quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Sem investimento em ciência, o Brasil não terá solução

Carta Capital
 Soraya Smaili 
4 de janeiro de 2017

O cientista brasileiro é, antes de tudo, um malabarista. Na foto, mostra organizada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações visa a apresentar trabalhos produzidos nos institutos de pesquisa brasileiros - Foto: José Cruz/ Agência Brasil/Fotos Públicas
O orçamento de 2017 para a pesquisa e o desenvolvimento científico apresenta um enorme corte que precisamos reverter.

Ao final de cada ano, várias retrospectivas são publicadas. Muitas sobre economia ou negócios, outras sobre dinheiro ou política.

Não foi surpresa a publicação das 70 maiores personalidades bilionárias do país, entre elas, alguns empresários industriais, outros varejistas, mas a maioria banqueiros.

Por outro lado, poucas são as listas ou reportagens sobre os maiores cientistas ou as mais importantes descobertas, embora, felizmente, alguns veículos ainda se dediquem a fazer matérias sérias e importantes para divulgação e popularização da ciência.

Apesar desses esforços, muitos ainda não conhecem ou duvidam dos benefícios da ciência e do quanto a mesma se desenvolveu em nosso País.

Todos os cientistas entrevistados ultimamente são unânimes em mostrar sua preocupação com o futuro, com a possibilidade de perda das pesquisas em andamento ou de falta de manutenção de grandes equipamentos que produzem muito para um número considerável de pessoas.

O orçamento de 2017 para ciência apresenta um enorme corte que precisamos reverter.

Não é necessário muito para verificarmos que entre os temas mais importantes da atualidade na área científica estão os estudos para o desenvolvimento de vacinas e medicamentos para cura ou tratamento das doenças que assolam a humanidade, as pesquisas genômicas com o objetivo de entender e curar doenças atualmente incuráveis (cada vez mais frequentes), como o câncer ou o Mal de Alzheimer.

Há também os grandes avanços em informática e comunicação, como as novas metodologias 5D, a nanotecnologia e os novos materiais que podem substituir a pele humana e outros tecidos, além das fantásticas descobertas sobre a origem da espécie, a origem e a observação para a compreensão do universo.

Cada vez mais as grandes potências investem em ciência e tecnologia, bem como nas grandes áreas, dentre estas, os estudos sobre câncer, envelhecimento, segurança alimentar, energias renováveis, água e qualidade de vida.

Toda nossa inteligência e capacidade interdisciplinar têm se voltado para estes assuntos dentre outros tão importantes, mas que visam atingir maior qualidade de vida ou a conservação da espécie.

No Brasil, não foi diferente. Nosso sistema de ciência e tecnologia se desenvolveu ao longo de todo o século XX, embora os investimentos tenham sido sempre menores do que a nossa necessidade populacional e de desenvolvimento.

Mesmo assim, houve grandes avanços na área da Medicina, Física, Antropologia, Geografia, Astronomia e Sociologia.

Não raro, cientistas brasileiros figuram entre os maiores e mais proeminentes do mundo, apesar da falta de condições favoráveis para o desenvolvimento de pesquisas, que vão desde de poucos recursos até a falta de pessoal ou de infraestrutura.

O cientista brasileiro é antes de tudo um malabarista, que se destaca por sua simplicidade criativa, capacidade de interagir e compartilhar, aliada a uma invejável interdisciplinaridade natural.

Uma pesquisa recente mostrou que alguns dos cientistas brasileiros têm excelente destaque nas áreas de novos materiais e Biomedicina, segurança alimentar e metabolismo, na Medicina em diversas áreas e na Física, particularmente a climática e ambiental.

Por outro lado, um artigo recente mostrou o quanto projetos importantes para o país, como os avanços em terapia fotodinâmica na cura do câncer de pele, o funcionamento de um importante computador capaz de analisar a estrutura do zika vírus, os estudos com os animais da Amazônia e os equipamentos que analisam e exploram o mar costeiro brasileiro sofrem com a falta de recursos para manutenção das pesquisas.

Atualmente, em nosso país, muitas áreas se destacam com brilhantismo.

Entre elas, os estudos sobre a origem da vida e da espécie humana, a interface entre homem e máquina, que ajudam deficientes físicos, a Física Quântica e de partículas que podem gerar energia, o desenvolvimento das células tronco para a regeneração celular e tratamento de doenças, a obtenção de novos medicamentos, assim como de novos materiais, como sintéticos.

O Brasil também se destaca fortemente nos transplantes de órgãos, assim como nos estudos dos distúrbios do sono, do abuso de drogas, o desenvolvimento de novas sementes e insumos, na robótica para diversos usos, na irrigação e agronomia e, de forma impressionante, na área da aviação.

Boa parte dessas pesquisas geram produtos, melhoria da condição social e humana, além de desenvolvimento econômico em larga escala.

Nos Estados Unidos, os mesmos bilionários do sistema financeiro, que têm muito mais destaque e poder, defendem e criam mecanismos cada vez mais sofisticados de investimento em ciência e tecnologia.

Todos sabem que suas economias dependem e se beneficiam desse setor.

Lá também a maior parte da ciência é desenvolvida com recursos públicos, ao contrário do que imagina a maioria desta parte sul do hemisfério.

A diferença é que existe forte investimento privado; nossos bilionários ainda não participaram e parecem pouco interessados.

Ciência gera conhecimento e tecnologia, que por sua vez forma pessoas, gera inovação, produtos, que se bem regulados pelo Estado podem ser transferidos para uma qualidade de vida melhor.

Esse sistema gera empregos e uma população mais saudável, mais desenvolvida e pronta para produzir cada vez mais, gerando o crescimento da nação.

Sem ciência, não teremos solução.

Seremos apenas os compradores e reprodutores da tecnologia alheia, pagaremos caro por isso e não sairemos da condição subordinada.

Que nossos governantes e empresários não deixem de enxergar isso em 2017.

Que os investimentos sejam recuperados e que possamos ter um forte ciclo construtivo e de movimentação da vida acadêmica, universitária e social.

Tomemos ciência e sejamos felizes em 2017!

Um comentário:

  1. Se 1% do dinheiro que este governo quer repassar para as teles fosse aplicado em Ciência e Tecnologia, muitos problemas seriam resolvidos.

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