quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Alcântara vai lançar oito projetos em microgravidade em novembro

IAE
30 de agosto de 2016



Prevista para novembro deste ano, a Operação Rio Verde vai testar oito experimentos científicos e tecnológicos em ambiente de microgravidade. O veículo VSB-30, que será lançado do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Maranhão, vai levar ao espaço pesquisas financiadas pelo Programa Microgravidade da Agência Espacial Brasileira (AEB).

Serão cinco experimentos científicos desenvolvidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade Estadual de Londrina (UEL) e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); e três tecnologias desenvolvidas pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), uma das quais em cooperação com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

“Esta é mais uma área em que a Força Aérea Brasileira (FAB) trabalha, junto à comunidade científica, em prol do desenvolvimento científico e tecnológico brasileiro”, explica o professor doutor José Bezerra, tecnologista sênior do IAE e representante do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA) junto ao Programa Microgravidade da AEB.

De 15 a 18 de agosto foram realizados com sucesso os testes das cablagens (fiações) de voo e o primeiro teste de sistema integrado, em que foram ligados simultaneamente os oito experimentos que irão ao espaço a bordo do foguete brasileiro VSB-30. Os testes foram realizados pelo IAE em São José dos Campos (SP). O instituto é a organização responsável pelo desenvolvimento do veículo espacial VSB-30, cabendo também ao corpo técnico do IAE colaborar no desenvolvimento técnico dos experimentos.

A Frente Parlamentar do CLA

Blog do Manoel Santos
José Reinaldo Tavares
30 de agosto de 2016

Foto: AEB

CLA é a sigla pela qual identificamos o Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, um dos mais importantes do mundo, pela sua localização invejável, mais próximo da linha do equador, que permite grande economia de recursos no lançamento de foguetes, e junto ao oceano é um dos mais seguros do mundo.

O Centro nasceu em 1º de março de 1983 e foi inaugurado pelo presidente José Sarney em 21 de fevereiro de 1990, mas nunca atingiu plenamente os seus objetivos, embora esteja pronto e operacional desde essa época. Por que?

Certamente porque o Programa Aeroespacial Brasileiro deixou-se envolver por ideologias, dispensáveis e prejudiciais em um projeto cientifico que não tem lado, e perdeu anos preciosos e muito dinheiro e se atrasou muito em termos comparativos com outras nações que estavam no mesmo estágio que nós quando foi criado o CLA e hoje já dominam inteiramente a tecnologia, complexa, que envolve a indústria espacial.

E principalmente porque nunca tratamos a questão como de altíssima prioridade estratégica e de grande interesse nacional e nunca se organizou, convenientemente, o setor como tal. E o pior, temos tudo, recursos humanos e materiais para dominarmos a tecnologia dos lançadores e dos combustíveis líquidos, mas, sucessivos contingenciamentos no orçamento do programa, falta de prioridade e recursos, nos atrasaram por décadas.

O Maranhão, por exemplo, nunca viu o potencial de desenvolvimento e de riqueza que temos ali. Nunca colocou como uma prioridade o Centro de Lançamento. Nunca lutamos politicamente por ele. Está na hora de mudarmos tudo isso, pois na verdade esse é um grande projeto nacional no Maranhão, que poderá se transformar em uma alavanca firme de nosso desenvolvimento.

Na sexta-feira passada eu e o deputado Pedro Fernandes estivemos durante todo o dia discutindo o futuro do Programa Espacial Brasileiro e do CLA em visita ao Centro. Os equipamentos muito bem conservados, as instalações de primeiro mundo, tudo pronto, precisando apenas de trocar os antigos computadores por novos.

Ouvimos longa explanação do Comandante do Centro Cel. Aviador, Claudio Olany, ex-aluno do ITA, que tem domínio completo do que precisamos fazer para revitalizar o Programa, ele que ocupou funções muito importantes no governo, antes de vir para cá.

O que falta é uma instituição perene, dentro do Congresso Nacional, que através de amplo debate parlamentar permanente, com a participação de técnicos e autoridades que dominem o assunto, possamos atualizar o arcabouço legal de uma moderna política espacial brasileira, que faça real a prioridade que esse importantíssimo programa tem que ter sempre, através de uma análise profunda do que fez o programa paralisar nesses anos todos, e as medidas institucionais para que isso não volte a acontecer. E que esse programa tenha recursos permanentes no orçamento da União, livre de contingenciamentos e cortes. Tenha força e defesa permanente no Parlamento brasileiro.

Hoje são instituições esparsas, de segundo escalão de mando, sem força para impor o programa. Mas, como fazer isso? Esse instrumento já existe, pois mais de 196 deputados, o número de deputados necessários, já apoiaram, assinando o meu projeto de criação da Frente Parlamentar para Modernização do Centro de Lançamento de Alcântara, que terá assim existência jurídica, com estatuto e membros, com objetivo fundamental de colocar no eixo definitivo o programa brasileiro.

Com isso ampliaremos o debate chamando autoridades e especialistas, tanto do setor público como do setor privado. Poderão fazer parte da Frente além de parlamentares grandes especialistas e estudiosos do setor. Com o programa espacial brasileiro dotado dos meios de que precisa, vamos transferir para Alcântara a confecção de lançadores e foguetes, pesquisas de combustíveis, materiais que hoje são feitas em São José dos Campos. Como por exemplo os lançadores que são construídos lá e transportados para cá, em um transporte caro e problemático.

No futuro faremos tudo aqui, pois teremos mão de obra do mesmo nível com o nosso ITA. É um trabalho gigantesco o que estou propondo a mim mesmo com a criação da Frente. Para mim e para todos os que quiserem participar. É obvio que a bancada maranhense está toda convidada a participar e integrar a frente. Pretendo dar entrada na Câmara do pedido de instalação já na próxima semana. Vamos em frente!

Principal desafio da energia solar é político, afirmam especialistas

Agência CT&I
Leandro Cipriano
30 de agosto de 2016

Brasil precisa de políticas públicas para explorar potencial de energia solar - Foto: Divulgação/internet

O uso da energia solar tem sido cada vez mais visto como um fator importante para a otimização e diversificação da matriz elétrica brasileira, abastecida em grande parte pelas hidrelétricas. Até 2024, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) estima que o Brasil terá 1,2 milhão de telhados com painéis solares fotovoltaicos. A quantidade, contudo, ainda é considerada abaixo do potencial do país, na avaliação de especialistas do setor.

Em audiência pública realizada nesta terça-feira (30) pelas Comissões de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; e de Minas e Energia da Câmara dos Deputados, representantes dos setores acadêmico, produtivo e governo apontaram o desafio político como o maior obstáculo para expandir a energia solar no Brasil, cuja capacidade pode chegar a 30 mil gigawatts (GW) - 200 vezes a capacidade total instalada no país hoje, que é de 143 GW.

Para começar a aproveitar todo esse potencial, políticas públicas estratégicas precisariam ser implementadas para estimular o uso da fonte nacionalmente. “Duas peças são muito importantes para expandir a solar e ambas estão nas mãos do Congresso: liberar o FGTS para o brasileiro comprar o sistema fotovoltaico, porque é o governo que usa o FGTS; e constituir uma cadeia tributária diferenciada para os componentes do sistema fotovoltaico, com isenções”, afirmou a coordenadora de Campanha de Energias Renováveis do Greenpeace Brasil, Barbara Rubim.

A especialista lembrou que em 2012, o Greenpeace lançou ao governo federal o desafio de criar políticas públicas que permitissem ao Brasil ter, até 2020, 1 milhão de telhados solares. “Na época foi vista como uma meta absurda, e hoje sabem que é possível. Se mexêssemos em peças que geram maior impacto, conseguiríamos chegar em 2030 com um aumento de 623% de casas solarizadas. Isso significaria cerca de 8 milhões de telhados solares no Brasil, residenciais e comércio. Além disso, conseguiríamos ter, só com geração solar distribuída, mais de duas vezes a energia projetada para hidrelétrica de São Luís de Tapajós”.

Apesar de ser tecnicamente e economicamente possível, o professor doutor de Engenharia Elétrica do Laboratório de Fontes Renováveis da Universidade de Brasília (UnB), Rafael Shayani, reforça que a energia solar não deslanchou ainda no país devido, essencialmente, a dois fatores: o conservadorismo presente no setor elétrico brasileiro, ainda atrelado às hidrelétricas, aliado à falta de vontade política para mudar esse cenário. Prova disso, ressalta o docente, é que a fonte solar atualmente representa apenas 0,02% da matriz elétrica nacional.

“O desafio maior realmente é político. O Brasil, o mundo e o setor elétrico precisam de uma nova orientação, uma nova política, que supere as dificuldades trazidas pelas mudanças climáticas. Podemos continuar na visão tradicional e conservadora das hidrelétricas, e causar mais impactos ambientais, ou fazer essa mudança de paradigma adotando a energia solar”, alertou.

Segundo Shayani, para o uso da fonte solar avançar é necessário que governos considerem os custos diretos da geração de eletricidade com as hidrelétricas e as termoelétricas - mais caras e poluidoras -, e suas implicações futuras, em especial ao meio ambiente e à saúde da população. 

“Quanto custa alagar árvores na Amazônia com as hidrelétricas? Quanto custa para o sistema de saúde ter mais poluição? Essa visão política que precisamos ter para então utilizar as inovações tecnológicas como o painel fotovoltaico. Ele gera bens para o governo e meio ambiente, evita a construção de novas usinas, garante energia para o crescimento do país e reduz perdas para o setor elétrico. É preciso visualizar e quantificar esses ganhos”, disse o professor.

Produção

Além da falta de políticas públicas, o setor tem dificuldades na produção dos painéis fotovoltaicos. Segundo o assessor da Área de Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica da Associação Brasileira da Indústria Elétrica Eletrônica (Abinee), Roberto Barbieri, apesar do Brasil ter uma das maiores reservas de minério de silício do mundo – material para produzir os módulos fotovoltaicos -, ainda assim as placas são feitas em sua maioria com produtos importados.

“Temos o material, mas a indústria nacional não está participando desses fornecimentos. Exportamos o silício metalúrgico a US$ 2,5 o quilo, e quando trazemos uma célula fotovoltaica com esse silício, importamos ela a US$ 44 o quilo. Está aí uma grande agregação de valor que o Brasil está deixando de fazer porque não temos um pedaço da cadeia produtiva, que demanda investimento e uma política estratégica”, comentou Barbieri.

De acordo com o especialista, o Brasil possui em Minas Gerais empresas metalúrgicas que atuam nessa área e estão dispostas a atender a cadeia produtiva fotovoltaica. “Mas elas precisam de um empurrão, um incentivo, uma política firme para termos a cadeia fotovoltaica toda. A vontade é política, e se queremos ter a presença solar na nossa matriz de forma significativa, temos que ter controle sobre essa produção de energia”, ressaltou.

Na Capital

Uma política voltada ao estímulo da energia solar tem sido desenvolvida no Distrito Federal, segundo o secretário adjunto de Estado do Meio Ambiente do DF, Carcius Azevedo. Contudo, vários entraves são recorrentes na tentativa. “O Executivo é onde mais precisa de eficiência e renovação. É um desafio podermos implementar políticas de fato inovadoras e que aconteçam em um período de tempo exequível”, pontuou.

Um exemplo citado pelo secretário foi na tentativa de instalar recentemente placas fotovoltaicas em escolas públicas da região. “Nos deparamos com um conjunto de dificuldades estruturantes. O recurso era de uma emenda parlamentar, mas que dizia respeito a aquisição de placas, não instalação. Não existia verba no orçamento para instalação. Além disso, não existia quadro técnico no governo capacitado para instalar as placas solares nas escolares. Foram diversas amarras”, lembrou.

Atualmente, outras políticas no setor solar estão em andamento no Distrito Federal. De acordo com o secretário, o governador do DF, Rodrigo Rolemberg, pretende lançar um decreto que institui o Programa de Estímulo a Energia Solar, com recursos voltados para capacitação de jovens adultos na instalação das placas em escolas. “A gente precisa criar mecanismos inteligentes e reais que façam com que essa política seja de fato implementada.”

terça-feira, 30 de agosto de 2016

A Ciência brasileira na UTI (Parte 2)

Estadão
Blog do Herton Escobar
28 de agosto de 2016

Pesquisas biomédicas estão entre as afetadas pela crise do setor. Foto: Herton Escobar/Estadão

PARTE 2: Cortes orçamentários e contingenciamentos deixam as duas principais agências federais de fomento à pesquisa e à inovação (CNPq e Finep) sem recursos para novos investimentos.

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), principal agência de fomento à pesquisa do governo federal, está “à mingua”, nas palavras do presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Luiz Davidovich. Praticamente todo o orçamento da entidade está comprometido com o pagamento de bolsas, restando quase nada para investimento em pesquisa.

Dos R$ 594 milhões executados pelo CNPq no primeiro semestre deste ano, 98,5% foram para bolsas e apenas 1,5% para fomento. E ainda assim, a agência foi obrigada a suspender a concessão de bolsas de pós-graduação no exterior e cortar 20% das bolsas de iniciação científica previstas para os próximos dois anos.



O orçamento total aprovado para este ano é de R$ 1,5 bilhão, mas 30% desse valor está contingenciado. O que a agência pode gastar de fato é pouco mais de R$ 1 bilhão — 45% menos do que em 2006 e 63% menos do que em 2010, em valores corrigidos e excluindo-se o programa Ciência sem Fronteiras, segundo os dados oficiais solicitados pela reportagem.

“O CNPq perdeu totalmente a liberdade de pensar. O sistema todo tem de correr atrás todos os meses para pagar bolsas”, disse em julho o presidente da agência, Hernan Chaimovich, durante uma palestra na última reunião anual da SBPC, em Porto Seguro (BA). O valor que o CNPq precisaria para “ser feliz e estimular a ciência” no Brasil, segundo ele, seria R$ 3,7 bilhões. 

“Não há uma política consistente de investimento em ciência e tecnologia nesse país, ponto”, disse Chaimovich. Procurado novamente para esta reportagem, ele preferiu não dar entrevista, redirecionando a demanda para o ministro Gilberto Kassab — que reconheceu a gravidade da situação e disse estar empenhado em conseguir mais recursos para o setor.

Em 2015, o valor investido em fomento pelo CNPq já havia caído 46% em relação a 2014, passando de R$ 104,8 milhões para R$ 56,4 milhões. Em comparação com 2010, essa queda foi de quase 80%, em valores corrigidos.
A agência tem um saldo a pagar de R$ 230 milhões, referente a mais de 40 editais lançados desde 2010 que ainda não foram quitados, incluindo uma parcela de R$ 68,8 milhões da Chamada Universal de 2014 — o mais tradicional edital da ciência nacional, que em 2015 nem chegou a ser lançado, por falta de recursos.



Os novos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), que deveriam estar sendo implementados desde abril de 2015, também seguem na fila de espera por recursos para serem criados. Um total de 252 projetos foram selecionados e anunciados em maio deste ano (com 14 meses de atraso), distribuídos por todos os Estados brasileiros e abordando diversas áreas do conhecimento, porém sem valores especificados nem data prevista de implementação. O edital, lançado em junho de 2014, previa um investimento de R$ 100 milhões do orçamento do CNPq, mais R$ 540 milhões de outras agências de fomento federais e estaduais — todas elas, também, com dificuldade orçamentária, impedindo a implementação desse programa, que é considerado um dos mais estratégicos para o desenvolvimento científico e tecnológico do país.

Programas importantes da agência na área ambiental, como o Programa Antártico Brasileiro (Proantar), o Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio) e o Programa de Pesquisa Ecológica de Longa Duração (PELD), tiveram reduções drásticas de financiamento. “Falta ao ministério uma visão moderna da importância das ciências da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos. Cortar a verba de programas que exigem longa duração para gerarem informações básicas sobre a biodiversidade brasileira é matar a possibilidade de começarmos a transformar este tesouro em uma fonte estratégica de recursos e melhoria de qualidade de vida da população”, critica o pesquisador Carlos Joly, da Universidade Estadual de Campinas.

Há também uma crise de recursos humanos. O CNPq perdeu cerca de 120 funcionários nos últimos cinco anos, com uma média de 15 a 20 aposentadorias por ano e sem perspectiva de novas contratações. “Nesse ritmo o CNPq perderá a sua reconhecida eficiência e entrará em colapso em dois anos”, diz um gestor do órgão.

Finep

A situação é crítica também na Finep, empresa pública de fomento à pesquisa e à inovação, que administra os recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) — maior fonte de recursos para infraestrutura científica no Brasil, tanto no setor público quanto privado. O orçamento do fundo para este ano, de R$ 1,96 bilhão, é 50% menor do que em 2015 (em valores corrigidos) e a proposta do governo para 2017 é cortá-lo novamente pela metade, chegando a R$ 982 milhões.

Isso, apesar de a arrecadação anual do FNDCT permanecer constante, na casa dos R$ 3,7 bilhões, e de a Finep ter um saldo a pagar de R$ 2 bilhões, referente a vários editais já contratados nos últimos anos. O número de contratos assinados pela Finep com empresas em 2015 foi o menor desde 2006; e o edital Proinfra 2014, no valor de R$ 400 milhões, destinado a compra e manutenção de equipamentos de pesquisa, teve seu resultado adiado em mais de um ano, de agosto de 2015 para outubro deste ano, por falta de recursos.

O orçamento atual “não dá nem para cobrir os restos a pagar dos anos anteriores”, disse o presidente da Finep, Wanderley de Souza, em palestra na reunião anual da SBPC, em julho. “Permite continuar o que estamos fazendo, mas não lançar coisas novas.” Procurado novamente para esta reportagem, Souza preferiu não dar entrevista.

“O orçamento de 2016 e a proposta orçamentária para 2017 não são suficientes para fazer frente aos compromissos já assumidos — projetos contratados em 2016 e em anos anteriores”, informou a assessoria de comunicação da Finep. “Neste cenário, não há espaço para novas iniciativas. No entanto, o presidente (Wanderley Souza) está otimista quanto às ações do ministro Kassab no sentido de ampliar o orçamento.”

O FNDCT é abastecido anualmente com recursos oriundos de vários setores da indústria (por exemplo, de impostos sobre a exploração de recursos hídricos e minerais), e seus recursos deveriam, por lei, ser investidos integralmente em ciência e tecnologia. Mas não é o que acontece. Ao longo dos últimos anos, os recursos do FNDCT foram sistematicamente contingenciados pelo governo federal para manutenção do superávit primário. Uma larga fatia do fundo também foi usada para bancar o programa Ciência sem Fronteiras.

“Isso é desvio de finalidade. Estão coletando impostos para uma finalidade e aplicando em outra”, diz Davidovich. “É um tipo de pedalada. Tenho até dúvidas sobre a legalidade disso.”

A Academia Brasileira de Ciências, a SBPC, a Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei) e outras entidades do setor enviaram um carta conjunta ao Congresso Nacional no dia 23, pedindo o descontingenciamento do fundo.

“É fundamental que o orçamento do FNDCT para 2017 permita a utilização plena dos recursos que serão arrecadados, de modo a se reverter o grave quadro atual”, diz o documento. As entidades ressaltam que não estão pedindo aumento de recursos, “mas sim que os recursos oriundos dos Fundos Setoriais e do FNDCT não sejam negados a seus legais e legítimos fins: projetos de pesquisa do interesse do País, manutenção e aperfeiçoamento da infraestrutura de pesquisa, concessão de bolsas de pesquisa, financiamento às atividades de inovação de empresas brasileiras”.

Veja também a Parte 1

Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares completa 60 anos com projetos estratégicos

MCTIC
30 de agosto de 2016

Nos laboratórios do Ipen são conduzidas pesquisas em diversas áreas relacionadas à energia nuclear. 
Crédito: Divulgação/Ipen
Segundo o diretor de Pesquisa da instituição, Marcelo Linardi, além de ser uma referência na produção de materiais radioativos para a medicina nuclear, Ipen é o berço de grandes projetos nacionais, como o submarino de propulsão nuclear, desenvolvido em parceria com a Marinha do Brasil.

Referência nacional na produção de materiais radioativos para a medicina nuclear, o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) é também "nascedouro" de grandes projetos nacionais, como o ciclo do combustível nuclear e, em parceria com a Marinha, o submarino de propulsão nuclear. 

A afirmação é do diretor de Pesquisa, Desenvolvimento e Ensino, Marcelo Linardi. Segundo ele, a atuação do Ipen, que completa 60 anos em agosto, tem valor econômico, social e estratégico para o país. Vinculado à Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), órgão do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), o Ipen também participa do projeto do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB). 

Linardi explica que o principal trabalho do Ipen está voltado para a medicina nuclear. Na década de 60, teve início a produção em escala de vários radionuclídeos, o que contribuiu decisivamente para o desenvolvimento da medicina nuclear no país. 

"A medicina nuclear é uma especialidade que utiliza radioisótopos ou radiotraçadores para o diagnóstico ou tratamento de doenças e é considerada uma das melhores ferramentas entre as modalidades diagnósticas para detecção de câncer", afirmou Linardi. "A comunidade médica, os hospitais e as clínicas que se especializaram em medicina nuclear, tanto para diagnóstico, como para tratamento de enfermidades com radioisótopos e radiofármacos, uniram-se ao Ipen, colaborando fortemente na pesquisa, desenvolvimento e inovação, resultando na introdução na sociedade de novos radiofármacos." 

Ele acrescentou que a produção do Ipen atende 2 milhões de procedimentos da medicina nuclear por ano. "Há um esforço contínuo e permanente no sentido de desenvolvimento de novos produtos com o objetivo de reduzir a dependência de radioisótopos importados."

Comemorações

Para comemorar os 60 anos, o Ipen realiza, a partir de segunda-feira (29) a Semana Ciência, Tecnologia e Inovação. Na ocasião, será inaugurado o Laboratório Multiusuário do Centro de Lasers e Aplicações (CLA), onde será desenvolvido o Programa Institucional de Equipamentos Multiusuários do Ipen. O objetivo é disponibilizar equipamentos analíticos e de imagem para toda a comunidade científica e o setor produtivo. 
"O laboratório conta com 9 equipamentos e servirá de modelo a ser replicado no instituto", disse.

As comemorações também incluem a apresentação das principais produções científicas do Ipen como o artigo "Construção guiada de uma nanoestrutura de vidro metálico: uma plataforma para o desenvolvimento de superfícies catalíticas 3D", publicado na revista Advanced Materials, de autoria de Marcelo Linardi e do pesquisador Gustavo Doubek. 
"Este trabalho foi aceito nesta importante revista, pois abre uma nova frente de pesquisa, inédita, no mundo, aumentando a vida útil de catalisadores em geral em mais de 100 vezes", explicou o Linardi.

No último dia das comemorações, dia 2 de setembro, o Ipen abre as suas portas para a sociedade a partir das 9h. Os participantes poderão conferir as exposições Nuclespaço, sobre energia nuclear, e História do Ipen.

Concurso de frase da SIPAT do INPE recebe inscrições até 9 de setembro

INPE
30 de agosto de 2016



Uma bicicleta mountain bike 21 marchas, um tablet e uma cesta de produtos naturais são os prêmios oferecidos aos vencedores do Concurso de Frase “SIPAT 2016 – Saúde e Bem Estar”.

Até 9 de setembro, os servidores, estagiários, bolsistas, celetistas, alunos de pós-graduação, prestadores de serviços e colaboradores do INPE podem inscrever sua frase por meio da página do concurso, disponível na Intranet do Instituto.

Promovido pela CIPA – Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – Gestão 2016/2017 do INPE, o concurso tem como objetivo incentivar o fomento da escrita, reconhecendo talentos da comunidade inpeana, ao mesmo tempo em que promove os valores da SIPAT 2016.

As três melhores frases serão divulgadas e publicadas na Intranet do INPE e a premiação ocorrerá no dia 17 de outubro, durante a palestra de abertura da SIPAT 2016.

Inscrições abertas a encontro internacional de computação para aplicações científicas. CCIS 2016 será no INPE

INPE
30 de agosto de 2016



Estão abertas as inscrições ao 4th CCIS - Conference of Computational Interdisciplinary Sciences, encontro científico internacional que será realizado de 7 a 10 de novembro no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em São José dos Campos (SP). O CCIS tem como principal objetivo reunir pesquisadores e alunos de pós-graduação que utilizam metodologias e ferramentas avançadas da computação para aplicações científicas em física, química, biologia e engenharias, incluindo tópicos em ciências espaciais.

"O evento de 2016, a ser realizado no INPE, contará com sessões especiais sobre Análise e Simulação de Dados em Astrofísica e Cosmologia, Eventos Extremos, Computação Quântica, entre outras", informa Reinaldo Rosa, pesquisador do Laboratório Associado de Computação e Matemática Aplicada (LAC) do INPE.

Mais informações: http://www.epacis.net/ccis2016/

INPE receberá mais de R$ 11 milhões da Finep

INPE
29 de agosto de 2016


A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) vai destinar mais de R$ 190 milhões para 21 institutos de pesquisa vinculados ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) investirem em equipamentos, na modernização dos laboratórios multiusuários e na contratação de pessoal qualificado.

Entre os agraciados, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) receberá R$ 11.351.552,82.

Os projetos foram selecionados por meio de um edital que teve o resultado final divulgado no dia 23 de agosto. Os recursos, não reembolsáveis, são do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) e devem ser liberados no prazo de cinco anos.

Clique aqui para acessar o resultado do edital.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Quem quer lucrar com mudanças no clima precisa pagar caro até desistir

Folha de SP
Reinaldo Lopes
28 de agosto de 2016

Thomas Hobies, autor de Leviatã

Hoje é dia de começar com uma citação clássica, e no idioma original, mui gentil leitor. "Covenants, without the sword, are but words" ou, numa pálida tentativa de tradução para o português, "tratados, sem a espada, não são mais que palavras".

Assim escreveu em "Leviatã" o pensador inglês Thomas Hobbes (1588-1679), um dos patronos da filosofia política moderna. (Uma das dificuldades de capturar o sabor do original é a força do termo "covenant", usado em inglês para designar a aliança entre o Deus bíblico e os israelitas no Antigo Testamento.) Hobbes se referia a uma das verdades mais atemporais e deprimentes da natureza humana: raros são os acordos entre grupos de nossa espécie que sobrevivem sem a ameaça de alguém mais forte, pronto a distribuir bordoadas na cacunda de quem ousar descumprir sua palavra.

Temo que essa seja a principal pedra no sapato das tentativas de estimular ações contra a mudança climática, um temor que foi reforçado pela leitura do magistral livro-reportagem "Caiu do Céu: O Promissor Negócio do Aquecimento Global", assinado pelo jornalista americano McKenzie Funk e lançado no Brasil pela editora Três Estrelas.

Se você já desconfiava que a elite financeira e industrial do planeta é majoritariamente composta pelo tipo mais rematado de canalha, gente cujo principal talento é ganhar rios de dinheiro ferrando com a vida dos outros, a leitura de "Caiu do Céu" fará com que essa hipótese pareça fato 100% confirmado.

As primeiras dezenas de páginas do livro são suficientes para induzir o reflexo de vômito em qualquer sujeito com alguma consciência: grandes empresas petroleiras e de transporte marítimo montando convenções de negócios carnavalescas em parceria com os países do Ártico (como o Canadá, a Rússia, a Noruega e os EUA), basicamente porque o derretimento do gelo marinho ao redor do polo Norte vai ser uma beleza para as rotas de comércio, a exploração de petróleo em águas profundas e a expansão do plantio em terras que antes eram frias demais.

Os grandes capitães da indústria global merecem cada centímetro cúbico do vinho de nossa ira, mas não se esqueça de guardar um pouquinho dela para"¦ os inuítes (popularmente conhecidos como esquimós) da Groenlândia. Assim como ocorre com o pessoal da Shell, os olhos dos inuítes groenlandeses também andam crescendo diante da perspectiva de cobrar grossos royalties dos interessados em explorar as riquezas minerais de sua terra, cada vez mais postas a descoberto pelo recuo das geleiras. Pode ser que esse derretimento todo inunde metade de Bangladesh e acabe com as praias do Rio, mas é a vida, certo?

Note que ninguém da turma do olho gordo (inclusive as petroleiras) nega a realidade da mudança climática ou o fato (porque, desculpaí, é um fato) de que ela é causada principalmente pelo ser humano. A questão é que não há mecanismos claros para forçar ações que ajudem a reverter o fenômeno e, portanto, a ação mais economicamente sensata é tentar tirar o máximo proveito possível das transformações vindouras.

O que nos traz de volta à espada de Hobbes. Não dá para esperar que a "conscientização", e nem mesmo que o autointeresse, faça com que os responsáveis tirem o traseiro da cadeira. Precisamos de uma espada que corte, se não jugulares, ao menos a parte mais funda do bolso de quem ligou o aquecedor da Terra.

Ciência pode testar a hipótese de Deus, diz astrofísico popstar

Folha de SP
Salvador Nogueira
28 de agosto de 2016

O astrofísico popstar Neil deGrasse Tyson - Foto: National Geographic


Se Deus tem alguma ação no mundo, a ciência pode testar isso. A afirmação controversa vem do astrofísico americano Neil deGrasse Tyson, famoso no mundo inteiro depois de estrelar a nova versão da série de TV "Cosmos".

Ele está lançando um novo livro no Brasil, "Morte no Buraco Negro" (Editora Planeta, 432 págs.), que reúne uma coleção de ensaios escritos entre 1995 e 2005 sobre os mais variados temas. Dentre eles, a polêmica relação entre ciência e religião.

Em entrevista à Folha, o diretor do Planetário Hayden, em Nova York, também aborda o rebaixamento de Plutão e argumenta que a palavra "planeta" já perdeu o sentido com a evolução do conhecimento astronômico.

Folha - O momento para o lançamento de seu livro no Brasil é bem oportuno, com o crescimento de um movimento anticiência. Há 20 anos, era impossível imaginar alguém defendendo a ideia de que a Terra é plana. E agora, o que está acontecendo?

Neil deGrasse Tyson - Isso apenas significa que eu sou um fracasso (risos). Não, talvez signifique que tudo seria muito, muito pior se não fossem pelas pessoas sempre travando a luta. Num país livre, eu não ligo para o que as pessoas acreditam ou pensam. Eu não tenho problemas com a crença pessoal de cada um. Mas, se você ascender ao poder, quiser criar leis e as basear em suas verdades pessoais, este é o começo do fim da sociedade livre.

Queria falar de algo que você não aborda no livro, que é a noção de que talvez o maior risco aos humanos agora sejam os próprios humanos.

Bem, estou na fronteira entre um pessimista e um realista. Gosto dos dados recentes que mostram que somos mais gentis uns com os outros na média do que jamais fomos como civilização. Um exemplo: as 80 e poucas mortes que aconteceram no sul da França. Aquilo fez manchetes ao redor do mundo por dias. Mas 70 anos atrás estávamos lutando a Segunda Guerra Mundial. Mil humanos morriam por hora. E isso não fazia manchetes.

O sr. resolveu tirar Plutão da lista de planetas no Planetário Hayden antes de todo mundo. Desde então, a União Astronômica Internacional criou uma definição estrita de planeta, deixando Plutão mesmo de fora. Minha pergunta é: o sr. está satisfeito com a definição?

Acho que a decisão deles foi sensata, diante do que sabemos sobre objetos no Sistema Solar. Entretanto, penso que o que devia ter acontecido é que nós nos livramos da palavra "planeta" de uma vez por todas, porque não é mais útil. Se eu disser que achei um planeta orbitando outra estrela, você tem de brincar de "Quem eu sou?". É grande? É rochoso? Está na zona habitável? Pode ter vida? Tem luas? O fato de que, na nossa nomenclatura, a palavra "planeta" pode descrever tanto a Terra como Júpiter me diz que o termo não é mais útil.

Então a ideia seria abandonar a palavra planeta?

Não seria ótimo se em uma única palavra nós soubéssemos se o planeta está na zona habitável de sua estrela? Pense nas palavras que temos só para descrever água. Temos uma palavra para descrever água vaporizada que flutua sobre a sua cabeça –é uma nuvem. Mas agora suponha que a água vaporizada esteja no chão. Há uma palavra diferença: neblina. Agora, o que acontece se a umidade do ar condensa durante a noite e forma uma gota d'água em plantas? Temos uma palavra diferente para isso: orvalho! Então, eu acho que o léxico para planetas é subdimensionado, dada a necessidade de que temos.

O século 21 está recheado de promessas de grandes descobertas, de exoplanetas até ondas gravitacionais. Quais são suas grandes expectativas para os próximos anos?

Acho que na próxima década ou duas saberemos com certeza se Marte já teve vida. Certamente não há vida na superfície agora, porque há raios ultravioleta muito danosos vindos do Sol, e não há proteção de uma camada de ozônio como temos aqui, não há oxigênio livre na atmosfera marciana que serviria a esse papel. Então, se houver vida lá hoje, estará no subsolo.

A ciência pode provar que não há Deus?

A ciência pode testar se há um Deus, baseada nas afirmações que você faz sobre o seu Deus. Então, a ciência nunca prova nada sobre nada. Você geralmente não verá um cientista usando a palavra "prova". Não é o que fazemos. O que fazemos é: temos uma ideia, e nós a testamos. E se a ideia sobrevive ao teste e fazemos outros testes e fazemos outras pessoas verificarem, então estabelecemos uma nova verdade sobre o mundo, baseada na série de testes que fizemos.

Você diz: "Eu acredito em Deus". Eu digo: "Tudo bem. Se Deus existe, como ele se manifestaria nesse mundo?" E você diria: "Pessoas que rezam terão suas preces atendidas." Ou "Pessoas que ficam doentes e que recebem orações têm mais chance de melhorar." Você pensa em fenômenos testáveis que, segundo você, se seu Deus existe, deveriam ser testáveis. 

A Ciência brasileira na UTI (Parte 1)

Estadão
Blog do Herton Escobar
29 de agosto de 2016

Sirius - Foto: Márcio Fernandes/Estadão

PARTE 1: Reportagem especial retrata o quadro de penúria da ciência nacional e discute o risco de um novo corte orçamentário em 2017, resultante da fusão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) com a pasta das Comunicações.

A ciência brasileira nunca esteve tão pobre. O orçamento do Ministério da Ciência,Tecnologia e Inovação (MCTI) para este ano é metade do que era em 2010 e um quarto menor do que dez anos atrás, em valores corrigidos pela inflação. 

Há institutos de pesquisa sem dinheiro até para pagar a conta de luz; e muitos temem que a situação piore em 2017. A proposta do governo, segundo o Estado apurou, é manter o orçamento da pasta congelado para o ano que vem, apesar da fusão com o Ministério das Comunicações — o que significaria, na prática, uma nova redução orçamentária.

“Se isso for aprovado, pode esquecer; acabou ciência e tecnologia no Brasil”, diz o presidente da Academia Brasileira de Ciências, Luiz Davidovich. A situação hoje já é a pior de todos os tempos, segundo ele, com corte de bolsas, editais cancelados, repasses atrasados e projetos de pesquisa estagnados. Em muitos lugares, faltam recursos até mesmo para serviços básicos de limpeza e segurança. No Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (foto), algumas estações de pesquisa tiveram de ser desativadas. No Laboratório Nacional de Computação Científica, o recém-adquirido supercomputador de R$ 60 milhões foi temporariamente desativado por falta de dinheiro para a conta de luz. No Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, a produção de radiofármacos corre risco de ser paralisada. (Mais detalhes ao final desta reportagem.)

O orçamento atual do MCTI é de R$ 4,6 bilhões, dos quais R$ 500 milhões estão contingenciados, aproximadamente. O que a pasta pode gastar de verdade, portanto, são R$ 4,1 bilhões. Em valores corrigidos, esse limite de empenho é 27% menor do que em 2006 e 52% menor do que em 2010; enquanto que o número de pesquisadores em atividade no País cresceu 100% nos últimos dez anos. Ou seja, a demanda por recursos dobrou, enquanto que a oferta caiu pela metade. “Isso explica a crise que estamos vivendo”, diz Davidovich.

Em maio deste ano, na reforma ministerial promovida pelo presidente interino Michel Temer, o MCTI foi fundido com o Ministério das Comunicações (dando origem ao MCTIC), mas cada pasta manteve seu orçamento original. A proposta do governo agora, para 2017, é unificar as contas dos dois setores, porém sem acréscimo de valores. “Ano que vem é R$ 4,1 bilhões para todo mundo”, disse ao Estado o ministro da pasta unificada, Gilberto Kassab, no início deste mês.
“O que já era irrisório vai ficar ainda menor. É um absurdo; estamos andando para trás”, diz a presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader. Países mais desenvolvidos, segundo ela, estão fazendo exatamente o oposto: investindo mais em ciência e tecnologia para fortalecer suas economias e sair da crise. “Conversamos com o presidente interino Michel Temer sobre isso e dissemos claramente que esse orçamento inviabiliza o desenvolvimento do País.”

RaioXdaCrise



Kassab disse que a comunidade científica está “coberta de razão” em suas preocupações, e que ele está empenhado em elevar a proposta orçamentária da pasta para 2017. Pouco depois de assumir a pasta, em maio, Kassab negociou o descontingenciamento de cerca de R$ 1 bilhão para o orçamento de ciência e tecnologia, além de conseguir recursos emergenciais para solucionar problemas específicos, como a paralisação do supercomputador do LNCC .

“É evidente que a crise existe e todos perderam; mas ninguém perdeu tanto (quanto a Ciência e Tecnologia). Muito estranho isso ter acontecido”, disse o ministro, atribuindo a crise à gestão passada, da presidente Dilma Rousseff. “Estamos todos trabalhando para corrigir essa defasagem.”
Os números finais do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA 2017) serão apresentados na quarta-feira, dia 31, pelo Ministério do Planejamento. “A culpa não é do governo interino, mas o problema existe e cabe a ele resolver”, cobra Helena Nader, que também é pesquisadora na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Estão achando recursos para várias outras áreas, para os Estados e para aumentos salariais. Por que não para ciência, tecnologia e inovação?”

“Esse discurso de que não tem dinheiro para ciência e tecnologia é ridículo. O que falta é uma definição política clara no sentido de priorizar setores”, diz Davidovich, professor titular do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O problema é exacerbado pelos cortes orçamentários também aplicados ao Ministério da Educação e sua agência de fomento, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), já que a maior parte da pesquisa científica no Brasil é feita em universidades públicas, que dependem também das bolsas e auxílios dessas instituições para seu funcionamento.

“O MCTIC sinalizou que está se esforçando para recompor o orçamento. Mas, se tivermos outro ano com o mesmo patamar, não será possível superar os problemas com readequações. Será preciso reduzir atividades, o que significa o fechamento de algumas instalações, adiamento de projetos grandes e pequenos. Para a ciência brasileira, seria catastrófico não ter uma recomposição do orçamento do MCTIC para o próximo ano”, diz o diretor do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, Antonio José Roque da Silva.

Causas

Para Davidovich, a falta investimentos no setor decorre de uma “miopia” dos governantes, que ainda não enxergam Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) como algo estratégico para o desenvolvimento socioeconômico do País. O que se economiza com os cortes nessa área, segundo ele, é “insignificante” comparado a outros gastos do governo, com benefícios muito menores. “Ciência é um investimento barato que traz retornos gigantescos”, diz Davidovich. “A China só aumenta investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Aqui é o contrário.”

“Quer sair da crise? Aprenda com a China, com os Estados Unidos e a Europa, que estão investindo mais em ciência e tecnologia”, concorda Nader. O Brasil investe hoje menos de 1,5% do seu PIB em atividades de pesquisa e desenvolvimento. A China investe cerca de 2%, e no início deste ano anunciou meta de chegar a 2,5% até 2020, como estratégia de enfrentamento da crise econômica. Os Estados Unidos investem cerca de 2,8%, e a União Europeia quer chegar a 3% em 2020.

Para Nader, não reconhecer a importância da CT&I para o crescimento econômico do País é sinal de “fraqueza intelectual”. “As pessoas acham que fazer agricultura é só plantar sementes; acham que no sucesso das commodities não tem ciência. Isso é muito perigoso”, diz a pesquisadora. “O Brasil só ganha dinheiro com a soja hoje graças à ciência.” Outros exemplos clássicos são a exploração de petróleo em águas profundas pela Petrobras, a produção de aviões pela Embraer, a produção de vacinas pela Fiocruz e Instituto Butantan. E, mais recentemente, a detecção, pesquisa e enfrentamento da epidemia de zika. “Quem foi que deu a resposta para o zika? Foi a ciência brasileira”, completa Nader.

Ainda que a crise econômica seja passageira, diz Davidovich, o corte orçamentário proposto poderá significar uma geração perdida para a ciência brasileira, e um atraso significativo para o desenvolvimento do Brasil. “Estamos perdendo nossos jovens cientistas; é um crime contra o País”, diz. “Essa história de fazer uma pausa para arrumar a casa e recomeçar depois não existe; pelo menos não em ciência. Vamos sair desta crise e logo entrar em outra.”

“Não sentimos (todos os efeitos) de imediato, porque as pesquisas não param totalmente, mas haverá um grande impacto de longo prazo. Também é provável que muitos pesquisadores fiquem reticentes para apresentar projetos nesse contexto, prevendo que não serão financiados”, diz o superintendente do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), José Carlos Bressiani.
— Colaborou Fabio de Castro / Estadão

Relatos
Dirigentes de seis grandes instituições de pesquisa contaram ao repórter Fabio de Castro, do Estadão, como a crise orçamentária está afetando suas operações.
Antonio José Roque da Silva, diretor do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS)
O Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) teve aumento orçamentário entre 2009 e 2014, no qual o centro se consolidou como uma unidade, agregando em sua estrutura a gestão do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), do Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) e do Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano). Nesse período também foi estruturado o maior projeto científico do país, o novo acelerador de partículas Sirius, atualmente em construção.

“Com o aumento de quadros e consequente aumento de orçamento, tivemos condições para acomodar as atividades principais do campus. Ainda assim, os limites financeiros impostos ao MCTI tiveram impacto no CNPEM também, principalmente em 2016, porque afetaram os repasses do ministério. O orçamento foi definido em outubro de 2015. O limite financeiro não distingue o que são restos a pagar do ano anterior e o que é orçamento do ano atual. Além disso, a proposta de lei orçamentária foi reduzida ao passar pelo Congresso. Por isso este acabou sendo um ano difícil”, diz o diretor do LNLS, Antonio José Roque da Silva.

Segundo ele, a proposta era de R$ 83 milhões e a lei orçamentária aprovada pelos parlamentares foi de R$ 61 milhões. Para o Sirius, que tem um orçamento próprio, a proposta foi de R$ 275 milhões e a lei orçamentária aprovada foi de R$ 182 milhões.

Segundo Roque, em 2016 a situação exigiu um replanejamento das atividades do CNPEM. “Conseguimos superar as dificuldades no fim do ano passado com uma série de medidas de contenção. Repactuamos várias metas e postergamos alguns investimentos importantes que poderiam ter sido feitos agora”, disse.

Embora os projetos continuem, o cotidiano mudou no campus localizado em Campinas (SP). “Desligamos boa parte dos equipamentos do Síncrotron no fim de semana, mesmo com o risco de que na segunda-feira a máquina não entre nas condições ideais de operação. Fechamos as linhas de luz mais antigas, cuja reacomodação não prejudicaria os usuários. Também desligamos o ar condicionado em alguns períodos e postergamos investimentos na área de tecnologia da informação, que nos dariam uma maior segurança no armazenamento de dados.  Deixamos algumas manutenções preventivas de lado, fazendo apenas manutenção corretiva. Assumimos riscos calculados para passarmos por essa fase difícil.”

João Carlos Costa dos Anjos, diretor do Observatório Nacional (ON)
O orçamento de custeio do ON teve um pico em 2012, quando chegou a cerca de R$ 9,5 milhões. Desde então, houve uma queda anual até os atuais R$ 5,8 milhões. Gráficos apresentados à reportagem pelo diretor do ON, João Carlos Costa dos Anjos, mostram que o orçamento caiu 42% desde 2012, considerando a correção da inflação.

Além da redução no orçamento para custeio, houve um aumento de 50% nos valores dos compromissos internacionais. “Um dos principais problemas é que temos compromissos internacionais assumidos em 2012 e 2013, que envolvem valores em dólares. Temos uma conta a apagar da ordem de US$ 300 mil. Nesse período, o dólar aumentou praticamente 50% e nossa conta não fecha”, afirmou.Nessa situação, todos os contratos com terceirizados — para limpeza, segurança e transporte — precisaram ser repactuados.

Um dos maiores vilões para a situação econômica do ON é a conta de energia elétrica, que consome mais de 40% do orçamento de custeio do instituto. “Conseguimos reduzir o consumo em 10%, de 2013 para cá. Mas o custo disparou com o aumento das tarifas.”
Segundo Anjos, em 2015, o então ministro Celso Pansera conseguiu recursos, junto ao Ministério do Planejamento, para “apagar incêndios” nos institutos de pesquisa. “Por isso o ON sobreviveu até agora nessa situação. Mas, se não houver recursos suplementares, fechamos em setembro”, afirmou Anjos.

“Fechar”, segundo Anjos, significa dar aviso prévio ao pessoal terceirizado e não ter condições para manter os serviços. “Não teremos como pagar os contratos.” Segundo ele, o ministro Gilberto Kassab prometeu um acréscimo de R$ 1 milhão no orçamento do ON. “Ele se comprometeu a tentar a liberação de recursos adicionais para fazer frente a essa situação de calamidade.”
Um dos principais serviços prestados pelo ON é o fornecimento da Hora Legal Brasileira. Segundo Anjos, interromper esse serviço é algo “impensável”. “Não podemos desligar o ar condicionado ali. Aquilo funciona 24 horas por dia, sete dias por semana. Mas não dá para o país deixar de ter a Hora Legal.”

Luiz Renato de França, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa)
Em 2015, o orçamento do Inpa teve uma queda de 30% em relação a 2014. Para piorar, em 2016 houve outra redução. “O nosso orçamento neste ano foi praticamente a metade do que tivemos em 2014. A última vez que tivemos um orçamento dessa magnitude foi há 10 anos”, diz o diretor Luiz Renato de França.

Para enfrentar a crise, França afirma que a gestão tem sido a mais enxuta possível. “Estamos fazendo economia para sobreviver, priorizando as despesas básicas como água, luz e telefones. Quanto à pesquisa, obviamente agora não é o momento para investir.”

Segundo ele, o Inpa recebe R$ 4 milhões anuais para pesquisa. “Com os nossos recursos, estamos priorizando diárias e passagens, que são fundamentais para pesquisar na Amazônia.” Boa parte das pesquisas é financiada por projetos individuais de pesquisadores, aprovados junto às agências de fomento. “Mas as agências também fizeram cortes. Nem é possível calcular quantos projetos deixaram de ser apresentados nesse contexto.”

Segundo França, os principais projetos do instituto continuam ativos, mas avançam mais lentamente. Uma das principais preocupações é a impossibilidade de realizar concursos para contratar novos pesquisadores. “Temos hoje metade do pessoal que já tivemos no instituto. Mas o pior é que há pelo menos 30 pesquisadores que podem se aposentar a qualquer momento.” A área terceirizada, que inclui serviços de manutenção, limpeza e segurança, teve uma redução de 20% a 25%.

Augusto César Gadelha Vieira, diretor do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC)
O orçamento anual do LNCC, desde 2012, oscilou entre R$ 11 milhões e R$ 12 milhões. Em 2016, houve uma redução de 65% em relação ao ano anterior, ficando em R$ 7,6 milhões.
“Tivemos a implantação do supercomputador, que certamente é um ônus adicional, especialmente na parte de energia. Isso nos forçou a tomar a decisão de desligar a máquina em maio, caso contrário chegaríamos ao fim do ano com um déficit orçamentário muito alto, o que iria configurar crime de responsabilidade”, disse o diretor Augusto Gadelha.

Segundo ele, o ministério solicitou que o supercomputador fosse ligado novamente e o LNCC obedeceu, em regime reduzido. “Ligávamos quatro horas por dia, com apenas um ou dois projetos rodando, até que foi aprovado no mês passado uma suplementação de R$ 4,6 milhões. Temos cerca de 75 projetos de pesquisa submetidos e 25 já estão em curso.”

Agora, a preocupação de Gadelha é o orçamento de 2017. “Com os R$ 4,6 milhões suplementares, garantimos as operações até dezembro. Estamos estudando várias alternativas para o suprimento de energia, incluindo o uso parcial de energia solar. Também estamos conversando com empresas que possam utilizar o supercomputador e trazer recursos.”

Com menos recursos para bolsas de iniciação científica e para trazer pesquisadores estrangeiros, o laboratório deverá sentir os impactos da crise também a longo prazo, segundo Gadelha. “Temos capacidade muito menor para absorver jovens pesquisadores de boa qualidade e cientistas estrangeiros.”

Quem trabalha no LNCC, segundo Gadelha, já sentiu também os impactos. “O ambiente de trabalho se torna muito pior, com restrições para quase tudo — desde limpeza até segurança. A participação de nossos pesquisadores em congressos nacionais e internacionais, que é um importante instrumento de pesquisa, está muito limitada. Além disso, temos menos chances de fazer estudos de grande impacto, o que poderá afetar a qualidade da pesquisa a longo prazo.”

José Carlos Bressiani, superintendente do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen)
O Ipen não teve redução orçamentária em 2016, mas sofreu com reduções nos três anos anteriores, o que culminou em dificuldades para fechar as contas. “Nossas despesas acabaram ficando acima do orçamento. O déficit foi de R$ 13,5 milhões em 2014, de R$ 13 milhões em 2015, e prevemos que em 2016 faltarão R$ 50 milhões”, disse o superintendente José Carlos Bressiani. Segundo ele, a alta do dólar teve grande impacto no instituto, que utiliza matéria prima importada para produzir radiofármacos, entre outras atividades.

No fim de agosto, o Ipen conseguiu um complemento do orçamento que, segundo Bressiani, garante as atividades apenas até o meio de setembro. “Enxugamos o orçamento fazendo uma redução de 25% no quadro de terceirizados, que inclui os serviços de limpeza interna e externa, segurança e motoristas. Agora não há mais onde cortar. Estamos negociando mais recursos com o MCTIC. Se eles não vierem, a consequência é que não poderemos comprar insumos — já que a lei não permite gastar sem ter orçamento — e assim não poderemos mais fornecer radiofármacos. Se isso acontecer, toda a medicina nuclear do Brasil vai parar.”

Ronald Shellard, diretor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF)
O diretor do CBPF, Ronald Shellard, diz que a situação dos institutos de pesquisa melhorou bastante até o fim do segundo governo Lula. Depois disso, os orçamentos acumularam quedas drásticas. “O CBPF continua sendo uma instituição de excelência, muito bem avaliada, e não podemos dizer que a situação é catastrófica, como em algumas universidades; mas temos uma situação difícil. Em 2016 faltou uma fração significativa do orçamento para pagar luz, limpeza e outras necessidades básicas. Nossos recursos são suficientes para manter as atividades básicas até o fim de outubro.”

Segundo Shellard, o orçamento atual é de R$ 7 milhões, mas seriam necessários R$ 10,5 milhões para fechar as contas. “O ministro Kassab está fazendo um esforço e nos prometeu a liberação de recursos para fecharmos o ano.” Ele afirma que é difícil cortar funcionários terceirizados, que em sua maioria são pessoas que trabalham há anos no CBPF e têm treinamento específico.
“Cortamos o que pudemos. Estamos muito preocupados com 2017. Nosso orçamento aprovado aponta que já vamos começar o ano com déficit e não há mais gorduras para ajustar. Temos defendido que é preciso restaurar o patamar do orçamento de 2012.”