de acesso ou controle de Alcântara pelos EUA ou por outro país. O AST é meramente um acordo de proteção de tecnologia – um acordo padrão na área espacial. Afinal, se o AST fosse um acordo de restrição de soberania, a Rússia jamais teria assinado tal acordo com os EUA e com o Brasil.

O Centro de Alcântara continuará sendo controlado exclusivamente pelo governo brasileiro, com participação da AEB e do Ministério da Defesa e todas as atividades no Centro ocorrerão sob a supervisão do Brasil, exatamente como ocorre hoje.

A assinatura de um acordo de salvaguardas pelo Brasil com outro país significa apenas que o Brasil reitera seu compromisso de proteger a propriedade intelectual de terceiros, assim como o Brasil exige que outros países respeitem sua propriedade intelectual. Sob esse aspecto, o AST é um acordo de proteção dos interesses brasileiros. Com o AST, os EUA terão a mesma obrigação de respeitar e proteger a propriedade intelectual de nossos equipamentos espaciais.

Procede a informação que os EUA vão montar uma base em Alcântara?

O AST não trata deste assunto. O Acordo de Salvaguardas, como mencionado acima, não se propõe a discutir qualquer questão nesse sentido.

Essa dúvida pode ser fruto de um certo desconhecimento de como funcionam as operações em um centro de lançamento. Em Alcântara, temos uma ampla área na qual podem ser estabelecidas algumas plataformas de lançamento. Qualquer país ou empresa nacional ou estrangeira pode, se quiser, negociar um contrato para desenvolver uma infraestrutura, mediante acordo, em área do CEA para realizar operações de lançamentos. Isso é praxe no setor espacial. Um exemplo semelhante na América do Sul é a Base de Kourou, na Guiana Francesa, de onde são operados os foguetes russos Soyuz. Para a Rússia, trata-se de ter acesso a uma base com localização e infraestrutura excelentes. Para a França, trata-se de negócios, pois o país é remunerado pelos russos. Um bom negócio para todos. E é isso que queremos para Alcântara e para o Brasil.

O Acordo de Salvaguardas é bom para o Brasil?

É do interesse do Brasil fomentar atividades comerciais em Alcântara, pois essas gerarão recursos substanciais para o nosso programa espacial e para o país. No entanto, em função do peso das tecnologias norte-americanas na indústria espacial mundial, é impossível para o Brasil desenvolver atividades comerciais de lançamento no CEA sem a assinatura de um AST com os EUA. Enfim, o AST é fundamental para o sucesso de Alcântara. Para os EUA, trata-se de proteção intelectual. Para o Brasil, de proteção intelectual e também de interesse comercial.

Quando esse Acordo será assinado?

Em primeiro lugar, uma proposta de texto será negociada com os atores relevantes do Brasil (MCTIC/AEB, MD, MRE). Após aprovação, como em qualquer tratado internacional, esse texto deverá ser negociado com o lado norte-americano para que as partes cheguem a um texto que atenda aos interesses e preocupações de ambos.

Após assinatura, o texto seguirá para discussão e aprovação no Congresso Nacional e somente após essa etapa entrará em vigor. Esse é o procedimento legal previsto pelo ordenamento jurídico brasileiro.

Mais importante do que termos uma data para que o processo seja concluído, é assegurar que todos os interessados tenham pleno conhecimento da importância do AST para que assim possamos avançar nessa iniciativa, que é de grande importância para o desenvolvimento do Brasil.

quarta-feira, 9 de maio de 2018

Satélite brasileiro só entregou internet a 0,1% dos pontos que foram previstos

Terra
Natalie Rosa
8 de maio de 2018

Foto: Reprodução: Thales Alenia / Canaltech

Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), o primeiro a ser controlado de forma integral pelo Brasil, foi enviado há um ano para a distribuição de internet banda larga.

No entanto, o objeto espacial distribuiu internet a apenas 0,1% dos locais que haviam sido planejados antes da sua decolagem. O problema aconteceu após uma briga judicial envolvendo a Telebras e companhias de telecomunicações, chegando ao Supremo Tribunal Federal, o STF.

Enviado a órbita no dia 4 de maio de 2017, o satélite consumiu R$ 2,78 bilhões em investimentos e é usado por militares e civis. O Exército Brasileiro tem acesso a 30% da capacidade do SGDC para uso da internet em suas instalações, como postos de fronteiras, e o restante é distribuído para diversos órgãos do governo federal.

Problema

Para que o SGDC pudesse operar, era preciso de um subsídio. O negócio envolvia a contratação de uma empresa pela Telebras para a instalação da infraestrutura de rede no país, com a permissão de aproveitar a capacidade que não estava sendo utilizada para os seus próprios serviços de banda larga.

No entanto, por oito meses não houveram interessados no serviço e a Telebras começou a receber propostas de empresas privadas, quando escolheu a Viasat, companhia norte-americana, no início deste ano.

Em entrevista ao G1, o presidente da Telebras, Jarbas Valente, conta que o contrato com a Viasat deveria ativar 500 pontos em abril, mas que só foi possível instalar apenas quatro, um em um ponto de fronteira e o restante em três escolas na cidade de Pacaraima, em Roraima.

Valente conta que a subutilização do satélite vem causando um prejuízo de R$ 100 milhões, pois era preciso chegar ao fim de maio com mil pontos instalados, resultando em uma perda de R$ 800 mil ao dia. Para o fim do ano, o objetivo seria a instalação de 8 mil postos, e, até março de 2019, a previsão era de 15 mil postos.

Justiça

Agora, o SindiTelebrasil (Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal) acusa a empresa norte-americana de fechar contrato sigiloso com a Telebras para esconder as irregularidades do satélite. O contrato entre as empresas já está suspenso por determinação da Justiça Federal de Manaus.

A Telebras se defende afirmando que não há a necessidade de confidencialidade se ambas as empresas conhecem as condições originais.

A conquista do espaço, parte III: O triunfo e a quase tragédia do primeiro pouso lunar

Oficina da Net
Maxiliano Mayer traduziu o artigo de Eric Berger,
originalmente publicado no site Ars Technica
8 de maio de 2018

Dave Scott espreita a cabeça para fora do módulo de comando durante o voo da Apollo 9

Parte 1 - Como um incêndio levou o homem à Lua
Parte 2 - A aposta de 50/50 que terminou com a vitória da Corrida Espacial

Uma extensa, densa e cinzenta névoa surgia poucas centenas de metros abaixo quando Neil Armstrong espiou pela janela pequena da Eagle. De dentro do módulo lunar, um abrigo tão frágil com suas paredes da grossura de papel-cartão, o comandante da Apollo 11 finalmente teve uma visão clara de onde o computador de bordo o havia mandado aterrissar.



Ele não gostou do que viu lá. Uma grande cratera. Pedregulhos espalhados por toda parte. Uma armadilha mortal.

Para piorar a situação, a Eagle tinha reservas de combustível limitadas. Se Armstrong não pudesse encontrar um local de pouso seguro em breve, ele teria que abandonar a metade inferior da sonda e meter a potência máxima para escapar da órbita lunar em um perigoso e arriscado processo de tudo ou nada para abortar a missão. Caso contrário, ele e Buzz Aldrin não apenas se tornariam os primeiros humanos a pousar na Lua, mas também se tornariam os primeiros humanos a morrerem por lá.

Felizmente, a NASA havia feito uma boa escolha com os membros da tripulação. Armstrong, em particular, tinha sangue frio, graças ao seu extenso histórico de piloto de testes. Ele sabia que precisava se concentrar nos problemas que poderia resolver em vez dos problemas que não podia, já que a responsabilidade de monitorar a quantidade de combustível era com o pessoal da NASA na Terra. Armstrong sabia que Charlie Duke, seu CAPCOM (termo que designa o encarregado em terra de manter o contato com a tripulação via rádio), diria a ele quando o combustível ficasse muito baixo. Então, ele cuidadosamente se ocupou em dirigir o módulo lunar para longe dos pedregulhos. E, embora os grãos de poeira lunar tornassem difícil avaliar sua velocidade em relação à superfície da Lua, ele fez um suave toque.

Ninguém assistiu a este drama se desenrolar a 386 mil quilômetros de distância tão concentrado do que um bando de controladores de voo na sala de Controle da Missão. "O que mais me lembro é a tensão", disse Duke. "Estávamos literalmente segurando a respiração."

CAPCOM Charlie Duke (em primeiro plano) com o comandante reserva Jim Lovell (ao centro) durante o pouso tenso do Apollo 11

Então, quando Neil Armstrong ligou para Houston do local de pouso usando o seu codinome "Tranquility Base" para dizer que a Águia havia pousado, a resposta automática de Duke foi "Twan ... Tranquility", deixando escapar a primeira coisa que lhe veio à mente. “Entendido. Você no chão. Aqui tem um monte de caras prestes a ficarem azuis. Agora estamos respirando de novo."

Quase meio século depois, Duke ainda sorri à lembrança. "Foi um impulso daquele momento", disse ele. “Eu estava tão empolgado que nem consegui dizer "Tranquility" no começo. Eu estava apenas falando a verdade. Eu tenho que repetir muito aquela frase e, além de me lembrar das palavras, também me lembro das emoções. Eu olho para as fotos do Controle da Missão agora, e o que impressiona é a intensidade de todos os rostos.”

Hoje, os desembarques da Lua ainda hoje nos tiram o fôlego. Mas em 20 de julho de 1969, a NASA cravava, sem dúvidas, a maior conquista tecnológica do século XX. Certamente, ainda não houve nada igual no século XXI. O que a humanidade alcançou até aqui em questão de espaço aconteceu tão rapidamente na década de 1960 que até hoje ainda não conseguimos igualar as conquistas atuais com aquelas de 50 anos atrás. Na verdade, nós nem chegamos perto.


Apollo 9


Sete meses antes do pouso da Apollo 11, a NASA já havia feito história no final de 1968 com sua eufórica missão Apollo 8 ao redor da Lua. Mas ainda havia muito trabalho a ser feito na primavera e no verão de 1969, antes que Armstrong e Aldrin pudessem levantar voo. O programa Apollo foi projetado de forma semelhante a uma escada, onde cada missão era desenvolvida a partir dos avanços da anterior. Então, antes que pudessem pousar na Lua, teriam que construir um módulo de aterrissagem para fazer isso - e então teriam que levá-lo para um test drive.



Durante a Apollo 8, três astronautas se afastaram a cerca de 100 km da superfície da Terra. O voo de seis dias provou que o Módulo de Comando Block II poderia transportar humanos com segurança para o espaço inexplorado. Foi a partir dessa missão, também, que a NASA pôde ficar mais confiante em seu monstruoso foguete Saturn V, que em seu terceiro voo em órbita já não mostrava os mesmos problemas de tremores que haviam prejudicado o lançamento anterior.

Mas para chegar à Lua, a NASA precisaria de mais do que uma cápsula espacial que não mate todo mundo e um foguete gigante. A Lua não tem oceanos para um módulo mergulhar e amortecer a queda ou uma atmosfera para ajudar na descida através de um paraquedas, por exemplo. Por conta disso, para alcançar a superfície lunar, a NASA precisaria de um tipo totalmente novo de veículo espacial tripulado.

Inicialmente, os engenheiros da NASA não tinham ideia, literalmente, de como poderiam colocar uma tripulação na Lua com segurança e depois devolver os astronautas à Terra. Eventualmente, eles foram convencidos por uma ideia defendida por John Houbolt, conhecida como "encontro orbital lunar".

O plano envolvia um lançamento que incluiria o módulo de comando, o módulo de serviço e o módulo lunar. Ao chegar na Lua o módulo lunar se separaria do restante e faria uma descida controlada até a superfície. Então apenas uma pequena parte do módulo de pouso - que funcionaria como módulo de escape - precisaria deixar a superfície do satélite e se encontrar com o módulo de comando para se reacoplarem e, enfim, retornarem à Terra.



Esse encontro foi visto durante boa parte do desenvolvimento do plano como um enorme risco, que exigia muita matemática e muito convencimento para que o alto-escalão da Agência Espacial concordasse em confiar a missão a um distante e arriscado encontro de módulos ao redor da Lua - e até que a Gemini fosse ao espaço a NASA nem mesmo tinha certeza se o tal encontro seria tecnologicamente possível.

Ao decidir por esta missão decidia-se por uma aterrissagem lunar completa e um voo de retorno através de um único lançamento do Saturn V, porém, também significava que a capacidade de transporte da carga útil do foguete estava no seu limite. O módulo lunar precisava ser muito leve para que o foguete pudesse catapultá-lo até a Lua, e foi essa necessidade que deu a "cara" pela qual conhecemos a espaçonave.

Sua aparência - hoje - icônica é um resultado direto da necessidade de baixar peso: A folha laranja do polímero chamado Kapton que envolvia o módulo, as quatro patas de aterrissagem e até os detalhes da escotilha. Tudo.

Felizmente, já que seria guardado com segurança dentro de uma área de carga útil no lançamento, o módulo lunar não precisava de algumas coisas bastante pesadas como um escudo térmico nem os controles aerodinâmicos que um avião ou espaçonave deve ter para navegar por uma atmosfera. Sua forma também não importava. Se as antenas ou pernas ou outros componentes se destacassem em ângulos estranhos não faria diferença para um veículo que nunca encontraria resistência ao ar. E, por causa da fraca gravidade da Lua, os materiais do módulo lunar de 7 metros de altura ainda podiam ser delicados.

Estrutura de como a Apollo foi embarcada no foguete Saturno V, mostrando o módulo de comando, o módulo de serviço e o módulo lunar

Se a Apollo 8 foi a missão mais ousada da agência, há um consenso geral entre os veteranos da NASA de que a missão Apollo 9 seria a mais arriscada já que era a encarregada de testar um frágil e complexo módulo lunar. Finalmente, no início de março de 1969, o módulo lunar estava pronto para voar. E nessa altura do campeonato ele tinha que funcionar, já que restavam apenas nove meses para o final da década e para cumprir o prazo dado por Kennedy, em 1961. Se houvesse grandes problemas com o veículo, é difícil imaginar a NASA estudando-os, aplicando correções e testando novamente antes que o tempo acabasse.

O comando do voo caiu para Jim McDivitt e Rusty Schweikart e David Scott como auxiliares. McDivitt foi escolhido para este voo que ele chamou de "o sonho de um piloto de testes" porque era, em muitos aspectos, um piloto e um comandante geral muito melhor do que qualquer outro na agência. A Apollo 9 nunca teria a glória da Apollo 8 que voou ao redor da Lua e as missões de pouso, mas seu voo em órbita terrestre baixa era um ponto chave da NASA em seus planos de um dia alcançar a Lua.

Após seu lançamento e subsequentes manobras orbitais necessárias para atestar o sucesso de todos os sistemas embarcados, McDivitt e Schweikart desceram por um túnel estreito do módulo de comando da Apollo até o módulo lunar. Lá eles se soltaram do módulo de comando e passaram a testar os motores do módulo de aterrisagem como se estivessem prestes a descer no próprio satélite.

Então veio o momento crucial: simular uma decolagem com o módulo como se estivessem partindo da Lua. O mecanismo de separação usava a mesma função de abortar missão verdadeira que, por sua vez, era repleta de arestas que mais pareciam guilhotinas prontas a cortar fios e cabos explosivos e parafusos que separam as duas partes. Eles tiveram que testar isso na órbita da Terra porque o protótipo estava cheio de perigos. Com McDivitt e Schweikart pilotando o módulo lunar no estágio de subida, eles iniciaram a separação e se soltara do estágio de descida maior.

Nada explodiu, ótimo! Logo eles manobraram de volta para o módulo de comando e acoplaram.

Durante todo o programa Gemini, a NASA procurou o encaixe perfeito para fazer a ideia do encontro dos módulos tornar-se realidade. Agora que isso estava ok era hora deles construírem duas espaçonaves novinhas em folha - a cápsula Apollo e o módulo lunar - para poderem rasgar o espaço menos de três anos depois. E o deu certinho: depois da Apollo 9, a NASA tinha uma cápsula com capacidade para viajar pelo espaço remoto, um enorme foguete e um módulo de pouso levinho - tudo o que era necessário para pousar na Lua.


Apollo 10



Depois que a tripulação da Apollo 9 retornou, no dia 13 de março, a expectativa pública começou a ser direcionada para o verdadeiro pouso lunar. A próxima missão deve ir à superfície? Certamente Tom Stafford e Gene Cernan gostariam de levar o módulo lunar Apollo 10 para a Lua, mas o diretor de voo recuou durante as discussões internas.


“Houve uma grande demanda na época”, lembra Kraft sobre o debate entre pousar ou não com a Apollo 10 na Lua. O Controle da Missão queria entender cada detalhe da missão Apollo 10 até o ponto em que o módulo lunar faria sua descida final, antes de finalmente partir para uma atividade real. Kraft acrescenta: “Quando dissemos que era isso que queríamos fazer, muitas pessoas disseram 'por que diabos você faria isso? Se você for tão longe, por que você não iria em frente e pousaria na Lua?' "

A resposta foi que descobrir como levar o módulo lunar a cerca de 14 km da Lua, a menor altitude em que eles poderiam ser socorridos pelo módulo de comando caso algo desse errado, já era um trabalho grande o suficiente para aquela missão. Se a Apollo 11 fosse aquela que representaria um enorme salto - aterrissando na Lua, andando em sua superfície e voltando à Terra - os administradores da missão queriam ter certeza de que saberiam tudo que era possível sobre levar astronautas ao satélite até aquele ponto.

“Nós sentimos que deveríamos ter a experiência e certeza de sermos capazes de fazer aquelas manobras extremamente perigosas, extremamente importantes e extremamente precisas ao redor da Lua antes que pudéssemos dizer que poderíamos fazê-lo", disse Kraft.

Os diretores da NASA também tinham seus motivos práticos. O módulo lunar foi o último a ser construído. Portanto, embora a sonda pudesse pousar na superfície da Lua ela era pesada demais para decolar novamente. Mesmo que a NASA quisesse fazer o pouso e depois retornar, a física simplesmente não deixava.

E, no fim, a Apollo 10 validou essa abordagem cautelosa.

Em 23 de maio daquele ano, Stafford e Cernan aproximaram-se a cerca de 14 km acima da Lua e fizeram dois sobrevoos sobre o local de pouso proposto para a Apollo 11. Eles estavam empolgados por estarem tão perto da superfície lunar, quase dentro de suas crateras, na verdade. Em certo ponto a mistura de alegria e excitação de Cernan tornou-se tão forte que refletiu em sua personalidade normalmente taciturna. Enquanto contornavam as montanhas e crateras com tranquilidade como se estivessem a bordo de um simples e velho avião, Cernan não pôde conseguiu se conter repetindo "Filho da puta! Filho da puta!" diversas vezes como foi captado pelo link de rádio com a Terra.

Mas alguns minutos depois, quando o estágio de subida do módulo lunar se separou do estágio de descida, Cernan gritou "Filho da puta", novamente. Desta vez, ele não se maravilhou com a superfície lunar, mas sim exclamou porque a espaçonave começou a girar descontroladamente. Eles esqueceram de um botão, fazendo com que o módulo lunar começasse a procurar o módulo de comando. Stafford assumiu o controle manual e ajustou as coisas corretamente.

Esse infortúnio antecipou e deu tempo para que fossem corrigidos os problemas que a tripulação da Apollo 11 enfrentaria quando fizessem sua própria descida, dois meses depois.

Na hora certa no lugar certo



Neil Armstrong não foi a escolha original da NASA para pousar na Lua. Anos antes das missões lunares, o astronauta-chefe Deke Slayton havia concordado com os líderes da agência espacial que, se disponível, um dos astronautas originais do Mercury 7 deveria ter essa honra.


Sua escolha foi Gus Grissom, que pilotara a segunda missão humana da NASA e comandou o primeiro voo de uma espaçonave Gemini. O que ele não esperava era que Grissom morreria no incêndio da Apollo 1 enquanto se preparava para comandar o primeiro voo da espaçonave Apollo. "A coisa que provavelmente teria sido diferente se Gus tivesse vivido", escreveu Slayton em sua autobiografia. "O primeiro cara a andar na Lua teria sido Gus Grissom, não Neil Armstrong."

No entanto, quando Slayton começou a finalizar equipes para missões na Lua em abril de 1967, não havia mais astronautas do Mercury. Ele próprio estava proibido de voar por causa de um batimento cardíaco irregular. Alan Shepard havia sido diagnosticado com a doença de Ménière (ataques recorrentes de vertigem, perda de audição nas baixas frequências e barulho no ouvido) e não teria autorização para voar até que fosse submetido a um procedimento cirúrgico experimental em meados de 1969, tarde demais para se recuperar e ficar pronto para integrar a primeira tripulação do voo lunar.

Quanto aos demais astronautas veteranos, John Glenn deixou a agência em 1964 após ser-lhe informado que ele era icônico demais para voar novamente depois de sua missão orbital; Scott Carpenter ficou marcado por mau desempenho no quarto voo Mercury; Gordon Cooper havia passado mal durante algumas missões de treinamento para seu voo com a Gemini e Wally Schirra, que comandou a Apollo 7, deixou claro que aquela tinha sido sua última missão: "Eu fui devorado por esse negócio", ele disse a Slayton.

O estágio de subida do Módulo Lunar da Apollo 10 é fotografado a partir do Módulo de Comando antes do reencontro na órbita lunar


Antes do incêndio, Slayton havia designado seis equipes para voarem em missões de pouso lunar. Na época, a NASA imaginou que precisaria de cinco ou seis voos da Apollo para alcançar a superfície lunar (acabaram sendo cinco - Apollo 7, 8, 9, 10 e 11). Mas agora, uma de suas tripulações estava morta. Foi então que na primavera de 1967 Slayton designou outra equipe, liderada por Armstrong, que incluía Buzz Aldrin e Jim Lovell.

"Esses eram caras que iam nos levar para a Lua e fazer o primeiro pouso, embora não necessariamente naquelas equipes ou nessa ordem", escreveu ele. "Eu avisei as equipes que eles não deveriam se apegar demais em voar em um tipo específico de missão, porque eu previa mudanças". Houve mudanças. Depois que Michael Collins desenvolveu esporões ósseos, Lovell foi puxado da equipe de Armstrong para integrar aquela que acabaria se tornando a missão Apollo 8. Quando Collins mais tarde se recuperou, ele foi designado para a equipe de Armstrong como o piloto do módulo de comando.

No final, quando a NASA estava pronta para pousar na Lua, a equipe de Armstrong deu sorte de ser a próxima da lista. O fato de Neil Armstrong ser um civil não influenciou na decisão de enviá-lo à Lua, disse Slayton, desmentindo os rumores de que Armstrong foi escolhido para destacar a intenção pacífica da Apolo já que ele não era militar da ativa. Aqueles três homens estavam no lugar certo, na hora certa. Armstrong, Aldrin e Collins receberam a confirmação no escritório de Slayton em 6 de janeiro de 1969.

Eles eram os escolhidos.

"O cara era brilhante"


A rotação de Slayton funcionou bem com a tripulação de Armstrong. Mesmo com um temperamento forte e com uma timidez fora do comum, Armstrong ganhou sua reputação como um cara legal na Marinha dos EUA ao pilotar o F9F Panther durante missões de bombardeio e reconhecimento na Guerra da Coreia. Atingido por fogo antiaéreo durante um voo de baixa altitude, o avião de Armstrong acertou um cabo que cortou um metro de sua asa direita enquanto ele lutava para manter o controle do avião. Mesmo assim, ele conseguiu voar de volta ao território amigável e ejetar com segurança.


Neil Armstrong pouco depois de ejetar com segurança de um F9F Panther em 1951


Mais tarde, Armstrong voou como piloto de testes na Base Aérea de Edwards, ao lado de pessoas como Chuck Yeager. Lá, ele pilotou dezenas de aeronaves diferentes, incluindo sete voos do X-15, um avião hipersônico movido a foguete. Nesta aeronave ele atingiu uma altitude de 63 km e uma velocidade máxima de Mach 5,74. Em 1962, Armstrong foi selecionado como um dos astronautas do “New Nine”, a segunda classe de pilotos da NASA.

Ele ficou ainda mais famoso durante a missão Gemini VIII, seu primeiro voo como comandante, quando um propulsor travado fez a pequena cápsula girar tão violentamente que ele e o membro da equipe Dave Scott começaram a perder a consciência. Sem contato com o solo enquanto seu veículo girava sem parar, fazendo uma rotação completa por segundo, Armstrong lutou para tirar a nave daquele ciclo com seus propulsores de reentrada. A manobra foi concluída através de um pouso de emergência longe de sua área de recuperação no Pacífico o que rendeu a eles uma espera de várias horas em mar agitado até a chegada do resgate.

Scott, que mais tarde comandaria a missão Apollo 15 na superfície da Lua, sentiu-se grato por ter tido Armstrong no comando. "O cara foi brilhante", ele lembrou em um documentário chamado NOVA. "Ele conhecia o sistema muito bem. Ele encontrou a solução, ele ativou a solução, sob circunstâncias extremas".

Neil Armstrong com o X-15, depois de um voo em 1960

Um outro incidente ocorreu antes do lançamento da Apollo 11, que demonstrou dom de Armstrong em agir sob pressão. Como parte de seu regime de treinamento para se preparar para voar no módulo lunar os comandantes praticavam algo chamado Lunar Landing Training Vehicle (algo como veículo de treinamento para pouso lunar).

Apesar do nome pomposo não passava de uma grande maluquice. Tinha um motor de turboventilador apontado para baixo que suportava cinco sextos do peso do veículo, o que basicamente simulava a gravidade lunar; dois foguetes de peróxido de hidrogênio que serviam como os motores do módulo lunar; e propulsores de manobra como os do módulo real. Um astronauta em exercício erguer-se-ia a metros de altura e aprenderia a “voar” com o módulo lunar.

O único problema era que ele era quase tão perigoso quanto o voo de verdade. Três dos cinco veículos que foram construídos pela NASA foram perdidos em acidentes, incluindo um de Neil Armstrong em maio de 1968. Ele escapou a 1 segundo de morrer quando ejetou do veículo no último momento.

Posteriormente, o diretor do Centro de Naves Espaciais tripuladas em Houston, Robert Gilruth, quis eliminar o treinamento prático com a sonda. Quando Kraft perguntou a Armstrong sobre isso, ele a defendeu. Ele queria aprender a pousar na Lua: "É absolutamente essencial", disse Armstrong à Kraft. "É de longe o melhor treinamento para aterrissar na Lua." O teste que quase matou Neil Armstrong pode ser visto no vídeo abaixo.




"O destino olhou para nós com carinho quando escolheu Neil para ser o primeiro a se aventurar em outro mundo", disse o astronauta Gene Cernan sobre Armstrong no discurso do velório do colega, em 2012. "Ninguém, mas ninguém teria aceitado a responsabilidade daquele feito com mais dignidade e gratidão do que Neil Armstrong. Ele incorporava tudo o que era bom e tudo o que era grande na América."

Alarmes de programa



A missão Apollo 11 foi lançada na manhã de 16 de julho de 1969. O processo de chegar em órbita, disparar o terceiro estágio do foguete para empurrar a espaçonave em direção à Lua, separar a espaçonave Columbia e separar o módulo lunar Eagle do foguete ocorreu sem problemas. Dois dias e meio depois de partirem, Armstrong, Aldrin e Collins entravam na órbita lunar.


A tentativa de aterrissagem veio no dia seguinte, domingo, 20 de julho. Vestido com um colete branco exclusivo feito por sua esposa, Kranz tinha as portas do Controle da Missão bloqueadas, indicando aos controladores de voo o status de “batalha” que os aguardava. Então, de acordo com o livro Apollo: A corrida para a lua, Kranz fez um discurso (que não foi gravado) para sua equipe sob o sistema auxiliar de loop.

"Ei gangue, nós realmente vamos pousar na Lua hoje", Kranz lembrou dizendo. “Isso não é besteira, nós iremos para a superfície da Lua. Estamos prestes a fazer algo que ninguém jamais fez ", continuou Kranz, falando sobre como eles haviam testado e treinado para isso, e se houvesse algum problema, ele teria de voltar. "Depois que terminarmos esta missão filha da puta, vamos sair e tomar uma cerveja, e diremos: 'Caramba, nós realmente fizemos alguma coisa ali'".

Logo depois, a Eagle desceu abaixo do recorde de altitude mínima de 14 km alcançado durante a Apollo 10. Tudo correu nominalmente até que um alarme soou quando a espaçonave voava a cerca de 10 km acima da superfície. Com um pouco de urgência, Armstrong disse: “Alarme 1202". A tripulação não reconheceu o código. Cerca de 10 segundos depois, Armstrong acrescentou: "Dê-nos uma leitura sobre o Alarme de programa 1202".

Armstrong estava perguntando se ele e Aldrin deveriam abortar o pouso. Eles não tinham informações suficientes sobre o alarme e estavam se dirigindo ao Controle da Missão em Terra. Inicialmente, os controladores de voo também não reconheceram o alarme. Coube a Steve Bales, o diretor de orientação, fazer a ligação com o pessoal que estava nos bastidores da criação do sistema. O alarme, ele foi informado, era o computador avisando que estava ficando sem áreas de armazenamento temporário - espaço no computador usado pelos executar os programas. Isso deveria ter sido impossível, uma vez que o software foi projetado especificamente para a missão e o seu fluxo fora cuidadosamente controlado. No entanto, os erros estavam acontecendo - e no pior momento possível para isto.

Mas Bales, de 26 anos, estava certo (ou quase) de que sabia o que os alarmes significavam, já que sua equipe tinha sido instruída a documentar todos os possíveis erros do computador do módulo lunar e o que cada um deles significava. Com a ajuda de um especialista em computação, Jack Garman, Bales foi capaz de dizer a Kranz para prosseguir com a descida.

Um dos computadores que guiavam a Apollo e que orientou os astronautas na navegação e controle. O computador real está à esquerda, e o "DSKY" (display e teclado, pronuncia-se "dis-key") está à direita

Mais tarde, Bales admitiria a Charles Murray e Catherine Bly Cox, autores do livro citado há pouco, que ele tinha medo quando tomou sua decisão. "Quando você não sabe o que está causando o problema, você nunca tem absolutamente 100% de certeza de que a decisão que está tomando está certa", disse ele. "É como tentar diagnosticar a si mesmo e tomar uma pílula se baseando apenas nos sintomas".

Poucos minutos depois desse drama, a apenas um quilômetro acima da superfície, Aldrin relatou um segundo alarme, "Alarme 1201" ele disse. Bales teve uma resposta mais rápida desta vez. Era o mesmo tipo de alarme. Continue o pouso. E logo Armstrong e Aldrin começaram suas manobras finais. Eles estavam a segundos de se tornarem os primeiros humanos a aterrissar em outro mundo.

Ficando azul



Durante esta etapa final da descida, Armstrong olhou para fora de uma janela marcada com escalas horizontais e verticais medidas em graus. Aldrin, olhando para a tela do computador, digitou os números que Armstrong poderia usar em conjunto com essas escalas para identificar onde o computador da Eagle queria que eles pousassem. Até então, o comandante da missão estava mais focado nos alarmes do programa e em garantir que o Controle da Missão os deixasse prosseguir com o pouso. Mas enquanto voavam a uma altitude de meros 600 metros, Armstrong começou a perceber que eles tinham um problema.


“Nossa atenção estava focada em resolver os problemas que dispararam os alarmes, manter a nave voando e assegurar-nos de que estava tudo sob controle e não era necessário abortar o pouso”, disse ele mais tarde, durante um interrogatório técnico. “A maior parte da atenção foi direcionada para dentro do cockpit durante esse período e, em minha opinião, isso explica nossa incapacidade de estudar o local de pouso durante a descida final.”

Uma visão interna do módulo lunar da Apollo 11 mostrando alguns dos displays e controles de Armstrong. Sua janela está à esquerda

Mas quando ele finalmente pôde se concentrar em onde o computador queria que eles pousassem, Armstrong descobriu que a superfície não era plana e lisa. Em vez disso, o computador havia guiado a Eagle em direção a uma grande cratera rochosa cercada por pedregulhos de 2 a 3 metros de diâmetro.

Avaliando a situação, quando estavam a apenas 200 metros de tocar a superfície o experiente piloto tomou - parcialmente - o controle do módulo de aterrissagem do computador e começou a ajustar manualmente o rumo e a taxa de descida da Eagle. Ele tinha voado aviões danificados através de uma zona de guerra na Coreia, levado jatos para o limite entre atmosfera e espaço na Califórnia e endireitado uma espaçonave Gemini que girava descontroladamente em órbita. Ele tinha aquilo.

Armstrong diminuiu a inclinação do veículo de 18 para 5 graus, diminuindo a velocidade de descida e voando quase horizontalmente, como um helicóptero. Nem ele nem Aldrin sabiam o que havia depois da cratera, mas acharam que a melhor opção era atravessá-la na esperança de encontrar um terreno mais plano.

Apenas cerca de 10 segundos se passaram até que a sonda voasse pela cratera de 165 metros, onde Armstrong encontrou um lugar aceitável para pousar. Mas, ao fazê-lo, o comandante havia queimado uma grande parte do combustível restante da Eagle em segundos. Quanto? Há certa confusão sobre a quantidade de propelente que a sonda possuía neste ponto, mas uma análise subsequente feita pelo historiador da Apollo e especialista em sistemas embarcados em módulos lunares, Paul Fjeld e outros, descobriu que na verdade havia mais propelente nos tanques do que se acreditava, devido a um transbordamento. Quando eles saíram da cratera Armstrong ainda tinha mais de um minuto de combustível antes de ter que abortar.

Enquanto a nave espacial descia as últimas dezenas de metros até a superfície, Aldrin e Armstrong observaram algo estranho - a poeira da superfície sendo lançada pelos escapamentos do motor de descida dos módulos lunares não e se moviam como poeira se move na Terra quando é agitada. Em vez disso, todas as partículas voavam em linhas retas de aparência não natural devido à menor gravidade lunar e à total falta de resistência do ar. Era uma visão distintamente não terrestre.

Era, verdadeiramente, outro mundo. Às 20:17:40, no horário de Greenwich (17:14:40 no horário de Brasília), Aldrin chamou "Luz de contato" indicando que as sondas de dois metros de comprimento presas às pás do veículo haviam tocado a superfície lunar, e os próprios "pés da nave" estavam prestes a fazer o mesmo. Vinte segundos depois, Armstrong fez sua lendária chamada de volta ao planeta Terra. “Houston, Tranquility Base here. The Eagle has landed."

Aqueles últimos 10km levaram apenas sete minutos. Em Houston, estes sete minutos foram sentidos como uma vida, e aqueles caras que ficaram azuis na sala do Controle da Missão puderam, finalmente, respirar.

Para Kraft, sentado na quarta fileira do Controle da Missão, logo atrás de seu protegido Kranz, o momento marcou o ponto alto de sua vida. Ele estava na faculdade durante a Segunda Guerra Mundial e passou toda a sua vida adulta com seu país preso na Guerra Fria com a União Soviética. Como patriota, ele assumiu a Corrida Espacial com entusiasmo, ansioso para fazer sua parte pela nação.

Chris Kraft, no centro, segurando um charuto no alto, comemora o retorno da tripulação da Apollo 11 à Terra em 24 de julho de 1969. À sua direita estão George Low e Robert Gilruth

Eles tinham conseguido. O que Charlie Duke havia dito à tripulação, lembrou Kraft, era o que todos pensavam. O pouso tinha passado de uma simples felicidade para aqueles que acompanhavam a missão tão de perto.

"Emocionante?" Ele respondeu a uma pergunta sobre suas emoções. "Eu não sei como você poderia fazer algo que seria mais emocionante do que isso em sua vida. Qualquer engenheiro ou qualquer patriota. Eu estava orgulhoso de ser um americano, que foi o que nos levou ao primeiro lugar. Eu acho que as pessoas do programa espacial eram, com certeza, os maiores patriotas do país”.

"Eu acho que chorei"



Não havia apenas homens ficando azuis. A partir da década de 1960, as mulheres começaram a aderir em peso ao programa espacial. Por conta de machismo descarado elas não conseguiram os cargos mais altos, como astronautas ou diretores de voo (como pode ser visto nesse documentário original Netflix). Mas em áreas como a programação de computadores, na qual Margaret Hamilton ficou famosa por escrever grandes porções do código que impulsionava o os computadores dos módulos da Apollo, as mulheres estavam deixando sua marca.


Margaret Hamilton com a pilha de código que
escreveu para a missão Apollo

Ivy Hooks amava a matemática quando entrou na Universidade de Houston. Felizmente, na mesma época de sua formatura do ensino médio, em 1963, o núcleo do programa de voos espaciais estava se mudando do estado da Virgínia para Houston, no Texas, para formar o Centro de Naves Espaciais tripuladas. Eles precisavam de engenheiros e matemáticos, e assim Hooks foi aceita quase que imediatamente quando se candidatou à NASA no final do programa Mercury.


No departamento de engenharia, ela estudou diferentes problemas para a NASA, como os padrões de exaustão feitos pelos pequenos impulsores de controle de reação no estágio superior do módulo lunar. Quando esses pequenos motores disparavam eles criavam nuvens de calor e pressão que precisavam ser desviadas para longe da delicada espaçonave. Hooks que ficou conhecida como "a Dama das Plumas", também trabalhou na questão de quanto pó o motor principal da Eagle iria movimentar enquanto se aproximava da superfície lunar e se haveria uma quantidade tão grande que pudesse obscurecer completamente a visão de Armstrong. "Se isso acontecesse, ele teria que apertar o botão de voltar", lembrou Hooks.

Então, na tarde de 20 de julho, de volta à Terra, Hooks sentou-se paralisada diante de sua televisão como grande parte do restante do mundo. Durante a descida, ela podia ouvir as comunicações entre Charlie Duke, no Controle da Missão, e Armstrong e Aldrin a bordo da Eagle. Mas ela não conseguia ver o que a equipe viu. Ela se preocupou com a poeira. Ela se preocupou com a tripulação pousando na beira de uma cratera e tombando. Ela temia que dois homens pudessem morrer tentando abrir a próxima fronteira.

Esta foto de Buzz Aldrin no Mare Tranquillitatis é uma das imagens mais emblemáticas de todos os tempos. Visível na viseira de Aldrin é o reflexo de Neil Armstrong tirando a foto

"Foi assustador", disse Hooks. “Havia um milhão de coisas que poderiam dar errado.” Mas nenhuma delas deu e, para o mundo inteiro ver, o pouso se desdobrou sem que nada explodisse, quebrasse ou caísse. "Eu acho que chorei quando eles pousaram, quando eu sabia que eles estavam no chão, e em segurança, e se preparando para ir para fora da nave", disse ela. "Eu provavelmente estava rezando muito também".

Sentimentos confusos



Eles tinham feito aquilo. Os astronautas, os gerentes como Kraft, os controladores de voo, os engenheiros, os matemáticos, os técnicos e todos os envolvidos no programa espacial haviam criado uma organização que começara como um grupo de tarefas com algumas dezenas de engenheiros no final de os anos 50 e aterrissaram dois homens na Lua em 1969. A NASA havia batido a meta do presidente Kennedy.


Essas conquistas parecem ainda mais notáveis ​​em comparação com a indústria aeroespacial atual, já que quase nenhum grande projeto na NASA ou de companhias privadas de voos espaciais cumpre prazos. Invariavelmente, as programações se estendem e o orçamento incha. Simplesmente não há o ímpeto para realmente alcançar algo como um pouso humano em outro mundo. Custa muito. Isso exige muito comprometimento. A NASA não é mais necessária para vencer a Guerra Fria.

A urgência fez toda a diferença no início da era espacial. No período de uma única década a NASA desenvolveu quatro espaçonaves diferentes, as cápsulas Mercury, Gemini e Apollo e o módulo lunar. Passou de saltos suborbitais curtos para estadias de vários dias na Lua. A trajetória do desenvolvimento de novas naves espaciais desde então tem sido deprimentemente lenta.

Demorou uma década, a totalidade da década de 1970, para desenvolver o Ônibus Espacial. Isso é um pouco compreensível, já que ele era uma máquina voadora verdadeiramente inovadora e versátil, introduzindo a reutilização em voos espaciais e possuía tantas habilidades quanto um canivete suíço além de levar até sete astronautas ao espaço ao mesmo tempo em que carregava grandes cargas ao espaço.

O gerente do programa Ônibus Espacial Bob Thompson, à direita, é mostrado em 1974 com Aaron Cohen e o astronauta John Young. Young está segurando um modelo do ônibus espacial sendo transportado em uma aeronave 747
A NASA não começou a desenvolver outro veículo espacial até 2005, quando começaram os trabalhos com a espaçonave Orion. No entanto, devido à falta de urgência e mudança de prioridades, o trabalho na nave espacial progrediu a um ritmo dilatório. Um protótipo não faria um voo inaugural e sem tripulação até 2014. Já a primeira missão completa - com a Orion transportando astronautas - parece improvável antes de 2023. Nesse ponto, a NASA terá passado duas décadas construindo um veículo capaz de replicar a missão Apollo 8, que voou em 1968.

Os veteranos da Apollo, que desfrutaram de amplo financiamento e de uma missão nacional clara, lutaram para observar a agência espacial chegar a esse ponto. No passado, eles tinham certeza de que estaríamos em Marte agora. Só muito depois alguns perceberam que, indo tão longe, tão rápido, eles deixariam a NASA sem um objetivo significativo e sustentável.

"É da natureza humana se concentrar em suas realizações e meio que ignorar quando se olha para trás e vê que algo que estava fazendo era tipo burrice", disse Bob Thompson, que se juntou à NASA como membro original do Space Task Group (Grupo de Tarefas Espaciais) em 1958 e foi designado como responsável em buscar os astronautas após seus retornos em alto mar.

Thompson ocupou uma vaga na primeira fila após a Apollo nos anos 1970, liderando o desenvolvimento do ônibus espacial em meio a orçamentos decrescentes e ambições reduzidas. Hoje, depois de assistir à NASA tentar encontrar um caminho acessível de volta ao espaço profundo por mais de quatro décadas, Thompson não vê a agência retornando à Lua, ou indo a Marte, em breve. Meias medidas encobertas por grandes conversas não deixarão.

“Apollo cumpriu tudo o que prometeu, mas agora temos o trauma da euforia causada pela própria Apollo. E esse é um trauma poderoso. Cacete, se nós fomos à Lua, nós vamos para Marte”, diz Thompson com uma risada triste. “Bem, de onde vem o dinheiro? Ninguém tem sistemas realmente projetados ou estabeleceu qualquer tipo de programa para ir a Marte. Nenhum gráfico de custo. Nenhum veiculo. É tudo da boca para fora."

O fim do jogo para a Apollo



Depois do esmagador triunfo da Apollo 11, uma nação celebrou. Os astronautas eram festejados e exibidos para o mundo - assim como a pequena carga de pedras lunares que eles trouxeram consigo. Para a NASA, o próximo passo foi óbvio: continuar o programa. Pete Conrad e sua tripulação haviam quase completado seu treinamento para o pouso da Apollo 12 no Ocean of Storms (Oceano das Tempestades - o maior vale da Lua) e aguardavam ansiosamente sua vez de voar. Atrás deles seguiam as tripulações das Apollos 13 a 20.


Exceto que não haveria uma Apollo 20 - ou uma Apollo 18 ou 19, também. Mesmo com o avanço da NASA para evitar a perda do momentum lunar, o presidente Nixon e o Congresso viram o programa cada vez mais como uma drenagem financeira massiva de recursos que poderiam ser melhores gastos em problemas terrestres mais imediatos. Até mesmo alguns líderes da própria administração da NASA questionaram a sensatez de mandar alguém para a Lua novamente - afinal de contas, nós já havíamos feito isso uma vez e voltado. Outras missões apenas aumentavam o risco de alguém morrer no processo, e desta vez não havia uma aposta presidencial para estimulá-las.

Com a produção da nave espacial Apollo e os foguetes Saturn V chegando ao momento em que seriam desligadas, começou a ficar claro para todos os envolvidos que a Apollo na sua forma atual seria, pelo menos por enquanto, a única viagem à Lua que o governo dos EUA estava disposto a financiar. Com planos de exploração futuros incertos, coube à NASA tornar o resto dessas missões o mais significativo possível.

O texto acima pode ser acompanhado em um vídeo produzido também pelo site Ars Technica onde podem ser vistas entrevistas dos astronautas e de quem mais participou deste momento histórico (em inglês).