quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Crise na ciência não se deve apenas à falta de recursos, avaliam cientistas

Jornal da Ciência, 8 de fevereiro de 2018

Participantes de debate defendem uma política de Estado que compreenda a importância de investir em ciência para melhorar a competitividade e promover o desenvolvimento do País
A crise de financiamento pela qual a ciência brasileira atravessa atualmente não se deve apenas à falta de recursos, mas de visão estratégica e de uma política de Estado que compreenda a necessidade de aumentar os investimentos no setor para assegurar a competitividade e promover o desenvolvimento econômico e social do País.
A avaliação foi feita por participantes do encontro “É o fim? Um debate sobre os rumos da ciência no Brasil e inspirações de Berlim”, realizado no dia 1º de fevereiro no espaço de eventos da Fnac Paulista.
O evento, que fez parte das atividades do Berlin Science Communication Award, promovido pela Humboldt-Universität zu Berlin e financiado pela Sociedade Alemã de Amparo à Pesquisa (DFG), com apoio do Ministério de Educação e Pesquisa da Alemanha (BMBF), reuniu pesquisadores e jornalistas científicos para debater sobre o cenário atual e as perspectivas da ciência no Brasil.
“Os investimentos federais em ciência no Brasil nos últimos anos vêm despencando em queda livre, independentemente do governo”, disse Helena Nader, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e presidente de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
De acordo com dados apresentados por Nader, 31,6% das despesas financeiras e primárias do Brasil em 2015, por exemplo, foram com amortização de dívida e 8,7% com o pagamento de juros, e somente 5,8% relacionadas a despesas discricionárias, que são aquelas que o Estado pode ou não executar, de acordo com a previsão de receitas.
Nessa categoria de despesas estão incluídos os setores de educação, saúde, defesa e ciência e tecnologia. Esse último recebeu apenas 5,6% do total de recursos destinados para o pagamento de despesas discricionárias em 2015. “[O baixo investimento em ciência e tecnologia] representa uma opção do Estado brasileiro”, avaliou Nader.
A opinião foi compartilhada por Paulo Artaxo, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP).
O orçamento geral da União em 2018 deverá ser 1,7% maior do que o de 2017. O orçamento para custeio e investimento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTI), contudo, deverá sofrer um corte de 56%, também em relação a 2017, comparou Artaxo.
“Há quem diga que o problema da ciência brasileira é a falta de recursos, como se fosse uma questão de contabilidade. Mas não é. O que aconteceu é que mudaram as prioridades”, afirmou. A crise pela qual a ciência brasileira passa também não é exclusiva do setor e faz parte da crise do Estado como um todo, ponderou o pesquisador.
“A crise não é só da ciência brasileira, mas do Estado. Portanto, a ciência brasileira não vai sair dessa crise enquanto o País também não sair da crise institucional na qual está imerso”, disse Artaxo.
Falta de engajamento público
Na avaliação de Herton Escobar, jornalista de ciência do jornal O Estado de S. Paulo e colaborador da revista Science, os cientistas brasileiros devem valorizar a divulgação científica e se comunicar mais diretamente com a sociedade, por meio de plataformas de mídia social, e não delegar toda essa responsabilidade para a mídia tradicional.
Segundo ele, essa ação é importante para obter maior engajamento público na defesa da ciência e evitar a falta de apoio popular para a ciência. “Quando havia dinheiro disponível para fazer ciência no Brasil, não fazia diferença se a sociedade dava valor para essa atividade. A partir do momento que temos uma situação crítica, como a que estamos vivendo hoje, os cientistas viram que era preciso o apoio da sociedade, ir à Brasília, pedir mais recursos e mostrar que a ciência é importante, mas a sociedade não respondeu”, disse Escobar.
A dificuldade de se fazer divulgação científica de qualidade e engajar a sociedade brasileira na defesa da ciência foram ponderadas pelos participantes do debate.
“55% da população brasileira não completou o ensino médio. Essa população não vai procurar na internet ou ler jornal para se informar sobre ciência. Ela se informa pela televisão”, disse Nader. “Antes de pensarmos em internacionalização das universidades, é preciso trazer o brasileiro para dentro da escola e promover a cidadania.”

Em 34 anos, Estação Antártica Comandante Ferraz contribui para formação de centenas de cientistas brasileiros

Jornal da Ciência, 8 de fevereiro de 2018

A obra da nova EACF teve início no final de 2015, com previsão de finalização para março de 2019
A Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF) completa hoje, 6 de fevereiro, 34 anos. Localizada na Península Keller, interior da Baia do Almirantado, na Ilha Rei George, a Estação contribuiu para a formação de centenas de cientistas e de um vasto acervo de estudos em diversas áreas do conhecimento. A EACF é uma estação científica, fomentada e concebida para facilitar o desenvolvimento e constante aperfeiçoamento da Ciência Antártica conduzida pela comunidade científica brasileira em âmbito internacional, e que possam colocar o Brasil em posição de respeito e de destaque perante a esta comunidade e de acordo com as normativas do Tratado Antártico.
O Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR) foi criado em 1982 e o Brasil faz parte do seleto grupo mundial de apenas 29 países que definem o futuro do Continente Branco. O requisito mais importante para esta posição é a realização de pesquisa científica de qualidade, ou seja, aquele país que não produz ciência de qualidade, não pode decidir sobre a Antártica, no que diz respeito a sua ocupação e utilização dos recursos naturais no futuro. O PROANTAR, ao longo de seus 36 anos tem mantido o seu desenvolvimento cientifico e tecnológico constante, o que hoje nos insere no contexto global de pesquisa nos Polos. São anos em que, apesar das restrições fiscais, o programa tem se mantido ininterrupto.
Apesar do incêndio da base de pesquisa brasileira na Antártica, Estação Comandante Ferraz, todas as pesquisas que dependiam das instalações da Estação foram retomadas e executadas no Laboratório dos Módulos Antárticos Emergenciais e também em um Laboratório disposto em um container, com temperatura controlada para experimentos biológicos. O Laboratório de Química, o Módulo VLF e o Módulo de Meteorologia foram interligados aos MAE, o que possibilitou a retomada dos trabalhos científicos na EACF. Nas últimas operações (2016/2017/2018), apenas por ocasião da reconstrução e por medida de segurança, as atividades de pesquisa na área da Estação foram suspensas ou realocadas para os navios oceanográficos polares e acampamentos, ou ainda bases estrangeiras.
A obra da nova EACF teve início no final de 2015, com previsão de finalização para março de 2019. O principal diferencial em relação à Estação antiga no espaço destinado à pesquisa é o maior número de laboratórios com equipamentos mais modernos e especificidade de uso por área. A área de pesquisa foi projetada para atender a uma multiplicidade de exigências, denotando a prioridade do PROANTAR para as atividades científicas, com a participação direta da comunidade científica para cumprir a demanda necessária aprovada no “Plano de Ação para a Ciência Antártica para o período de 2013 a 2022”. A nova Estação proverá a comunidade científica oportunidade de desenvolver atividades em um vasto campo científico.
Em termos de impacto da ciência na Antártica para o Brasil, diferentes Universidades e Institutos de Pesquisa nacionais desenvolvem importantes projetos nas áreas de biologia, clima, glaciologia, geologia, medicina, arqueologia, entre outras. Estas pesquisas tem impacto direto nas ciências básicas e aplicadas para o Brasil. Todos os projetos que atuam no PROANTAR incluem diferentes cursos de Graduação e Programas de Pós-Graduação e, consequentemente, contribui para formação de Bacharéis, Licenciados, Mestres e Doutores para a ciência brasileira. Estes profissionais serão responsáveis pelo avanço científico-tecnológico do Brasil. Os projetos do PROANTAR executam parcerias com diferentes países, o que aumenta a internacionalização da ciência brasileira para troca de conhecimentos e tecnologias.
A Antártica possui cerca de 14 milhões de km2, faixa territorial superior a do Brasil. Na Antártica se encontra a maior reserva de água potável congelada do planeta, tipos e quantidades de minerais ainda desconhecidos e uma considerável diversidade de micro-organismos, plantas e animais pouco conhecida que pode ser fonte de produtos biotecnológicos para futuro uso em prol do Brasil e da humanidade. Além disso, a Antártica tem grande influência no clima do Brasil e do mundo.

Pesquisadores do Cemaden e do Reino Unido estudam mudanças climáticas globais e ferramentas para a redução de riscos de desastres

Cemaden, 7 de fevereiro de 2018

Os estudos voltados aos eventos extremos, como inundações e secas, fazem parte do projeto do Climate Science for Service Partnership (CSSP Brasil), programa de pesquisa em parceria com cientistas do Serviço Meteorológico do Reino Unido (UK Met Office). O programa realiza intercâmbio de informações científicas sobre a compreensão das mudanças climáticas, projeções e impactos futuros de eventos extremos, além de implementar metodologias e modelagem para redução do risco de desastres.


As análises dos efeitos provocados pelas mudanças climáticas e as projeções de riscos de inundações e de seca no Brasil foram os focos das reuniões realizadas, em janeiro, no Reino Unido, entre os pesquisadores do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) – unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações –  e do Serviço Meteorológico do Reino Unido (UK Met Office).
As reuniões entre os cientistas do UK Met Office e do Cemaden resultaram na identificação de oportunidades de colaboração contínua nos estudos sobre atribuição de eventos operacionais  e no aperfeiçoamento do modelo de representação da inundação de zonas úmidas na superfície terrestre. Foram, também, discutidas as projeções de risco de inundação no Brasil, além do potencial reconhecimento de causas resultantes da intervenção humana em eventos extremos.
“A participação do Cemaden no programa CSSP-Brasil oferece a oportunidade de capacitação no uso dos modelos climáticos desenvolvidos pelo UK Met Office.”, informa o hidrólogo Conrado Rudorff. “Isso contribuirá para as análises dos efeitos das mudanças climáticas sobre a infraestrutura de segurança hídrica nacional e os riscos de desastres naturais.”, complementa o pesquisador do Cemaden.
“Estamos estabelecendo um plano de pesquisa para avaliar as causas da seca dos últimos seis anos na Região Nordeste do Brasil, em parceria com o UK Met Office.”, informa o pesquisador e meteorologista do Cemaden, Christopher Cunningham, ressaltando que a ideia é levantar o potencial reconhecimento de  causas antrópicas em eventos extremos, como por exemplo, ondas de calor e períodos de chuvas intensas. “O Cemaden terá oportunidade de avaliar – em parceria com diversas instituições europeias, integrantes do projeto Helix – os impactos potenciais através de simulações climáticas globais de alta resolução”, afirma o pesquisador.
Intercâmbio e workshop científico
A agenda da visita dos pesquisadores do Cemaden ao Reino Unido (UK),  entre os dias 8 a 26 de janeiro de 2018,  incluiu o Workshop de Atribuição de Eventos Operacionais no Oxford e-Research Center e a reunião com a  pesquisadora Nic Gegeney, do UK Met Office, em Wallingford. Juntamente a outros membros da equipe CSSP-Brasil, se reuniram, também, com o pesquisador Andy Whitshire, especializado nos estudos sobre carbono terrestre,  do UK Met Office, em Exeter.
Durante o workshop, um artigo intitulado “Contribuição das mudanças climáticas para a inundação do rio Uruguai em junho de 2017” foi escrito em colaboração com os cientistas ingleses e preparado para submissão à edição especial da revista BAMS sobre “Explaining Extremes of 2017“.
“A aplicação da metodologia exercitada durante o workshop permitiu chegar à conclusão de que as mudanças climáticas antropogênicas aumentaram o risco de precipitação extrema na bacia do rio Uruguai, em aproximadamente três vezes.”, afirma Conrado Rudorff, pesquisador do Cemaden.  “Os trabalhos de pesquisa no tema contribuirão para tomadas de decisão sobre a política de mitigação e adaptação às mudanças climáticas no Brasil.”, complementa o pesquisador.
O aumento na frequência de eventos climáticos extremos tem resultado em impactos socioeconômicos no Brasil nas últimas décadas. Os pesquisadores do Cemaden explicam que existe uma crescente preocupação com a necessidade de identificar as causas do aumento desses eventos para estabelecer esforços efetivos de mitigação.
“Desenvolver – em parceria com os cientistas internacionais – ferramentas eficientes para quantificação e a projeção de risco de desastres socioambientais, torna-se de suma importância, perante as mudanças climáticas globais.”, enfatiza o pesquisador do Cemaden, Christopher Cunningham.
(Fonte: Assessoria de Comunicação do Cemaden)



TEMER Cria Comitê Para Programa Espacial, a Ser Chefiado Pelo GSI

Por Fernando Exman
Valor Economico
07/02/2018 às 10h05
 
BRASÍLIA - O presidente Michel Temer publicou decreto na edição desta quarta-feira do "Diário Oficial da União" criando o Comitê de Desenvolvimento do Programa Espacial Brasileiro (CDPEB). O colegiado, que terá prazo de 360 dias para concluir os seus trabalhos, terá como objetivos fixar, por meio de resoluções, diretrizes e metas para a potencialização do Programa Espacial Brasileiro e supervisionar a execução das medidas propostas.
 
A primeira reunião ordinária do CDPEB ocorrerá no prazo de 30 dias, a contar da data de publicação do decreto. As datas dos próximos encontros ordinários serão fixadas em reunião anterior. Segundo o documento, o CDPEB poderá convidar representantes de outros órgãos e entidades públicas ou privadas para participar dos encontros.
 
O comitê será coordenado pelo chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República e também integrado pelos ministros da Casa Civil, da Defesa, das Relações Exteriores, do Planejamento e da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.
 
 
Fonte: Site “Valor Online” - 07/02/2018

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Contingenciamento reduz em 10% o orçamento para o MCTIC em 2018

Jornal da Ciência, 06/02/2018

Para o presidente da SBPC, Ildeu de Castro Moreira, o corte confirma a existência de uma política de desvalorização da ciência e tecnologia do País
Em um novo golpe contra a ciência brasileira, o contingenciamento no Orçamento da União de 2018, anunciado pelo governo na última sexta-feira (2), reduzirá em cerca de 10% o já parco e combalido orçamento para investimento e custeio do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). “Não há como buscar outras palavras ou adjetivos diferentes: a situação é trágica para CT&I”, afirma o presidente da SBPC, Ildeu de Castro Moreira.
O orçamento movimentável, destinado a custeio e investimento (ou seja, excluídas as despesas obrigatórias e a reserva de contingência), aprovado em dezembro para o MCTIC foi aproximadamente R$ 4,6 bilhões para 2018, 25% a menos do que o aprovado para o orçamento de 2017. Com o novo corte, a Pasta perde mais R$ 477 milhões.
“A SBPC e as entidades científicas e acadêmicas nacionais já haviam, no final do ano passado, se manifestado sobre a situação trágica para a CT&I neste ano, em função do orçamento aprovado para 2018. Havíamos alertado para a possibilidade – inaceitável, dizíamos – de contingenciamentos adicionais sobre este orçamento já muito reduzido. Este temor infelizmente se confirmou agora: foi feito um contingenciamento de cerca de 10% sobre os recursos para investimento e custeio, fazendo com que estes recursos fossem reduzidos de R$ 4,6 bilhões para R$ 4,1 bilhões aproximadamente”, lamenta Moreira.
Alerta ao presidente
Em carta conjunta enviada ao presidente Michel Temer na sexta-feira, 02, pouco antes do anúncio do bloqueio de R$ 16,2 bilhões no Orçamento da União de 2018, a SBPC e mais cinco entidades nacionais representativas das comunidades científica, tecnológica e acadêmica e dos sistemas estaduais de CT&I alertaram que as consequências de um novo contingenciamento “serão catastróficas para toda a estrutura de pesquisa no País e também para os setores empresariais que apostam em inovação” e que a “possibilidade de recuperação econômica do País fica ainda mais comprometida e a qualidade de vida da população brasileira, em particular na saúde pública, será certamente prejudicada”.
Conforme aponta o presidente da SBPC, o novo corte orçamentário afeta profundamente programas, editais, financiamento de bolsas, projetos específicos e outras iniciativas das agências de fomento do MCTIC, CNPq e Finep, além dos institutos de pesquisa, universidades e empresas tecnológicas. “Este contingenciamento confirma a existência de uma política de desvalorização da ciência e tecnologia do País. Vale repetir o nosso mantra essencial: Ciência não é gasto, é investimento!”.
Moreira afirma que a SBPC continuará a pressionar o governo e os parlamentares no sentido de reverter, na medida do possível, estes cortes, a fazer denúncias públicas sobre o desmonte do sistema nacional de CT&I em curso, bem como buscar mobilizar a comunidade científica e acadêmica, as sociedades científicas e as instituições de ensino e pesquisa, além de outros setores da sociedade brasileira, para resistir e se contrapor a esta política de retrocesso.
“Como fizemos no ano passado, com êxito parcial, vamos pressionar o governo federal e o Congresso Nacional para que os recursos agora contingenciados sejam repostos ao longo do ano e para que o montante alocado na Reserva de Contingência no Orçamento de 2018, referentes a recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), sejam progressivamente liberados. Atingir estes objetivos vai depender de nossa capacidade de mobilização e de pressão política”, ressalta.
A Sociedade também organizará debates e atividades no País inteiro para discutir as políticas públicas mais adequadas para o Brasil na área de CT&I, educação, direitos humanos, desenvolvimento sustentável, entre outras, a serem propostas aos candidatos das eleições deste ano. “Será importante termos propostas consistentes a serem apresentadas aos candidatos para o Executivo e Legislativo e cobrar deles posicionamentos claros e públicos sobre os pontos essenciais destas políticas públicas”, conclui Moreira.
Daniela Klebis – Jornal da Ciência