quinta-feira, 26 de abril de 2018

Pela 1ª vez, cientistas observam mega fusão de 14 galáxias ao mesmo tempo

G1
25 de abril de 2018

Representação artística das 14 galáxias observadas no universo distante. Essas estruturas devem se fundir com o tempo, afirmam pesquisadores (Foto: NRAO/AUI/NSF; S. Dagnello)

Feito foi publicado nesta quarta-feira (25) na revista 'Nature'. Algumas das 14 galáxias estão formando estrelas até 1.000 vezes mais rápido que a Via Láctea.

Uma equipe internacional de cientistas descobriu uma concentração de 14 galáxias que estão prestes a se fundir. A megafusão foi publicada nesta quarta-feira (25) na revista "Nature" e está localizada a 12,4 bilhões de anos-luz de distância. Pela 1ª vez, cientistas conseguiram observar o processo em formação.

A aglomeração deve se tornar um dos elementos mais massivos do universo moderno, sendo 10 trilhões de vezes superior à massa do Sol. Ainda, galáxias dentro do aglomerado estão produzindo estrelas a um ritmo incrível, relatam os autores. Algumas das 14 galáxias estão formando estrelas até 1.000 vezes mais rápido do que a Via Láctea.

"Com o tempo, as 14 galáxias que observamos irão parar de formar estrelas e se aglutinar em uma única galáxia gigantesca", afirmou Scott Chapman, astrofísico da Universidade Dalhousie (Canadá), em nota.

"O fato de que isso está acontecendo tão cedo na história do universo representa um desafio para a nossa compreensão atual do modo como as estruturas se formam", continuou o especialista.
Cientistas pontuam que, na história do universo, a matéria começou a se aglomerar em concentrações cada vez maiores, dando origem às galáxias. Já as aglomerações de galáxias, por sua vez, são conhecidas como "protoclusters" e modelos computacionais atuais indicavam que aglomerados tão grandes quanto os observados agora poderiam ter demorado muito mais para evoluir.

"Como essa galáxia ficou tão grande tão rapidamente é um mistério", diz Tim Miller, candidato a doutorado na Universidade de Yale (EUA) e coautor do estudo, em nota.
Os astrônomos perceberam que as galáxias estão em processo de fusão pela alta massa em um espaço confinado. Um outro ponto é a alta taxa de formação de estrelas, que fornece evidências para a fusão.

Importância do achado

A observação desses processos no universo podem fornecer descobertas interessantes para a ciência. É sabido, por exemplo, que esses aglomerados de galáxias transbordam um gás superaquecido que pode atingir temperaturas de 1 milhão de graus celsius.

Os EUA e a Base de Alcântara

Jornal do Brasil 
Samuel Pinheiro Guimarães*
25 de abril de 2018

Veículo Lançador de Satélites (VLS) no Centro de Lançamento de Alcântara, em 2013 - Divulgação/Globo

Os Estados Unidos, além de suas frotas de porta aviões, navios e submarinos nucleares que singram todos os mares, possuem mais de 700 bases militares terrestres fora de seu território nacional nos mais diversos países, em muitas das quais instalaram armas nucleares e sistemas de escuta da National Security Agency (NSA). 

Os Estados Unidos têm bases de lançamento de foguetes em seu território nacional, como em Cabo Canaveral, perfeitamente aparelhadas com os equipamentos mais sofisticados, para o lançamento de satélites. Os Estados Unidos não necessitam, portanto, de instalações a serem construídas em Alcântara para o lançamento de seus foguetes. O objetivo americano não é impedir que o Brasil tenha uma base competitiva de lançamento de foguetes; isto o governo brasileiro já impede que ocorra pela contenção de despesas com o programa espacial brasileiro. 

O objetivo principal norte americano é ter uma base militar em território brasileiro na qual exerçam sua soberania, fora do alcance das leis e da vigilância das autoridades brasileiras, inclusive militares, onde possam desenvolver todo tipo de atividade militar. 

A localização de Alcântara, no Nordeste brasileiro, em frente à África Ocidental, é ideal para os Estados Unidos do ângulo de suas operações político-militares na América do Sul e na África e de sua estratégia mundial, em confronto com a Rússia e a China. 

O Governo de Michel Temer tem como objetivo central de sua política (que nada mais é do que o cumprimento dos princípios do Consenso de Washington) atender a todas as reivindicações históricas dos Estados Unidos feitas ao Brasil não só em termos de política econômica interna (abertura comercial, liberdade para investimentos e capitais, desregulamentação, fim das empresas estatais, em especial da Petrobras etc.) como em termos de política externa. 

À política externa cabe cooperar com a execução deste programa de governo, cujo objetivo é atrair investimentos estrangeiros, além de ações de combate à Venezuela, de afastamento em relação aos vizinhos da América do Sul, de destruição do Mercosul, a partir de acordo com a União Europeia, cavalo de Troia para abrir as portas de um futuro acordo de livre comércio com os Estados Unidos, de adesão à OCDE, como forma de consolidar essa política econômica, e de afastamento e negligência em relação aos países do Sul. Nessa política geral do governo Temer, o acordo com os Estados Unidos para a utilização da Base de Alcântara configura o caso mais flagrante de cessão de soberania da história do Brasil. 

Os Estados Unidos, caso venham a se instalar em Alcântara, de lá não sairão, pois de lá poderão “controlar” o Brasil, “alinhando” de fato e definitivamente a política externa brasileira e encerrando qualquer possibilidade de exercício de uma política externa independente.

* Ex-secretário-geral do Itamaraty; ex-ministro de Assuntos Estratégicos e Alto Representante Geral do Mercosul entre 2011 e 2012

quarta-feira, 25 de abril de 2018

"País vive tragédia grega do século 21"

Tutameia
Eleonora de Lucena e Rodolfo Lucena
24 de abril de 2018

Pedro Sibahi/Agência PT

O golpe iniciado em 2016 é “uma tsunami política que tem um objetivo muito claro: remover qualquer traço de potencial soberania do Brasil, eliminar o Brasil do cenário geopolítico mundial como uma voz dissidente nas Américas e sabotar os Brics”. A avaliação é do neurocientista Miguel Nicolelis em entrevista ao Tutaméia.

Para ele, a situação atual é muito pior do que a vivida nos idos de 1964: agora o golpe “carrega dentro dele a semente da destruição, a obliteração total de qualquer vestígio de soberania brasileira”.

“É trágico. Se estivéssemos no século quinto Antes de Cristo aqui, um dos grandes poetas gregos ele iria escrever uma tragédia grega sobre a história brasileira. Nós somos a manifestação, no século 21, de uma tragédia grega do século quinto Antes de Cristo. Temos provavelmente um dos comportamentos mais peculiares do mundo, que é essa contínua tentativa de autossabotagem ao próprio país, essa autofagia brasileira, esse tiro no pé crônico é único”, afirma.

Nicolelis é um dos mais importantes cientistas do mundo. Membro das Academias de Ciência brasileira, francesa e do Vaticano, doutor em Medicina pela USP, ele recebeu mais de 30 prêmios internacionais. Desde 1994, é professor da Duke University, nos EUA. Ficou mais conhecido do grande público quando, na abertura da Copa de 2014, Juliano Pinto, paraplégico havia dez anos, deu o chute de abertura dos jogos. Três metros atrás de Juliano estava Nicolelis, idealizador (com John Chapin) do paradigma cérebro-máquina que proporcionou a realização do inédito e revolucionário movimento.

Entusiasta da ciência e do Brasil, Nicolelis idealizou o projeto do Instituto Internacional de Neurociências de Natal. Relatou a saga de criação do Campus do Cérebro no Rio Grande do Norte em “Made in Macaíba” (Planeta, 2016). Seu primeiro livro, “Muito Além do Nosso Eu” (2011, Companhia das Letras), foi traduzido em dez línguas.

Início do fim do Brasil

Com toda essa trajetória, Nicolelis fala de um turbilhão de temas nessa entrevista de duas horas ao Tutaméia (vídeo aqui). Trata de política, de ciência, do futuro do mundo e da humanidade, de redes sociais, fake news. Dá sua opinião sobre a série “Perdidos no Espaço” e conta sobre o livro de acabou de finalizar.

Dois anos depois do impeachment de Dilma, o neurocientista ainda lembra da dor aguda que sentiu enquanto acompanhava, desde o seu escritório nos EUA, a vergonhosa sessão da Câmara dos Deputados, em 17 de abril de 2016. Uma votação com aquela, diz, jamais aconteceria no congresso norte-americano ou em outro país.

“Nunca haveria de uma votação cujo motivo subliminar é a entrega do país. Não era o jogo de tirar a presidente, que era jogo de cartas marcadas. Em jogo ali era o primeiro capítulo dessa tragédia que um dia pode ser escrita com o seguinte título: ‘O Começo do Fim do Estado Brasileiro’. É isso que eu temo deixar para os meus netos”, declara. E emenda: “Pode parecer exagero, eu estou muito tranquilo nessa análise. Acho não demos a devida dimensão do que está havendo aqui”.

Quinta coluna

“Tem interesses externos geopolíticos gigantescos, que não passam nem por governos, mas por interesses corporativos”, ressalta. Mas acrescenta: “O Brasil é muito proeminente na geração de uma quinta coluna tão efetiva. Não conheço nenhum outro país que seja tão fácil arregimentar pessoas nativas desse país para destruir a viabilidade do próprio país. Isso é muito proeminente nesse país. Tivemos a França de Vichy [governo francês fantoche dos nazistas, entre 1940-1944], mas aqui salta aos olhos. O Brasil é um país dividido profundamente hoje. Em outros tempos, teria muito receio em imaginar se esse país continuaria a ser um país só”.

Em 1964, observa, “a correlação de forças jogou o Brasil numa ditadura militar, mas onde os militares tinham um plano de Brasil. Não concordo [com o que o regime fez], mas não havia dentro do movimento militar o desejo de destruir a soberania brasileira, entregar a Amazônia, a nossa fronteira marítima –que era muito menor do que é hoje. Os militares foram atrás das 200 milhas, preservar a Amazônia, [criaram] a Embraer, o computador brasileiro, universidades federais. Não existia naquele golpe a estratégia de destruir o brasil como player mundial –e nesse existe. Desde a concepção, nesse golpe o mantra central é alijar o Brasil de ser um player mundial. Em todas as esferas”.

Sabotagem

E desenvolve o argumento: “Não é à toa que a ciência brasileira está sendo sucateada. As universidades federais estão sendo atacadas a ponto de se discutir a possibilidade de algumas delas desaparecerem. O orçamento científico foi cortado em mais de 60%. A Embraer está sendo dada. O programa espacial brasileiro eu visitei na Base de Alcântara….”

Nicolelis conta que essa visita foi um dos momentos mais emocionantes de sua carreira. “Chegar lá e ver a base de lançamento brasileira, que também foi sabotada. Ninguém esclareceu direito o que aconteceu naquele acidente, anos atrás, quando o Brasil estava no limiar para entrar no clube restrito de países que são capazes de colocar objetos em órbita”.

E afirma: “Eu vejo tudo isso encadeado: a entrega do pré-sal, os abusos que nós todos temos testemunhado. Eu sou filho de juiz do Tribunal de Justiça, conservador, que nunca deu uma entrevista na vida, um juiz garantista”. Hoje, na sua visão, “nossas garantias jurídicas estão evaporando. Tudo isso é parte de um enredo completo, facetado, multidirecional, que tem um objetivo central muito bem edificado muito bem construído –que é a evaporação da soberania do Brasil como país que importa. Alguns anos atrás estávamos a ponto de passar –por algumas centenas de milhões de dólares não passamos– a economia da França e da Inglaterra. De repente, parecia que o Brasil ia dar certo”.

Pedra no sapato

Nicolelis relata que encontrou todas as pistas para o roteiro do golpe no último livro de Moniz Bandeira [“A Desordem Mundial”, 2016, Civilização Brasileira]. Desde que os governos do PT chegaram ao governo, lembra o neurocientista, “o Brasil votou na ONU sistematicamente contra os interesses norte-americanos. Israel, Iraque, Líbia, todas as questões geopolíticas essenciais que foram colocadas diante da ONU o Brasil foi contra. O Brasil era uma pedra no sapato, não há a mínima dúvida”.

Ele enfatiza que o Brasil, naqueles anos, era “um pais emergente com uma ascensão dramática, que começa a desfiar economias poderosas, cria uma outra esfera econômica, política e cultural que são os Brics, passa a participar de um modelo alternativo de governança global, afirma uma posição e cria uma identidade –vamos combater a fome, a miséria, vamos criar uma sociedade mais justa”.

Meninos do Acre

Nicolelis diz que, entre 2004 e 2010, “o Brasil era a esperança do mundo”, diferente da “mesmice da comunidade europeia, do liberalismo predominante norte-americano, nós vamos ter no Brasil uma sociedade utópica. Eu consegui recrutar cientistas do mundo para vir trabalhar aqui, porque os caras queriam estar aqui. Hoje, não”.

Ele cita um dado revelador. Durante os governos petistas, a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), agência de apoio e financiamento à ciência e tecnologia no país, chegou a ter um orçamento superior ao da Darpa (Defense Advanced Research Projects Agency), a agência norte-americana responsável por pesquisa na área militar e responsável, por exemplo, pelo embrião da internet.

“O Brasil é tão fenomenal do ponte de vista potencial que pequenos sopros de lucidez e de visão fazem o troço explodir. Os governos do PT fizeram uma pequena abertura do que é necessário fazer para evoluir. E veja o que aconteceu”.

Ele mesmo responde: “Foram 14 anos de prosperidade intelectual, humanística, cultural e científica. Teve erros? Um monte. Mas foi um pequeno sopro e isso aqui decolou. Veja, por exemplo, o projeto Ciência Sem Fronteiras. Dei uma aula em Harvard que foi a coisa mais emocionante da minha carreira. Tinha 150 pessoas no auditório, e havia 30 brasileiros. Moleques do Acre fazendo astrofísica!”

Lembra que o programa envolveu mais de cem mil jovens, “foi o maior projeto do planeta”. Por isso mesmo fica indignado ao ver o que considera silencia da intelectualidade sobre o ataque a Lula e ao governo eleito.

“Cadê a reação da comunidade científica contra o golpe? As universidades estão sendo sucateadas. Cadê a inteligência brasileira para discutir isso?”, pergunta Nicolelis.

Elefante na sala

Para enfrentar todo esse desastre em curso, Nicolelis considera fundamental a discussão de um projeto de nação. Um projeto fundamentalmente político, em torno de pontos mínimos: nação, democracia, distribuição de renda, alinhamento com os Brics, educação pública de qualidade. “O país precisa fazer uma discussão profunda sobre o ethos nacional, do que é aceitável e do que tem que ser expurgado. Racismo, a forma como se trata as minorias, como se trata qualquer comportamento que foge a um padrão, violência contra mulher, homossexual, ser tratado na porrada, no tiro, na violência final”.

O passado escravocrata conta?, perguntamos.

“É mistura de muita coisa que nunca foi trazida para fora, posta na sala. Colegas alemães da minha idade contam que até os anos 1960 era muito parecido na Alemanha. Ninguém falava do passado nazista nas escolas. Era o elefante. E, de repente, em 68 aquilo veio para fora. A nova geração alemã pôs para fora e expurgou aquilo do âmago da nação”, responde.

Nesse processo, o sistema educacional, contando a história do país sob Hitler, foi fundamental. Aqui, é preciso debater muito a história para a elaboração de saídas consistentes. Nicolelis diz sentir falta aqui de um relato da nossa história do ponto de vista dos oprimidos. Algo como o historiador Howard Zinn fez em “A People History of the United States” (1980, Harper &Row; Harper Collins).

Erro estratégico

Nicolelis não está otimista com os desdobramentos da situação atual. Considera que a esquerda cometeu erros estratégicos na condução da resposta ao golpe.

Um deles foi, nas eleições para prefeito em 2016 priorizar a disputa das vagas como se fosse momento normal, em vez de usar a campanha para continuar e aprofundar a denúncia do golpe.

Isso, na opinião dele, “tirou o fôlego do movimento contra o golpe, foi um erro estratégico dramático. Porque essa eleição municipal não mudou nada. Todos os caras em quem se apostou para ganhar perderam de maneira catastrófica; foi um horror o que aconteceu em São Paulo”.

“O país foi praticamente jogado num abismo. Dizia-se nos anos 1980 que o Brasil não podia cair no abismo porque que era maior do que o abismo. Lamento informar que o abismo está ficando maior do que o Brasil”, afirma.

Sem pacificação

Da mesma forma com que erros foram cometidos em 2016, agora Nicolelis diz que há repetição de equívocos.

“Vejo gente dizendo que as eleições vão pacificar o Brasil. Pacificar nada. As eleições norte-americanas não pacificaram os EUA. Essa polarização nos EUA tem um paralelo aqui. Aqui a polarização é mais grave. Não se vê alternativa, uma saída a curto prazo. Esse golpe pode ser muito mais longo do que foi o de 1964. No de 1964 houve uma reação. Agora não vejo visão estratégica, um projeto de nação claro. Meu medo é que, se não houver uma clara aglutinação em torno de um projeto de nação, hoje é possível imaginar a obliteração da nação. Sem um projeto interno que aglutine o maior número de brasileiros em torno de uma visão de país, a coisa é séria. A autofagia passa a ser um processo de autoaniquilação da identidade nacional. Eu acho que o risco que estamos vendo é o fio da meada de um processo que pode levar a isso. Como eu achava que 2013 foi o fio da meada do que aconteceu”.

Lula, o Juscelino do século 21

Nicolelis faz paralelo da situação atual com a presidencial de 1965 –que não houve. Como agora, Juscelino (então favorito) foi acusado de ser beneficiário de um apartamento. “A história do Brasil não se repete como farsa, mas como plágio. A eleição foi cancelada e entramos num hiato de 20 anos. Acho que agora a eleição não vai ser cancelada, mas ninguém sabe o que vai acontecer. No momento, se remove o Juscelino do século 21, que é o Lula, que claramente está na frente”.

Na análise do neurocientista, Lula “talvez seja um dos poucos seres humanos no Brasil que tenha alguma chance de criar alguma zona de pacificação. Ele não é de forma alguma um extremista; é um negociador. Quando se remove essa voz conciliadora de forma traumática, dramática e injustificável do ponto de vista legal, se abre um vácuo que qualquer coisa pode acontecer”.

Tira na Constituição

Em suas frequentes viagens pelo mundo, fazendo pesquisas, dando aulas e palestras, Nicolelis nota a perplexidade de seus interlocutores. Conta ouvir: ‘O Brasil era nosso parceiro estratégico. O Brasil era o celeiro da China. De repente, vocês estão dando um tiro na cabeça’. Ninguém entende nada. Somos um enigma geopolítico. Os caras não entendem. A prisão do Lula é incompreensível. Um processo igualzinho ao Kafka, com inconsistências, abusos, tudo que não faz parte da tradição no mundo Ocidental”.

“Quem respeita a Constituição? Quando se rejeitam conceitos pétreos, a presunção da inocência? Quando se passa por cima [da Constituição] se dá um tiro no coração. O pessoal diz que o que aconteceu no Brasil não é igual ao que aconteceu com Getúlio em 54. Eu discordo. O tiro só não foi dado no coração de um indivíduo, o tiro foi dado no coração da Constituição do Brasil. O paralelo é muito mais profundo, é pior de 1964. É a pior crise institucional da história do Brasil. Porque o tiro não foi dado numa pessoa. O tiro foi dado no coração da norma máxima de um país que é a Constituição. Você atirou no ventrículo da Constituição. Como você repara o ventrículo? Não é uma cirurgia simples, há risco de morte”.

terça-feira, 24 de abril de 2018

Pesquisador recebe prêmio latino-americano de geofísica espacial

INPE
23 de abril de 2018

Foto: divulgação/Wikimedia

Mangalathayil Ali Abdu recebeu o Prêmio Mario H. Acuña durante a Conferência Latino-Americana de Geofísica Espacial (COLAGE XI), realizada de 16 a 20 de abril no Centro Cultural da Ciência em Buenos Aires, Argentina.

Hoje aposentado, Mangalathayil Ali Abdu ingressou no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) em 1973 e mantém atuação em áreas como acoplamento atmosfera-ionosfera-magnetosfera, clima espacial, bolhas ionosféricas e tempestades magnéticas.

O Prêmio Mario H. Acuña é concedido pela ALAGE (Associação Latino-Americana de Geofísica Espacial) a um pesquisador de instituição de educação ou de pesquisa da América Latina que tenha se destacado na criação e no estabelecimento de infraestrutura para pesquisa científica em Ciências Espaciais em um ou mais países da região.

A ALAGE também considera a participação no desenvolvimento de instrumentação e na análise de dados, assim como a contribuição na formação de jovens cientistas em Ciências Espaciais na América Latina.

O pesquisador Mangalathayil Ali Abdu foi responsável por dezenas de teses e dissertações no Programa de Pós-Graduação do INPE. Em 1976, em cooperação com José Humberto Sobral, Abdu foi responsável pelo primeiro registro no Brasil do fenômeno conhecido como bolhas no plasma ionosférico. A descoberta ocorreu de forma simultânea em outras partes do mundo.

Agência brasileira levará pessoas ao espaço por US$ 250 mil em 2020

R7
19 de abril de 2018

Foto: Agência Marcos Pontes

O sonho de ir ao espaço e ter uma visão privilegiada da Terra já não é tão fora da realidade. Basta ter dinheiro suficiente. O astronauta Marcos Pontes, primeiro e único brasileiro a ir ao espaço, fundou uma agência de turismo espacial e já vende a experiência para qualquer pessoa disposta a pagar US$ 250 mil, cerca de R$ 850 mil. 

A agência é representante da Virgin Galactic, do bilionário britânico Richard Branson. Hoje, cerca de 700 pessoas já garantiram seus pacotes e aguardam o fim da fase de testes para ir ao espaço. O número é bem elevado considerando que na história cerca de 550 astronautas alcançaram esse feito. Apenas oito civis estiveram no espaço.

A empresa não divulga os nomes e os países de origem dos clientes. Sabe-se apenas que a maioria é dos EUA, Rússia e Inglaterra. Poucos brasileiros fazem parte do seleto grupo. Marcos Palhares é o número 462º da fila e deverá ser o segundo brasileiro a ir ao espaço depois de Marcos Pontes. Palhares é sócio de Pontes na agência de turismo espacial.

Diferentemente dos astronautas profissionais, que ficam em órbita por vários dias e até meses, as pessoas comuns ficarão cerca de 10 minutos a 100 quilômetros de altitude, o suficiente para ultrapassar a atmosfera e chegar ao espaço. Para comparação, a Estação Espacial Internacional está a 400 quilômetros de altitude.

No curto período no espaço, os seis turistas dentro da nave irão vivenciar a sensação da gravidade zero, como se estivesse flutuando. Pelas janelas nas laterais e no teto, será possível ver a Terra. As máquinas fotográficas poderão ir a bordo para fazer registros da experiência.

A agência também oferece outras opções mais baratas que simulam as sensações de ir ao espaço, mas sem sair da atmosfera. O preço para experimentar a microgravidade é de US$ 5.500. O voo em um caça militar que superar os 1.000 km/h custa a partir de US$ 10 mil e mostra como é a força G durante a decolagem de uma nave.

“Nós recomendamos a nossos clientes passarem pela simulação de microgravidade ou pelo voo em um caça militar para ter certeza que consegue passar pelo turismo no espaço”, explica Palhares.

É possível desistir e pedir o dinheiro de volta depois que o contrato foi assinado, mas é cobrado uma multa no valor de US$ 20 mil.

O primeiro voo

A Virgin ainda está realizando testes com a nave desenvolvida pela empresa. Os planos são de iniciar os voos turísticos em dois anos, a partir de 2020. Neste ano, deverá ocorrer o primeiro voo suborbital. Serão mais dois anos de testes até o primeiro voo comercial.

Enquanto isso, os clientes que já assinaram o contrato recebem brindes e participam de eventos exclusivos.

“Nós somos clientes VIPs da Virgin. Eu já ganhei livro autografado pelo Richard Branson, fui convidado para participar de um evento exclusivo no museu espacial, na Califórnia (EUA), e alguns podem até fazer uma visita a ilha Necker, no Caribe, onde mora o dono da empresa”, conta Palhares.

Segurança

Em 2014, uma nave da Virgin Galactic sofreu um acidente durante testes nos EUA. O piloto conseguiu ser salvo, mas o copiloto morreu. Isso obrigou a empresa estender o período de testes. Segundo a empresa, o motivo foi uma "anomalia de voo".

“Eu encarei o acidente positivamente. É justamente nos testes que os esquipamentos são levados ao limite para descobrir essas falhas operacionais. Ótimo que isso aconteceu nessa fase exatamente para prevenir essas situações”, afirma Palhares.

Como funcionará?

A Virgin não usará um foguete para enviar turistas ao espaço. A nave decola acoplado na asa de um avião desenvolvido para essa finalidade. Ao atingir 15 quilômetros de altitude, ocorre a desacoplagem, a nave entra em queda livre por cinco segundos até os motores serem acionados e subir em direção ao espaço a uma velocidade de 4.000 Km/h.
A nave é abastecida somente para fazer a decolagem e não é necessário qualquer combustível para o retorno à atmosfera. Os turistas voltam ao solo planando no ar até pousarem em uma pista como um avião

Concorrência

Outras empresas também realizam investimentos para levar pessoas comum ao espaço. A Blue Origin, de Jeff Bezos, dono da Amazon, é uma das concorrentes diretas da Agência Marcos Pontes, mas ainda não há previsão para o primeiro voo. Outra alternativa é a Roscomos, mas o valor cobrado para levar uma pessoa comum ao espaço é de US$ 63 milhões.

O futuro

Os avanços da tecnologia aeroespacial poderão mudar a maneira como as pessoas se deslocam na Terra. As naves também poderão ser usadas como uma alternativa para deslocamento em alta velocidade de um lugar para outro. Essas naves podem fazer uma viagem de São Paulo até Tóquio em apenas 40 minutos usando o vácuo espacial.


quinta-feira, 19 de abril de 2018

Brasil cobra resposta dos EUA sobre acordo para uso da base de Alcântara

DefesaNet
15 de abril de 2018

Foto: Veja/divulgação

O governo brasileiro cobrou dos Estados Unidos uma resposta à proposta de uso da base de Alcântara, entregue a Washington há quase um ano e até agora sem resposta, disseram à Reuters fontes que acompanharam a reunião entre o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, e o Secretario de Estado interino dos EUA, John Sullivan.

"Nós apresentamos um resumo de 10 pontos que estamos esperando resposta. Alguns avançaram outros não. Na questão de Alcântara estamos esperando e cobramos uma resposta", disse à Reuters uma das fontes.

A proposta brasileira para uso da base substituiu o texto que foi rejeitado pelo Congresso no ano 2000 por ser considerada muito intrusiva pelos parlamentares, já que dava acesso total à base pelos norte-americanos com pouco retorno tecnológico para o país.

"Nossa contraproposta avançou nas questões que preocupavam o Congresso e acho que cobre bem as preocupações americanas com propriedade intelectual, proteção à tecnologia", disse uma das fontes. "O que foi dito agora é que a proposta já passou por todas as agências americanas e em seguida eles estarão prontos para negociar."

O governo brasileiro apresentou a propostas no início de junho de 2017. Desde então, diversas empresas demonstraram interesse em lançar foguetes da base em Alcântara (MA) que, por sua localização na linha do Equador exige 30 por cento menos combustível que outras regiões.

Pelo menos cinco empresas norte-americanas demonstraram interesse depois de uma visita à base. Lockheed Martin e Boeing estiveram em Alcântara, além da Vector Space Systems, que lança pequenos satélites, e da Microcosm. Todas elas, no entanto, só podem usar a base depois de assinado um acordo de salvaguardas de tecnologia entre os dois países, por exigência das leis norte-americanas.

"A própria Boeing tem pressionado o governo americano para resolver essa questão porque eles têm muito interessem no uso da base", disse uma das fontes.

Inicialmente, autoridades brasileiras haviam dito que a SpaceX também participara da visita a Alcântara e demonstrara interesse em usar a base. A SpaceX informou posteriormente, no entanto, que não visitou a base e que não tem interesse em usá-la.

O Brasil abandonou planos de construir seu próprio foguete para transportar grandes satélites após uma explosão em 2003 em Alcântara que matou 21 pessoas e dizimou o programa espacial brasileiro. Depois disso, ainda no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, foi feito um acordo com a Ucrânia para desenvolvimento conjunto de um veículo lançador de satélites.

O país europeu, no entanto, nunca pagou sua parte no investimento nem entregou a tecnologia combinada. O acordo foi rompido em 2015.

A intenção agora é encontrar uma forma de receber dividendos e também tecnologia. O uso da base foi oferecido não apenas para os Estados Unidos e outros países interessados poderão usar também.

Embora o mercado de lançamentos de grandes satélites geoestacionários tenha se consolidado, o Space Enterprise Council, que representa a indústria norte-americana desde serviços de lançamento até fabricantes de satélites, disse que o crescente setor de microsatélites poderia registrar até 600 lançamentos para satélites abaixo de 50 kg deste ano a 2022.

Alcântara poderia ocupar 25 por cento desse mercado, de acordo com o conselho, que disse que uma parceria entre os EUA e o Brasil daria a ambos os países uma vantagem no segmento de rápido crescimento.

quarta-feira, 18 de abril de 2018

Opinião: O apagão do satélite brasileiro (Paulo Hetzel)

Brasil 247
Paulo Hetzel*
17 de abril de 2018

Satélite SGDC (ilustração) - Imagem: Visiona


Nestas últimas semanas, o nosso Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicação – SGDC 1 esteve como “estrela” no noticiário nacional e internacional. Só perdeu protagonismo, devido ao execrável atentado e morte da jovem vereadora carioca Marielle e a prisão do ex-presidente Lula.

Primeiramente circulou uma denúncia, que o satélite passou para as mãos da empresa americana VIASAT e que isto representaria uma “porta aberta” para a espionagem das nossas comunicações por satélite, além de representar uma quebra da nossa soberania.

A outra informação noticiada em cadeia nacional foi o lançamento, pelo Governo Federal, do programa “Banda Larga para Todos”, mais propriamente para atendimento das necessidades de escolas públicas e postos de saúde, em localidades não atendidas do país.

Acredito ser necessário pontuar alguns dados para facilitar um melhor entendimento destas informações, um verdadeiro “nó cego”, resultado de intricadas manobras feitas nos últimos anos pelos gestores da Telebrás.

O objetivo principal deste empreendimento estatal está claro nas declarações da Telebrás e das diretrizes do Decreto 8.776, de 05/2016, assim redigido:

Art. 1º Fica instituído o Programa Brasil Inteligente, com a finalidade de buscar a universalização do acesso à internet no País. 

Art. 2º Para alcançar a finalidade indicada no art. 1º, o Programa Brasil Inteligente terá os seguintes objetivos:

X - disponibilizar capacidade satelital em banda larga para fins civis e militares;

No Portal da Telebrás, www.telebras.com.br/sgdc/ está descrito suas qualidades e objeto do satélite (100% brasileiro).

O SGDC é um satélite extremamente avançado e imprescindível que utilizará a alta capacidade da banda Ka para ampliar a oferta de banda larga aos locais mais distantes do Brasil com internet de qualidade. Vai assegurar a defesa e soberania nacionais e expansão da capacidade operacional das Forças Armadas.

Em alguns artigos meus, entre eles o “O escândalo: entrega do satélite cria apartheid digital” e “Satélite brasileiro – SGDC falta de planejamento causa prejuízos de milhões ao erário”, sempre denunciei a intenção do atual governo em privatizar a faixa destinada para as comunicações domésticas do nosso satélite.

A tentativa já foi feita pela Telebrás no final de 2017, mas sem resultado, pois não houve absolutamente nenhum interessado.

Com a falta de interesse pela iniciativa privada, a Telebrás ficou com a “brocha na mão”, pois, passados dois anos, as Estações Terrenas – VSAT´s ainda não foram adquiridas, logo, o sistema está incompleto, ou seja, sem condições de uso pela sociedade.

Estas Estações Terrenas são necessárias para “fechar o circuito”, para complementar o sistema de comunicações via satélite, pois sem elas, o satélite se torna um lixo espacial, um “espelho” que não reflete.

As variáveis que seguem servem como fatores de uma operação matemática, que continuando o “status quo”, terá sempre como resultado, um valor negativo para a sociedade brasileira. Vejamos: início das atividades do Satélite, 04/05/2017; tempo de vida útil do satélite, 15 anos devido à limitação do combustível; estamos com 10 meses de operação. Custo do Satélite em órbita de R$ 2.700.000.000,00

Com este valor, “bagatela” de 2,7 bilhões de reais, pago com dinheiro público, talvez o mais caro do mundo, estamos amargando um prejuízo assustador, financeiro e social, pois este valioso “espelho espacial” está gastando sua vida útil a cada minuto, sem utilizar a banda de comunicação civil. Sem cumprir seus objetivos normatizados em lei.

Considerando o custo somente da banda de comunicação civil (70%), teremos:

Valor do investimento de R$ 2.700.000.000,00 (2,7 Bilhões) x 70% (banda civil) ÷ 15 anos ÷ 12 meses = R$.10.500.000,00 mês ÷ 30 dias = R$ 350.000,00 (Trezentos e cinquenta mil Reais).

Resultado: R$ 350.000,00 de prejuízo por dia, ou, R$ 10.500.000,00 por mês. Nestes 10 (dez) meses sem uso/faturamento, fomos agraciados com R$ 105.000.000,00 (cento e cinco milhões de Reais) de "prejuízo".

Saliento que se trata de um cálculo “simplista”, uma vez que não estamos considerando a taxa Selic, Lucro Cessante, Valor do Câmbio (já que todo investimento foi em dólar), Custo Administrativo, Operacional, Impostos, etc.

Com estes relevantes dados econômicos, cobrança de instituições da sociedade civil organizada, o risco real de ficar com esse caríssimo e estratégico patrimônio nacional sem utilização, a Telebrás foi obrigada a correr atrás do prejuízo e fazer aquisição dos equipamentos terrestres a “toque de caixa”.

Com a “faca no pescoço”, fechou um contrato comercial com a empresa americana VIASAT, para o fornecimento das estações VSAT, ou seja, os equipamentos que faltam para poder utilizar a banda de comunicação.

É importante esclarecer que se trata de “fornecimento de equipamentos terrestres”, sem que haja nenhuma entrega de “comando” sobre os canais de comunicação.

O decreto 7.769/2012, em vigor, prevê esta modelagem de implantação;


Dispõe sobre a gestão do planejamento, da construção e do lançamento do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas - SGDC.

Art. 8o, A TELEBRÁS poderá contratar com terceiros o fornecimento de bens, serviços e obras de engenharia necessários à construção, integração e lançamento do SGDC e ao transporte de sinais de telecomunicações, bem como do segmento terrestre correspondente. 

Podemos afirmar que, especificamente, esta operação comercial, NÃO PRIVATIZA o satélite nacional.

Isto já foi tentado pela Telebrás, sem resultado, pois as empresas privadas do setor não se interessaram, o que, na minha opinião, levou a saída do seu presidente, no mês de março passado, após a sua “apequenada” passagem de seis meses e meio no comando desta que já foi a holding mais poderosa da América Latina, devidamente destruída pela privataria do governo Fernando Henrique Cardoso.

O grande problema dessa infeliz aquisição, é que esse contrato com a VIASAT está repleto de “defeito”, pois não atendeu as premissas básicas mínimas de uma licitação “de” e “para” o mercado.

É uma difícil situação para ser resolvida, pois a falta de utilização dessa importante e caríssima ferramenta de comunicação, demostra falta de planejamento e má gestão, que perdura desde a sua aquisição.

Como já foi anunciado, as empresas fornecedoras de equipamentos que se sentiram prejudicadas por este arranjo, já entraram com recurso judicial, conseguindo impedir, através de liminar, a continuidade do contrato, o que levará o enredo da triste novela a se arrastar por mais tempo, aumentando ainda mais o prejuízo para a sociedade brasileira, principalmente para as 30 milhões de famílias “apagadas”, os excluídos digitais das regiões Norte/Nordeste.

Como é a viúva que vai pagar, não vejo esforços para uma solução célere e imediata para o “nó cego”, pois os atuais gestores do setor estão envolvidos em negociações para substituir o presidente demissionário da Telebrás.

É importante esclarecer também que o que está em jogo neste momento é só, e somente só, a banda de comunicação civil, banda Ka, pois a de uso militar, a banda “X”, operada e mantida pelas Forças Armadas, embora não atenda a todas suas necessidades de conectividade, aparentemente, vai muito bem obrigado.

Abro parênteses neste ponto para informar que, ao contrário do que foi apregoado por “fontes marginais” ao setor, não existe absolutamente nenhum problema nos canais de comunicação de uso militar, na banda de comunicação militar.

O que é necessário neste momento é que sejam executadas ações comerciais e operacionais pelo novo gestor da Telebrás, para solucionar este gravíssimo problema. Ações estas, lastreadas na lei e nas políticas públicas definidas como premissas desse investimento, evitando assim, eternos conflitos e paralizações, seja com o Tribunal de Contas da União ou mesmo com os agentes privados do setor.

O objetivo central deve ser o uso adequado e efetivo desse importante e imprescindível “meio de transmissão” que é o satélite SGDC. É isto que a sociedade precisa e cobra. Foi para isto que a sociedade pagou e continua pagando.

Para acrescentar mais pimenta neste angu, no dia 28.03 a ANATEL, Agência Nacional de Telecomunicações, abriu novo chamamento público para tentar a tão sonhada privatização de parte do nosso satélite.

Sabemos de antemão que a empresa INMARSAT, empresa britânica de telecomunicações via satélite, já mostrou interesse na obtenção do direito de exploração da banda Ka, o que levaria irremediavelmente ao controle das comunicações civis do satélite, um erro drástico e irremediável, feito por quem não pensa o Brasil, por que não é brasileiro. Este sim, representa a real privatização das comunicações civis brasileiras via satélite.

Temos capacidade técnica e de gestão para encontrar uma solução rápida e eficiente sem lançar mão de uma política entreguista, sem privatizar este patrimônio, pois embora eu duvide, “os ácaros do meu guarda roupa” teimam em afirmar que foi proposital a criação deste imbróglio, no sentido de justificar sua entrega para o capital transnacional.

Isto já ocorreu. Esta dinâmica já foi executada com sucesso na entrega/venda/privatização da Embratel e dos nossos satélites geoestacionários.

A segunda notícia do mês foi o lançamento do programa “Internet para Todos”, divulgada com grande estardalhaço pela grande mídia, que “teria” o objetivo de disponibilizar internet em “banda larga” para todas as escolas e postos de saúde das regiões não atendidas pela iniciativa privada, mesmo depois de 20 anos da “privataria” Tucana, quando foi “vendido”, para esta mesma iniciativa privada, todo o sistema lucrativo de telecomunicações estatal brasileiro.

Novamente, sem querer ser dono da verdade, esclareço que não será possível implantar este sistema de atendimento de comunicação digital de alta capacidade, internet banda larga, utilizando somente o satélite SGDC-1.

A instalação de equipamentos, as ETN´s (Estações Terrenas Vsat´s), até poderá acontecer, mas o resultado será pobre e miúdo, pois matematicamente é impossível atender a demanda reprimida, considerando somente as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, as mais apagadas digitalmente.

Dados simplificados: todo o canal de Comunicação Civil, a Banda Ka, tem 64,2 Gbps disponível para tráfego, para transporte de dados, sendo 45 Gbps para enlace direto (download) e 19,2 Gbps para enlace de retorno (upload).

Desta capacidade, dois terços dos 64,2 Gbits, ou seja, 42,8 Gbits, terão uso exclusivo para o Plano Nacional de Banda Larga.O restante atenderá a demandas estratégicas, da Presidência da República (Ministérios, Bancos Estatais, Policia Rodoviária Federal, ECT, Infraero, etc).

Como o objetivo do programa é atender pelo menos 2.710 municípios (450 da região Norte + 1.794 do Nordeste e 466 do Centro-Oeste) e em cada município serão abertos outros pontos de atendimento, temos o seguinte quadro;

Se dividirmos 42,8 Gb, sendo bastante gentil em considerar a média de banda entre up/dowload, por 2.710 municípios, teremos um total de 15,8 Mbps por município. O governo considera aptos para formalizar a adesão ao programa 2.766 municípios.

Em cada município serão abertos outros pontos para atender escolas, hospitais e postos de saúde.

Considerando, por exemplo, o município de Bananeiras na Paraíba, com 21.000 habitantes, teremos: estabelecimentos de ensino fundamental, 43, (4.056 alunos); estabelecimentos de ensino médio: 4, (1.448 alunos); estabelecimentos de saúde (SUS), 15. Total de pontos a serem atendidos = 62


Considerando que em cada ponto referente a uma escola possua o mínimo de 10 terminais de computador, totalizando 470 terminais, para 5.504 alunos e nos postos de saúde, 3, teremos uma média de no mínimo de 515 usuários trafegando pela rede internet via satélite, com picos de tráfego entre 9 e 17 hrs,


Dividindo 15,8 Mb, taxa disponível por município, entre os 515 usuários dos 62 pontos de atendimento, teremos uma banda/velocidade para cada usuário de 30,6 Kbps, para Up/Download (transmissão e recepção), valor menor que na época da internet discada.

Seria como a idade da “pedra lascada” digital em pleno ano 2018. É uma taxa de transmissão que não existe no mundo digital. É como um cano de 1”, uma polegada, levando água ao mesmo tempo, para 5.000 residências. Muitos ficarão sem acesso, para que outros possam ter o mínimo de comunicação.

Para que se possa disponibilizar a velocidade mínima de 56 Kbps, valor do início da internet no Brasil, só seria possível instalar 282 terminais de computador para as 47 escolas e 15 postos de saúde, o que daria 4 computadores para cada unidade de atendimento, com velocidade máxima de 56 Kbps para up/dow.

Para podermos entender estes dados em uma escala de valor internacional, a Federal Communications Commission (FCC), autarquia norte-americana responsável por regular o setor de telecomunicações, considera banda larga de acessos fixos o mínimo de 25 Mbps de Download (recepção/descida) e 3 Mbps de Upload (Transmissão/subida). No último levantamento, 59% dos acessos nos EUA estavam nesta faixa.

Gostaria de lembrar que estamos utilizando como exemplo, um município de pequeno porte, com apenas 21.500 habitantes, que não foram computados neste cálculo, pois conforme declarado no dia 12/03, deveriam também ser agraciados com internet banda larga.

“Eu acho que nós estamos colocando o Brasil no mundo moderno, trazendo a modernidade para o país. (…) Desde 2005, já se falava desse tema de levar a banda larga para todos os municípios e escolas públicas. Hoje, nós podemos comemorar algo que diz respeito aos países mais avançados do mundo, nós estamos levando banda larga para todos os municípios brasileiros”, declarou Temer.

Como podemos constatar através do exemplo posto, não existe a mínima possibilidade de concretizar esta meta, por absoluta falta de capacidade do satélite.

A conta do programa Internet para Todos, não fecha, não é possível, por mais boa vontade que se possa ter.

Gostaria de esclarecer mais um detalhe que acreditamos ser importante

Sistema de comunicação via satélite, devido às suas características técnicas e econômicas, sempre foi backup, redundância, de outros meios de transporte de informação, como por exemplo a fibra óptica, não servindo como sistema principal, somente em casos extraordinários como foi nos anos 80, quando a Embratel, empresa estatal, fomentou o desenvolvimento da região Amazônica, com a implantação de estações terrenas para comunicação via satélite, em uma época que não existia fibra óptica.

Consideramos temerário (Temer-ário) o lançamento deste programa, sem que seja considerado o leque de opções existentes na infraestrutura de telecomunicações brasileira, seja estatal e/ou privada, bem como de outras infovias que se encontram atualmente em processo de implantação.

*Tecnólogo, bacharel em Direito, membro da Frente Brasil de Juristas pela Democracia/DF, da Frente Ampla em Defesa da Soberania e Tecnológica Nacional, assessor da Comissão de Meio Ambiente e da Comissão de Ciência e Tecnologia, no Senado Federal

Brasil e Luxemburgo querem ampliar cooperação na área espacial

AEB
5 de abril de 2018

Foto: MCTIC

O presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), José Raimundo Braga, participou na última quarta-feira (04.04.2018), junto com o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, de reunião com o vice-primeiro ministro e ministro da Economia, da Segurança Interior e da Defesa de Luxemburgo, Etienne Schneider. Durante o encontro, eles discutiram o potencial da cooperação na área espacial e em telecomunicações.

“Existem frentes de trabalho que nós podemos e devemos explorar nesta cooperação”, afirmou Kassab.

Schneider ressaltou o esforço de seu país em estreitar laços, simbolizado pela abertura da Embaixada do Grão-Ducado de Luxemburgo em Brasília em setembro de 2017. “Por isso, vejo com muita importância a iniciativa de manter esse diálogo e essa aproximação não só política, mas também científica e econômica”, afirmou. “Aportamos capital no setor siderúrgico brasileiro há quase um século. Também temos negócios em transporte aéreo e satélites. Somos o 13º maior investidor estrangeiro no Brasil.”

A proposta é reforçar a presença no Brasil da operadora mundial de satélites SES, fundada em 1985 pelo governo de Luxemburgo, que ainda detém um terço de suas ações. Com escritórios em São Paulo e no Rio de Janeiro, a empresa lançou em janeiro o satélite SES-14, que ocupa o espectro orbital brasileiro, com autorização da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel); e inaugurou terça-feira (3) um teleporto em Hortolândia (SP), de onde será controlado o SES-14, projetado para atender empresas, residências e governos com banda larga de alta velocidade.

Segundo Schneider, Luxemburgo investe em atividades espaciais 2% de seu Produto Interno Bruto (PIB). “É o maior percentual entre todos os países da União Europeia”, informou. “Uma das nossas intenções para o futuro é fazer mineração espacial. Eu destaco isso porque é nosso objetivo ter o Brasil como parceiro nessa empreitada. Já conseguimos fechar acordos com vários países, como China, Japão, Portugal e estamos em vias de acertar com a Rússia.”

Caminhos

O secretário de Telecomunicações do MCTIC, André Borges, apontou para as chances de cooperação abertas pelo lançamento do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC), em maio de 2017. “Temos agora ampla capacidade de banda Ka e estamos explorando parcerias com a iniciativa privada”, afirmou. “Para o futuro, planejamos o desenvolvimento de um segundo satélite, que pode gerar bastante oportunidade. Também trabalhamos em um modelo de lançamento de satélites em Alcântara.”

Já o secretário de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do MCTIC, Maximiliano Martinhão, mencionou iniciativas de cooperação com Luxemburgo no campo de satélites dentro da Agência Espacial Brasileira (AEB) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). “Do ponto de vista mais amplo, a comunidade científica brasileira teria interesse em aprofundar discussões em mineração, siderurgia e energia renovável”, indicou.

Também participaram da reunião o embaixador do Grão Ducado de Luxemburgo no Brasil, Carlo Krieger, e o presidente da Telecomunicações Brasileiras S. A. (Telebras), Jarbas Valente.

Forças Armadas dizem que acordo entre Telebras e Viasat é seguro

Valor Econômico
Ivone Santana
16 de abril de 2018


Coronel Anderson Tesch Hosken Alvarenga

O Estado-Maior das Forças Armadas, subordinado ao Ministério da Defesa, fez uma avaliação dos riscos à soberania nacional decorrentes do contrato entre a Telebras e a americana Viasat para exploração de 100% da capacidade da banda Ka do primeiro Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC-1) da empresa de economia mista.

O estudo resultou em uma nota técnica para a Advocacia-Geral da União (AGU), à qual o Valor teve acesso, relatando que não há qualquer risco à soberania nacional.

Nos últimos dias, criou-se uma polêmica em torno desse contrato, que está suspenso por liminar da Justiça. Um dos pontos levantados nas discussões dizia que entregar a exploração da banda Ka a uma empresa americana colocaria em risco a soberania nacional. Isso, mesmo ficando claro que a Viasat ficaria restrita ao acesso à banda X.

Ocorre que o SGDC-1 transporta as bandas Ka e X. Enquanto a Ka, destinada a serviços de banda larga em todo o país, foi cedida para exploração da Viasat, que deverá atender aos interesses do governo para massificação da internet em alta velocidade, a banda X é exclusivamente de uso militar, portanto, gerida pelas Forças Armadas.

Segundo a nota das Forças Armadas, a gestão do SGDC-1 é compartilhada entre a Telebras e o Ministério da Defesa, o qual tem controle exclusivo e irrestrito sobre a banda X.

Após analisar o projeto do satélite, as especificações técnicas, estratégicas, o acordo com a Viasat e a participação das Forças Armadas na gestão da banda X, o parecer deixa claro que a Viasat não terá acesso às senhas de controle do SGDC-1. Portanto, que não haverá agravamento do risco de vazamento de dados relevantes à soberania nacional devido ao acordo de compartilhamento.

O documento afirma também que a Viasat não terá acesso ao conteúdo que tramita entre o usuário final e o destinatário da banda X, a partir da comercialização da banda Ka, e que a Viasat não terá acesso à banda X. Por fim, a nota afirma que e o uso da banda Ka não põe em risco a segurança dos dados que trafegam na banda X.

O relatório é assinado pelo coronel Anderson Tesch Hosken Alvarenga, assessor na subchefia de comando e controle do Ministério da Defesa, no dia 12 de abril.

sexta-feira, 13 de abril de 2018

Técnicos do CEOS discutem qualidade e distribuição de dados de satélites

INPE
10 de abril de 2018

Membros dos grupos de trabalho do CEOS no INPE - Foto: INPE

Dois grupos de trabalho do Comitê de Satélites de Observação da Terra (CEOS, na sigla em inglês) estão no Brasil para discutir a validação e sistemas para distribuição dos dados de sensores de vários países. O encontro acontece de 9 a 13 de abril no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que mantém posição de destaque no CEOS pelo seu pioneirismo na utilização de satélites para observação da Terra e no desenvolvimento de sistemas de código livre para interpretação e uso acessível dos dados.

O Instituto, que distribui gratuitamente imagens de satélites, também desenvolve softwares livres para processamento de imagens de sensoriamento remoto e sistemas de informação geográfica que fazem dos dados espaciais uma ferramenta imprescindível para monitorar o meio ambiente.

O INPE é membro do CEOS desde que este grupo foi estabelecido em 1984. O CEOS é responsável pela coordenação global de programas espaciais civis e pelo intercâmbio de dados de satélites de observação da Terra em benefício da sociedade. Atualmente o CEOS é composto por 60 agências espaciais, instituições e organismos internacionais do setor, que operam 154 satélites.

O WGISS (Grupo de Trabalho em Sistemas de Informação e Serviços) promove a colaboração entre as instituições no desenvolvimento da cadeia de sistemas de informação usados para armazenar e disseminar dados de observação da Terra aos usuários finais.

“O trabalho do INPE no WGISS possibilitou, por exemplo, a integração do sistema de distribuição de imagens do Centro de Dados de Sensoriamento Remoto (CDSR) aos catálogos de outras instituições, pela adoção de interfaces de acesso discutidas e desenvolvidas no contexto do grupo”, explica Lubia Vinhas, representante do INPE no WGISS.

O WGCV (Grupo de Trabalho em Calibração e Validação) trabalha para assegurar, a longo prazo, a qualidade e precisão dos dados de Observação da Terra e seus produtos derivados. O grupo é um fórum para a troca de informações e dados sobre calibração e validação de medidas, além de coordenar atividades de trabalho colaborativo entre as instituições.

“O trabalho do WGCV é importante, por exemplo, no uso de medidas de calibração in-situ, em locais próprios para essas atividades, para aprimorar as imagens dos sensores a bordo das missões CBERS e Amazonia”, informa Leila Fonseca, que representa o INPE no WGCV.

A reunião dos grupos do CEOS no INPE também é oportuna para o “Workshop on Future Data Architectures (FDA) and Introduction of Copernicus Data and Information Access System (DIAS)”. Este workshop irá tratar das futuras arquiteturas de dados, sistema de acesso aos dados e informação DIAS dos satélites Sentinel, parte do Programa Copernicus.

Segundo os presidentes dos dois grupos, Mirko Albani (representante da Agência Espacial Europeia, ESA) e Kurtis Thome (representante da NASA), nos últimos anos temos lidado com uma grande quantidade de medidas provenientes de diversos instrumentos a bordo de satélites de observação da Terra, gerando um enorme volume dados a serem processados, para responder a questões em variados domínios de aplicações. Essa reunião conjunta do WGISS e WGCV pretende discutir de que forma os múltiplos dados de observação da Terra podem prover as melhores respostas para a comunidade de usuários.

Mais informações sobre o CEOS no site www.ceos.org. Mais informações sobre as reuniões podem ser obtidas em:
http://ceos.org/meetings/wgiss-45/ e http://ceos.org/meetings/wgcv-43/