segunda-feira, 6 de junho de 2016

Candidato à direção do Inpe é contemplado em edital de subvenção do próprio instituto

Gino Genaro(*)
6 de junho de 2016

Laboratório de Integração e Testes (INPE) /Divulgação INPE

O processo sucessório na direção do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), este Frankenstein de mau gosto criado pelo governo ilegítimo de Michel Temer, vem tomando ares cada vez maiores de "jogo de cartas marcadas" para favorecer interesses pessoais em detrimento dos interesses públicos.

Não bastasse o fato do Comitê de Busca que elaborou a lista tríplice de nomes a serem submetidos à escolha do ministro para ocupar a direção do instituto ter sido criado sem a participação de nenhum membro da comunidade do Inpe; não bastasse o fato da maioria dos membros do Comitê sequer conhecer a realidade e os problemas vividos pela instituição atualmente; não bastasse a total falta de transparência neste processo, que após mais de um mês do encerramento dos trabalhos do Comitê, os nomes da lista tríplice ainda não foram divulgados oficialmente, sendo os mesmos conhecidos apenas de forma oficiosa; agora ainda surge a confirmação daquilo que já vinha sendo denunciado desde o início deste processo: a influência de interesses privados na disputa pela direção deste importante órgão do governo.

O Comitê de Busca instituído para elaborar a lista tríplice de "diretoráveis" para o Inpe foi presidida pelo ex-ministro e ex-servidor do Inpe, Marco Antonio Raupp, principal articulador da abertura deste processo de sucessão e da indicação dos demais membros do Comitê de Busca. Raupp é atualmente presidente de uma entidade privada (Organização Social) contratada sem licitação pela Prefeitura de São José dos Campos para administrar o Parque Tecnológico da cidade, um dos maiores do País. Com ligações estreitas com as empresas que prestam serviços ao Inpe e às atividades do Programa Espacial Brasileiro (PEB), Raupp tem se movimentado para viabilizar contratos do governo junto a estas empresas, algumas delas com sede no próprio Parque Tecnológico.

Esta interferência no processo sucessório do Inpe para favorecer interesses privados veio à tona de maneira mais explícita esta semana, quando a Fapesp divulgou o resultado da "chamada de propostas de pesquisa para o desenvolvimento de tecnologias e produtos para aplicações espaciais (aqui)". Dentre as empresas e empresários contemplados com subvenções no edital encontra-se o Sr. César Celeste Ghizoni, representante da empresa Equatorial Sistemas S.A., e um dos nomes escolhidos pelo Comitê de Busca para compor a lista tríplice de "diretoráveis" encaminhada ao ministro do MCTIC. Aliás, nos bastidores, comenta-se que Ghizoni teria sido indicado como o primeiro nome da lista, o que significa uma preferência por parte do Comitê em relação aos outros dois nomes indicados, no caso, Ricardo Magnus Osório Galvão e Thelma Krug (não necessariamente nesta ordem de prioridade).



É de se questionar: como pode um empresário do setor espacial, com contratos firmados com o Inpe e a Agência Espacial Brasileira (AEB), recém contemplado com verbas públicas em edital de subvenção para desenvolver novas tecnologias na área espacial, em projeto que terá fiscalização e acompanhamento técnico por parte do próprio Inpe, ser designado como diretor desta instituição?

Enfim, há motivos de sobra para que o MCTIC desconsidere o trabalho do Comitê de Busca presidido por Raupp e institua novo Comitê de Busca, mais representativo dos anseios da comunidade do Inpe e comprometido acima de tudo com os interesses da sociedade. Não se pode permitir que um instituto público de pesquisa com 54 anos de serviços prestados ao País como o Inpe seja simplesmente rifado e colocado a serviço de interesses privados e corporativos.

Um comentário:

  1. Espero que apareçam muitos comentários por aqui, pois esta notícia é de causar muita indignação. O dinheiro do povão servindo os interesses de alguns particulares. aaaaaa não!

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