quarta-feira, 28 de junho de 2017

Estudo elaborado pelo Inpe traça o mapa da produção de energia solar no território nacional

MCTIC
27 de junho de 2017

Crédito: Reprodução da Internet

Segundo o Atlas Brasileiro de Energia Solar, país tem enorme potencial para produção de energia solar. Área que vai do Nordeste ao Pantanal reúne as principais condições para ampliar a capacidade produtiva. "O potencial para gerar energia solar no Brasil é gigantesco, especialmente no Cinturão Solar", diz o físico Enio Pereira.

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) – unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) – lança em julho a segunda edição do Atlas Brasileiro de Energia Solar com informações sobre o potencial de geração de energia elétrica a partir da matriz fotovoltaica do país. Os dados apontam para uma "enorme" capacidade de explorar esse recurso, principalmente no chamado Cinturão Solar, área que se estende do Nordeste até o Pantanal, pegando o norte de Minas Gerais, o sul da Bahia e o norte e nordeste de São Paulo.

A primeira versão do Atlas, produzido em 2006 com dados compilados ao longo de dez anos, já apontava esse potencial de expansão. Agora, a quantidade de material obtido por meio de satélites permitiu uma análise mais profunda sobre a real capacidade do país no setor e indica a possibilidade de expansão da produção total e dos meios de geração de energia elétrica solar. A nova edição utilizou informações levantadas durante 17 anos. Nela, já dados sobre a quantidade e disponibilidade da radiação solar, a variação de potência dos raios, como os fatores climáticos – notadamente a presença de nuvens – influenciam a disponibilidade e a influência da topografia para a incidência dos feixes de luz solar.

Segundo o coordenador dos estudos, Enio Pereira, o Atlas contribuirá para a tomada de decisões estratégicas nas políticas públicas do setor de energia elétrica. "Para você usar qualquer forma de energia, tem que conhecer a disponibilidade dela. O Atlas fornece a informação sobre a quantidade, a disponibilidade da radiação solar e como ela varia, as questões climáticas que influenciam, a topografia, a variação de disponibilidade. 

Ele serve para tomada de decisões do governo, para a iniciativa privada definir investimentos e para estudiosos entenderem a disponibilidade de energia solar no Brasil", explica o físico, que atua no Laboratório de Modelagem e Estudos de Recursos Renováveis de Energia (Labrem) do Inpe.

O Atlas também traz informações técnicas para a instalação de equipamentos solares para uso doméstico, como geradores locais de energia elétrica ou aquecedores de água.
Atualmente, a participação da fonte solar na matriz energética brasileira representa apenas 0,02% do total produzido no país. Na avaliação de Enio Pereira, a capacidade produtiva do Brasil pode crescer com a instalação de novos empreendimentos. "O potencial para gerar energia solar no Brasil é gigantesco, especialmente no Cinturão Solar. Toda essa área tem um potencial enorme de geração, porque tem incidência de muita luz solar e durante um longo período, especialmente entre maio e setembro, que é uma época de seca na maior parte desse território", afirma o físico.

Entraves

Um dos desafios encontrados pelo setor é conseguir manter a produção diante das variabilidades das condições atmosféricas, como em dias chuvosos ou com alta nebulosidade. Esse é considerado um entrave-chave para a expansão da produção solar, especialmente na comparação com a fonte hidrelétrica.

"A hidrelétrica, tendo água, você consegue programar de forma constante a sua produção. Na solar, você não tem controle de quanto vai gerar porque tem uma nuvem passando. É uma energia que varia muito com o tempo. Essa é uma questão que deve ser resolvida", diz.

O pesquisador do Inpe ressalta que a alternativa apontada pelo Atlas Brasileiro de Energia Solar para resolver este problema  é distribuir a produção. Assim, é possível manter o volume de geração, mesmo que determinada área não tenha condições de gerar energia. Ele alerta, porém, que ainda há um longo caminho a ser trilhado para garantir uma técnica eficiente de produção.

"Uma saída é fazer geração descentralizada. Isso pode render em uma produção mais ou menos constante. Técnicas estão sendo desenvolvidas para minimizar a variabilidade, e isso depende de desenvolvimento tecnológico. Estamos trabalhando para buscar soluções para isso. O Inpe tem tido um papel pioneiro no levantamento do levantamento de dados de energia solar no Brasil, e esperamos contribuir para a expansão da energia solar no Brasil", ressalta.

Para produzir o Atlas Brasileiro de Energia Solar, o Inpe contou com a participação de pesquisadores de várias instituições brasileiras, como a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade Tecnológica Federal do Paraná e Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC). Serão produzidas 1.500 cópias do estudo, que serão distribuídas para instituições do setor. 

Em 30 anos, Brasil alcança o estado da arte na tecnologia de luz síncrotron

MCTIC
28 de junho de 2017

Com mais de 500 metros de circunferência, o Sirius será a maior e mais complexa infraestrutura científica já construída no Brasil. Crédito: CNPEM

LNLS abriu as portas em 1987, inaugurando uma nova fase para as pesquisas científicas. Hoje, laboratório se prepara para a quarta geração de luz síncrotron, que colocará a ciência brasileira em novo patamar.

Em 1897, usando um tubo de vidro sem ar, o físico britânico J. J. Thomson aplicou uma carga elétrica negativa em um dos lados desse vidro e conseguiu retirar das moléculas de gás restantes no interior do equipamento alguns de seus elétrons. Estava comprovada a existências dos elétrons, e o mais importante: descobriu-se que, quando estimulados, os elétrons emitem radiações que - a depender do elemento - geram feixes de luzes de cores variadas. Esse estado, entretanto, é instável e, depois de excitados, os elétrons rapidamente perdem a energia adquirida em forma de radiação e retornam para o seu estado original. 

Quase 100 anos depois da descoberta de Thomson, pesquisadores brasileiros realizaram a primeira volta de elétrons de um acelerador de partículas localizado no hemisfério sul com o anel UVX, máquina de segunda geração. Foi no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), em Campinas (SP), em 1996, e só foi possível após um esforço que durou dez anos.

"Podemos dizer que o marco do início do LNLS foi em 1987, quando tudo começou a ser projetado. Uma iniciativa totalmente brasileira que partiu do zero há 30 anos atrás, contratando jovens sem conhecimento técnico aprofundado. Foi um enorme desafio para pesquisadores e profissionais brasileiros construir a primeira fonte de luz síncrotron nacional", afirma o diretor do LNLS, Antonio José Roque.

Foi em 1996 a primeira volta de elétrons do LNLS, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). No ano seguinte, as portas foram abertas para funcionar como laboratório aberto. Até hoje, o Brasil é o único país da América Latina a possuir um equipamento gerador de radiação síncrotron por meio dos elétrons. "É a única estrutura das Américas e foi a primeira do hemisfério Sul. Hoje, a Austrália também possui uma fonte de luz síncrotron", diz o pesquisador.

Desde que as portas do LNLS foram abertas para os usuários, são realizadas pesquisas utilizando a fonte de luz síncrotron em diversas áreas do conhecimento, passando pela agricultura, medicina, paleontologia, ciências materiais e engenharia. "Quando abriu as portas, o número de usuários no LNLS era de 200 pesquisadores. 

Hoje, recebemos em torno de 1,2 mil por ano. No cadastro de usuários temos algo em torno de 6 mil pesquisadores. Um crescimento gigantesco. Passamos de sete linhas de luz para um total instalado de 18. A quantidade de áreas que hoje se beneficiam dessa estrutura cresceu enormemente ao longo desses anos e continua sendo um esforço regular do laboratório", explica Antonio Roque.

Cerca de 400 pesquisas são desenvolvidas por ano no LNLS - 80% são do Brasil e 20% do exterior. O síncrotron é uma ferramenta que pode atuar em qualquer área do conhecimento. Mas há limitações. O equipamento não permite a visualização tridimensional das estruturas celulares e atua na escala micrométrica, enquanto, hoje, as pesquisas já alcançam a resolução nanométrica. Mas isso deve mudar com o Projeto Sirius, em construção no LNLS desde dezembro de 2014.

Quarta geração de luz

O Sirius é um dos primeiros anéis de armazenamento síncrotron de quarta geração do planeta, projetado para ter o maior brilho dentre os equipamentos na sua classe de energia. A estrutura deve contribuir para a internacionalização da ciência brasileira por meio do aumento da presença de estrangeiros entre os usuários do LNLS. O Sirius deve abrir novas perspectivas de pesquisa em áreas como ciência dos materiais, nanotecnologia, biotecnologia, física e ciências ambientais.

"Em 30 anos, o Brasil se coloca como uma liderança mundial nesse tipo de infraestrutura e no apoio à ciência, pesquisa e a inovação. Certamente, o Sirius é um dos investimentos mais bem sucedidos do país, como a Petrobras, a Embraer e a Embrapa, no sentido de prover uma ferramenta de importância ampla. Um laboratório nacional aberto com investimento público e que com tecnologia nacional consegue construir e operar esse complexo equipamento em padrões internacionais", ressalta o diretor do LNSL.

O Sirius poderá ter até 40 linhas de luz. A primeira fase prevê a construção de 13 linhas, que serão capazes de cobrir todas as técnicas que existem hoje. A expectativa é que as atividades tenham início em 2018, ampliando o conhecimento científico em diversas áreas.
"Hoje, a limitação do nosso síncrotron de segunda geração impede que estudos mais avançados sejam feitos. 

A gente consegue fazer uma tomografia na escala de micrômetro, enquanto as perguntas e o mundo estão conseguindo ter resolução nanométrica. Temos grandes limitações do ponto de vista de experimentos dinâmicos: enxergar como as estruturas dos sistemas muda ao longo do tempo, por exemplo. É preciso de um equipamento que tenha um brilho muito alto, e é isso o que alcançamos com o Sirius. Ou seja, vai elevar o patamar das pesquisas que poderão ser realizadas no país para níveis de maior competição mundial que se possa imaginar", explica.

Infraestrutura

Com mais de 500 metros de circunferência, o Sirius será a maior e mais complexa infraestrutura científica já construída no Brasil. A construção do projeto, no campus do CNPEM, segue de acordo com do cronograma inicial, com cerca de 50% das obras já concluídas. Em dois anos, deve ocorrer a primeira volta de elétrons no Sirius. A abertura da fonte de luz acontecerá um ano depois, em 2019.

Além de elevar o nível das pesquisas no país e atrair interesse de pesquisadores de outros países, a construção do Sirius vem contribuindo enormemente para a formação de recursos humanos especializados, aquisição de produtos e componentes nacionais e internacionalização das empresas.

"Até 85% dos componentes adquiridos para construção do Sirius são provenientes do Brasil. O investimento feito retorna diretamente ao país com empregos, impostos, e tem toda uma cadeia de desenvolvimento movimentada pelo projeto. Além disso, o Sirius eleva o patamar de várias destas empresas. Muitas delas, hoje, se preparam para exportação. Ou seja, houve um esforço de transferência de tecnologia nacional, e o projeto contribui nessa perspectiva. Com o Sirius, o Brasil conseguirá atrair e colocar os nossos pesquisadores em pé de igualdade para discutir e estruturar projetos que possam trazer benefícios, colocando o país num cenário mundial mais competitivo", avalia Roque.

Comemorações


Para comemorar os 30 anos do LNLS, uma extensa programação será oferecida ao público neste sábado (1º), no evento gratuito "Ciência Aberta". No campus do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas, onde está localizado o LNLS, os visitantes poderão assistir palestras do "Chopp com Ciência", aprender sobre ciência e tecnologia de forma lúdica com o Laboratório Avançado de Bricks, visitar o espaço educativo com o caminhão "Oficina Desafio" e participar de experiências no "Show da Física". 

A programação inclui visitas guiadas às instalações do LNLS, incluindo o Projeto Sirius. Ano passado, durante as comemorações pelos 20 anos da primeira volta de elétrons, o evento recebeu cerca de 3 mil pessoas.

Brasil e Israel vão expandir formas de financiamento para projetos inovadores

Agência ABIPTI
27 de junho de 2017



Autoridades do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) e do Ministério da Economia e Indústria israelense pretendem expandir o mecanismo de financiamento de projetos conjuntos entre empresas dos dois países. A iniciativa foi anunciada nesta segunda-feira (26), em Jerusalém, no segundo dia da missão brasileira a Israel.

Para participar é preciso que o projeto seja inovador, e que envolva o desenvolvimento de tecnologia dos dois países de forma equilibrada. “Estamos expandindo as formas de financiamento e aumentando o leque de opções para que as empresas brasileiras e israelenses possam desenvolver em conjunto projetos inovadores”, afirmou o ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira.

Segundo o secretário de Inovação e Novos Negócios do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), Marcos Vinícius Souza, que participa da missão, a ideia é incentivar a complementação de tecnologias. “Assim, uma empresa brasileira pode desenvolver um projeto de inovação com uma empresa israelense por meio do nosso edital lançado hoje".

Do lado brasileiro, além do financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), as empresas passam a contar com apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) e do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap). Do lado israelense, o governo financia as empresas do país.

A cooperação está em sua 4ª edição, porém, segundo Marcos Vinícius, foi revista e expandida. “A partir de agora, além de financiamento, pela primeira vez, será oferecido mecanismo de subvenção aos participantes”, disse.

O ministro da Economia e Indústria israelense, Eli Cohen, ressaltou a importância da iniciativa. “Brasil e Israel são complementares, não competidores. Nós vemos o mercado brasileiro como muito importante”, comentou.

Tecnologia para o mercado

Outro compromisso da delegação brasileira em Jerusalém foi uma visita à Yissum, empresa de transferência de tecnologia da Universidade de Jerusalém, com longa tradição de excelência. Fundada em 1925, a empresa já teve nomes como Albert Einstein e Sigmund Freud em seu conselho superior. A Yissum tem, atualmente, mais de 6 mil patentes registradas, muitas delas na área médica.

Antes de chegar a Jerusalém, a delegação do MDIC conheceu a maior planta de dessalinização do mundo. A Usina de Sorek faz parte de um sistema composto por cinco unidades em todo o país, que fornece 42% de toda a água utilizada pelos israelenses. O CEO de Sorek, Ronen Hadash, enfatizou que o Brasil pode se beneficiar da tecnologia israelense, que tem permitido que a população, a indústria e a agricultura local tenham acesso à água.

(Agência ABIPTI, com informações do MDIC)

Treinamento do INCOBRA capacita agências que financiam CT&I no Brasil

Agência ABIPTI
28 de junho de 2017

Workshop com discussões sobre melhores práticas para a elaboração de programas de CT&I - Foto: João Luiz Ribeiro/Finep
O consórcio internacional INCOBRA organizou, entre os dias 19 e 21 de junho, o workshop “Elaboração de Programas para Ciência, Tecnologia & Inovação”. O objetivo do treinamento, realizado na sede da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), no Rio de Janeiro (RJ), foi conhecer os principais desafios das agências e organizações públicas que financiam CT&I no Brasil para tornar mais efetivos os programas de apoio voltados a cooperação entre empresas e Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs).
Combinando seminários curtos e sessões de treinamento prático, o encontro procurou detectar as necessidades e expectativas dos beneficiários desses programas. Divididos em grupos, os participantes identificaram os principais problemas apontados pelos atores e propuseram maneiras para superá-los, considerando a realidade brasileira.

As empresas Natura e Baterias Moura e os ICTs Fundação CERTI e Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) apresentaram suas experiências de cooperação. Elas apontaram o que tem funcionado, o que precisa melhorar e como as agências de financiamento podem colaborar para isso.

“Fizemos 387 parcerias para projetos de inovação em 2016, mas ainda é preciso adequar expectativas das empresas e dos ICTs”, ponderou Daniela Diogenes, gerente de Inovação Aberta e P&D da Natura, que investe 3% de sua receita em inovação – no ano passado o valor chegou a US$ 60 milhões. “Professores e pesquisadores de universidades não são incentivados a cooperarem conosco. Por outro lado, podemos citar dois pontos facilitadores do processo de integração: as agências de inovação nas universidades e a linhas de crédito dos órgãos públicos que financiam CT&I no Brasil”, completou.

O treinamento também buscou preparar os agentes para futuras parcerias internacionais por meio da exposição de exemplos bem-sucedidos de programas bilaterais e multilaterais da TAFTIE Network, Finep, BpiFrance, ANI e Swissnex. “O valor da cooperação internacional ainda é mal compreendido. CT&I é uma área que ultrapassa fronteiras. É preciso identificar interesses mútuos e alinhar agendas e programas entre empresas e ICTs brasileiros e estrangeiros”, pontuou o gerente do Departamento de Cooperação Internacional e Articulação com os Estados (DCIN) da Finep, Julio Imenes.

A programação foi preenchida com discussões sobre melhores práticas para a elaboração de programas de CT&I, seleção adequada de projetos, gerenciamento e uma apresentação sobre o papel dos escritórios de transferência de tecnologia, em que foram apresentados um caso brasileiro (Inova Unicamp) e um caso austríaco (Universidade de Recursos Naturais e Ciências da Vida - Boku). “Não existe inovação sem a interação entre esses atores, sejam eles brasileiros sejam estrangeiros. Precisamos exercitar a confiança e construir uma rede de cooperação mútua entre as instituições que participam desse processo”, ressaltou Imenes.

O workshop contou com a participação de gerentes de programas e especialistas do Ministério da Ciência, Tecnologias, Inovações e Comunicações (MCTIC), Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (FAPs), bancos e agências estaduais de fomento, como o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), Banco do Nordeste, Desenvolve MT, Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) e AgeRio.

A iniciativa ocorreu por meio da Finep e da Austrian Research Promotion Agency (FFG), com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap). A Finep e a FFG continuarão a coordenar o trabalho neste campo dentro do projeto INCOBRA através de treinamentos, workshops e roadshows no Brasil e na Europa.

Sobre o INCOBRA

O consórcio internacional busca focar, aumentar e aperfeiçoar as atividades de cooperação em pesquisa e inovação (P&I) entre Brasil e União Europeia (UE). É formado por 14 instituições – sete europeias e outras sete brasileiras. O projeto integra um dos subprogramas do Horizonte 2020, iniciativa da UE cujo objetivo é financiar projetos de pesquisa e inovação até 2020.

(Agência ABIPTI, com informações da Finep)

terça-feira, 27 de junho de 2017

Edital da Finep para startups oferece até R$ 400 milhões em quatro anos

Agência ABIPTI
27 de junho de 2017



As startups do Brasil contarão agora com um suporte do governo para superar as dificuldades e alavancar seus projetos. A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) lançou nesta segunda-feira (26), em São Paulo (SP), o primeiro edital do Finep Startup, que vai estar disponível no site da instituição nesta terça-feira (27). O objetivo é auxiliar empresas que estejam em fase final de desenvolvimento do produto, para colocar no mercado, ou que precisem ganhar escala de produção.
A chamada pública deve apoiar 50 empresas por ano em duas rodadas de investimentos – em cada uma, 25 empresas serão selecionadas. De acordo com o presidente da Finep, Marcos Cintra, a expectativa é que o programa ofereça até R$ 400 milhões em quatro anos. "A Finep está na gênese do pensamento sobre capital de risco no Brasil. Este programa cumpre uma missão de mais de quinze anos de história", contou Cintra.

O apoio deve se concentrar nas seguintes áreas temáticas: educação, cidades sustentáveis, fintech – junção de finanças com tecnologia –, Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês), economia criativa, energia, defesa, mineração, petróleo, manufatura avançada, biotecnologia, tecnologia agrícola, química e modelagem da informação da construção (BIM, na sigla em inglês).

Cintra lembrou que a Financiadora já apoia startups via fundos de investimento em participações (FIPs), dos quais associa-se como cotista. Mas, com o Finep Startup, passa a investir diretamente nas companhias, aportando conhecimento e recursos financeiros por meio de participação no capital de empresas em estágio inicial, com faturamento anual de até R$ 3,6 milhões.

Na avaliação do presidente da Finep, o programa proporciona um instrumento ágil para a contratação das propostas, já que o investimento se daria por meio de contrato de opção de compra de ações e poderia chegar a R$ 1 milhão, baseado no plano de negócios da startup. "Temos feito esforços que buscam reduzir o custo para grandes e pequenas empresas. Em tempos de contenção fiscal, iniciativas assim são importantes para superar de forma criativa e propositiva as dificuldades econômicas pelas quais o Brasil vem passando", ressaltou.

Presente no lançamento, o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, destacou a importância do apoio da Financiadora ao desenvolvimento de empresas nascentes de base tecnológica. "Considero essa uma das principais finalidades da Finep: apoiar startups a superar o chamado ‘vale da morte'”, disse, em referência as dificuldades encontradas pelo empreendedor até se consolidar no mercado.

Exigências

Para contribuir para que as empresas cheguem ao mercado, o Finep Startup selecionará companhias com protótipo, Produto Viável Mínimo (MVP, na sigla em inglês), prova de conceito ou, preferencialmente, já realizando suas primeiras vendas. Esse tipo de contrato transforma a investidora – no caso, a Finep – em uma potencial acionista da empresa. A opção de se tornar sócia da startup terá prazo de até três anos, prorrogável por mais dois anos.

Se a empresa for bem-sucedida, a agência pode exercer essa opção. Caso a empresa não seja bem-sucedida na execução de seu plano de crescimento e não alcance o estágio de maturidade esperado, a Finep não exerceria a prerrogativa, minimizando potenciais passivos por um lado, e compartilhando o risco inerente ao processo de inovação por outro. O modelo, inédito na esfera pública no Brasil, é inspirado em programas de outros países, particularmente dos Estados Unidos, mas incorporou inovações.

Recursos privados

De acordo com Marcos Cintra, um dos objetivos é atrair mais recursos privados para investimento em inovação. Por isso, o programa priorizará empresas aportadas por investidores-anjo – critério que valerá pontos na seleção.

O investidor-anjo que se comprometer a investir na empresa selecionada pelo edital receberá parte do retorno em excesso da Finep (que exceder IPCA + 10), para ampliar o engajamento do investidor privado com o sucesso da empresa. Esse percentual será proporcional à participação do anjo na rodada de investimento.

Além da alavancagem de recursos, a atração de investidores privados é fundamental para o sucesso do empreendimento, uma vez que eles também agregam conhecimento ao negócio. "As startups não necessitam somente de recursos financeiros, mas também de auxílio em questões relevantes para o futuro do negócio, como governança e gestão", explicou o presidente da Finep.

(Agência ABIPTI, com informações do MCTIC e Finep)

Pesquisadores criticam dados do governo para justificar reforma da Previdência

Agência Senado
27 de junho de 2017

No Auditório do Senado, à mesa, a brilhante participação do pesquisador do INPE, Solon Carvalho, que é também diretor do SindCT. 

Em audiência na CPI da Previdência, pesquisadores afirmam que critérios usados pelo governo para as projeções que embasam a reforma previdenciária registram vícios e podem comprometer os cálculos finais. Foto:  Marcos Oliveira/Agência Senado

Pesquisadores criticaram, em audiência pública da CPI da Previdência, nesta segunda-feira (26), as estimativas populacionais e financeiras adotadas pelo governo para definir o déficit da Previdência Social. Segundo os pesquisadores, os critérios usados pelo governo para as projeções registram vícios e podem comprometer os cálculos finais.

O pesquisador Carlos Renato Lisboa Frances, da Universidade Federal do Pará (UFPA), integrou uma equipe que estudou as projeções governamentais, com base nos documentos da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) entre 2002 e 2017. Ele criticou os critérios usados pelo governo para as projeções previdenciárias. Conforme divulgado pela imprensa, o governo aponta que o peso do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) no produto interno bruto (PIB), em 2060, poderá ser de 17,5% ou até de 23%. Daí, segundo o governo, a necessidade da reforma.

- As inconsistências nos modelos de projeção do governo descredenciam qualquer avaliação séria sobre esses números – criticou Frances.

O professor Carlos Patrick da Silva também participou da pesquisa e criticou os dados inconsistentes nos registros dos benefícios do INSS, a falta de memória dos cálculos nos documentos da LDO e a ausência de descrição dos cálculos da reforma previdenciária. Como exemplo, Carlos da Silva disse que a equipe identificou uma diferença de 6.638 registros no espaço de um ano apenas para homens de 65 anos aposentados por idade que recebem acima do piso. Segundo o pesquisador, essa diferença compromete a credibilidade dos cálculos do governo.

- A reforma da Previdência não pode ser baseada nas projeções do governo, pois há muitos erros nos cálculos – alertou.

Projeções enviesadas

O professor Marcelino Silva da Silva, também da UFPA, afirmou que as projeções costumam ser “enviesadas” no curto prazo. Segundo o pesquisador, a equipe de pesquisa percebeu que variáveis de mercado são consideradas constantes ao longo do tempo projetado pelo governo – o que comprometeria até o princípio matemático dos cálculos.

Como exemplo de um possível vício, Marcelino da Silva citou a taxa de crescimento da população idosa, que não poderia ser considerada constante pelo governo. Isso, porque o Brasil vive hoje o pico desse crescimento – que não se manterá constante até 2060. Assim, com base nas projeções de crescimento do PIB do próprio governo, o crescimento da população idosa será sempre menor que o crescimento do PIB até 2060. Para o pesquisador, é difícil confiar nas projeções governamentais.

- Esses números são usados para assustar mesmo. Mas não faz sentido pensar que só o envelhecimento da população pode comprometer o PIB. É possível que o crescimento econômico possa reduzir o impacto do crescimento da população idosa –declarou.

Para o professor Solon Venâncio de Carvalho, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), não é possível projetar, com base nas informações do governo, o que vai ocorrer em 2060. Ele confirmou que também identificou vários erros de projeção nos documentos da LDO e disse que é possível identificar erros de cálculo até mesmo no projeto da LDO para 2018 (PLN 1/2018).

- Como cidadão, isso me preocupa. Não estamos sugerindo, mas podemos criticar como está sendo feito – lamentou.


Embrapii ajuda a identificar oportunidades e consolidar projetos de inovação, diz ministro

MCTIC
26 de junho de 2017

Ministro Gilberto Kassab participou de cerimônia de assinatura de contratos da Embrapii na Universidade de São Paulo. Crédito: Ascom/MCTIC
Em São Paulo, Gilberto Kassab participou da solenidade de assinatura dos contratos com novas sete Unidades Embrapii. Do total, três pertencem à USP. Juntas, unidades têm planos de ação no valor de R$ 177 milhões.

A Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) assinou nesta segunda-feira (26), em São Paulo, os novos contratos com as sete unidades, selecionadas em chamada pública lançada em setembro do ano passado. Presente na solenidade realizada na Universidade de São Paulo (USP), o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Gilberto Kassab, ressaltou a importância da Embrapii como vetor nacional de inovação e desenvolvimento tecnológico das empresas.
"Esse projeto é emblemático. Mostra o quanto é importante acreditar na parceria da inovação com a academia, e o quanto é importante essa parceria ser apoiada pelo poder público. É isso o que o MCTIC e o governo federal fazem para que a gente possa ajudar a construir o desenvolvimento do país. É em projetos como a Embrapii que identificamos as oportunidades e consolidamos os projetos, apresentando as perspectivas de um novo Brasil", afirmou Kassab.

Das sete Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs) selecionadas no edital, três pertencem à USP. Elas foram escolhidas por contemplarem áreas consideradas estratégicas dentro da política de inovação brasileira. Juntas, essas instituições têm planos de ação no valor de R$ 177 milhões, sendo R$ 58,8 milhões da Embrapii.

"Estamos com mais de 240 projetos em andamento, e alguns deles já encerrados envolvendo cerca de 40 empresas. Agora, a USP passa a ter três unidades, o que é muito importante, porque é um modelo pedagógico para as outras instituições. Muitas universidades vão seguir também o mesmo passo para estimular a inovação no país", disse o diretor-presidente da Embrapii, Jorge Guimarães.

Com a validação dos novos contratos, a Embrapii alcança 35 unidades credenciadas e, ate o final deste ano, serão mais de 40. "Chegaremos ao terceiro ano de operação da Embrapii, em dezembro, com 42 unidades. Eu acho que é um bom começo dado o fato de que é um modelo recente. Esperamos ampliar muito a percepção das empresas da oportunidade única de trabalhar com grupos qualificados, muito bem selecionados e aptos a desenvolver projetos oferecendo menos riscos e baixo custo para as empresas", acrescentou.  

Para o reitor da USP, Marco Antonio Zago, a Embrapii contribui para fomentar a articulação entre as universidades, os institutos de pesquisa e as empresas. "O projeto faz uma parte do papel de colocar a universidade, os institutos de pesquisa em relação com a sociedade, para promover o desenvolvimento científico, tecnológico e a inovação com aplicações específicas. Nesse sentido, estamos agora também constituindo um centro de inovação aqui na universidade, chamado InovaUSP", explicou.

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Detecção de ondas gravitacionais vence o Prêmio Princesa das Astúrias. INPE participou da descoberta

INPE
23 de junho de 2017



A pesquisa internacional em torno do Observatório Interferométrico de Ondas Gravitacionais LIGO (do inglês Laser Interferometer Gravitational-wave Observatory) foi a vencedora do Prêmio Princesa de Astúrias de Investigação Científica e Técnica 2017.

A detecção de ondas gravitacionais, que confirmou parte fundamental da Teoria Geral da Relatividade formulada por Albert Einstein, foi realizada por um time de vários países, entre eles cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em São José dos Campos (SP).

Promovido pela Fundação Princesa de Astúrias, da Espanha, o prêmio foi concedido neste mês aos físicos Rainer Weiss, Kip Thorne e Barry Barish, e todo o grupo LIGO, por “responder a um dos desafios mais importantes da física em toda sua história”.

A Colaboração Científica LIGO possui seis membros na Divisão de Astrofísica do INPE: Odylio Denys Aguiar, César Augusto Costa, Márcio Constâncio Jr, Elvis Camilo Ferreira, Allan Douglas dos Santos Silva e Marcos André Okada.

O grupo do INPE trabalha no aperfeiçoamento da instrumentação de isolamento vibracional e térmica do LIGO, na sua futura operação com espelhos resfriados. O principal objetivo é aumentar a sensibilidade dos detectores para observar mais fontes de ondas gravitacionais.

Além disso, o grupo atua na caracterização dos detectores, buscando determinar as suas fontes de ruído e a minimização dos seus efeitos nos dados coletados, permitindo que sinais de ondas gravitacionais fortes sejam mais facilmente localizados.

A primeira detecção de ondas gravitacionais foi realizada em 2015 e inaugurou um novo campo da astronomia. Depois disso, o LIGO fez outras duas observações diretas, a última anunciada no início deste mês.

Ondas gravitacionais carregam informações sobre suas origens e sobre a natureza da gravidade que não podem ser obtidas de outra forma. As ondulações no tecido do espaço-tempo provocadas pela colisão de buracos negros haviam sido previstas, mas nunca observadas antes do LIGO.

De acordo com a relatividade geral, um par de buracos negros orbitando entre si perde energia através da emissão de ondas gravitacionais, fazendo-os se aproximarem gradativamente ao longo de bilhões de anos e bem mais rápido nos minutos finais. Durante a fração final de segundo, os buracos negros colidem um contra o outro com velocidade aproximadamente igual à metade da velocidade da luz e formam um buraco negro mais massivo, convertendo em energia uma porção da massa total do par, de acordo com a fórmula de Einstein E=mc2.

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Bolsas de pesquisadores não devem ter reajuste até 2019, avalia Capes

Agência ABIPTI
21 de junho de 2017

Na audiência pública foi confirmado que pelo menos até 2018 não há chance de modificar os valores atuais das bolsas - Foto: Billy Boss/ Câmara dos Deputados

Pesquisadores alertaram nesta terça-feira (20), em audiência pública na Comissão de Educação (CE) da Câmara dos Deputados, que sem reajuste em bolsas de mestrado e doutorado, o futuro da ciência brasileira estará comprometido. No debate, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) admitiu que, pelo menos até o próximo ano, não há perspectiva de aumento dos valores.

Uma proposta (PL 4559/16) em debate na comissão estabelece um reajuste para bolsas de pesquisa e pós-graduação sempre em janeiro de cada ano, pela variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), calculada com base nos doze meses anteriores. As bolsas estão sem aumento desde abril de 2013: são R$ 400 para alunos de iniciação científica; R$ 1.500 para mestrado; e R$ 2.200 para doutorado.

O presidente substituto da Capes, Geraldo Nunes, já fez duas propostas ao governo federal para reajustar as bolsas, sem sucesso. Na sua avaliação, pelo menos até o ano que vem, não há chance de modificar os valores atuais. "A gente vem negociando a aprovação do PL 4559 ao longo de 2018, talvez [o reajuste saia] em 2019."

O secretário-geral da Associação Nacional de Pós-Graduandos, Gabriel Nascimento, deu um exemplo de como os gastos aumentaram desde o último reajuste das bolsas. "Se eu pagasse um aluguel de R$ 500 reais em 2012, e tomasse o IGPM [Índice Geral de Preços do Mercado] como medida, agora eu estaria pagando um aluguel de R$ 672 pra cima”, afirmou.

Representante dos pesquisadores em educação, Andrea Gouveia disse que, devido aos baixos valores das bolsas de estudo, futuros cientistas estão trocando a carreira acadêmica pelo mercado de trabalho. "Eu estou perdendo o jovem que se sujeita a um estágio mal remunerado, mas que garante um salário mínimo. Esse sujeito poderia integrar um grupo de pesquisa, fazendo sua graduação com excelência", avaliou.

Os órgãos de incentivo à pesquisa – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Capes – reconhecem que a situação dos pós-graduandos é difícil. Segundo seus representantes, houve uma expansão no número de bolsas nos últimos anos, sem aumento equivalente nos orçamentos. A Capes tem hoje 121 mil bolsistas de mestrado e 102 mil de doutorado. No CNPq, são 26 mil bolsas de iniciação científica, nove mil de mestrado e oito mil de doutorado. No total, são bolsistas pelo menos 266 mil estudantes no país.

O deputado Lobbe Netto (PSDB-SP), autor da proposta que prevê o reajuste anual das bolsas, ainda aposta em uma negociação com o Poder Executivo para mostrar que aumentar o dinheiro para a pesquisa não é despesa, mas investimento. "Um investimento na ciência, na tecnologia, na iniciação científica; pois, apesar da crise, nós temos que preparar o país para a pós-crise, para que nós possamos competir globalmente."

(Agência ABIPTI, com informações da Agência Câmara)

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Novo satélite de comunicações

Revista Fapesp
20 de junho de 2017

Guiana Francesa: fase final de preparação para ser acoplado ao foguete Ariane - Foto: ESA-Cnes-Arianespace

Um novo satélite de comunicações para o Brasil foi lançado ao espaço em 4 de maio do Centro Espacial de Kourou, na Guiana Francesa. Além de conferir maior autonomia à comunicação civil e à militar no país, o Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC) também deverá trazer ganhos relevantes para a indústria aeroespacial brasileira porque o contrato de aquisição com a fabricante franco-italiana Thales Alenia Space previu a transferência de tecnologias para empresas brasileiras do setor. 

O SGDC deve levar o sinal de internet a todos os municípios brasileiros e será a espinha dorsal do sistema de comunicações das Forças Armadas. Atualmente, os satélites utilizados pelo Brasil, tanto na comunicação civil quanto militar, são gerenciados por estações terrestres localizadas fora do país ou controladas por empresas com capital estrangeiro. 

“Nos dois casos, o país fica vulnerável, porque há risco de o sigilo das informações ser violado e de o serviço ser interrompido em uma situação de conflito de interesse, levando parte das telecomunicações ao colapso”, comenta Eduardo Bonini, presidente da Visiona Tecnologia Espacial, de São José dos Campos (SP), empresa coordenadora do projeto.

Fruto de uma parceria entre o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e o Ministério da Defesa, o projeto do SGDC custou R$ 2,1 bilhões. O satélite será operado pela Telebras e terá duas faixas de frequência. A chamada banda Ka, correspondente a 70% de sua capacidade, será usada para ampliar a oferta de banda larga no país, atendendo o Programa Nacional de Banda Larga (PNBL), que prevê levar internet de qualidade para regiões mais carentes em infraestrutura e tecnologia. Já a banda X, com os 30% restantes, será de uso militar.

Com 5,8 toneladas e 7 metros de altura, o artefato está em órbita a 36 mil quilômetros da superfície terrestre. O funcionamento pleno do SGDC deve acontecer em seis meses depois do lançamento, período em que ele passa por ajustes técnicos e se posiciona no local exato para cobrir todo o território nacional e parte do oceano Atlântico. A vida útil do aparelho é estimada em 18 anos. Seu desenvolvimento teve início em novembro de 2013, quando a Telebras contratou a Visiona para coordenar o projeto. A companhia, uma joint-venture entre a Embraer e a própria Telebras, havia sido criada um ano antes com foco na integração de sistemas espaciais.


“Como naquela época o Brasil não possuía empresas com domínio tecnológico para projetar e construir um satélite do porte e com as especificações do SGDC, procuramos um fornecedor internacional entre as grandes companhias globais do setor”, conta Bonini. Ao fim de um processo seletivo que durou um ano, a franco-italiana Thales Alenia Space foi escolhida como fornecedora do artefato. 

A responsabilidade por colocar o satélite em órbita ficou a cargo da Arianespace, multinacional francesa que opera os foguetes Ariane a partir da base de lançamentos de Kourou, na Guiana Francesa.

Transferência de tecnologia

Um aspecto relevante do contrato firmado entre a Visiona e a Thales é uma cláusula que obriga a fabricante francesa a repassar tecnologias embarcadas no satélite a empresas e órgãos brasileiros. A Thales, pelo contrato, repassou uma lista de tecnologias espaciais acordada durante a fase de seleção. Em complemento à transferência de tecnologia, também foi formulado um Plano de Absorção de Tecnologia Espacial (PAT), coordenado pela Agência Espacial Brasileira (AEB), com a participação da Visiona, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), do Ministério da Defesa, MCTIC e Telebras. 

Foram enviados 51 engenheiros brasileiros funcionários dessas instituições à Thales, em Cannes e Toulouse, na França. Eles participaram durante três anos do desenvolvimento do satélite, desde as fases de projeto e engenharia até a construção do equipamento e sua integração ao foguete Ariane V.

Os engenheiros fizeram simulações de manutenção de órbita e atitude (posição do satélite em relação à Terra), montagem, integração e testes de módulos e de várias partes do engenho espacial, além da construção de subsistemas. Segundo Bonini, essa cooperação permitiu que os engenheiros brasileiros aprendessem a desenvolver o software de controle de atitude orbital, que, para ele, é o maior obstáculo na construção de satélites no Brasil. 

“Esse programa garantiu que os engenheiros participassem do desenvolvimento do SGDC, trabalhando lado a lado com técnicos e líderes da Thales em todas as fases do projeto”, conta Petrônio Noronha de Souza, diretor de Políticas Espaciais e Investimentos Estratégicos da AEB.

Iniciado em 2014, o PAT também capacitou os profissionais da Telebras e os militares que irão trabalhar nas estações de controle do satélite, situadas na Base Aérea de Brasília e em uma área da Marinha na Ilha do Governador, na capital fluminense. 

Segundo Souza, com a experiência adquirida durante a construção do satélite, os engenheiros também estarão aptos a atuar em futuros projetos espaciais civis ou militares, entre eles aqueles que integram o Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE) e o Programa Estratégico de Sistemas Espaciais (Pese), que preveem a construção de outros satélites no país com participação de empresas nacionais.

Além da qualificação de recursos humanos via PAT, o contrato do SGDC contemplou um Acordo de Transferência de Tecnologia Espacial (ToT) firmado entre a Thales e a Agência Espacial Brasileira (AEB). O documento previu o repasse de cerca de 20 tecnologias críticas de satélites da empresa francesa para fabricantes nacionais, entre elas softwares do sistema de controle de atitude, componentes do sistema de propulsão e sistemas eletrônicos diversos. Em janeiro de 2015, a AEB divulgou o resultado de uma chamada pública com o nome das cinco primeiras empresas participantes do programa – uma do Rio Grande do Sul e quatro de São Paulo.

Conhecimento integrado

A Fibraforte Engenharia, de São José dos Campos, foi selecionada para receber capacitação técnica voltada ao domínio do ciclo de desenvolvimento do sistema de propulsão monopropelente (que usa apenas um combustível) para pequenos satélites, ao passo que a Orbital Engenharia, da mesma cidade, irá absorver tecnologias aplicáveis à construção de sistemas de potência e geradores solares para satélites. Já a AEL Sistema, com sede em Porto Alegre, recebeu o projeto de transferência de tecnologia de dois tipos de circuitos integrados para aplicações embarcadas em satélites.

Na Thales Alenia Space, na França, o SGDC entra em uma câmara de vácuo térmico que simula o ambiente espacial -
Foto: ESA-Cnes-Arianespace

Instalada no Parque Tecnológico Univap, em São José dos Campos (SP), a Equatorial Sistemas foi designada para receber tecnologias de controle térmico para satélites, e a Cenic Engenharia, também de São José dos Campos, ficou encarregada do desenvolvimento de estruturas mecânicas à base de fibra de carbono para cargas úteis de observação da Terra, como câmeras ópticas.

“As cinco empresas estão cumprindo um plano de trabalho e recebendo assistência periódica da Thales. Temos a intenção de fazer uma nova chamada e selecionar mais empresas para participar do programa. Pelo acordo com a Thales, podemos implementar a transferência de tecnologia em até dois anos após o lançamento do satélite, o que já estamos fazendo”, explica Petrônio Souza, da AEB. Segundo ele, um próximo satélite de comunicação brasileiro já deverá contar com equipamentos desenvolvidos por empresas nacionais.

“A curto e médio prazo não seremos capazes de fazer um satélite com esse grau de complexidade, mas poderemos implementar vários conteúdos nacionais”, analisa. Bonini, da Visiona, anunciou que a empresa já faz testes em um sistema de controle de atitude e órbita totalmente feito no Brasil. Se der certo, poderá ser utilizado em futuros satélites brasileiros.



Os painéis solares abertos - Foto: ESA-Cnes-Arianespace
Com o SGDC, o Brasil regressa ao reduzido grupo de países cujos governos contam com seu próprio satélite geoestacionário de comunicações, que se encontra sempre em um mesmo ponto fixo no espaço, sobre a linha do Equador a uma altitude de 35.786 quilômetros, e gira na mesma velocidade da Terra.

Em 1985, o Brasil entrou nesse grupo por meio do Brasilsat A1 lançado pela Empresa Brasileira de Telecomunicações (Embratel). “A Embratel, na condição de empresa estatal, foi pioneira ao lançar, em 1985, o primeiro satélite geoestacionário de comunicações do país, o Brasilsat A1, de uso essencialmente civil. Nove anos depois, ainda como empresa governamental, colocou em operação o Brasilsat B1, primeiro satélite geoestacionário brasileiro de uso civil e também militar, desativado em 2010”, conta Lincoln Oliveira, diretor-geral da Embratel Star One, nome atual da empresa privatizada em 1998. Na sequência vieram o B3 e o B4, esse último já na fase que o governo havia decidido privatizar as telecomunicações do país.

Além do SGDC, o Brasil utiliza cerca de 45 satélites de comunicação, todos eles pertencentes a companhias privadas, como Globalstar, Iridium e Embratel Star One, detentora da maior frota de satélites do Brasil e da América Latina. Hoje, a Embratel Star One é uma multinacional, pertencente ao grupo mexicano America Movil, que também é dono da operadora de telefonia celular Claro e controla no país nove satélites, entre eles os Star One C1 e C2, usados pelas Forças Armadas brasileiras.

Sensoriamento remoto
Montagem do satélite de 7 metros de altura envolveu, além dos técnicos franceses, 51 engenheiros brasileiros
Foto: ESA-Cnes-Arianespace

A integração de todos os componentes do SGDC é o principal projeto da Visiona, que tem em seu quadro de funcionários cerca de 30 engenheiros, quase todos com mestrado, doutorado e com passagem pelo Plano de Absorção de Tecnologia Espacial. “Muitos de nossos profissionais trabalharam anos no Inpe e têm vasta experiência”, afirma Bonini. Segundo ele, ao participar como coordenadora do programa do SGDC, a empresa pôde se estruturar para outros desafios. “Temos condições de construir satélites menores, de 100 quilos, de órbita baixa, entre 600 e mil quilômetros, para aplicações de sensoriamento remoto, meteorologia, observação e coleta de dados”, diz o presidente
da Visiona.

Enquanto a demanda por novos dispositivos não vem, a empresa aposta em uma outra área de negócio: o desenvolvimento de projetos de sensoriamento remoto no Brasil e em países vizinhos em áreas como defesa, proteção ambiental, prevenção de desastres naturais, energia e planejamento territorial. A empresa faturou com esse serviço R$ 8,5 milhões em 2016 e conquistou projetos relevantes com o Inpe, no combate ao desmatamento da Amazônia, e com a Petrobras, no monitoramento ambiental da Bacia de Campos, no Rio de Janeiro. 

Para isso, a Visiona, que não é proprietária de satélites, firmou acordos de compra de imagens com alguns dos principais operadores de satélites de observação da Terra, entre eles Airbus, DigitalGlobe, Restec e SI Imaging Services. No total, ela terá acesso a uma rede de cerca de 28 satélites. “Essas parcerias nos permitem desenvolver soluções integradas na área de sensoriamento remoto”, avalia Bonini.

Ricardo Barros vai fechar a Fiocruz?

Conversa Afiada
Paulo Henrique Amorim
20 de junho de 2017



PHA: O deputado federal Jorge Solla (PT-BA) apresentou à Procuradoria Geral da República e ao Tribunal de Contas da União uma denúncia contra o Ministro da Saúde, Ricardo Barros, pela compra ilegal de medicamentos junto à Blau Farmacêutica, em detrimento da Fundação Oswaldo Cruz. Deputado, por que essa denúncia?

Jorge Solla: Nós temos alguns medicamentos que a partir do Governo Lula passaram a ser alvo de uma política de incorporação de tecnologia e de produção local. O primeiro deles foi a chamada Alfaepoetina, um medicamento usado em determinados casos de anemia. E a transferência de tecnologia veio a partir do laboratório cubano para a fundação Oswaldo Cruz. 

A Fundação Oswaldo Cruz é parte do Ministério da Saúde. Para nossa surpresa, o atual Governo tomou a decisão de, em vez de utilizar a produção feita pela Fiocruz, fazer uma compra no mercado privado. Tentaram fazer uma licitação, o Tribunal de Contas derrubou a licitação - e a sensação de impunidade é tão grande que mesmo assim fizeram a compra emergencial, alegando dispensa de licitação, alegando, veja só, Paulo Henrique, desabastecimento! 

O pessoal da Fiocruz disse que tinha 4 milhões de frascos em estoque. Eu fui lá pessoalmente verificar. Documentamos, fotografamos... Foram comprados 3,9 milhões de frascos de um medicamento que tem no estoque do ministério (4 milhões de frascos, suficientes para quatro ou cinco meses de abastecimento para todo o país!). 

Isso aconteceu também com a Ribavirina, que é um outro medicamento produzido pela Fiocruz. Então, está claro que há um interesse do Governo Golpista de destruir a política de incorporação tecnológica, a política de desenvolvimento produtivo, que é tão importante para melhorar nossa balança comercial e ampliar o acesso da população brasileira a vacinas e medicamentos - e, obviamente, beneficiar interesses, porque, não por acaso, é o mesmo laboratório privado que está ganhando todas as compras emergenciais do Ministério da Saúde: a Blau Farmacêutica.

PHA: Mas, deputado, vamos nos deter por um instante no caso da Alfaepoetina: quanto o Ricardo Barros gastou para comprar esses 4 milhões de doses da Alfaepoetina?

J.S.: Olha, eu não estou com esse número aqui agora, mas a Ribavirina, o outro medicamento denunciado, saiu ao custo de 17 centavos a unidade. Eles compraram a R$ 5,19, ou seja, 3000% a mais do que o custo de produção dentro do laboratório da Fiocruz. Insisto: é do próprio Ministério da Saúde!

PHA: O que é a Ribavirina? Serve para quê?

J.S.: É um medicamento utilizado no conjunto do tratamento de hepatite. É um dos medicamentos alvos de transferência de tecnologia e, neste caso, o desabastecimento ocorreu, só que ocorreu programado. Porque eles deixaram de fazer as ordens de produção durante todo o ano passado - desde que o Governo Golpista assumiu - e, quando o estoque acabou, o Governo foi fazer uma compra emergencial. E quem ganhou a compra emergencial? A Blau Farmacêutica.

PHA: Quem é essa Blau Farmacêutica?

J.S.: É um laboratório privado... eu não conheço os seus proprietários. E, coincidentemente, já tem pelo menos quatro compras emergenciais que o Ministério da Saúde fez.

PHA: Em algum momento o Ministro Ricardo Barros entrou em contato com a Fiocruz, com esse complexo Bio-Manguinhos, no Rio, para pedir uma redução de custos ou insistir no abastecimento desse produto, a Ribavirina, que estava provisoriamente sem estoque?

J.S.: Olha, no caso da Ribavirina, como eu falei, o desabastecimento foi programado, mas no caso da Alfaepoetina não existiu desabastecimento. Os fracos estão lá - inclusive, é um negócio criminoso, porque os 4 milhões de frascos que estão lá vão perder validade no meio do ano que vem. 

Terça-feira da semana passada, foi feita uma audiência pública no Ministério da Saúde para preparar uma licitação para comprar 15 milhões de frascos, ou seja, o Ministério da Saúde está dizendo que não vai usar os 4 milhões de frascos que estão lá. E mais: esse trabalho que o Ministério da Saúde começou no início do Governo Lula, em 2003, tinha uma política de conteúdo nacional, da mesma forma que foi feito na Petrobras e em outros setores da Economia brasileira, em que se passou a procurar incorporar tecnologia, desenvolver Ciência e Tecnologia, investir na formação de recursos humanos e na incorporação tecnológica no nosso país... na Saúde, isso também começou. 

O então ministro, Humberto Costa, assinou um primeiro protocolo da transferência de tecnologia que foi desse medicamento, chamado aqui na Fiocruz de Alfaepoetina. A fábrica do princípio ativo, que foi inaugurada pelo Ministro Ricardo Barros no final do ano passado (ou seja, ele não pode dizer que desconhece, porque foi lá, viu e inaugurou a fábrica), é a última fase da transferência de tecnologia, está em plena operação. É a maior fábrica de medicamentos biológicos da América Latina! É um investimento de mais de R$ 500 milhões, em prédio, equipamentos, capacitação de recursos humanos... 

E, se fizerem essa compra de 15 milhões de frascos, vão destruir esse projeto, porque a fábrica vai ficar parada! O primeiro medicamento de que a fábrica vai produzir o princípio ativo - a chamada IFA - é exatamente a Alfaepoetina. E não vão ter como produzir, porque o Ministério da Saúde não está investindo mais na produção própria da Alfaepoetina, para poder comprar no mercado privado. Além de perder 4 milhões de frascos, a fábrica atual permite uma produção de 140 mil frascos por dia... vai jogar por terra um investimento de mais de R$ 500 milhões na maior e mais moderna fábrica de medicamentos biológicos da América Latina.


PHA: O senhor acredita que o objetivo do Ministro Ricardo Barros é fechar o complexo de Bio-Manguinhos?

J.S.: Se não é, ele está caminhando para isso. E não é diferente do que está acontecendo com a Hemobrás. Você se lembra de que foi feito investimento também para a produção de hemoderivados, que são medicamentos produzidos a partir de componentes do sangue humano. A fábrica da Hemobrás, segundo informações que nós já coletamos dentro do Ministério da Saúde, está ameaçada. O Ministro Ricardo Barros está fazendo um consórcio com a Tecpar, do Paraná, uma empresa privada, para passarem a ser fornecedores dos hemocomponentes. Isso significa que o investimento feito em Pernambuco na fábrica da Hemobrás irá para o lixo, assim como irá o feito em Bio-Manguinhos, no Rio de Janeiro, se essa política for preservada, se os órgãos de controle não tomarem nenhuma providência. 

Eu fico impressionado com essa sensação de que eles são impunes, porque tentaram uma licitação, o Tribunal de Contas não aceitou e fizeram a compra emergencial direta! E mesmo depois da denúncia que fizemos eles vão soltar um edital para fazer uma licitação para 15 milhões de frascos! E essa licitação adivinha quem vai ganhar? Eu antecipo: quem vai ganhar é a Blau Farmacêutica. Porque esse edital que o TCU barrou foi justamente porque a única empresa que atendeu às exigências que o edital estabelecia era a Blau Farmacêutica, ou seja, um edital direcionado para um único candidato.

PHA: O senhor pensou em denunciar à Polícia?

J.S.: Já fizemos também à Polícia Federal. Fomos pessoalmente, entreguei em mãos ao presidente do Tribunal de Contas da União, que nos recebeu muito bem e, prontamente, encaminhou para o setor que acompanha a área de Saúde. Encaminhamos a denúncia à PGR, encaminhamos a denúncia para a chefia da Polícia Federal... espero que desta vez investiguem, porque em 2015 - eu estava na CPI da Petrobras - recebi um conjunto imenso de provas de corrupção na Odebrecht no final dos anos 1990 com o uso de códigos, com os codinomes dos corruptos, mais de 400 agentes públicos, recibo de depósito em banco em paraíso fiscal... fui lá pessoalmente entregar ao dirigente da Polícia Federal e não fizeram nada, nada! Espero que desta vez não aconteça da mesma forma.

PHA: Qual foi o investimento feito na construção da Hemobrás?

J.S.: Olha, eu não estou com esse dado aqui, mas ele não está concluído, diferente da fábrica de Bio-Manguinhos, que está pronta, está na fase chamada de pré-operação, quando vão ligando o sistema de ar, o sistema de água... Para entrar em operação uma fábrica dessa, leva alguns meses. Mas, só para você ter ideia da importância disso: o front da tecnologia de medicamentos no mundo está migrando da química para os medicamentos biológicos. E essa é primeira grande fábrica de biológicos do Brasil - e a maior da América Latina. 

Com a tecnologia transferida, o Brasil, através de uma fundação do próprio Ministério da Saúde, tem o que há de mais moderno no mundo em tecnologia de medicamentos. É bom lembrar, também, que graças a essa política de conteúdo nacional e de parcerias de desenvolvimento produtivo, nós temos hoje o maior programa de vacinação do mundo! Nós não teríamos como vacinar nossas adolescentes contra o HPV, que causa câncer de colo de útero, se fôssemos só importadores de vacinas. Não teríamos como ter erradicado e reduzido a ocorrência de várias doenças. 

Não teríamos, em suma, o maior programa de vacinação do mundo se não tivéssemos parcerias com a Fiocruz, o Instituto Butantan, em São Paulo, incorporado tecnologia e criado produção local. Então, é impressionante o que está fazendo esse Governo! Incoerentes eles não são: destruíram Ciência sem Fronteiras...

PHA: E vão destruir agora o crédito imobiliário com FGTS, que é a linha mais barata depois do "Minha Casa, Minha Vida". Está caindo ponto por ponto...

J.S.: Na área de tecnologia, eles acabaram com o Ministério de Ciência e Tecnologia, acabaram com o Ciência sem Fronteiras do Ministério da Educação, cortaram o orçamento de todas as políticas de Ciência e Tecnologia para 40% do que era no passado, estão destruindo a política de conteúdo nacional na Petrobras, acabando com a Indústria Naval, acabando com projetos estratégicos, tentando privatizar projetos estratégicos como o satélite brasileiro e, na área de Saúde, a mesma coisa: tentando destruir a Hemobrás e destruir os investimentos da Fiocruz. É impressionante como são coerentes no entreguismo e na destruição do patrimônio nacional.

PHA: Como diria o Hamlet, deputado, a loucura tem uma lógica...

J.S.: Tem, tem, com certeza...

PHA: O senhor, por favor, nos mantenha em contato, para que possamos dar cobertura sistemática a essa tentativa de fechar não só o complexo de Manguinhos, como também a Fiocruz, o que seria a continuação dessa política...

J.S.: Você sabe que esse Ministro aí está entalado com a Fiocruz, porque ele não queria que a presidente eleita tomasse posse... No final do ano, ela foi a mais votada e eles tentaram evitar que ela fosse empossada.

PHA: Quem sabe ele consegue colocar lá o presidente da Blau Farmacêutica...

J.S.: Com certeza.