segunda-feira, 11 de julho de 2016

Objetivo é transformar tecnologias sociais em políticas públicas, diz pesquisador na SBPC

MCTIC
8 de julho de 2016

Ascom/MCTIC

Engenheiro ambiental do Instituto Mamirauá, Felipe Pires apresentou iniciativas de acesso à água e à energia em comunidades ribeirinhas do interior do Amazonas Há potencial de atender 1 milhão de famílias, afirmou.

As tecnologias sociais do Instituto Mamirauá de Desenvolvimento Sustentável, organização social ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), em Tefé (AM), podem virar políticas públicas para atender as comunidades ribeirinhas. A avaliação é do engenheiro ambiental Felipe Pires, que apresentou estas tecnologias ao público da 68ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Porto Seguro (BA), nesta sexta-feira (8). São sistemas de abastecimento de água e fabricação de gelo com energia solar, produção de polpa de frutas amazônicas e uma parceria com a Associação de Futebol dos Países Baixos (KNVB) para iluminar campos para a prática do esporte.

"As comunidades ribeirinhas têm uma grande dificuldade de acesso tanto à água quanto à energia", explicou Pires. "Apesar de estarem em uma região de várzea, onde existe abundância hídrica, a água não tem qualidade para o consumo humano. Então, algumas tecnologias vêm sendo desenvolvidas para tratamento e distribuição. Hoje, essas pessoas têm água encanada em casa."

De 2000 a 2016, o Sistema de Abastecimento de Água com Energia Solar Fotovoltaica atendeu 21 comunidades nas reservas de Desenvolvimento Sustentável Amanã e Mamirauá, no interior do Amazonas. Compõem cada unidade uma pequena balsa flutuante, seis painéis solares e uma bomba capaz de transportar o líquido por até um quilômetro de distância e 70 metros de altura. Pré-tratada em um filtro, a água fica armazenada em reservatórios de 5 mil a 10 mil litros. O projeto rendeu ao instituto de pesquisa o Prêmio Finep de Inovação 2012.

"Várias comunidades ficam na beira do rio, mas a dinâmica das águas faz com que, na época das secas, elas se distanciem do leito. Algumas chegam a um quilômetro de distância. Normalmente, são as mulheres e as crianças que vão até a margem para lavar vasilhas, tomar banho, fazer outros deveres domésticos e também para carregar água até a casa, ainda naquela cultura de levá-la numa bacia na cabeça", descreveu o engenheiro. "Com essa tecnologia, a gente consegue conduzi-la até as casas e ainda desenvolve trabalhos de conscientização em higiene, para melhorar a qualidade para consumo, por meio de tecnologias mais simples. Isso diminuiu bastante a mortalidade infantil e a ocorrência de doenças de vinculação hídrica, como a diarreia."

Transformação

Em parceria com o Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE-USP), o Mamirauá implantou no segundo semestre de 2015 as quatro primeiras máquinas do projeto Gelo Solar, tecnologia voltada para a conservação de alimentos em comunidades sem energia elétrica. Movido a 20 módulos solares, cada aparelho tem capacidade de produzir 90 quilos de gelo por dia. Três unidades foram instaladas em Vila Nova do Amanã, no município de Maraã (AM), e outra na pousada flutuante Uacari.

"As comunidades só possuem energia quatros horas por dia, normalmente das 18h às 22h, por meio de um pequeno gerador a diesel, doado pela prefeitura. Em boa parte delas, o combustível é comprado pelos próprios ribeirinhos, que fazem rateio. Não tendo energia 24 horas, eles não conseguem manter um freezer ou uma geladeira para conservar alimentos. E daí veio a ideia da máquina de gelo, que serve tanto à própria residência como para o transporte desses alimentos até o centro urbano, para poder fazer a comercialização", contou. "Uma surpresa para nós foi que as comunidades já estão vendendo o gelo para outras do entorno, porque a quantidade foi mais do que suficiente."

O projeto venceu o prêmio Desafio de Impacto Social do Google em 2015, cujo valor em dinheiro contribuiu para a instalação das quatro máquinas de gelo e de um sistema de captação de água da chuva. Segundo Pires, o Mamirauá planeja expandir a iniciativa para 10 unidades e aperfeiçoar a tecnologia e seus modelos de gestão comunitária. "Nosso horizonte é tentar levá-lo para mais comunidades, porque existe potencial de atender cerca de 1 milhão de famílias na Amazônia. A nossa ideia é que tudo isso vire política pública", disse. "Então, a gente sempre tem a preocupação de levar a prefeitura junto nos projetos."

Futebol

Durante a Copa do Mundo de 2014, o Mamirauá participou de um projeto para iluminar campos de futebol em duas comunidades, em parceria com a empresa Philips e a KNVB, confederação nacional do esporte na Holanda. "Ribeirinhos, mulheres e crianças jogam bola toda noite, porque, após trabalhar o dia todo, é a diversão que eles têm", comentou. A infraestrutura inclui dois painéis solares, um refletor LED, uma bateria e um controlador de carga que funciona por seis horas. "Agora, tentamos levar essa tecnologia para a iluminação pública."

Outro projeto apresentado por Pires são as unidades de fabricação de polpa de frutas, financiadas pelo Fundo Amazônia, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). "Começamos este ano com uma usina na comunidade Boa Esperança, que produz açaí, araçá, cupuaçu, goiaba", informou. "Antes, havia grande perda devido à dificuldade de deslocamento. Primeiro, fizemos um diagnóstico da produção e estabelecemos um calendário. A comunidade participou da instalação, em busca de autogestão, porque, assim, a gente consegue dar mais autonomia a eles."

Organização social fomentada e supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), o Instituto Mamirauá desenvolve atividades de desenvolvimento social na região do Médio Solimões, estado do Amazonas. A missão é "promover pesquisa científica sobre biodiversidade, manejo e conservação dos recursos naturais da Amazônia de forma participativa e sustentável".

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